sexta-feira, 24 de abril de 2020

ANTIQUES









                                                            Antiques








   Adélia trabalhava em uma loja de antiguidades no Rio de Janeiro, em um casarão antigo, escondido em uma rua do Baixo Leblon, que havia sido recém inaugurada. Era uma experiência nova... Seus donos foram donos do mesmo tipo de negocio quando moravam nos Estados Unidos e a grande maioria das roupas expostas vinham de la’.
   Mas “Que Barato!” Nome do estabelecimento, não vendia apenas roupas... Ali tinha de tudo. Adelmis Jão, dono da loja, pregava a teoria de que “o lixo de um e’ o tesouro do outro”... Não queria nem saber, via o que para muitos seria considerado uma porcaria na rua, pega e botava pra vender. `As vezes saía de carro, andando pelas ruas da cidade “catando lixo”. Um dia, dirigindo por uma viela da Lapa, viu uma casa antiga sendo demolida... Prato feito! pegou tudo, que sua mente de comerciante achava poder ser vendido, e botou no carro.
   Ao chegar a loja deu uma limpadinha de leve, não podia estar muito limpo, para manter a qualificação de “antiques”. O cara de pau chegou ao cumulo de colocar `a venda um tijolo, quebrado nas pontas, por $ 1.500,00. E bem verdade que em um dos lados do tijolo estava escrito 1911 mas, mil e quinhentos reais?...
   A loja era interessante, principalmente para quem não tem nada que fazer e esta’ cansado de jogar cartas nas mesinhas das praças do bairro...
   Logo `a entrada estava um balcão onde trabalhavam as funcionas Adélia e sua amiga, Adelina.
   Ao lado direito do balcão, um corredor com cabines em ambos os lados, todas cheias de tralha ou, “antiques”, como preferiam dizer as vendedoras. Este corredor seguia ate’ o fim da loja, onde desembocava em um outro corredor e mais outro... Goste ou não, era interessante ver como era possível ter tanta porcaria em um so' lugar...
   Mas Adelmis Jão achava que seu negocio daria certo, era so’ uma questão de tempo para que os clientes se acostumassem `a ideia de serem explorados.
   No dia anterior `a inauguração da loja, Adélia e Adelina passaram a noite toda fazendo sacanagem na cozinha da loja... Era um tal de me da aqui, espreme mais, enfia no buraquinho, deixa que eu seguro... Quem ouvisse a conversa das duas jamais iria imaginar que estavam preparando espetinho para a festa do dia seguinte.
   Pela manhã, chega o dono da loja com cafe', suco, pão de queijo, bolo, biscoitinhos... `As dez horas as portas se abriram e... Ninguém do lado de fora. Fizeram aquilo tudo para nada. E olha que tinha um monte de faixas nos postes, em algumas ate’  se lia: "GRAND OPENING”.
   Mas Adelmis não era de se desanimar facilmente... Contactou uma amigo que tinha uma gráfica e mandou imprimir cartazes com dizeres variados para serem postados pelas ruas perto da loja... Pensou ate’ em anunciar nos ônibus que trafegavam nas imediações da loja.
   Em poucos dias, cartazes dizendo: “Você pensa que e’ velho? No “Que barato!” você vai ver o que e’ velho.”  ou “Que barato! A loja de velho...” ou  “Que barato e’ a única loja onde nada e’ velho, so’ "antiques”. Coisas assim...
   Mas, apesar da fortuna que ate’ agora havia gasto, nada... Ninguém mais queria coisa velha. Quer dizer, “antiques”.
   As vendedoras estavam desesperadas, não tinham o que fazer... A opção era ficar em pe’ o dia inteiro e, em poucos meses se candidatarem `a varizes ou, ficarem  sentadas o dia inteiro e criar calos na bunda.
   Demorou algumas semanas para o primeiro cliente aparecer, assim mesmo, deu uma voltinha, olhou para aquele monte de inutilidades e foi embora dizendo para uma das vendedoras:
-  Amanhã vou trazer um monte de tijolo que tenho em casa e vou te vender por dois merréis cada.
   Mas as vendedoras eram educadas e, jamais pensariam responder: “Enfia teu tijolo no ...”
   No segundo mês, aos poucos, uns gatos pingados começaram a aparecer... Um dia, chega um homem que ficou rondando a loja por mais de uma hora. Aquilo não era comum. Ao reparar que o homem não saia nem dizia nada, so’ rondava os corredores com os bracos cruzados atrás das costas, Adelina foi a seu encontro e delicadamente perguntou:
-  O Senhor precisa de ajuda?
-  Não! Estou bem, Obrigado! Respondeu o homem.
