quinta-feira, 31 de julho de 2014

DAGMAR








                                                                   Dagmar








   A moça estava desolada. Havia acabado de ver sair correndo de suas vistas o homem mais lindo que jamais havia encontrado. Mas, Dagmar não era mulher de se deixar abalar por algum pequeno desapontamento.
   Jogou fora o resto de cachorro quente que ainda estava comendo e saiu correndo atrás daquele que bem poderia ser o homem de sua vida.
   O esfoço, por sair apressada por entre todos os torcedores que lotavam o Maracanã, com aquelas calças apertadas que vestia, foi tão grande que ela não conseguiu segurar um peido que, por coincidência ou azar, escapou bem em frente ao rosto de uma mulher toda emperequetada, com chapéu e tudo que, ao sentir o cheiro, não pode deixar de manifestar seu protesto, dizendo:
-  Porra! Não da’ pra peidar na cara de outra pessoa?
   Ao que Dagmar apenas respondeu, quase que instintivamente:
-  Desculpe! Não deu! Acho que foi aquela salsicha...
   E’ claro que Dagmar não estava nem ai para os sentimentos, ou mesmo, olfato, da mulher. O queria mesmo era correr atrás daquele gringo lindo.
   Ainda pulando sobre pernas esticadas e peidando, eventualmente, conseguiu, finalmente deixar as arquibancadas e subir as escadas correndo, tentando resgatar aquele que poderia ser o amor de sua vida ou, pelo menos, a trepada daquela semana.
   Ao chegar ao anel exterior que dava para `as entradas de acesso ao local onde estava, parou por um instante, olhando de um lado para o outro, procurando por seu interesse amoroso.
   Não viu ninguém que pudesse lembrar aquele rosto maravilhoso.
-  Puta merda! Estou sem sorte! Exclamou, quase gritando.
   Estava completamente empanzinada por aquele cachorro-quente que comeu quase todo, sem beber nada que pudesse ajudar. Ainda procurando por aquele gringo que a encantou tanto, olhando pro lado, viu um bar onde decidiu comprar um refrigerante.
-  Me da’ alguma coisa gelada pra beber. Disse ela encostando-se ao balcão.
   Enquanto esperava, olhando para o lado, pode reconhecer, no loiro que bebia uma cerveja, aquele homem lindo para quem sorriu, enquanto ainda assitia ao jogo que ainda rolava no gramado do estádio.
   Sorrindo novamente para ele, falou:
-  Tudo bem bonitão?
-  Mi desculpo maix se iou queresse veir boca feio e mau cuidada ainda extava oliando para as
   mulieres de mieo pais. Respondeu John Banks, o loiro que, quando assistindo ao jogo da  
   Inglaterra,  não tirava os olhos da bunda de Dagmar, enquanto ela gritava, xingava, pulava e
   balançava todos aqueles “atributos” incomparáveis, bem `a sua frente.
   Ao ouvir isto, a moça lembrou que não havia retirado de sua boca a dentadura falsa, que para mais nada mais servia do que esconder o sorriso impecável que, na realidade possuía e, assim, projetando uma imagem horripilante e grotesca a quem quer que a visse sorrindo, talvez tentar que homens gulosos entendessem que ela não era apenas um pedaço de carne.
   Imediatamente, passou a mão na boca e retirou o disfarce que ainda a protegia, pelo menos ate’ agora... Olhou novamente para o homem que ainda a encarava e disse:
-  E agora?
   John, olhando para a Dagmar, literalmente segurou o queixo, so' por via das duvidas,  e resgata-lo, se por acaso caísse.
-  Poxo! Voxe e’ lindo... Não conseguiu deixar de dizer John, com seu Português quebrado.
-  E’ ne’, seu gringo... Agora sou linda? Respondeu ela.
   Não resistindo `aquela cena, mesmo arriscando levar um tapa na cara, uma refrigerantada, ou algo parecido, ele acariciou o rosto da Dagmar, antes de lhe dar um beijo carinhoso, talvez tentando se desculpar por sua atitude anterior, talvez apostando no futuro, pelo menos enquanto estivesse no Brasil.
   Que surpresa!
