sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

ANO NOVO










                                           Ano Novo








Todo dia é ano novo
entre a lua e as estrelas
num sorriso de criança
no canto das corredeiras,
num olhar, numa esperança...
Todo dia é ano novo
no dia de quem aguisa,                                            
na natureza esquecida,
na fresca aragem da brisa,
na própria essência da vida...
Todo dia é ano novo
no regato que trabalha,
pequeno servo do mar,
nas ondas lavando as praias
na clara luz do luar...
Todo dia é ano novo
na escuridão do infinito,
todo pintado de estrelas,
na amplidão do universo,
no simples prazer de vê-las...                                              
Todo dia é ano novo
no dia que se encerra,
no germinar da semente,
nos movimentos da Terra
que gira incessantemente...
Todo dia é ano novo
no sol que cedo levanta,
no orvalho sobre a relva,
na passarela que encanta,
no cheiro que vem da terra...                                                         
Todo dia é ano novo
nas flores que desabrocham
perfumando a atmosfera,
nas folhas novas que brotam
num dia de primavera...                                                    
Todo dia é ano novo
no colorido mais belo
dos olhos dos filhos seus,
nas torres de um castelo
chegando perto dos céus...                                    
Todo dia e' ano novo                                     
no amor, na união,                                                         
em quem semeia bondade,
em quem ajuda o irmão,
colhendo felicidade...                                     
Todo dia e' ano novo
nos segredos desta vida,
no germinar da semente,
na elegância das flores,
beleza tão eloquente...
Todo dia e' ano novo
na harmonia das cores,
no sol derretendo no mar,
olhar de novos amores
jurando: "te vou amar"...
Todo dia é ano novo                   
no ciclo da natureza,
no ir e no vir constante
reafirmando a certeza
na vida que segue adiante...

Por que então esperar
ate' o mês de janeiro
do ano que vai chegar
pra se tornar pioneiro
de novas resoluçoes,
que bem poderiam ser
a alma das soluçoes,
que todos queremos ter
durante a vida inteira,
todo dia sendo ano novo?     





