segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

SMORGASBORD








                                                                Smörgåsbord








   Agenor Guardanapo havia decidido mudar de vida no ano novo...
   A idade estava chegando e ele temia que, se continuasse com o tipo de vida que levava, teria sérios problemas no dia do juízo final...
   O cara era uma desgraça... Bebia, fumava, namorava todo mundo... Não queria saber se ela era velha ou nova, feia ou bonita, gorda ou magra. O coração batia, ele comia! Adorava orgias e tudo mais que fosse contrario aos ensinamentos de Deus.
   Todo dinheiro que ganhava, gastava em bebida, mulheres, cigarro, gorjeta para dançarinas... Coisas assim.
   Aos quase sessenta anos de idade, não tinha nada em sua vida de que pudesse se orgulhar. Havia feito besteira a vida inteira mas, agora era diferente. Estava decidido...
   Não sabia se estava cansado da vida que vivia ou arrependido do modo que sempre viveu. Apesar de seu estilo de vida, frequentava a igreja e era uma pessoa boa, de princípios. Praticava suas incoerências mas nunca prejudicou ninguém ou permitiu que outrem pagasse pelas consequências de seus atos.
   Acontece que o homem era pior do que São Tome’, tinha que ver para crer. Ver duas vezes antes de crer uma so’.
   Naquele Domingo, depois da missa, foi ate’ a sacristia, conversar com o padre.
-  Dom Cascudo, bom dia! Posso falar com o senhor, um minuto?
-  Claro meu filho! Respondeu o sacerdote.
-  E’ o seguinte seu padre: Tô querendo mudar de vida, ser um melhor cristão para que,
   quando morrer poder ir para o céu. O problema e’ que não sei como e’ la’... Gostaria
   de dar uma chegada no céu e no inferno, so’ para ver a diferença e, depois de ver como e’, ter mais
   um incentivo para mudar de vida.
-  Nunca ouvi falar disso mas, tudo bem! Vou ver o que posso fazer. Respondeu o
   padre. Porque você não acredita? Não e’ mais fácil? Finalizou.
-  Pode ser para o senhor mas, pra mim, so’ vendo... Aquela historia do Tome’, lembra?
   Normalmente, “Vou ver o que posso fazer...” pode ser “traduzido” como “Nao enche meu saco!” Mas, mesmo sem saber porque, ele achava que arrumaria um modo de alcançar sua meta.
   Agenor continuava sua vida, agora dando uma trégua a seu “modus vivendi”. Pelo menos ate’ se certificar que as diferenças entre la’ em cima e la’ em baixo valiam a pena...
   Dois domingos depois voltou a falar com Padre Cascudo...
-  E ai seu padre? Conseguiu alguma coisa?
-  Meu filho, pensei que você estivesse de brincadeira...
-  Seu padre! E’ serio! Trata-se da minha salvação eterna... O senhor tem que me ajudar.
-  Meu filho, me da’ mais uma semana. Vou resolver isto. Com certeza!
   Duas semanas depois, em uma missa, Dom Cascudo chamou aquele fiel e pediu para que, depois da missa, fosse falar com ele.
   Agenor não parou de tremer a missa toda. Estava tao nervoso que, mesmo sem saber, rezou dois terços, pratica que havia adquirido algumas semanas antes, com a finalidade de limpar um pouco sua barra. Não que tivesse a intenção de rezar mais do que deveria mas, com aquele nervosismo, sua mão tremia tanto que pulava uma conta para frente e duas para trás.
   No final da missa, la’ foi ele em direção `a sacristia... Ao olhar para o padre, ainda tremendo de nervoso falou:
-  Seu Padre, e’ melhor deixar pra la’. Não sei se quero saber sobre coisas que não devia...
-  Agora e’ tarde meu filho... Ja’ ta’ tudo combinado. Assim que eu fechar a igreja você  vai ter sua
   resposta. Disse Dom Cascudo.
   Enquanto o padre fechava a igreja, Agenor tremia tanto, apoiado a uma mesinha da sacristia, na qual tentava se segurar, que os santinhos sobre ela começaram a cair, um por um, espatifando-se ao chão. Cabra esperto, sorrateiramente, levantava a toalha que forrava a mesinha e com a ponta dos pés empurrava os cacos quebrados para embaixo da mesa... Ate' chegou a pensar se isso seria considerado pecado... Mais um!
   O padre voltou e, enquanto tentava acalmar sua “ovelha negra”, uma luz mais clara do que a do sol invadiu a igreja e procurou seu caminho ate’ onde estavam.
   Assim que toda aquela claridade penetrou o interior completamente, um anjo apareceu dizendo:
-  Venha meu filho, vamos fazer um “tour” pela vida eterna...
   Agenor nem conseguia falar...
   O anjo pegou o homem pela mão e saíram atravessando parede, porta, muro... Apos subir um pouco no espaço, tomaram velocidade e desceram como um foguete, passando pelo chão, entrando na terra e viajando alguns minutos por uma escuridão assustadora.
   Pararam por alguns segundos e, de repente, uma claridade começou a revelar uma enorme mesa, repleta de comida, um Smörgåsbord, melhor dizendo. Todas as iguarias do mundo sobre uma mesa que se perdia de vista, com cadeiras de ambos os lados e, as pessoas sentadas em frente a tudo aquilo magras, com o semblante de desespero, famintos, sem saber o que fazer ja’ que a distancia entre as cadeiras e o centro da mesa era muito grande e, as colheres `a sua frente, atadas `as mãos, com mais de um metro de comprimento, eram suficientes para alcançar as travessas de comida mas, por serem muitos grandes, não permitiam que conseguissem levar qualquer alimento `a boca.
   O anjo olhou para Agenor e disse:
-  Ja’ viu como e’ o inferno?
   Ao reparar o aceno afirmativo que o homem fez com a cabeça, o anjo falou:
-  Vamos ao céu!
   Depois de minutos rompendo a escuridão, ainda de mãos dadas, saíram sobre as ruas velozmente e voavam em direção ao firmamento...
   Chegando muito acima das nuvens, pararam sobre uma imensidade toda azul claro...
   Novamente, apos alguns segundos, outra imagem se revelava. A mesma cena... Uma mesa enorme exatamente igual `a que haviam visto no inferno. As mesmas cadeiras, as mesmas colheres, as mesmas comidas, tudo exatamente igual. Mas as pessoas sentadas `a mesa estavam alegres, bem nutridas, coradas, felizes...
   Agenor não entendeu nada mas ficou curioso...
   O anjo olhou para Agenor e disse:
-  Ja’ viu como e’ o céu?
   Depois de notar o aceno afirmativo com a cabeça, o anjo pegou o homem pela mão e voltaram para a sacristia da Igreja.
   Em la’ chegando, Dom Cascudo ainda aguardava por eles.
   Ao colocarem os pés no chão, Agenor reuniu todas suas forcas e, vencendo o pavor, perguntou ao anjo:
-  Não entendi nada! Pelo que vi não ha’ diferença entre o céu e o inferno. Com colheres daquele
   tamanho, ninguém consegue se alimentar. Mas porque as pessoas no céu estão tao felizes e as do
   inferno tao sofridas?
   O anjo olhou para ele e, com um sorriso sutil explicou:
-  E’ porque no céu, uns alimentam aos outros.

