sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

ANO NOVO










                                           Ano Novo








Todo dia é ano novo
entre a lua e as estrelas
num sorriso de criança
no canto das corredeiras,
num olhar, numa esperança...
Todo dia é ano novo
no dia de quem aguisa,                                            
na natureza esquecida,
na fresca aragem da brisa,
na própria essência da vida...
Todo dia é ano novo
no regato que trabalha,
pequeno servo do mar,
nas ondas lavando as praias
na clara luz do luar...
Todo dia é ano novo
na escuridão do infinito,
todo pintado de estrelas,
na amplidão do universo,
no simples prazer de vê-las...                                              
Todo dia é ano novo
no dia que se encerra,
no germinar da semente,
nos movimentos da Terra
que gira incessantemente...
Todo dia é ano novo
no sol que cedo levanta,
no orvalho sobre a relva,
na passarela que encanta,
no cheiro que vem da terra...                                                         
Todo dia é ano novo
nas flores que desabrocham
perfumando a atmosfera,
nas folhas novas que brotam
num dia de primavera...                                                    
Todo dia é ano novo
no colorido mais belo
dos olhos dos filhos seus,
nas torres de um castelo
chegando perto dos céus...                                    
Todo dia e' ano novo                                     
no amor, na união,                                                         
em quem semeia bondade,
em quem ajuda o irmão,
colhendo felicidade...                                     
Todo dia e' ano novo
nos segredos desta vida,
no germinar da semente,
na elegância das flores,
beleza tão eloquente...
Todo dia e' ano novo
na harmonia das cores,
no sol derretendo no mar,
olhar de novos amores
jurando: "te vou amar"...
Todo dia é ano novo                   
no ciclo da natureza,
no ir e no vir constante
reafirmando a certeza
na vida que segue adiante...

Por que então esperar
ate' o mês de janeiro
do ano que vai chegar
pra se tornar pioneiro
de novas resoluçoes,
que bem poderiam ser
a alma das soluçoes,
que todos queremos ter
durante a vida inteira,
todo dia sendo ano novo?     





Copiright 1/2019 Eugene Colin



domingo, 23 de dezembro de 2018

PRESENTE DE NATAL










                                                      Presente de Natal









    Natalino estava feliz da vida... Morando por vários anos nos Estados Unidos, tinha acabado de receber de sua esposa Natália, a melhor noticia pela qual jamais poderia esperar, pelo menos em um futuro próximo; em uma visita de rotina `a seu medico soube que ela estava gravida.
   Quando lhe deu a noticia, o homem pulou tanto, não conseguindo controlar sua alegria, que ela ficou ate' com medo que ele, numa daquelas demonstrações de felicidade, que mais pareciam voos rasantes, acabasse se despencando pela janela do apartamento do trigésimo quinto andar, onde moravam.
   `Aquela noite os dois quase não conseguiram dormir, passaram a noite toda conversando e tentando descobrir o nome do filho, ou filha...
   Aparentemente estavam tão cansados que, não conseguindo raciocinar com clareza, começavam a pensar em nomes como Linotália ou Talialino, Lita, ou Talo...
   Apos algumas horas de incongruências nominativas, chegaram `a conclusão que tentar misturar seus nomes so' iria criar constrangimentos para o futuro rebento. Assim sendo, depois de algumas ponderações mais coerentes, chegaram a conclusão que se menino, seu nome seria Noel e, se menina, Noelle.
   Assim que acharam um nome, finalmente, conseguiram dormir...
   Tudo corria bem ate' que uma grave crise financeira atingiu os Estados Unidos e por consequência, o mundo inteiro...
   Parecia ate' que Natalino estava prevendo... Em poucas semanas, perdeu o emprego.
   Após tentar tudo a seu alcance, decidiu que a única opção seria voltar ao Brasil que, segundo ouvira dizer, estava enfrentando `aquela crise bem melhor do que muitos países.
   No Brasil, não tardou em encontrar um emprego. Bem verdade, nem de perto comparável ao que havia perdido mas, `aquela altura do campeonato, com o bebê prestes a nascer, não podia se dar ao luxo de exigências.
   O casal, que vivia confortavelmente alguns meses atrás, agora enfrentavam séria crise financeira. Aos trancos e barrancos mal conseguiam manter sua união.
   Assim que Noelle completou cinco anos, Natália também começou a trabalhar, contribuindo com sua parte para o sustento da família...  Eles atravessavam um clima muito tenso, com nervos `a flor da pele; economizavam ate' papel higiênico... Tudo era restrito a um minimo necessário. Natalino tinha consciência que estava `a beira de perder sua família e por isso mesmo tentava controlar seu nervosismo ao máximo, o que, paradoxalmente, o fazia ficar mais nervoso ainda.
   Uma das coisas que mais o aborreciam era ver noticias diárias de corrupção em praticamente todos os estados, perpetrada por políticos, funcionários de alto escalão de empresas estatais, que ganhavam milhares de reais por ano e assim mesmo espotejavam os governos ou as empresas aos quais deviam proteger, animados por uma impunidade inconsequente, enquanto ele, honestamente tentava se manter com dignidade.
   Um dia, pouco antes do Natal, colocou sua filha Noelle de castigo, ao vê-la desperdiçando um rolo de papel dourado. A menina ficou muito triste mas,  obedeceu ao pai.
   No dia de Natal, um dia comum para aquela família por ja’ algum tempo, `a hora da ceia, que naquele ano constava apenas de um arroz de forno e uma jarra de suco de laranja, a menina foi a seu quarto e voltou com uma caixa, embrulhada com aquele papel dourado com o qual dias antes ela brincava, dizendo que era um presente para os dois, seu pai e sua mãe.
    Quando Natalino abriu a caixa e não encontrou nada dentro, gritou com sua filha, dizendo:             -  Você não sabe que, quando se da‘ um presente `a alguém, deve ter algo dentro da caixa?  
    A menina olhou para ambos, com lagrimas nos olhos dizendo:                                                            -  Papai! Não esta’ vazia... Eu soprei muitos beijos dentro da caixa, so' para você e para a mamãe.
    Natalino ficou talado... Imediatamente ajoelhou-se ao lado da filha, implorando por perdão.                                
    Tempos depois, ja' de volta aos Estados Unidos, agora como diretor executivo da mesma empresa que o havia despedido, ele exibia todos os anos, com destaque, na arvore de natal, aquela caixa e, a cada dia durante as festividades, tirava um dos beijos imaginários para lembrar do amor de uma criança que mesmo na adversidade nunca esqueceu de celebrar o espirito natalino.
    Na verdade, cada um de nos, e' presenteado por nossos filhos, amigos e Deus, com uma caixa dourada, cheia de beijos e amor incondicional... Aos que entendem o valor deste presente imaginário, basta ir la', “abrir a caixa” e tirar um beijo, a cada vez que necessitarem de consolo.