   Ao invés de reclamar, empurrar ou recriminar o gringo, Dagmar avançou no pescoço do cara, meteu os dedos entre aqueles cabelos longos e loiros e tascou-lhe um beijo com tanta volúpia que, se o cara usasse dentadura a teria perdido, ou deixado cair no chão.
   Agora Banks tava lascado... Esperou tanto por este momento que, justamente quando ele havia chegado, não sabia o que fazer... Nem precisou! Dagmar olhou bem para ele e perguntou:
-  Quer acabar de ver o jogo?
-  Nao prexiza! Si voxe nao importas quero ficar au tio lada. Respondeu John.
   Dagmar não perdeu tempo, pegou o homem pela mão dizendo:
-  Vamos embora! Me leva pro Motel!
   Agora Banks estava mais lascado... So’ em pensar no que poderia acontecer, começou a suar. Não conseguia se concentrar... Meteu a mão no bolso, tirou um lenço e começou a enxugar o rosto.
-  Como e’ teu nome, loiro lindo?
   Agora Banks estava muito mais lascado... O diabo da mulata estava tão segura e determinada que o "argumento" do gringo estava murchando ou invés de crescendo...
   Ja’ do lado de fora do Maracanã, ela fez um sinal para um taxi, que por sorte sua era conduzido por um árabe, que aparentemente, não dava a minima importância para copa do mundo, futebol ou similares.
   Não demorou para que chegassem ao destino. Um Motel que mais parecia um castelo, no coração de Vila Isabel, bairro boêmio e tradicional da zona norte do Rio de Janeiro.
   Sem mesmo pestanejar, informou `a atendente, quando indagada se queria comprar quatro horas...
-  Me da’ doze horas! Quatro não da’ nem pra começar...
   Agora Banks estava muito mais do que lascado... Neste momento, ele estava ate' em duvidas se realmente deveria ter vindo ao Brasil. Não estava certo de que tinha capacidade para encarar uma mulherona daquelas.
   Ao entraram `a pé, depois de pegar a chave do apartamento, Dagmar segurou a mão de seu... Namorado? E, enquanto apoiando em seu braço, dando um beijinho naquele pescoço coberto de suor que escorria por dentro da camisa de seda que vestia, e falou:
-  Ta’ nervoso, meu amor?
   E’ claro que o cara nem respondeu. Apenas engoliu em seco e, continuou andando, suando, como se estivesse andando em direção ao seu algoz... Abriram a porta do apartamento e, assim que entraram, Dagmar nem esperou. Soltou a mão de seu companheiro, se jogou na cama, levantando-se imediatamente e, como se num impulso, começou a se despir. Calmamente, como uma profissional, performando um “strip tease”, andava de um lado para o outro do local, desfazendo-se de suas roupas com sensualidade, ate’ que, finalmente, estava como havia nascido... Completamente pelada!
   Agora Banks estava definitiva e irremediavelmente lascado...
   Sentou na cama, olhou para aquilo tudo e se lembrou de um ditado muito comum em seu país, que havia ouvido varias vezes; “cuidado com o que você deseja, pode acontecer”.
   Dagmar se aproximou, levantou pelas mãos o gringo que suava mais ainda, abriu suas calcas, meteu a mão la’ dentro e, após procurar, por alguns segundos o que tentava encontrar, sem o sucesso esperado, falou:
-  O que aconteceu?
-  Eu exta’ miuta nervosa... Respondeu Banks.
-  Não tem nada! Tira a roupa e mostra teu documento. Ordenou Dagmar.
   Sem muita convicção, John se despiu, exibindo um corpo musculoso e escultural.
   Ao ver aquilo tudo, Dagmar, aproximando-se de seu companheiro perguntou:
-  John, não me leve a mal mas, esse pingolin não sobe?
-  Infelixmeinte a naturezo nau foi generozo com eu... Eleo so’ fica assim!
-  Meu amor!!! Olha bem pra mim!!! Com um "caboose" deste tamanho, este negócio que você tem
   pendurado não da’ nem pra fazer nem cosquinha. Realmente decepcionada, exclamou Dagmar.






Copyright 6/2014 Eugenio Colin

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