   Nossa vida pode ser muito fácil ou muito complicada. A opção e’ nossa!...






Copyright 2013 Eugenio Colin
  

  

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O PLANO NATALINO







                                                             O Plano Natalino








   `Aquela noite, um homem, andando pelas ruas de Boston, viu a sua frente uma mulher loira, alta, muito elegante, de salto alto, que despertou sua curiosidade...
   Apressou o passo e olhando para ela, andando a seu lado falou:
-  Can I ask you something?"
   A mulher olhou pare ele, de relance, não deu importância, e seguiu seu caminho. Ele deixou, propositadamente, que ela andasse um pouco `a frente.
   Depois de olhar para seu rosto, sentia uma compulsão em falar com ela. 
   Decididamente, era a mulher mais linda que jamais havia visto.
    Apressou um pouco o passo para que `a ela pudesse chegar novamente mas, o olhar serio que viu estampado em seu rosto o fez deixa-la seguir, mais uma vez. Quando ela ja' quase havia sumido de sua vista apressou-se, agora com determinação, tentando resgata-la. Não podia deixa-la passar. Tinha que falar com ela. Tentou finalmente.
-  I just want to ask you something! May I?
   Ela apressou o passo, andando rápida e impecavelmente naqueles saltos altos que a faziam tao elegante.
   "- Puxa vida! Acho que não tem jeito..."  Pensou o homem consigo mesmo quando, pode perceber
    um sorriso no rosto da mulher.
   De repente, lembrando-se que muitos Brasileiros vivem em Boston, arriscou:
-  Você e' Brasileira?
-  Sim! Foi a única resposta que ouviu.
   Tentou puxar conversa, andando ao seu lado mas, ela mudava de direção, propositadamente colocando outra pessoa, que pela rua também andava, ente os dois. Depois de varias tentativas infrutíferas, a mulher pegou um ônibus e se foi. Não sem deixar na mente daquele homem uma imagem que ele, tinha certeza, guardaria para sempre.

    Elfinho voltou para o céu e, antes da reunião daquela noite, disse a Papai Noel...
 -  O senhor lembra daquela carta maluca que recebemos do Bundinha Doente pedindo uma mulher
    como presente de natal? Hoje eu vi a mulher que ele quer...
 -  O nome do homem e’ Horinando Bundin Dodói... Guardei a carta... Falou papai Noel. 
 -  Mas como você sabe ser a que ele quer? Finalizou.
 -  E’ uma Brasileira, loira e de bunda grande... Bonita pra cacete... Ta’ na cara! Ademais, ela tem
    cara de quem gosta de chup...
-  Para! Modere seu palavreado. Isto aqui e’ o céu. Não o botequim que você frequentava quando
   estava vivo e era bicheiro...E o que você fez? Indagou o “velinho”.
-  Nada! Eu não sabia se o senhor queria dar a mulher ao cara...
-  Por falar nisso, o que você estava fazendo em Boston ao invés de trabalhar aqui? Estamos
   enrolados ate' o pescoço e você passeando? Indagou Papai Noel.
-  Estava com vontade de fumar um cigarrinho e tomar uma cerveja e senhor proíbe tudo aqui...
   Respondeu Elfinho.  
   Depois de ouvir a historia, Papai Noel levou o assunto `a reunião daquela noite e ficou resolvido que, se fosse possível, ele deveria dar a mulher de presente. Além de fazer o cara feliz, ganharia mais um aliado para comprovar a veracidade deste mito que envolve o Natal.
   Ali mesmo, ordenou `a Elfinho, aquele duende rebelde, que voltasse ao mesmo lugar no dia seguinte e falasse com a mulher, de qualquer maneira...
   Todas as noites, Elfinho voltava para o céu, com um bafo de cerveja e cheiro de cigarro difícil de aguentar dizendo a Papai Noel; “- Nada!”