Copiright 1/2019 Eugene Colin



domingo, 23 de dezembro de 2018

PRESENTE DE NATAL










                                                      Presente de Natal









    Natalino estava feliz da vida... Morando por vários anos nos Estados Unidos, tinha acabado de receber de sua esposa Natália, a melhor noticia pela qual jamais poderia esperar, pelo menos em um futuro próximo; em uma visita de rotina `a seu medico soube que ela estava gravida.
   Quando lhe deu a noticia, o homem pulou tanto, não conseguindo controlar sua alegria, que ela ficou ate' com medo que ele, numa daquelas demonstrações de felicidade, que mais pareciam voos rasantes, acabasse se despencando pela janela do apartamento do trigésimo quinto andar, onde moravam.
   `Aquela noite os dois quase não conseguiram dormir, passaram a noite toda conversando e tentando descobrir o nome do filho, ou filha...
   Aparentemente estavam tão cansados que, não conseguindo raciocinar com clareza, começavam a pensar em nomes como Linotália ou Talialino, Lita, ou Talo...
   Apos algumas horas de incongruências nominativas, chegaram `a conclusão que tentar misturar seus nomes so' iria criar constrangimentos para o futuro rebento. Assim sendo, depois de algumas ponderações mais coerentes, chegaram a conclusão que se menino, seu nome seria Noel e, se menina, Noelle.
   Assim que acharam um nome, finalmente, conseguiram dormir...
   Tudo corria bem ate' que uma grave crise financeira atingiu os Estados Unidos e por consequência, o mundo inteiro...
   Parecia ate' que Natalino estava prevendo... Em poucas semanas, perdeu o emprego.
   Após tentar tudo a seu alcance, decidiu que a única opção seria voltar ao Brasil que, segundo ouvira dizer, estava enfrentando `aquela crise bem melhor do que muitos países.
   No Brasil, não tardou em encontrar um emprego. Bem verdade, nem de perto comparável ao que havia perdido mas, `aquela altura do campeonato, com o bebê prestes a nascer, não podia se dar ao luxo de exigências.
   O casal, que vivia confortavelmente alguns meses atrás, agora enfrentavam séria crise financeira. Aos trancos e barrancos mal conseguiam manter sua união.
   Assim que Noelle completou cinco anos, Natália também começou a trabalhar, contribuindo com sua parte para o sustento da família...  Eles atravessavam um clima muito tenso, com nervos `a flor da pele; economizavam ate' papel higiênico... Tudo era restrito a um minimo necessário. Natalino tinha consciência que estava `a beira de perder sua família e por isso mesmo tentava controlar seu nervosismo ao máximo, o que, paradoxalmente, o fazia ficar mais nervoso ainda.
   Uma das coisas que mais o aborreciam era ver noticias diárias de corrupção em praticamente todos os estados, perpetrada por políticos, funcionários de alto escalão de empresas estatais, que ganhavam milhares de reais por ano e assim mesmo espotejavam os governos ou as empresas aos quais deviam proteger, animados por uma impunidade inconsequente, enquanto ele, honestamente tentava se manter com dignidade.
   Um dia, pouco antes do Natal, colocou sua filha Noelle de castigo, ao vê-la desperdiçando um rolo de papel dourado. A menina ficou muito triste mas,  obedeceu ao pai.
   No dia de Natal, um dia comum para aquela família por ja’ algum tempo, `a hora da ceia, que naquele ano constava apenas de um arroz de forno e uma jarra de suco de laranja, a menina foi a seu quarto e voltou com uma caixa, embrulhada com aquele papel dourado com o qual dias antes ela brincava, dizendo que era um presente para os dois, seu pai e sua mãe.
    Quando Natalino abriu a caixa e não encontrou nada dentro, gritou com sua filha, dizendo:             -  Você não sabe que, quando se da‘ um presente `a alguém, deve ter algo dentro da caixa?  
    A menina olhou para ambos, com lagrimas nos olhos dizendo:                                                            -  Papai! Não esta’ vazia... Eu soprei muitos beijos dentro da caixa, so' para você e para a mamãe.
    Natalino ficou talado... Imediatamente ajoelhou-se ao lado da filha, implorando por perdão.                                
    Tempos depois, ja' de volta aos Estados Unidos, agora como diretor executivo da mesma empresa que o havia despedido, ele exibia todos os anos, com destaque, na arvore de natal, aquela caixa e, a cada dia durante as festividades, tirava um dos beijos imaginários para lembrar do amor de uma criança que mesmo na adversidade nunca esqueceu de celebrar o espirito natalino.
    Na verdade, cada um de nos, e' presenteado por nossos filhos, amigos e Deus, com uma caixa dourada, cheia de beijos e amor incondicional... Aos que entendem o valor deste presente imaginário, basta ir la', “abrir a caixa” e tirar um beijo, a cada vez que necessitarem de consolo.

   Não existe possessão mais valiosa ou um melhor presente de natal...






Copyright 12/2018 Eugenio Colin

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

SPEEDING








                                                              Speeding








"An older woman gets pulled over for speeding...

Older Woman: Is there a problem, Officer?
Officer : Ma'am, you were speeding.
Older Woman: Oh, I see.
Officer : Can I see your driver's license please?
Older Woman: I'd give it to you but, I don't have one.
Officer : Don't have one?
Older Woman: Lost it, 4 years ago for drunk driving.
Officer : I see...Can I see your vehicle registration papers please.
Older Woman: I can't do that.
Officer : Why not?
Older Woman: I stole this car.
Officer : Stole it?
Older Woman: Yes, and I killed and hacked up the owner.
Officer : You what?
Older Woman: His body parts are in plastic bags in the trunk if you want to see.
The Officer looks at the woman and slowly backs away to his car and calls for back up. Within minutes 5 police cars circle that car. A senior officer slowly approaches the car, clasping his half drawn gun.
The senior officer said: Ma'am, could you step out of your vehicle please! 