   Não existe possessão mais valiosa ou um melhor presente de natal...






Copyright 12/2018 Eugenio Colin

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

SPEEDING








                                                              Speeding








"An older woman gets pulled over for speeding...

Older Woman: Is there a problem, Officer?
Officer : Ma'am, you were speeding.
Older Woman: Oh, I see.
Officer : Can I see your driver's license please?
Older Woman: I'd give it to you but, I don't have one.
Officer : Don't have one?
Older Woman: Lost it, 4 years ago for drunk driving.
Officer : I see...Can I see your vehicle registration papers please.
Older Woman: I can't do that.
Officer : Why not?
Older Woman: I stole this car.
Officer : Stole it?
Older Woman: Yes, and I killed and hacked up the owner.
Officer : You what?
Older Woman: His body parts are in plastic bags in the trunk if you want to see.
The Officer looks at the woman and slowly backs away to his car and calls for back up. Within minutes 5 police cars circle that car. A senior officer slowly approaches the car, clasping his half drawn gun.
The senior officer said: Ma'am, could you step out of your vehicle please! 

The woman steps out of her vehicle.
Older woman: Is there a problem sir?
The senior officer said: One of my officers told me that you have stolen this car and murdered the owner.
Older Woman: Murdered the owner?
Senior Officer: Yes, could you please open the trunk of your car, please.
The woman opens the trunk, revealing nothing but an empty trunk.
The senior officer, then ask her: Is this your car, ma'am?
Older Woman: Yes, here are the registration papers. The officer is quite stunned.
"One of my officers claims that you do not have a driving license." He said.
The woman digs into her handbag and pulls out a clutch purse and hands her driver's licence to the officer.
He examines the license and, looks quite puzzled.
"Thank you ma'am! The officer who stopped you told me you didn't have a license, that you stole this car, and that you murdered and hacked up the owner.
Older Woman: I Bet the liar also told you I was speeding
...





Copyright 9/2018 Eugene Colin.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

O TARADO DE BANGU










                                                 O tarado de Bangu.