   O cara ja’ havia passado pela recepção umas cinco vezes quando Adélia, a outra vendedora, resolveu entrar em ação...
-  O Senhor quer ajuda? Perguntou.
-  Não me chame de Senhor, sou bem mais novo das tralhas que vocês tem aqui. Nem pense também
   que sou um “antiques”... Respondeu o homem.
   Muito interessante a coleção desta loja. Um dos item que me chamou atenção foi um tijolo de
   1911, muito raro... Também gostei daquela Vitrola com móvel para discos e tudo. Também achei
   interessante a a quantidade dos discos de 78 RPM e ate’ alguns Long Playings que possuí no
   passado. Foi muito bom saber que esta loja existe e que guarda tantos itens valiosos para a
   preservação de nossa cultura. Hoje em dia todos so’ querem saber de “novelties”, esquecendo a
   historia das coisas que os conduziram ate’ hoje...
   Adélia ate’ abriu um sorriso em resposta ao elogio...
   O tal senhor cruzou as mãos atrás das costas novamente e, olhando de um lado para o outro saiu sem dizer mais nada. A vendedora olhou para um lado, depois para o outro e, intrigada, voltou ao balcão da entrada, so’ pra criar mais algumas varizes...
   O dia terminou como havia começado... Ninguém na loja, nada pra fazer, a não ser tirara a poeira das antiguidades.
   Aparentemente, nem cartazes, propaganda em ônibus, folhetos nos postes, nada dava certo.
   Ninguém no Leblon se interessava por tijolos antigos vendidos a preço de prataria nova.
   No dia seguinte, assim que a loja abriu, volta aquele mesmo senhor... O mesmo ritual. Mãos atrás das costas olhando para os lados...
-  O senhor precisa de ajuda? Indagou Adélia, mais uma vez...
   Como não tinha nada o que fazer, ela acompanhava o homem, conversando, trocando ideia a respeito dos “antiques”, tecendo comentários que ambos compartilhavam, enfim, descobrindo que, pelo menos, havia encontrado alguem para preencher algumas horas de seu dia vazio.
   Adelmis, duas ou três vezes por semana, passava pela loja, conversava com as vendedoras e dali saia satisfeito da vida, como se estivesse vendendo horrores...
   As funcionarias não entendiam nada... O cara estava com uma despesa do cacete, perdendo um caminhão de dinheiro mas, não estava nem ai.
   Kleine Aber Löst, nome daquele senhor, visitante assíduo era, na opinião de Adélia, o único alivio para seus dias maçantes. Ele passou a visitar a loja todos os dias e, conversa vai, conversa vem, confissões daqui, revelações dali, come um pão de queijo! Aceita um cafe’? Os dois começaram um namoro. Agora, Kleine vinha todos os dias `as oito da noite, hora em que a loja fechava, acompanhar sua namorada ate’ em casa.
   Depois de algumas semanas de convivência, ele resolveu levar ate’ ao Que Barato! alguns amigos da Alemanha que vieram visita-lo.
   As vendedoras mal puderam acreditar no que venderam aquele dia. Os caras compraram um monte de “antiques”...
   Ao saber do ocorrido Adelmis Jão, dono do estabelecimento, resolveu investir em propaganda nos países da Europa. Com o tempo, ate’ conseguiu que empresas de turismo resolvessem incluir nos roteiros vendidos, meio dia de visita `a loja, cheia de “lembrancas do Brasil”. De repente, o negocio deslanchou. A medida que moradores e transeuntes viam a loja repleta de estrangeiros, resolveram dar uma espiada, so’ por via das duvidas, alguns ate’ gostaram e, começara a frequentar regularmente e, e’ claro, no meio daquele monte de porcaria, que dizer “antiques”, sempre achavam algo que os fizessem lembrar de algo importante em seu passado.
   Adélia, esperta pra cacete, convenceu o dono da loja que, não so’ precisavam de ajuda, como também, era de opinião, que precisavam de um homem. Isso iria dar a elas uma impressão maior de segurança. Adivinha que foi o escolhido? Exato!
   Quando Kleine recebeu o convite de sua namorada, aceitou imediatamente, dizendo que gostava de coisas antigas... Adélia, feliz como uma colegial apaixonada respondeu:
-  Que legal! Se você gosta de coisas antigas vai ser bom porque vai gostar de ter uma  
   namorada idosa e não vai ficar correndo atrás das mocinhas.
   Finalmente, gracas `a persistência de Adelmis Jao, seu negocio deslanchou. Adélia e Kleine decidiram morar juntos e, estavam felizes para sempre.
  