   Os dias se passavam e todos no céu ja’ estavam preocupados. Agora era uma questão de honra... A mulher tinha que ser encontrada. O dia de Natal estava chegando...
   Finalmente, na manha do dia 23, Elfinho, de volta `a Boston, estava quase jogando seu cigarro fora quando uma estranha pediu que acendesse o cigarro para ela. Ele tirou o isqueiro do bolso, o acendeu, e sentiu uma das mãos da mulher tocando a sua, tentando proteger a chama do vento gelado. Ao levantar o rosto, em sua direção, levou um susto... Era a mulher por quem procurava...
   Desta vez não podia deixa-la escapar. Usando de toda sua sutileza, passou a mão na bolsa da mulher e saiu correndo.
   Como era um duende, podendo ate’ voar se quisesse, ninguém o alcançou...
   Logo após bisbilhotar seus documentos e escrever o que interessava, voltou ao mesmo lugar e devolveu a bolsa `aquela mulher... Assim que ela viu o baixinho gritou: “- Foi esse ai quem roubou minha bolsa!”
   Pra que! Começaram a meter porrada no pobre duende que, se não conseguisse voar, morreria pela segunda vez.
   Quando Papai Noel o viu chegar ao céu todo arrebentado, perguntou:
-  O que aconteceu?
-  Deixa pra la’ “patrão”. Tenho aqui todas as informações daquela mulher...
   Papai Noel conferiu tudo que Elfinho escreveu em um papel e começou a traçar seus planos para satisfazer o pedido que o homem havia feito naquela carta maluca.
   Na mesma noite “fez” com que Horinando pensasse em entrar num dos sites de namoro pela Internet. Tratou que a “coincidencia” o fizesse escolher mesmo que a mulher também frequentava...
   A tristeza da noite solitária daquele homem, foi completamente transformada quando viu o primeiro perfil. Alem da foto que “tinha certeza” ja’ havia visto antes, O cabeçalho de sua descrição dizia: “Procuro por um homem que goste de mim, não so’ da minha bunda...”
   Horinando mandou uma mensagem e, imediatamente foi respondido.
   Mais duas mensagens e a mulher lhe deu o numero do telefone. Mais alguns minutos e ja’ estavam conversando `a viva voz, começando a se entender e, em poucas horas, descobriram um no outro o que sempre procuraram... Agora! Diz que Papai Noel não sabe o que faz...
   No dia seguinte, véspera de Natal, quando haviam combinado se encontrar, conversando casualmente, Nilde, nome daquela mulher, disse que tinha a sensação que ja' houvessem convivido antes. Que apenas estavam se reencontrando...
   Na primeira vez que Horinando ouviu esta sentença não deu muita importância.
   Quando ouviu a mesma observação pela segunda vez, como que por instinto, sorriu. Nilde olhou para ele, sorrindo também e me perguntou:
-  O que foi?
   Sorriu novamente! "O que foi?" Insistiu curiosa...
   Ele a olhou e disse:
-  Ja' sei! E' verdade, ja' havíamos nos visto antes...
-  Quando? Perguntou Nilde.
-  Em Boston, andando na rua. Tentei conversar mas não recebi tua atenção. Depois de varias
   tentativas, você pegou o ônibus e foi embora. Hoje, depois que te conheci pessoalmente, sabendo
   que teu irmão vive em Boston, me lembrei que foi la' que te vi pela primeira vez.
   Ela olhou para seu companheiro, como se estivesse tentando reconhece-lo e, depois de algum tempo, apenas sorriu. Não sabia se convencida, se conscientizada de que esse fato era real ou apenas reflexo das muita imagens que, na esperança de se encontrarem, fizeram um do outro e agora, depois de algum tempo, começavam a tomar forma.
    Depois de passarem o dia juntos, repleto de conversas, passeios, reflexões, troca de carinhos, decidiram começar a explorar mais a magia daquele encontro. Se deram a mão e saíram felizes com o presente de Natal que haviam se dado um ao outro...