  Todos nos temos nossas manias, muitos colecionam coisas por motivos diversos… Alguns colecionam carros antigos, outros bonés, muitos colecionam discos, ou sapatos, perfumes, chaveiros, miniaturas… Trolinha colecionava batom. Batom era a única coisa que ela não podia ficar sem. Ela passava batom assim que acordava, mesmo antes de tomar café…
   Ninguém podia nem tocar em seus batons… Uma madrugada pegou Brolha cheirando um deles, que havia esquecido na pia do banheiro. Deu um grito tão grande com o pobre coitado que quase acordou todos os vizinhos de Bangu, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, onde morava. Ele, assustado deixou o batom cair dentro do vaso sanitário.
   Trolinha, injuriada, fez com que ele metesse a mão na privada e pegasse o batom. Assim que ele resgatou o batom ela ordenou:
-  Agora joga fora! Babaca curioso!
   É claro que seria muito difícil encontrar uma cor de batom que sua noiva ainda não tivesse mas, não importa. O importante era fazer com que Trolinha acabasse com aquela porra daquele mau humor que já “tava” dando no saco, embora não se atrevesse, nem de leve reclamar ou, pior ainda, demonstrar que não estava satisfeito…
   Dito e feito! Assim que saiu do trabalho entrou nas “Lojas Americanas” mais próxima e, na sessão de cosméticos, começou a procurar por algo que fosse capaz de agradar sua amada.
   Não demorou muito e uma vendedora ofereceu ajuda…
   Brolha que, como muitos homens não entendia porra nenhuma de batom, começou a se educar no assunto. 
   De repente, uma tarefa corriqueira, como a de comprar um simples batom, se tornou extremamente confusa. A vendedora que se revelou uma “expert” em batom, confundiu tanto a cabeça de Brolha que ele, que já não entendia nada do assunto, passou a entender menos ainda…
-  Isso também é batom? Perguntou segurando pequeno tubo, um pouco mais grosso
   do que um lápis.
-  Pra que esse “pauzinho” com uma borrachinha na ponta? Finalizou…
-  Isso e' “Lip Gloss”… Explicou a vendedora.
-  Lipu que? Perguntou Brolha curioso, passando um pouco em sua mão…
   A vendedora apenas riu, ao olhar a expressão de espanto no rosto de seu cliente…
   A esta altura, Brolha pensou que teria sido melhor comprar flores para sua amada, mesmo sabendo que ela não gostava de flores e que batom faria de Trolinha a mulher mais feliz do mundo…
   Nada disso! Pensou consigo mesmo… Só batom vai conseguir limpar minha barra…
   Após alguns minutos de indecisão e escolha, o balcão estava cheio de batom de todo o jeito, tamanho, qualidade e preço…
   A certa altura Brolha pediu a vendedora se ela poderia experimentar, nela mesmo, quatro batons dos quais queria escolher dois para presentear sua amada.
-  Como vou passar quatro batons ao mesmo tempo? Perguntou a vendedora curiosa…
-  Dois no lábio de cima, um em cada metade, dois em baixo. Um ao lado do outro… 
   Explicou...
   A pobre moça, que naquele momento achou que deveria ter ficado mais tempo no banheiro, fazendo xixi, ao invés de tentar ajudar seu cliente, olhou para Brolha com uma cara estranha, balançando a cabeça, ainda tentando visualizar a ridícula situação em que tinha se metido. Assim mesmo, resolveu ajudar…
   Os lábios da “pobre” mais pareciam aquelas rodas da sorte do programa do Faustão, cheia de cores, cada uma com um número. Até ela ficou curiosa e se olhou no espelho, não conseguindo conter o riso…
   Mas, por incrível que pareça isso ajudou e, Brolha decidiu o que iria presentear à sua noiva.
   Com o auxílio da vendedora, conseguiu selecionar entre as dezenas de batons espalhados pelo balcão, os que iria comprar: “Paixão Ardente” e “Lábios de Fogo”.
   Ao segurar os escolhidos, Brolha, inadvertidamente esbarrou em outros batons, ainda abertos sobre o balcão, que começaram e rolar em direção ao chão.
   Tentando evitar maiores transtornos para a vendedora que tão gentilmente o atendia, procurava, a todo custo impedir que aquela porrada de batom, alguns ainda abertos, melasse o chão todo, evitando assim cagada maior.
   Brolha, em último recurso foi tentar imprensar os batons contra o balcão, o que conseguiu malabaristicamente.
   Neste momento, pediu ajuda a vendedora para que resgatasse os batons, evitando que eles caíssem, já que estava com as mãos cheias…
   Instintivamente, Marilinda correu atrás de Brolha que estava apoiado no balcão, de pernas abertas… Depois de “planejar” a melhor maneira de pegar os batons, concluiu que sua única opção era tentar recuperá-los por baixo, entre as pernas do cliente… Assim o fez.
   Quando tocou o primeiro batom e o puxou para baixo, constatou, alertada pelo grito de Brolha que  tinha segurado algo semelhante a um batom, parecido com um batom, da cor de muitos batons mas que, não era bem o que parecia.
   Brolha, assustado pelo acontecimento inesperado, afastou seu corpo do balcão, liberando assim todos os batons que magistralmente, até então, estava protegendo.
-  Puta que pariu! Exclamou Marilinda, expontâneamente… Puxei o seu “pinto” sem
  querer…
   Brolha, consternado, um pouco embaraçado começou a ajudar a vendedora recolher os batons espalhados pela loja…
   Demorou mais de meia hora para que, com o auxílio do gerente e outro funcionário, tudo pudesse ser limpo.
   Assim que levantou do chão, olhando para sua calça branca de linho puro, constatou que estava todo melado de batom. É claro que não podia nem pensar em chegar em casa desse jeito. Na melhor das hipóteses seria castrado por sua amada que jamais acreditaria naquela historia de comprar batom... 
   Para Trolinha, com certeza, quando soubesse daquela historia jamais acreditaria em uma palavra. Em sua mente aquilo tudo era apenas mais uma maneira de justificar uma obcessão doentia daquele que, apesar de ser seu companheiro, era por ela considerado o Tarado de Bangu.









