quarta-feira, 9 de julho de 2014

LÁGRIMAS DO CÉU








                                                       Lágrimas do Céu





 
   Acordei esta manhã com o barulho da chuva conduzida pelo vento forte conta a janela do meu quarto.
  Acabado de acordar, ainda sonolento, pensei nas muitas vezes em que ouvi dizer como e’ bom ficar deitado na cama, em dia chuvoso, colocando em dia todos os pensamentos que trazemos guardado dentro de n
ós por tanto tempo e que finalmente, depois de tantos anos, decepções e sofrimentos, poderemos presentear a alguém em momentos felizes, eternos, inesquecíveis.
  Olhando para a chuva distraidamente, pensei: realmente, a única coisa que falta aqui, agora, neste momento e’ uma companheira que, com sua magnitude, faria deste dia chuvoso um dos melhores de minha vida...
  A chuva não parava de cair, insistente, persistente, como se tentasse me dizer algo notável. Olhei novamente para a janela e não dei muita importância a este acontecimento corriqueiro que já presenciei inúmeras vezes.
  Alguns minutos após acordado, ainda na cama, como se estivesse esperando a volta dessa companheira imaginaria, pensava: ela foi s
ó ate’ a cozinha pegar um pouco de cafe' ou um suco... “Ouvindo” uma voz melodiosa, me oferecendo algo, sorri, ao constatar, como se estivesse
voltando do sonho, que sonhava acordado, ainda sentindo o prazer de mais uma noite, como tantas outras em que tenho esta imagem junto a mim, fazendo com que todas a horas do dia sejam especiais só por saber que "daqui há pouco" estarei te vendo, na felicidade maior que pode haver quando, em um acontecimento raro e inusitado, duas almas gemêas se encontram, dando sentido a sonhos quase arquivados em suas memórias; acontecimentos quase esquecidos em corações ocasionais... Me levantei e fui `a cozinha preparar o cafe'...
  Enquanto andava, percorrendo o corredor curto e solitário que separa o quarto da cozinha, olhava para fora e, por uma fração de segundo, pensei que a chuva estava me seguindo pelo lado de fora... Os mesmos pingos que momentos atrás bateram em minha janela, tentando "falar" comigo...
  Com passos curtos e ainda sonolentos, não dei importância `a minha imaginação e andava, ainda pensando em "minha companheira”...
  Fui ao armário, coloquei o pó de cafe' no coador, 
 água na cafeteira e assim que a liguei comecei a ver seu som da percolando o pó, transformado em cafe', acontecimento que bem poderia ser considerado
magia, se não tivéssemos plena consciência do que estava acontecendo `aquele momento.
  Ainda distraído, ouvi a chuva, novamente, insistentemente batendo, agora na janela da cozinha. Parecia que ate' o vento que a trazia produzia sons, definidos e indecifr
áveis como um idioma que não entendemos.
  Não consegui evitar o movimento espontâneo de meu corpo, virando-se, automaticamente, em direção a janela, como que atendendo `aquele chamado insistente.
  Apenas chuva! Pensei, agora atraído pelo pensamento que, negando um fato incoerente já estava dando a atenção a tantos minutos solicitada por aquela chuva constante, triste, persistente.
  Balancei a cabeça, como se estivesse auto reprovando meus pensamentos absurdos...
  O cafe' estava pronto. Coloquei um pouco em uma xícara e me dirigi `a mesa. A mesma `a qual me sento tantas vezes para alimentar o corpo, so' para fazer companhia `a mente que se alimenta dos mesmos pensamentos que compartilho soliloquemente... A mesma `a qual quando sentado vejo, pela janela a seu lado, uma arvore, que também se alimenta do mesmo pó de cafe' que ontem me saciou e que hoje se tornou seu nutriente diário...
  Pensando nisso, tentando olhar para a 