   Do céu, Papai Noel olhava, feliz ao constatar que o plano havia dado certo...
   Elfinho, a seu lado, percebendo a felicidade do velhinho, perguntou...
-  E se este encontro não tivesse dado certo?
   Papai Noel, olhando para ele com um olhar de quem sempre soube o que fazia, apenas sorriu ironicamente, em resposta...
-  Não era mais fácil pegar logo a mulher e dar para ele amanha, ao invés de ter corrido o
   risco de não se entenderem? Perguntou Elfinho.
   Papai Noel, olhando para ele mais uma vez, com toda sabedoria, respondeu:
-  Você sabe me dizer como fazer uma bunda daquele tamanho passar pela chamine'?...







Copyright 2013 Eugenio Colin












segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

CHRISTOBEL








                                                                 Christobel






   Christobel, costumava dizer que o Natal como uma festa sem o menor sentido, apesar de viver em Santa Claus, Indiana, conhecida como "a cidade do Natal dos Estados Unidos."
   Segundo ele, a noite de 24 de dezembro era a mais triste do ano, porque muitas pessoas se davam conta de quão solitárias eram, ou quanto sentiam a ausência da pessoa querida que não esteve presente durante o ano.
   Mas, Chris era um homem bom. Achava que “Natal” foi criado pelo comercio para iludir o crédulo e vender tudo que ninguém precisava...
   Tinha uma família unida e amorosa, sempre ajudava ao próximo, e era honesto nos negócios. Entretanto, não podia admitir que as pessoas fossem ingênuas a ponto de acreditar que um Deus havia descido à Terra só para consolar os homens.
   Sendo uma pessoa de princípios, não tinha medo de dizer a todos que o Natal, além de ser mais triste do que alegre, também estava baseado numa história irreal; um Deus transformado em homem.
   Como sempre, na véspera da celebração do nascimento de Cristo, sua esposa e seus filhos se prepararam para ir à igreja e, como de costume, ele resolveu, mais uma vez,  deixá-los ir sozinhos, dizendo:
-  Seria hipocrisia da minha parte acompanhá-los. Estarei aqui esperando pela volta de vocês.
   Quando sua família saiu, sentou-se em sua cadeira preferida, acendeu a lareira, e começou a ver as noticias daquele dia, pela televisão.
   Entretanto, logo foi distraído por um barulho na sua janela, seguido de outro e, mais um.
   Achando que se tratava de alguém jogando bolas de neve, pegou o casaco para sair, na esperança de dar um susto no intruso.
   Assim que abriu a porta, notou um bando de pássaros que haviam perdido o rumo devido a uma tempestade e, agora tremiam na neve.
   Como aqueles passaros haviam notado a casa aquecida, tentaram entrar, mas, depois de repetidas tentativas chocando-se contra o vidro, machucaram suas asas, e não podiam mais voar. "- Não posso deixar essas criaturas aqui fora", pensou Chris. "- Como ajuda-las?"
   Ele foi até sua garagem, abriu a porta e acendeu a luz.
   Os pássaros, porém, não se moveram.
   "- Eles estão com medo", pensou...
   Então, entrou na casa, pegou alguns miolos de pão, e fez uma trilha até a garagem aquecida... A estratégia não deu resultado.
   Christobel abriu os braços, tentando conduzi-los com palavras carinhosas, tentou empurrar delicadamente um e outro, mas os pássaros ficaram ainda mais nervosos. Começaram a se debater, andando sem direção pela neve e gastando inutilmente o pouco de energia que ainda possuíam.
   Ele já não sabia o que fazer...
-  Vocês devem estar me achando uma criatura aterradora. Disse, em voz alta. Será que não entendem
   que podem confiar em mim? Finalizou..
-  Se eu tivesse, neste momento, uma chance de me transformar em pássaro, só por alguns minutos,
   vocês veriam que eu estou apenas tentando salvá-los! Disse, como se estivesse conversando om as
   aves.
   Neste momento, o sino da igreja tocou, anunciando a meia-noite...
   Um daqueles pássaros transformou-se em anjo com asas prateadas e reluzentes que se moviam ligeiramente, iluminadas por um raio de luz que vinha de uma das estrelas do céu. Tentando manter-se parado, poucos metros acima do chão disse `aquele homem assustado, imobilizado por uma cena inusitada pela qual não estava esperando:
-  Agora você entende por que Deus precisava transformar-se em Homem?







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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