Copyright 8/2018 Eugene Colin

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

RAPUNZUDA










                                                              Rapunzuda











   Rapunzuda, apelido de Rapunzel, por motivos óbvios, uma mulata muito bonita que teve seu nome inspirado na heroína da conhecida historia infantil, favorita de sua mãe, finalmente, após tanto sofrimento, conseguia arrumar um emprego de doméstica na casa de uma madame ma' pra cacete... Uma boa “filha da puta” como Rapunzuda pensava a respeito da patroa.
   A mulher não valia nada mas pagava em dia e isso e' o que importava. No inicio Rapunzuda chegou cheia de marra, dizendo que queria, carteira assinada, décimo terceiro, férias, o escambal; ao que a patroa respondeu:
-  Te pago salário mínimo, não assino porra nenhuma, não tem férias nem decimo terceiro... Se você
   trabalha doze meses, porque vou te pagar um mês a mais? Se não quiser, pode se mandar agora
   mesmo. Depois desse tal PEC das domésticas ninguém mais ta' empregando. Se você não quiser 
   trabalhar aqui, tem quem queira. Não sou sócia do governo e não estou aqui para pagar pelo roubo
   de políticos safados e cara de pau.
   Quando ouviu aquilo tudo, ficou chateada mas, tava dura, não tinha um puto de um tostão e, pensando bem ate' que a patroa não estava muito errada. Ela também jamais concordaria em sustentar político vagabundo... Resolveu então aceitar o emprego...
   Agora, trabalhando, pelo menos podia pagar o aluguel do barraco minúsculo onde morava. Apesar de toda dificuldade, estava pelo menos satisfeita... Porem, do parco salário que recebia, não sobrava nada... Nunca mais pode ir ao salão para fazer as unhas ou cabelos. Os cabelos ja' estavam tão longos que levava mais de meia hora tomando banho so' pra poder lavar toda aquela juba.
   Rapunzuda tinha mania de cantar...  Ja' saia do barraco cantando e continuava assim pela rua ate' a casa onde trabalhava, poucos blocos de onde morava. Gostava de imitar a Elza Soares... “Se acaso você chegasse no meu chateau e encontrasse aquela mulher que você deixou...” Alias, reparando bem, ela era ate' um pouco parecida com a cantora... Olhos amendoados, neste caso, de nascença, não por plástica; cabelos crespos e longos, aquela mesma voz rouca, meia gordinha, peituda e com bunda grande. Era ate' bonitinha...
   Príncipe, apelido do açougueiro do bairro, por onde Rapunzuda passava todos os dias, a caminho do emprego, ja' estava começando a ficar apaixonado pela cachopa. Quando ouvia a voz da moça, largava qualquer coisa que estivesse fazendo, so' para poder dar uma olhadinha em seu interesse amoroso.
   Um dia largou o facão, com o qual cortava os restos mortais de uma galinha, com tanta pressa que o cabo bateu na mesa de corte e a ponta voltou em sua direção, desta vez quase cortando o pinto, fato que, se tivesse sido consumado, acabaria de vez com qualquer chance de tentar conquistar Rapunzuda. Duvido que uma mulher daquela se interessaria por um despintado... O pior e' que naquele dia, so' teve chance de ver sua “amada” pelas costas, o que aliás, não era nada mal. O rebolado da mulata era algo, no mínimo, interessante de ser apreciado. Seu andar mais parecia uma bolsa de supermercado repleta de compras em movimento, tendo por cima dois mugangos, que ela, diligentemente equilibrava, para que não caíssem e, ao se espatifarem ao chão, destruídos em mil pedaços, acabassem com o sonho erótico daqueles que, vendo aquilo tudo, sonhavam em come-los.
   No trabalho, tentava ignorar os mal tratos da “madame” que entre outros vícios, tinha a mania de chama-la puxando pelos cabelos que, diga-se de passagem, agora, depois de quase um ano de trabalho, estavam quase chegando na cintura. Mildred, sua patroa, começava a reclamar que os cabelos da serviçal estavam muito grandes e anti higiênicos e pediu que ela os cortasse. 
   Rapunzuda porém, ja' havia se acostumado com os cabelos longos e ate' começava a gostar deles, principalmente depois que descobriu que uma das taras do Príncipe, o açougueiro, que ela ja' havia notado, mas dava uma de gostosa, esperando que ele tomasse a iniciativa, eram aqueles cabelos cacheados e longos.
   Em uma manha de Segunda-feira, ao passar pela “Picanha do Príncipe” nome do estabelecimento de seu admirador principal, notou que o açougue estava fechado. “Talvez ele esteja atrasado hoje” pensou ela...
   No dia seguinte contudo, e no outro, e pela semana inteira, a “Picanha do Príncipe” ficou sem funcionar o que, mesmo sem serem casados, ou namorados, preocupava `a Rapunzuda.
   Naquele final de semana, dando uma de detetive, pergunta daqui, informa dali, acabou descobrindo onde o Príncipe morava. 
   Mesmo sem saber se deveria, acabou batendo `a porta da casa do homem, que veio atende-la fazendo um barulho filho da puta, derrubando tudo que estava `a sua frente, no caminho entre a cama onde estava deitado e a porta da casa.
   Ao abrir a dita, ainda de olhos fechados, apalpando as paredes tentando “enxergar” onde estava, perguntou:
-  Quem e'?
-  Sou Rapunzuda! Não nos conhecemos pessoalmente mas, costumo passar pelo açougue todos dia e,
   esta semana...
-  Claro! Reconheço tua voz, pelas canções que ouço todos os dias quando você passa. Por favor, 
   entra!
-  O que houve com você? Esta’ doente? Precisa de ajuda? Perguntou Rapunzuda.
-  Fiquei cego! Disse Príncipe.
-  Cego? Como? O que aconteceu?
-  Não sei! Desde o ultimo Domingo não consigo abrir os olhos...
-  O que houve? Indagou ela, curiosa.
-  Não sei! Domingo passado fui dormir chorando depois de ver um filme que me emocionou muito e,    depois disso, nunca mais consegui abrir os olhos...
   Rapunzuda, dando uma de doutor olhou pro cara, passou a mão nos olhos do "amigo" e ordenou:
-  Vem comigo, vamos lavar este rosto.
   Amparando Príncipe pela mão, o levou ao banheiro, passou a mão no sabão, lavou os olhos do "paciente", e disse:
-  Pronto! Abre os olhos!
   Príncipe, obedecendo, abriu os olhos e exclamou:
-  Milagre! Voltei a enxergar.
-  E'! Na próxima vez, lave o rosto pela manhã, depois de chorar a noite inteira, para se livrar desse
   monte de remela grudenta que cobre teus olhos e te deixa "cego"... Disse ela, achando que seu novo
   amigo era meio "desligado".
   Embora houvesse descoberto que o tal do Príncipe era burro, Rapunzuda estava feliz, pelo menos se sentiu útil e importante, completamente oposto, `a maneira pela qual se sentia em seu emprego.
   Nas semanas subsequentes, ela e seu príncipe ate' trocaram algumas palavras. Gostava dos elogios que ouvia diariamente `as canções que cantava enquanto caminhava.
   Em uma manha de terça-feira, Mildred, a patroa filha da puta, a estava esperando com uma tesoura escondida atrás das costas. Assim que Rapunzuda foi `a cozinha e começou a lavar pratos, a patroa, sorrateiramente, meteu um monte te tesouradas nos lindos cabelos cacheados da empregada que, puta da vida, se demitiu imediatamente, jurando levar a patroa `a justiça, não so' pela agressão cabeluda, como também pelo descumprimento da PEC das Domésticas, mesmo sabendo que isso jamais seria resolvido antes dos próximos dez anos... Justiça brasileira!
   No dia seguinte, ao passar triste e sem rumo pela frente da “Picanha do Príncipe”, cantando: “meu mundo caiu, e me fez ficar assim... Aquela piranha conseguiu, e agora diz que tem pena de mim...” chamou a atenção de seu “amigo” que, imediatamente indagou o motivo de tanta tristeza...
   Ainda debruçada no balcão, depois de contar o acontecido, ela ouviu:
-  Vem trabalhar comigo. Você fica no caixa. Assim eu não tenho mais que cortar carne com mão 
   suja de dinheiro... Quanto aos cabelos, não fica triste... Eles crescem novamente. Além do mais,
   você não precisa de cabelos longos para ser a mulher mais linda que eu ja' vi...
   Pronto! Agora o cara derreteu a mulata...
   Ali, naquele local de trabalho, se concretizava uma amizade, destinada a se transformar em um romance que traria paz, amor, e felicidade eterna para o Príncipe e sua Rapunzuda..
  