   Ah! O tijolo de 1911 foi finalmente vendido para um turista Austríaco por $ 1450 reais. Resolveram dar um desconto, so’ porque o cara era muito simpático e comprou mais um monte de trala velha. Que dizer, “antiques”.






Copyright 4/2020 Eugenio Colin

sexta-feira, 17 de abril de 2020

XMAS IN MAY









                                              XMAS IN MAY





                         A day of Christmas... There was no snow,

                         no christmas carols or signs to show,
                         the coming season to help us live,
                         to share, to dream, and also give...
       
                         I went online, like always do,
                         looking for signs of love, of you.
                         And when I read your letter to me:
                         "Me in a box", as you can see...

                         I took the "box" right to my room,
                         like a young boy or, like a groom
                         that always waited, hoping receive
                         the best present someone could give...

                         I look at it, preciously wrapped
                         with golden laces and purple packed.
                         I sat the "box" into my bed
                         to open slowly, just like you said...

                        And, when I took the lid away,
                        I found you there, this time to stay.
                        I held your hand, I touched your face,
                        I helped you out with my embrace...

                        And once you're out, with majesty,
                        I could foresee, our life to be.
                        I saw your smile, I heard your voice,
                        I saw our future, our brighter choice...

                        Now that my dream has all came true,
                        I'll just spend my life with you,
                        making each moment a season day,
                        having my christmas, this year, in May...




Copyright 5/2020 Eugene Colin.




quinta-feira, 9 de abril de 2020

MOTOCICLETA







                                                       Motocicleta









   Rolando Caio da Rocha, mais conhecido por seus amigos como “Machucado”, não se sabe porque, se sentia o jovem mais feliz do mundo naqueles dias. Havia realizado o grande sonho de sua vida desde que “aposentou” sua Gulivette, companheira fiel que o levara varias vezes, quando ainda era quase um menino, `as praias da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. E’ bem verdade que na subida tinha que pedalar pra cacete mas, ele não ligava. O importante e’ que conseguia ir `a praia, se divertir com seus colegas e ficar bronzeado para tentar impressionar, e muitas vezes conseguindo, as meninas com as quais iria dançar nos bailes de Sábado `a noite, no clube social que frequentava semanalmente.
   Machucado havia conseguido, depois de muita economia, comprar sua Yamaha Dragstar 1100. A moto era uma jóia, para quem gosta... Embora fabricada cinco anos atrás estava novinha, com pintura original, sem um arranhão. Brilhava mais do que os dentes do “Boca de Ouro”... O sonho de consumo de Machucado e de muitos de seus amigos. Tinha ate’ aqueles fiapinhos de couro nas manoplas, característicos das motos americanas pristinamente equipadas.
   O para brisa era de acrílico translúcido, faróis de milha, mata-cachorro e tudo mais que uma moto de categoria internacional tinha direito.
   Ja’ por algum tempo nosso amigo sonhava com os passeios que seriam possíveis com sua nova moto, as cidades vizinhas da sua, no Sul de Minas Gerais, estado que resolveu tomar emprestado como seu, para fugir `a violência das megalópoles onde viveu grande parte de sua vida.
   E’ claro que a infância livre, feliz e despreocupada de seus dias de menino no Rio de Janeiro havia ficado para trás há muito tempo. assim sendo, otimista como era, ao invés de sentar em casa em frente `a televisão, abrir a caixa de sapatos cheia de fotos do passado e se lamentar por uma realidade fora do alcance de seu controle, resolveu procurar outra cidade para viver, com mais liberdade, maior segurança, menos problemas.
   Não teria mais a Barra da Tijuca, nem os bailes de sábado `a noite...
   Em compensação, as estradas sinuosas e cheias de curvas sombreadas por arvores, cujas folhagens, embaladas bela brisa fresca e suave, que fazem parte da região, exalavam um perfume magnifico jamais sentido em suas milhares de viagens de adolescente em seu rumo `a praia.
   Quanto a Sábado `a noite, O máximo que poderia conseguir em uma cidade do interior era um forro’ na praça principal da cidade, animado por musicas sertanejas. Mas, ate’ isso ja’ estava fazendo parte de sua nova realidade e, depois de alguns meses vivendo na local que escolhera, ja’ estava se acostumando aos seus novos sons.
   Os anos haviam, inexoravelmente, substituído Tom Jobim por Michel Telo’, Toquinho e Vinícius de Morais por Fernando e Sorocaba, Ivan Lins por Luan Santana, Gál Costa por Paula Fernandes, Emílio Santiago por Guilherme e Santiago, e assim por diante... Talvez fosse melhor para Machucado esquecer suas preferências musicais  e se concentrar mais em sua nova moto.
   Porem, apesar de todo o excitamento e sensação de sonho realizado, havia uma coisa que o incomodava muito mas, com a qual teria que conviver, pelo menos por algum tempo, devido `a sua total incapacidade financeira em resolver o problema. A moto estava com o escapamento totalmente aberto, consequentemente muito barulhenta, fato que o entristecia profusamente mas que teria de ser compensado em sua mente pela alegria que em geral o dominava.
   Seu primeiro desejo, naquela manha de Sábado, era o de levar Aurélia Pulquéria, suanamorada, para uma volta pelas estradas bucólicas da região.
   Ao chegar `a casa da namorada, assim que ela o viu usando um casaco de couro, segurando um capacete que ostentava a mesma cor da moto, começou a pular de alegria... Sabe la’ o que e’ isso! Namorar um jovem da cidade grande, bonito pra caralho e ainda mais dono de moto... Isso era o sonho de adolescente de qualquer menina daquelas bandas... A garota pulava mais do que carro em estrada de chão esburacada do interior. Os gritos eram tantos que sua sua mãe chegou `a porta para se certificar que sua filha estava bem... A coroa ate’ deu uma olhadinha na linda moto... Provavelmente  havia pensado: “Se um garoto bonito como esse me poe numa garupa de moto, vou dar tanto pra ele que ele não vai conseguir nem fazer xixi no minimo por duas semanas.”
   A sorte do Machucado e’ que ninguém consegue ler pensamentos... Assim sendo, pegou sua querida Pulquéria pela mão que, diga-se de passagem, era bonita pra cacete e tinha um par de coxas de fazer muita popozuda morrer de inveja, alem dos peitos que mal cabiam dentro do sutiã... O cara tava com sorte. Tinha a moto de seus sonhos e uma lindas namorada pra andar com ele.
   Saíram felizes pelas ruas da cidade ate’ alcançarem a estrada que os levaria `a cidade vizinha.
   A paisagem era maravilhosa, o sol sombreando a estrada com reflexos de folhas, cerejeiras, hortênsias, acácias caídas no chão ainda emprestavam seu perfume aos que suas lindas flores caídas feriam...
   Aurélia esmagava seus peitos contra as costas de seu namorado ao mesmo tempo em que ele passava a mão na coxa da garota que ja’ estava ate’ babando, no local adequado, e’ claro!
   Em dado momento, em meio aquele momento magico, Aurélia diz para o seu namorado:
-  Essa tua motocicleta faz um barulho filho da puta.
-  O que? Perguntou Machucado.
-  Essa tua motocicleta faz um barulho filho da puta. Repetiu ela.
 - O que? Disse novamente o rapaz.
-  Essa tua motocicleta faz um barulho filho da puta. Falou ela, mais alto desta vez.
-  Como e’ que e’? Respondeu ele, quase gritando.
-  Essa tua motocicleta faz um barulho filho da puta. Disse Aurélia novamente, desta  
   vez gritando `a todos pulmões.
   A esta altura, tentando entender o que sua namorada queria dizer virou a cabeça para trás e disse, gritando:
-  Porra! Fala mais alto que essa minha motocicleta faz um barulho filho da puta..