PAPAI NOEL









                                                                Papai Noel








   Estava sentado na sala de visitas da casa da Sheila, amiga de muitos anos, quando ouvi Pedrinho, seu filho mais novo dizendo:
-  Victor! Papai Noel não existe... Você parece mais criança do que eu...
   O assunto dos meninos, em uma conversação paralela `a nossa era, evidentemente, o Natal.
   Imediatamente, minha amiga, que conversava animadamente, quase como que usando as mãos como palavras, deixando sobrar uma porradinha de leve em meus bracos de vez em quando, talvez, em sua ideia, tentando me manter acordado, sem de leve saber que sempre mereceu minha total atenção em nossas conversas, neste caso, sem a necessidade de me catucar tanto, parou de falar e disse:
-  Ta vendo! Isto e’ o que se ensina nas escolas hoje em dia... 
   Ao realizarmos que não conseguiríamos entender o motivo, ou origem, da conversa dos meninos, continuamos a nossa...
   Dias depois, lembrando daqueles momentos agradáveis que desfrutamos, pensava na afirmação do Pedrinho... “- Victor! Papai Noel não existe...”
   Mina imaginação me reportou aos meus dias de criança...
   Uma das lembranças mais vividas que trago em minha memoria e’ um poster muito grande, com mais de um metro de altura onde se via aquela famosa figura de Papai Noel, pintada por Norman Rockwell, com o dedo polegar apontando para um quadro onde estava escrito: “Trouxe o que me pediram, cumpram o que me prometeram...”
   Este poster “apareceu” em frente a minha cama em uma manha de Natal...
   Procurando pela verdade, ja’ que, por algum tempo em minha vida, me sinto apto a tomar minhas próprias decisões, me deparei com centenas de artigos, alguns inclusive muito bem detalhados, que provam cientificamente que Papai noel nunca poderia existir...
   Alguns outros, não tao bem elaborados, que afirmam justamente o oposto: Papai Noel existe!
   Mas, de tudo que li, o que mais me chamou atenção foi a declaração de uma Psicanalista Australiana, Melanie Klein (1882-1960) que relata ter experimentado negar a existência do “velinho” a seus filhos. Ela acreditava que a realidade devia prevalecer em qualquer circunstância... Um dia, perto do Natal, se deparou com um pedido dos filhos para se mudarem para a casa da vizinha. Ao tentar saber o motivo daquele pedido, ouviu em resposta: “- E’ que la', Papai Noel existe.”
   Não estou aqui me referindo a mentir ou dizer a verdade... Estou falando sobre crença ou descrença...
   Em um dos mais importantes documentos da humanidade, a Declaracão da Independência Americana, uma das passagens mais marcantes afirma “que todos os homens são criados iguais, que eles são dotados pelo seu criador com certos direitos inalienáveis, que entre eles estão Vida, Liberdade a a busca da Felicidade.”
   Estas palavras tem ajudado a ditar os destinos de Americanos e vários outros povos através dos anos.
   Ora, se tenho direito `a busca da Felicidade, então posso decidir em que acreditar para ser feliz, certo?
   Mas, e’ cientificamente impossível provar que Papai Noel existe...
   Também e’ cientificamente impossível provar como o mundo começou... Existem teorias e’ fato mas, nenhuma delas podem ser comprovadas... Os cristãos dizem que foi Deus quem criou o mundo.
   Os céticos diriam; mas se nem Deus existe como pode alguem ou entidade que não existe criar algo real como o mundo?
   Alguns cientistas acreditam na teoria do “Big Bang” como o inicio do mundo. O que afirmam ser a explicação mais provável... Provável! Não comprovável!
   Ninguém estava la’, naquele momento, para atestar... Então, posso dizer que o mundo não existe... Mas eu estou aqui, agora, como não existe? Neste caso a coisa se torna mais complicada ainda! Estamos vivendo em um mundo que não sabemos como apareceu, mas temos que acreditar nisso, ja’ que aqui estamos...
   Mas se o “Big Bang” não pode ser comprovado e e’ só o que temos, porque temos que comprovar a existência de Deus? Ou Papai Noel?
   Porque temos que acreditar so’ no que e’ comprovável?
   Nos Estados Unidos, centenas de cientistas tentam desvendar os mistérios que envolvem as atividades do cérebro humano. Ate’ hoje não sabemos como muitas atividades do nosso cérebro ocorrem. A consciência, os sonhos, o medo, como nossa memoria e’ arquivada, a percepção, movimento e reação, são alguns dos mistérios do cérebro que talvez nunca sejam esclarecidos
   Então? Nosso cérebro existe? Claro que exite! So’ não sabemos como funciona...
   Desde que nascemos sempre convivemos e vamos continuar convivendo com fatos inexplicáveis... Porque só Papai Noel tem que ser explicado?
   Papai Noel e’ importante para uma criança. Desrespeitar a fase de desenvolvimento na qual a criança precisa usar a imaginação para entrar aos poucos na realidade pode ter o efeito contrário. Quando não encontra espaço para transgredir com suas histórias fantásticas porque é tachada de mentirosa, a criança pode crescer se reconhecendo como tal.
   As lembranças de nossa infância são as mais importantes em nossa vida.
   Kane ( do filme Citzen Kane ), o homem nais rico do mundo `a sua época, morreu dizendo “Rosebud”, nome de seu skate quando era menino e pobre, a única lembrança feliz de sua vida.