   
   
   

   
Copyright 9/2018 Eugene Colin.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

EYES








                                                   Eyes








We see, in our lives, many things every day.
Food for our soul, peace of mind, I would say.
The moon, the stars, that shine in the sky,
the smell of a flower that by walking we try,
the smile of a child, sometimes talking to us
purifying our hearts, washing out all our flaws,
a walk by the beach with our love, hand in hand,
bringing emotions that we don't understand,
a sunrise, every morning, that like greeting the night
will promise new hope, a new future, always bright...
A sunset with the sun "melting" down in the sea
a joyful experience that I carry with me...
The prairie, the forest, the rivers and the trees
protecting the birds, showing out their hollies
the sources are endless, I could go on and on
expressing my thoughts from the dusk until dawn...
these things are like gifts that beauty supplies
but nothing, compared to the glare of your eyes.


  





Copyright 9/2015 Eugene Colin

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

TE AMAR













                                                       Te amar...









                  Pensei que tinhas crescido,
                  por fim tornando-te adulta,
                  deixando no tempo, esquecido,
                  os erros de tua conduta...
                  Achei que tinhas respeito 
                  por tantos que andam na rua
                  que trazem dentro do peito
                  a dor de uma alma nua...
                  Achei que então, finalmente,
                  tu fostes cumprir as promessas
                  tornando assim permanente
                  as “juras” de nossas "conversas"...
                  De nada adianta fingir
                  ainda tentar me enganar
                  queria ao menos sentir
                  vontade em ti de mudar...
                  Ha’ tempos, quando eu te deixei,
                  pelos mesmos motivos de agora
                  não volto pra ela, pensei,
                  melhor e' mesmo ir embora...
                  O tempo passou, eu bem sei,
                  a magoa, sentia aplacar,
                  saudade de quem eu amei
                  começava me maltratar...
                  Mas la', eu estava feliz
                  criei uma nova vida
                  com o tempo, meu amor refiz
                  ao lado da nova querida...
                  Então, vem você me chamar,
                  enchendo a minha cabeça
                  falando, sem descansar,
                  pedindo que não me esqueça
                  da infância feliz que eu vivi,
                  das brincadeiras de rua,
                  dos amigos que conheci,
                  dos passeios nas noites de lua...
                  Cedendo aos caprichos teus
                  então resolvi voltar
                  deixando aos que eram meus
                  e vê-los ao longe chorar...
                  E o que eu encontro aqui?
                  Mentiras, fracasso, traição,
                  as mesmas das quais eu fugi
                  quando a mim negastes a mão...
                  Teus filhos, so' andam tristes
                  da mesma maneira de outrora
                  pra eles também não cumpristes
                  as novas promessas de agora...
                  Se me conhecias tão bem,
                  sabendo o que sou e o que penso,
                  sabias que não me convém
                  viver neste contrassenso...
                  Políticos ainda mentem,
                  e muito pior agora,
                  fingindo que não entendem
                  o que o povo implora...
                  O roubo, as impunidades,
                  o crime, a insensatez,
                  que rondam pelas cidades
                  me assustam mais uma vez...
                  Assim não da’ pra viver!
                  Aquele amor de outrora,
                  sentido desde nascer,
                  mais uma vez foi embora...
                  So' espero, pátria querida,
                  ainda poder um dia
                  na longa estrada da vida
                  resgatar o que então eu sentia
                  e assim, orgulhoso falar,
                  então sem medo de errar
                  que: “eu sei! Voltei pra ficar!”
                  e, mais uma vez, te amar....






Copyright 4/2018 Eugene Colin



quinta-feira, 15 de novembro de 2018

NO MUNDO DA LUA









                                           NO MUNDO DA LUA










   Presidente novo, promessa de governo novo, ministros sendo nomeados... A promessa de colocar o pais em uma nova era.
   Dentro deste contexto, o novo ministro da ciência e tecnologia, que e' um astronauta, chegou com a corda toda. Mesmo antes de assumir a pasta, ja' estava espalhando para o mundo inteiro que o Brasil agora entrava no "clube" restrito das exploracoes espaciais.
   Por isso mesmo, agora era oficial, a AEB, Agencia Espacial Brasileira finalmente havia decidido aprovar o projeto de Viagens espaciais tripuladas.
   Apos a saída da NASA, National Aeronautics and Space Administration, desta atividade, criou-se um vácuo no continente por este tipo de exploração. Os Americanos agora dependiam da Rússia para concluir os serviços desta agencia, ainda em andamento. Se tudo acontecesse conforme planejado, quem sabe, no futuro, poderíamos nós dar carona aos Americanos.
   Na tentativa de criar um plano mais inclusivo e global, a AEB decidira criar uma sub-agencia encarregada por estes novos empreendimentos. As siglas desta nova sub divisão deveriam ser postadas em Inglês, tornando assim a agencia mais competitiva e inclusiva. Com este raciocínio, foi fundada a Brazilian Utmost National Development Administration, carinhosamente apelidada de BUNDA. 
   Agora seriam necessários criar uma espaçonave, recrutar e treinar astronautas. O governo Norte Americano imediatamente se manisfestou interessado em colaborar com o novo conceito. Uma inicial injeção de capital tornaria tudo mais fácil.
   Ficou resolvido pelos administradores da BUNDA que o primeira nave espacial Brasileira teria concepção e projetos nacionais, embora aceitasse ajuda e participações de parceiros em potencial para este plano arrojado e inovador.
   E’ claro que na atual conjuntura mundial, uma ideia como esta deveria ser primordialmente frugal e reciclável, de certa maneira baseado nas espaçonaves Americanas como a Endeavour, por exemplo...
   