árvore não pude deixar de notar pingos de chuva, tristemente escorrendo em minha janela, com lágrimas do céu...
  Não e' possível! Pensei, ainda olhando para a chuva...
  Quanto mais olhava mais sentia que este era um acontecimento que merecia minha atenção. Nunca havia notado nada semelhante, insistente, incoerente.
  Ainda tentado me certificar ou, talvez justificar minha decisão olhei mais uma vez para fora, como se estivesse convidando esta chuva triste ao um encontro na varanda, no mesmo banco onde,
dias atrás fumei um cigarro, cumprindo a tradição do primeiro neto.
  Ao abrir a porta, com cuidado para evitar que a chuva entrasse dentro de casa, notei que tinha diminuído. Estava mais calma, aliviada por receber a atenção que pedia há tanto tempo, temerosa de ser
negligênciada, passar desapercebida, continuar lacrimejando.
  Sentei calmamente do lado de fora e uma chuva suave, acompanhada de uma brisa leve e quase agradável, "conversava" comigo... Ponderava sobre sua tristeza, invejava as chuvas de outras cidades, locais talvez distantes, de onde ouviu sobre uma mulheres maravilhosas, lindas, importantes, companheiras, dedicadas ... Mulheres que enfeitam  cidades, que trazem felicidade só por estar presente, que alegram corações, que fazem sonhar...
  Me contou como gostaria de poder cair sobre esta mulher e, ao invés de humidec
ê-la, atuar como um manto protetor, impedindo assim que tristezas e dissabores a perturbassem...
  Expliquei que não seria possível encontra-la ser embelezada por sua presença, já que ela esta' muito distante, que e’ apenas um sonho, uma figuração imaginaria,longe de seu alcance...
  Me perguntou se teria a chance de vê-la, toca-la com seus pingos sorrir ao presenciar seu sorriso...
  O vento, "cantando" suavemente parecia um guardião da chuva, um protetor coerente, talvez seu amante em horas tranquilas nas nuvens onde residem...
  Ao ver aquelas "lagrimas", embora mais calmas, ainda "preocupadas", expliquei que, no momento, não era possível a introduzir a esta mulher já que eu mesmo ainda não a conhecia e, assim sendo não caberia a ela enfeitar uma cidade, acalmar chuvas, ventos, dar sentido a vidas e elementos do universo...
  Prometi por
ém, `a chuva e ao vento, como prometi a Deus e mim mesmo que farei tudo ao meu alcance para que esta mulher seja colocada, finalmente, no lugar onde sempre mereceu estar, ser tratada como a rainha que e', soberana do coração em que, ainda desconhecida mesmo assim habita.
  Disse `a chuva e ao vento que um dia, talvez muito breve, nos encontraremos novamente, desta vez, de mãos dadas, corações alegres e que, nesse dia sentaremos juntos, no mesmo banco, e esperaremos pela chuva e o vento, para compartilhar com eles a alegria que e’ poder ter esta mulher maravilhosa ao meu lado.
  Absorto em meus pensamentos vi as "lagrimas" secando pouco a pouco, o vento "sorrindo" calmamente ao se afastar e, juntamente com as nuvens, voltarem para a imensidão, satisfeitos com a esperança e a certeza de que não serão furtados do prazer de conhecer uma mulher invejável, que sera' o centro da vida de todos que a rodearem.
  Ainda sentado pude ver os primeiros raios de sol chegando, aquecendo a manh
ã até então triste e "chorosa".  Fiquei feliz ao ver um sorriso nas nuvens e o vento "abraçando" a chuva, satisfeitos por terem um ao outro, felizes, assim como eu, por saberem que a possibilidade e' real, não apenas fruto da imaginação de um sonhador inveterado...

  Hoje de manh
ã as "lagrimas do céu" secaram felizes após ouvirem sobre “você” da mesma maneira que meu coração começou a sorrir desde que, agora remido, se permite apostar novamente.








Copyright 7/2014 Eugenio Colin

  

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