   Creio que os que defendem a existência de Papai Noel são mais simplistas, menos elaborados, porque acreditam ser algo tao real e evidente que não necessita de muitas explicações... Ja’, as teorias complexas tem que estar sempre procurando algo para justificar a falta de probabilidade encontrada a cada descoberta.
   Desmentir a fantasia de uma criança e’ o mesmo que podar sua criatividade e imaginação definitiva e perigosamente.
   A vida e’ uma transição gradual onde ela mesma se encarrega, inexplicavelmente, de corrigir percepções, ajustar pensamentos, e como um filtro separar ficção de realidade. A diferença e’ que o remanesceste dessas fantasias separadas pelo “filtro da vida” ao invés de serem descartadas, serão guardadas definitivamente em nossa memoria, sempre acompanhadas de um sorriso puro e infantil, a cada vez que forem chamadas, mesmo que por alguns segundos, `a realidade em que vivemos no momento, certamente bem mais complicada.
   Pedrinho estava errado. Papai Noel existe! E, o mais maravilhoso e’ que cada um de nos tem o poder de encontra-lo de sua forma pessoal e particular.
   E, o pior e’ que, vai chegar um dia em sua vida, quando pensar que sabe tudo, em que vai procurar por Papai Noel e não vai encontra-lo em suas lembranças porque, quando era criança, acreditava que o “velinho” era apenas uma mentira, que nunca fez parte da realidade na qual foi criado.




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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

PERMISSÃO PARA COMER O MEU PERU








         
                                             Permissão para comer o meu Peru





   Nas vésperas de Natal, Papai Noel recebe algumas cartas inusitadas, algumas das quais difíceis de acreditar. Esta foi uma delas, enviada da cidade de Intercourse, Pensilvânia, USA, votada pelos “Duendes” como a mais estranha do ano...

   Querido Papai Noel,

   Como  o senhor bem sabe, América fica realmente especial nesta época do ano…
   As ruas são enfeitadas com motivos natalinos, sinos prateados, fitas vermelhas e verdes, figuras de Papai Noel, laços vermelhos… Ate’ muitos carros são decorados por seus motoristas. Os Shoppings então, nem se fala. Parece que o espirito de Natal desce nesta terra. Isto acontece ano apos ano e, por incrível que pareca, todos ficam excitados, alegres, entusiasmados como se nunca houvesse acontecido, como se tudo fosse novidade, como uma criança que vê Papai Noel pela primeira vez.
   Estações de radio tocam musicas de Natal o dia inteiro. Alguns canais de televisão exibem filmes de Natal diariamente, ouvimos histórias de milagres, alguns ate’ bastante plausíveis que, com um pouco de imaginação e boa vontade, bem que poderiam acontecer…
   Aqui, em locais de trabalho, enormes árvores de Natal, que quase chegam ate’ o teto são armadas e decoradas e, ao lado delas, muitas vezes um CD player toca musicas de Natal o dia inteiro.
   Antes do dia de Ação de Graças, muitas empresas distribuem `a cada empregado um brinde e, na semana antes do Natal, um presunto, daqueles que no Brasil ficam nas vitrines dos balcões das padarias, principalmente para fazer sanduíches.
   Tudo isso, toda esta fantasia que paira no ar, nos faz sonhar, aderir ao “espirito natalino” como se diz e, transformar em realidade os nossos desejos mais íntimos e importantes.