   Apos toda a burocracia inerente a um estudo desta magnitude devidamente finalizada, começaram então as decisões inerentes ao tipo de cosmonave a ser desenhada. Analisando as aeronaves Atlantis, Discovery e Endeavour, nossos técnicos chegaram `a conclusão que, um desenho mais moderno e arrojado facilitariam a construção e desempenho.
    Ficou resolvido que o "foguete" seria individual. Apenas um Astronauta que fosse capaz de executar todas as tarefas da viagem por si so', embora o espaço interno deveria ser confortável bastante para ate’ três tripulantes. Decidiram também que as asas deveriam ser bem menores do que os das espaçonaves pela qual eram inspirados, os propulsores, mais arrendondados e o nariz um pouco menos pontudo e com uma fenda bem no centro com a finalidade de, segundo os técnicos, facilitar a entrada na atmosfera terrestre ao seu retorno.
   Assim que o protótipo foi finalizado, e suas fotos divulgadas, após uma analise critica e bem humorada, como e’ característica dos Brasileiros, nossa Aeronave foi apelidada de “Pirocão”.
   Estava lançado o programa espacial Brasileiro onde a BUNDA seria responsável pelas atividades do “Pirocão”.
   Agora, os aspirantes a astronautas seriam primeiramente treinados na FAB, onde tomariam conhecimento dos princípios básicos da aviação. Depois, seriam transferidos para uma escola de especialização.
    Se o critério da escolha fosse o nome dos candidatos, Jacinto Dores, Pinto Brochado, Cármem Violada, Tagarela Calado, jamais seriam aceitos.
    Mas, antes de exclui-los seria necessário atrai-los... O diretor do programa pensou em lançar slogans como: “Quer ficar bem longe da tua mulher? Nos te mandamos pro espaço”, “Gosta de velocidade? Que tal pilotar um foguete?”, “Venha passar ferias no espaço sem pagar nada.”, “Odeia todo o mundo? No espaço não mora ninguém!”, “Troque sua moto por um foguete”... Quando sua ideia foi apresentada na próxima reunião, ficou resolvido, por unanimidade, que seria melhor contratar uma companhia especializada em marketing.
   Nesta mesma reunião foi decidido que os Astronautas seriam autônomos, economizando assim alguns reais que certamente seriam esperdiçados em viagens, hotéis de luxo e outras mordomias so' para a diretoria daquela agencia. Resolveram também que o quadro de Astronautas seria composto de apenas cinco pessoas, selecionadas dentre os que se apresentassem e, a primeira missão seria uma viagem `a Lua.
   Antes de recrutar os candidatos `a Astronautas era preciso porem criar o centro preparatório. Foi criado então o Brazilian Organization of Charter Aeronautic, BROCHA, como ficou conhecido.
   Agora sim! O cronograma estava estava tomando forma. A BUNDA seria responsável pelo treinamento do BROCHA para entrar no Pirocão.
   Foram mais de onze meses de trabalho árduo, apenas para que tudo começasse a funcionar adequadamente.
   Os candidatos se apresentavam de todas as regiões do pais. Foram mais de mil e quinhentas pessoas interessadas em trabalhar com a BUNDA para ter a chance de entrar no Pirocão.
   Paralelamente, a Aeronave era projetada... 
   Depois de algumas das propostas, como a de usar um motor de fusca para economizar dinheiro, por exemplo, terem sido rejeitadas, e de alguns retoques no design, sua produção era iniciada.
   Agora, depois de mais um ano de trabalho árduo, era a hora da diretoria da BUNDA tirar ferias merecidas, tentando esquecer do Pirocão por algum tempo.
   O programa, ate’ o momento, tinha tudo par ser um sucesso. A maior prova disto e’ que, os diretores de um projeto que ate’ agora praticamente não existia, estavam tirando ferias...
   Tudo corria como esperado, sem maiores imprevistos...

   Paralelamente, depois de um ano de estudos por parte dos candidatos que se submeteram a uma seleção acurada, cinco foram selecionados. Eram eles: Herculino Fraco, do Para’, Horácio Hermoso, do Rio Grande do Sul, Dolores Morrendo das Dores, da Bahia, Aeronauta Medroso, de Tocantins e Horinando Tarado, do Sergipe.
   Agora, seriam submetidos aos estudos e treinamentos do BROCHA para estarem aptos a entrar no Pirocão.
   Foi com muito orgulho que os cinco selecionados começariam, finalmente, a fazer parte do seleto clube do BROCHA.
   As primeiras semanas de treinamento cuidaram praticamente de explicações detalhadas sobre o espaço, atmosfera, efeitos da gravidade e tudo mais que fosse importante saber ja’ que, o astronauta teria que fazer tudo por si so’. 
   As próximas semanas seriam dedicadas ao esclarecimentos de duvidas que os “alunos” pudessem ter a respeito da missão a que se propunham.
   As perguntas eram as mais variadas...
   Horinando Tarado queria saber...
 - Se não ha’ gravidade, que dizer que quando eu fizer coco as fezes vão ficar flutuando 
   destro da espaçonave? Neste caso, na hora em que eu for almoçar, devo ter cuidado 
   para não colocar o “alimento de ontem” na boca, certo?
   Ja’ Dolores Morrendo das Dores tinha outra preocupação...
 - Bem! Sendo mulher, tenho que mijar sentada. Neste caso, quer dizer que nada vai 
   cair no vaso? Vou ficar toda molhada! E na hora de tomar banho? Vou ter que flutuar 
   acima do chuveiro ou vou ter que ficar “voando”, correndo atrás da água?
   Herculino Fraco porem, achava que seus colegas estavam apenas antecipando problemas. O que ele queria saber e’ como ia acender o fogão para esquentar as refeiçoes. Sem ar não ha’ chamas, certo?
   Horacio Hermoso queria saber como iria falar pela internet com a nova namorada que
finalmente conseguira arrumar, se estavam voando acima dos satélites de 
comunicações. A moca era uma “fera” e ja’ tinha dito que se deixasse de falar com 
ela por um dia podia arrumar outra.
   Aeronauta Medroso não tinha duvidas ja’ que ate’ aquele momento não havia 
entendido porra nenhuma do que tinha sido explicado. Alem disso ja’ estava com um
medo filho da puta de tudo aquilo. So’ havia entrado naquela “fria” porque tinha sido
despejado, estava duro, e pelo menos ate’ então tinha lugar para morar e comida 
para comer.
   Herculino Fraco queria saber se dava tempo de ir `a Lua e voltar antes da decisão do Campeonato Brasileiro ja’ que, tinha certeza, seu time do coração, o Tuna-Luzo seria o campeão do Brasil