The woman steps out of her vehicle.
Older woman: Is there a problem sir?
The senior officer said: One of my officers told me that you have stolen this car and murdered the owner.
Older Woman: Murdered the owner?
Senior Officer: Yes, could you please open the trunk of your car, please.
The woman opens the trunk, revealing nothing but an empty trunk.
The senior officer, then ask her: Is this your car, ma'am?
Older Woman: Yes, here are the registration papers. The officer is quite stunned.
"One of my officers claims that you do not have a driving license." He said.
The woman digs into her handbag and pulls out a clutch purse and hands her driver's licence to the officer.
He examines the license and, looks quite puzzled.
"Thank you ma'am! The officer who stopped you told me you didn't have a license, that you stole this car, and that you murdered and hacked up the owner.
Older Woman: I Bet the liar also told you I was speeding
...





Copyright 9/2018 Eugene Colin.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

O TARADO DE BANGU










                                                 O tarado de Bangu.










  Todos nos temos nossas manias, muitos colecionam coisas por motivos diversos… Alguns colecionam carros antigos, outros bonés, muitos colecionam discos, ou sapatos, perfumes, chaveiros, miniaturas… Trolinha colecionava batom. Batom era a única coisa que ela não podia ficar sem. Ela passava batom assim que acordava, mesmo antes de tomar café…
   Ninguém podia nem tocar em seus batons… Uma madrugada pegou Brolha cheirando um deles, que havia esquecido na pia do banheiro. Deu um grito tão grande com o pobre coitado que quase acordou todos os vizinhos de Bangu, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, onde morava. Ele, assustado deixou o batom cair dentro do vaso sanitário.
   Trolinha, injuriada, fez com que ele metesse a mão na privada e pegasse o batom. Assim que ele resgatou o batom ela ordenou:
-  Agora joga fora! Babaca curioso!
   É claro que seria muito difícil encontrar uma cor de batom que sua noiva ainda não tivesse mas, não importa. O importante era fazer com que Trolinha acabasse com aquela porra daquele mau humor que já “tava” dando no saco, embora não se atrevesse, nem de leve reclamar ou, pior ainda, demonstrar que não estava satisfeito…
   Dito e feito! Assim que saiu do trabalho entrou nas “Lojas Americanas” mais próxima e, na sessão de cosméticos, começou a procurar por algo que fosse capaz de agradar sua amada.
   Não demorou muito e uma vendedora ofereceu ajuda…
   Brolha que, como muitos homens não entendia porra nenhuma de batom, começou a se educar no assunto. 
   De repente, uma tarefa corriqueira, como a de comprar um simples batom, se tornou extremamente confusa. A vendedora que se revelou uma “expert” em batom, confundiu tanto a cabeça de Brolha que ele, que já não entendia nada do assunto, passou a entender menos ainda…
-  Isso também é batom? Perguntou segurando pequeno tubo, um pouco mais grosso
   do que um lápis.
-  Pra que esse “pauzinho” com uma borrachinha na ponta? Finalizou…
-  Isso e' “Lip Gloss”… Explicou a vendedora.
-  Lipu que? Perguntou Brolha curioso, passando um pouco em sua mão…
   A vendedora apenas riu, ao olhar a expressão de espanto no rosto de seu cliente…
   A esta altura, Brolha pensou que teria sido melhor comprar flores para sua amada, mesmo sabendo que ela não gostava de flores e que batom faria de Trolinha a mulher mais feliz do mundo…