   Ela estava tao real… Parecia que a via comigo, a meu lado, sentada, como estivemos tantas vezes antes. A “contemplava” a meu lado, de pernas cruzadas, relaxadamente feliz, com as mãos no queixo, olhando para mim com o um sorriso maravilhoso, esperando que eu tomasse a iniciativa…
   Olhei para a moca, tirei o peru que trazia guardado `a algum tempo e botei para fora. Imediatamente “vi” sua mão linda e delicada segurando o peru pela ponta. Com um sorriso alegre, realizado, feliz, o colocou em sua boca de uma so’ vez, como se fosse um petisco, ainda olhando para mim, como se estivesse pedindo autorização , como se precisasse de permissão para comer o meu peru que, e’ claro, como tudo mais que tenho, seria dela também.
   Sentia esta presença tao viva e real, a mesma que me acompanha dia e noite, onde quer que eu va’, o que me alegra com uma companhia tao doce e agradável e que muitas vezes me faz sorrir sozinho, lembrando de nossas "conversas", de algo que disse e a fez feliz e, da felicidade que aquele sorriso me trouxe.
   Ainda fiquei algum tempo sentado, no mesmo lugar onde, apenas alguns minutos atrás via a mesma linda figura em minha frente, enchendo a casa de alegria e felicidade, com o som daquela voz ecoando pelas paredes que há alguns meses eram tao tristes e agora parecem que entendem o que ouvem e fazem com que as palavras ressoem, como tentando a tarefa impossível de embelezar aquela linda voz.
   Mais uma vez olhei para ela, segurando o peru que havia colocado na boca, mordendo delicadamente como se estivesse com medo de machucar.
   Estava curioso… Os dois tomates ainda estavam no mesmo lugar, ela ainda não os havia tocado. Toda vez que pegava o peru, via sua mão encostar em um deles mas, agia como se estivesse querendo evita-los… Sera’ que vai deixar para o final, para depois que estiver saciada, ou sera’ que não gosta dos tomates que acompanham o peru, pensei…
   Sinceramente, ao botar o peru pra fora, ate' havia pensado em fazer uma sacanagem mas, como  todos sabem, sacanagem sozinho não e' a mesma coisa. Alem do mais, o trabalho em agrupar em um palito tantos ingredientes, so’ vale a pena se tivermos alguem com quem dividir trabalho e prazer...
   Estava tao envolvido, tao absorto em meus pensamentos que nem percebi quando o sinal do forno me avisava que a refeição ja’ estava pronta.
   “Despertei”! Olhei para “ela” mais uma vez e percebi que estava sonhando acordado. Acho ate’ que “vi” quando ela não estava sentada na cadeira e sim dentro de mim com uma presença tao real e absoluta que por vezes se torna difícil de entender onde realidade e fantasia se separam.
   Levantei, ainda sorrindo, fui ao forno trouxe para a mesa o peru que havia acabado de preparar, juntamente com os tomates que antes havia descascado. Coloquei tudo sobre folhas de alface, “enfeitei” o peru com algumas fatias de cebola e trouxe para onde, apenas alguns minutos atrás, estava “sonhando”.
   Tenho certeza que, algum dia, vou ter a chance de, muitas vezes, dividir com alguem o peru, com ou sem os tomates, ou qualquer outra refeição que eu preparar... Mas a ansiedade que este momento chegue depressa e’ tao grande que, muitas vezes, me vejo sonhando acordado, me deliciando com uma mulher ainda “sem rosto”,  vivendo o futuro, tentando segurar junto a mim este sonho, o quanto puder, na esperança de que assim o fazendo, possibilite ao tempo passar correndo, sem nos enxergar, sem ver minha pressa em vê-lo `as nossas costas.
   Hoje, sonhei com quem ainda não conheço e, por alguns segundos ela esteve aqui comigo, compartilhando uma das tradições Americanas, ceando comigo o peru de Thanksgiving.

   Sei que e’ difícil para o senhor dar mulheres de presente mas, sendo Papai Noel e sabendo de tudo, talvez consiga e, se for possível, escolher uma para mim, dê preferência a mesma com quem vivo sonhando por algum tempo e que, ate’ ja’ colocou meu peru na boca...
   Por favor, encontre ela para mim...Não estou querendo lhe ensinar o que fazer mas, se a achar e mencionar o que ela fez, e' bem provável que se lembre.
   Ah! Se por acaso o senhor for entrar com ela pela chamine', tome cuidado... A bunda dela e’ grande, e pode ficar “engasgada”...

   Obrigado e, Feliz Natal!

   Horinando Bundim Dodói.




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