Copyright 4/2020 Eugenio Colin

sexta-feira, 3 de abril de 2020

CARINHO










                                         Carinho








                 Menina querida, a quem não conheço,
                 mas tenta me dar o que não mereço,
                 a pele morena, a beleza singela
                 o sonho de amor que dela se espera,
                 o som de uma fala tão linda, tão calma
                 que imagino, e mexe, com fundo da alma,
                 a bondade de quem tanto fala de amor,
                 que nunca merece sentir uma dor...
                 que mantem a esperança de noite, de dia,
                 que de um homem comum, realeza faria...
                 Aquela que sabe tão bem o que quer
                 que o sabe ensinar a quem não souber.
                 que tem o perdão como meta imporatante
                 mantendo o ódio de si tão distante...
                 Os olhos que sempre sorrino estão
                 completando a beleza se nem um senão...
                 Voce viajou, andou pelo mundo
                 e, mesmo assim, nem por um segundo,
                 perdeu as raizes que um dia criaram
                 a mulher que os passos as ruas cruzaram...
                 Eu olho pra ti, sonhando acordado
                 não acreditando no que esta’ combinado,
                 que vou pra te ver, poder te encontrar,
                 uma vida a dois, quem sabe, sonhar...
                 Se então, acontecer o que tanto espero,
                 se tudo sair tambem como eu quero,
                 nem sei como vou la’ dentro sentir...
                 Vontade de um dia contigo fugir
                 para terras distantes que tão bem conheço,
                 pra juntos tentar um novo começo...
                 Poder encontrar o que procuramos
                 num ninho de amor que `a parte sonhamos
                 sem sequer saber que ao lado, um dia,
                 este sonho antigo aconteceria...
                 E então, quem sabe, sem mesmo querer
                 ao teu lado, na cama, ao amanhecer,
                 ao pe’ do ouvido falar bem baixinho:

                 Muito! Muito obrigado por todo carinho...








Copyright 10/2019 Eugene Colin