   Nada disso! Pensou consigo mesmo… Só batom vai conseguir limpar minha barra…
   Após alguns minutos de indecisão e escolha, o balcão estava cheio de batom de todo o jeito, tamanho, qualidade e preço…
   A certa altura Brolha pediu a vendedora se ela poderia experimentar, nela mesmo, quatro batons dos quais queria escolher dois para presentear sua amada.
-  Como vou passar quatro batons ao mesmo tempo? Perguntou a vendedora curiosa…
-  Dois no lábio de cima, um em cada metade, dois em baixo. Um ao lado do outro… 
   Explicou...
   A pobre moça, que naquele momento achou que deveria ter ficado mais tempo no banheiro, fazendo xixi, ao invés de tentar ajudar seu cliente, olhou para Brolha com uma cara estranha, balançando a cabeça, ainda tentando visualizar a ridícula situação em que tinha se metido. Assim mesmo, resolveu ajudar…
   Os lábios da “pobre” mais pareciam aquelas rodas da sorte do programa do Faustão, cheia de cores, cada uma com um número. Até ela ficou curiosa e se olhou no espelho, não conseguindo conter o riso…
   Mas, por incrível que pareça isso ajudou e, Brolha decidiu o que iria presentear à sua noiva.
   Com o auxílio da vendedora, conseguiu selecionar entre as dezenas de batons espalhados pelo balcão, os que iria comprar: “Paixão Ardente” e “Lábios de Fogo”.
   Ao segurar os escolhidos, Brolha, inadvertidamente esbarrou em outros batons, ainda abertos sobre o balcão, que começaram e rolar em direção ao chão.
   Tentando evitar maiores transtornos para a vendedora que tão gentilmente o atendia, procurava, a todo custo impedir que aquela porrada de batom, alguns ainda abertos, melasse o chão todo, evitando assim cagada maior.
   Brolha, em último recurso foi tentar imprensar os batons contra o balcão, o que conseguiu malabaristicamente.
   Neste momento, pediu ajuda a vendedora para que resgatasse os batons, evitando que eles caíssem, já que estava com as mãos cheias…
   Instintivamente, Marilinda correu atrás de Brolha que estava apoiado no balcão, de pernas abertas… Depois de “planejar” a melhor maneira de pegar os batons, concluiu que sua única opção era tentar recuperá-los por baixo, entre as pernas do cliente… Assim o fez.
   Quando tocou o primeiro batom e o puxou para baixo, constatou, alertada pelo grito de Brolha que  tinha segurado algo semelhante a um batom, parecido com um batom, da cor de muitos batons mas que, não era bem o que parecia.
   Brolha, assustado pelo acontecimento inesperado, afastou seu corpo do balcão, liberando assim todos os batons que magistralmente, até então, estava protegendo.
-  Puta que pariu! Exclamou Marilinda, expontâneamente… Puxei o seu “pinto” sem
  querer…
   Brolha, consternado, um pouco embaraçado começou a ajudar a vendedora recolher os batons espalhados pela loja…
   Demorou mais de meia hora para que, com o auxílio do gerente e outro funcionário, tudo pudesse ser limpo.
   Assim que levantou do chão, olhando para sua calça branca de linho puro, constatou que estava todo melado de batom. É claro que não podia nem pensar em chegar em casa desse jeito. Na melhor das hipóteses seria castrado por sua amada que jamais acreditaria naquela historia de comprar batom... 
   Para Trolinha, com certeza, quando soubesse daquela historia jamais acreditaria em uma palavra. Em sua mente aquilo tudo era apenas mais uma maneira de justificar uma obcessão doentia daquele que, apesar de ser seu companheiro, era por ela considerado o Tarado de Bangu.