   Com o tempo, quando se iniciaram os treinos nos simuladores, as duvidas, aos poucos, eram desfeitas e os “astronautas” começavam a se sentir um pouco mais confiantes.
   Todos se aplicavam bastante, com exceção de Aeronauta Medroso que, agora sim, ainda mais, estava com um medo filho da puta de tudo aquilo.
   
   Finalmente havia chegado a hora de selecionar o candidato que passaria a fazer parte do quadro dos grandes Heróis Brasileiros. Este seria, indubitavelmente, um dos maiores acontecimentos da historia do pais e, porque não dizer, da historia da humanidade. Afinal de contas, ate’ então, apenas Estados Unidos e Rússia faziam parte dos países que haviam conseguido botar um homem no espaço.
   No dia em que o “felizardo” seria escolhido, em uma cerimonia na qual os maiores mandatários do pais estariam presentes, Aeronauta Medroso chamou o Coronel Dorildo  Pinto Dodói, diretor da BUNDA e falou bem baixinho ao pe’ de seu ouvido:
-  Doutor! Tô fora... Nestes anos em que aqui estive, juntei um dinheirinho, comprei uma 
   casinha e vou me mandar agora mesmo. Este negocio de ir `a Lua não e’ comigo... 
   Ja’ tenho dificuldades de viver aqui, como e’ que vou viver na lua?
   Dr. Dodói pediu que ao menos ficasse ate’ o fim da cerimonia para evitar embaraços, 
prometendo que ele não seria o escolhido. Aeronauta concordou.
   A cerimonia havia começado quando Horacio Hermoso chamou seu instrutor para um canto e declarou:
-  Infelizmente não vou poder mais participar deste projeto. Minha namorada esta’ doida
   para dormir comigo e disse que se eu não for para casa dela hoje, esta’ tudo 
   terminado entre nós . O senhor me desculpe mas não posso perder esta
   oportunidade. A mulata e’ boa, bonita e gostosa... Alem do mais, tenho a impressão 
   que este negocio de ir `a lua não e’ muito pra mim. Muito complicado!
   Assim que o prefeito da cidade começou seu discurso, ressaltando a bravura dos 
Astronautas, seu senso de patriotismo, sua dedicação ao `aquele projeto, Dolores
das Dores puxou a ponta do paleto’ do uniforme do instrutor, ja’ que ela tinha apenas 
um metro e trinta de altura, pedindo para ele se abaixar e falou:
-  Não vou poder ir `a Lua, se escolhida, minha menstruação estava atrasada, comprei 
   ontem um teste na farmácia da base e descobri que estou gravida. Desculpe!
   Felizmente, para os coordenadores do projeto que ainda sobraram dois Astronautas e, com cuidado e discrição, ninguém tomaria conhecimento dos problemas pelo qual estavam passando.
   Na hora do sorteio, cheio de pompa e circunstância, Herculino Fraco foi o escolhido.
Mais uma vez, o estado do Para’, estaria em uma posição de destaque. O Estado era o pai do primeiro astronauta Brasileiro. Um dos pucos homens que teriam a chance de pisar em solo lunar. Estava feliz! A Horinando Tarado ficou prometida a próxima viagem.
   O resto da cerimonia transcorreu sem maiores imprevistos. Ninguém, dentre os convidados ou mesmo da imprensa, tomou conhecimento do que havia acontecido.