Copyright 8/2018 Eugene Colin

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

RAPUNZUDA










                                                              Rapunzuda











   Rapunzuda, apelido de Rapunzel, por motivos óbvios, uma mulata muito bonita que teve seu nome inspirado na heroína da conhecida historia infantil, favorita de sua mãe, finalmente, após tanto sofrimento, conseguia arrumar um emprego de doméstica na casa de uma madame ma' pra cacete... Uma boa “filha da puta” como Rapunzuda pensava a respeito da patroa.
   A mulher não valia nada mas pagava em dia e isso e' o que importava. No inicio Rapunzuda chegou cheia de marra, dizendo que queria, carteira assinada, décimo terceiro, férias, o escambal; ao que a patroa respondeu:
-  Te pago salário mínimo, não assino porra nenhuma, não tem férias nem decimo terceiro... Se você
   trabalha doze meses, porque vou te pagar um mês a mais? Se não quiser, pode se mandar agora
   mesmo. Depois desse tal PEC das domésticas ninguém mais ta' empregando. Se você não quiser 
   trabalhar aqui, tem quem queira. Não sou sócia do governo e não estou aqui para pagar pelo roubo
   de políticos safados e cara de pau.
   Quando ouviu aquilo tudo, ficou chateada mas, tava dura, não tinha um puto de um tostão e, pensando bem ate' que a patroa não estava muito errada. Ela também jamais concordaria em sustentar político vagabundo... Resolveu então aceitar o emprego...
   Agora, trabalhando, pelo menos podia pagar o aluguel do barraco minúsculo onde morava. Apesar de toda dificuldade, estava pelo menos satisfeita... Porem, do parco salário que recebia, não sobrava nada... Nunca mais pode ir ao salão para fazer as unhas ou cabelos. Os cabelos ja' estavam tão longos que levava mais de meia hora tomando banho so' pra poder lavar toda aquela juba.
   Rapunzuda tinha mania de cantar...  Ja' saia do barraco cantando e continuava assim pela rua ate' a casa onde trabalhava, poucos blocos de onde morava. Gostava de imitar a Elza Soares... “Se acaso você chegasse no meu chateau e encontrasse aquela mulher que você deixou...” Alias, reparando bem, ela era ate' um pouco parecida com a cantora... Olhos amendoados, neste caso, de nascença, não por plástica; cabelos crespos e longos, aquela mesma voz rouca, meia gordinha, peituda e com bunda grande. Era ate' bonitinha...
   Príncipe, apelido do açougueiro do bairro, por onde Rapunzuda passava todos os dias, a caminho do emprego, ja' estava começando a ficar apaixonado pela cachopa. Quando ouvia a voz da moça, largava qualquer coisa que estivesse fazendo, so' para poder dar uma olhadinha em seu interesse amoroso.
   Um dia largou o facão, com o qual cortava os restos mortais de uma galinha, com tanta pressa que o cabo bateu na mesa de corte e a ponta voltou em sua direção, desta vez quase cortando o pinto, fato que, se tivesse sido consumado, acabaria de vez com qualquer chance de tentar conquistar Rapunzuda. Duvido que uma mulher daquela se interessaria por um despintado... O pior e' que naquele dia, so' teve chance de ver sua “amada” pelas costas, o que aliás, não era nada mal. O rebolado da mulata era algo, no mínimo, interessante de ser apreciado. Seu andar mais parecia uma bolsa de supermercado repleta de compras em movimento, tendo por cima dois mugangos, que ela, diligentemente equilibrava, para que não caíssem e, ao se espatifarem ao chão, destruídos em mil pedaços, acabassem com o sonho erótico daqueles que, vendo aquilo tudo, sonhavam em come-los.
   No trabalho, tentava ignorar os mal tratos da “madame” que entre outros vícios, tinha a mania de chama-la puxando pelos cabelos que, diga-se de passagem, agora, depois de quase um ano de trabalho, estavam quase chegando na cintura. Mildred, sua patroa, começava a reclamar que os cabelos da serviçal estavam muito grandes e anti higiênicos e pediu que ela os cortasse. 
   Rapunzuda porém, ja' havia se acostumado com os cabelos longos e ate' começava a gostar deles, principalmente depois que descobriu que uma das taras do Príncipe, o açougueiro, que ela ja' havia notado, mas dava uma de gostosa, esperando que ele tomasse a iniciativa, eram aqueles cabelos cacheados e longos.
   Em uma manha de Segunda-feira, ao passar pela “Picanha do Príncipe” nome do estabelecimento de seu admirador principal, notou que o açougue estava fechado. “Talvez ele esteja atrasado hoje” pensou ela...
   No dia seguinte contudo, e no outro, e pela semana inteira, a “Picanha do Príncipe” ficou sem funcionar o que, mesmo sem serem casados, ou namorados, preocupava `a Rapunzuda.
   Naquele final de semana, dando uma de detetive, pergunta daqui, informa dali, acabou descobrindo onde o Príncipe morava. 
   Mesmo sem saber se deveria, acabou batendo `a porta da casa do homem, que veio atende-la fazendo um barulho filho da puta, derrubando tudo que estava `a sua frente, no caminho entre a cama onde estava deitado e a porta da casa.
   Ao abrir a dita, ainda de olhos fechados, apalpando as paredes tentando “enxergar” onde estava, perguntou:
-  Quem e'?
-  Sou Rapunzuda! Não nos conhecemos pessoalmente mas, costumo passar pelo açougue todos dia e,
   esta semana...
-  Claro! Reconheço tua voz, pelas canções que ouço todos os dias quando você passa. Por favor, 
   entra!
-  O que houve com você? Esta’ doente? Precisa de ajuda? Perguntou Rapunzuda.
-  Fiquei cego! Disse Príncipe.
-  Cego? Como? O que aconteceu?
-  Não sei! Desde o ultimo Domingo não consigo abrir os olhos...
-  O que houve? Indagou ela, curiosa.
-  Não sei! Domingo passado fui dormir chorando depois de ver um filme que me emocionou muito e,    depois disso, nunca mais consegui abrir os olhos...
   Rapunzuda, dando uma de doutor olhou pro cara, passou a mão nos olhos do "amigo" e ordenou:
-  Vem comigo, vamos lavar este rosto.
   Amparando Príncipe pela mão, o levou ao banheiro, passou a mão no sabão, lavou os olhos do "paciente", e disse:
-  Pronto! Abre os olhos!
   Príncipe, obedecendo, abriu os olhos e exclamou:
-  Milagre! Voltei a enxergar.
-  E'! Na próxima vez, lave o rosto pela manhã, depois de chorar a noite inteira, para se livrar desse
   monte de remela grudenta que cobre teus olhos e te deixa "cego"... Disse ela, achando que seu novo
   amigo era meio "desligado".
   Embora houvesse descoberto que o tal do Príncipe era burro, Rapunzuda estava feliz, pelo menos se sentiu útil e importante, completamente oposto, `a maneira pela qual se sentia em seu emprego.
   Nas semanas subsequentes, ela e seu príncipe ate' trocaram algumas palavras. Gostava dos elogios que ouvia diariamente `as canções que cantava enquanto caminhava.
   Em uma manha de terça-feira, Mildred, a patroa filha da puta, a estava esperando com uma tesoura escondida atrás das costas. Assim que Rapunzuda foi `a cozinha e começou a lavar pratos, a patroa, sorrateiramente, meteu um monte te tesouradas nos lindos cabelos cacheados da empregada que, puta da vida, se demitiu imediatamente, jurando levar a patroa `a justiça, não so' pela agressão cabeluda, como também pelo descumprimento da PEC das Domésticas, mesmo sabendo que isso jamais seria resolvido antes dos próximos dez anos... Justiça brasileira!
   No dia seguinte, ao passar triste e sem rumo pela frente da “Picanha do Príncipe”, cantando: “meu mundo caiu, e me fez ficar assim... Aquela piranha conseguiu, e agora diz que tem pena de mim...” chamou a atenção de seu “amigo” que, imediatamente indagou o motivo de tanta tristeza...
   Ainda debruçada no balcão, depois de contar o acontecido, ela ouviu:
-  Vem trabalhar comigo. Você fica no caixa. Assim eu não tenho mais que cortar carne com mão 
   suja de dinheiro... Quanto aos cabelos, não fica triste... Eles crescem novamente. Além do mais,
   você não precisa de cabelos longos para ser a mulher mais linda que eu ja' vi...
   Pronto! Agora o cara derreteu a mulata...
   Ali, naquele local de trabalho, se concretizava uma amizade, destinada a se transformar em um romance que traria paz, amor, e felicidade eterna para o Príncipe e sua Rapunzuda..
  
   
   
   

   
Copyright 9/2018 Eugene Colin.