   Dias depois, finalmente chegava a hora do lançamento. Todos estavam apreensivamente eufóricos. Por incrível que pareca tudo transcorria de acordo com o penejamento, sem nenhum imprevisto...
   Três horas antes do lançamento, uma multidão, alem de dignatários, políticos, imprensa, ja’ estavam presentes.
   Na sala de controle, as ultimas providências e ajustes eram verificados.
   Cel. Pinto Dodói estava muito feliz. Em apenas uma hora seu sonho de muitos anos estaria realizado. Ja’ ate’ pensava nas condecorações que receberia pela ideia de um projeto ambicioso tão bem executado. Seu sorriso ia de lado a lado das bochechas. Quase explodia de tanto orgulho. Ainda estava sonhando com as condecoracoes e, possivelmente ate’ com sua candidatura `a presidência da Republica quando seu celular tocou.
-  Coronel Dodói! Aqui e’ o Herculino Fraco! Coronel, estou no hospital...
-  O que aconteceu? Indagou o Coronel.
-  Ontem fizemos uma festa la’ em casa, uma especie de comemoração e despedida ao  
   mesmo tempo, no caso das coisas não darem certo e, conversa vai, conversa vem, 
   sem perceber comi uma travessa de torresmo de porco com cerveja e caipirinha. 
   Esta manha acordei com o pe’ do tamanho de uma bola de futebol. E justamente o 
   pe’ do acelerador e do freio da aeronave...Fui ao hospital e o medico disse que estou 
   com gota. Tô aqui deitado, de perna pra cima tomando soro e sem poder levantar ou 
   comer nada por cinco dias.
   Coronel Dodói nem se despediu de seu “heroi”. Saiu correndo atrás do instrutor, desesperado. Faltavam apenas quarenta e cinco minutos para o lançamento.
   Imediatamente, assim que soube das novidades, o instrutor ligou para Horinando Tarado. Ainda bem que temos outro astronauta treinado, pensou...
   Assim que completou a ligação ouviu: "Este numero esta’ temporariamente fora de serviço por falta de pagamento. Por favor, procure a operadora para maiores esclarecimentos".
   Agora o negocio estava complicado... O que fazer? A solução era cancelar a porra toda e tentar outra vez mais tarde. “Atitude derrotista” com a qual Cel. Dodói não concordou, rejeitando-a enfaticamente.
   Numa reunião de emergência, ja’ que faltavam menos de meia hora para o lançamento, apos expor os imprevistos aos integrantes da cúpula da BUNDA, o Coronel  implorava por sugestões...
   Todos calados! Ninguém sabia o que fazer... Parecia que o jeito era chamar a imprensa, inventar um monte de desculpas, um botando a culpa no outro e, esquecer condecoracoes e candidatura `a Presidência da Republica.
   Carlos Castrado, um dos diretores da BUNDA que estava sempre na cozinha fumando e tomando cafe’ levantou a mão medrosamente. Assim que alguns dos participantes olharam em sua direção, ele disfarçou, fingindo estar cocando a cabeça. Atitude própria para a situação.
   Ao ver o desespero do Coronel, levantou a mão novamente...
-  Fala Castrado! Vociferou o Coronel.
-  Bem Coronel... Tem a Maria Pedreira, a moca da cozinha... Ela sempre diz que daria
   tudo para participar deste projeto.
-  A mulher do cafezinho? Indagou Cel. Dodói.
-  Ela mesma!
-  Mas que experiência ela tem em empreendimentos espaciais? Perguntou Dodói.
-  Ue’! Ela vende buscape’ na feira livre de Domingo. Respondeu Castrado.
   A vinte minutos do lançamento ninguém pode ser muito exigente, pensava o Coronel, a esta altura irremediavelmente desesperado.
-  Vai la’! Chama a Maria Peideira! Instruiu o Coronel.
-  Dona Peideira! Disse Coronel Dodói assim que a cozinheira sorridente adentrou a 
   sala de reuniões.
-  Meu nome e’ Pedreira, Coronel. Corrigiu a nova quase futura astronauta.
-  A senhora estaria disposta a ir `a Lua? 
-  Claro! Todas minhas amigas sempre dizem que eu vivo no “mundo da lua”... Nunca 
   fui la’ mas pelo menos estou acostumada a ouvir a ideia.
-  A senhora ja‘ pilotou alguma coisa? Carro? Moto? Indagou o instrutor dos
    Astronautas.  
-   Eu propriamente não! Mas meu primo foi motorista de Lotacão no Rio de Janeiro... 
    Ah! Meu irmão também fazia corrida de caminhões em São Paulo... Bom! Eu vendo 
    buscape’ na feira, se e’ que isto ajuda.Informou Maria.
    Olharam uns para os outros, depois todos viraram as cabeças em direcao ao Coronel, a espera de uma decisão.
    O Coronel olhou para o relógio. Dez minutos para o lançamento...
 -  O que vocês acham? Perguntou Cel. Dodói.
   Um silencio tumular invadiu a sala. Ninguém ousava dizer nada. Ninguém estava disposto a segurar aquele “rabo de foguete”, literalmente.
-  Castrado, vai la,’ avisa a imprensa que tivemos um imprevisto técnico e que o 
   lançamento sera’ retardado em uma hora. Decidiu Cel. Dodói.
-  Dona Maria, vai na cozinha, tira o avental, depois acompanha o Instrutor ate’ a sala 
   dos Astronautas, veste o uniforme e siga as instruções que ele lhe fornecer. Disse o
   Coronel.
   Em menos de dez minutos aparecia Maria Pedreira toda orgulhosa, vestindo um uniforme de Astronauta, segurando o capacete com uma das mãos, acenando para o publico com a outra mão. Da mesma maneira que uma vez havia visto na foto de um “colega” Americano.
   O instrutor ainda a acompanhou ate’ o interior da aeronave onde ministrou um curso completo de astronauta em dez minutos...
   Para sua surpresa, pelo menos aparantemente, Maria tinha cara de quem assimilara em dez minutos muito mais do que todos aqueles Astronautas, que ganharam um monte de dinheiro, durante o tempo de treinamento.

   Começava a contagem regressiva...
   Pelos alto falantes espalhados pela área publica do complexo do BROCHA podia se ouvir:
 "Atenção para a contagem regressiva. Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três,
   dois... Ignição iniciada".
 "Lançamento em três, dois, um segundo"...
   Foi poeira, barulho, fogo do rabo do foguete, talvez ate’ parecido com os buscapes que Maria vendia. Aplausos e ovações também podiam ser ouvidas... Uma Festa Nacional...

   Coronel Pinto Dodói estava realmente apreensivo. Tudo agora estava nas mãos de Maria Pedreira. Sua carreira, seu destino, suas aspirações politicas...
 Eu juro que se essa mulher não fizer cagada vai ser candidata a Vice-Presidente na minha chapa.
 "Vote Pinto/Peideira, os amigos da BUNDA"... Que pena! O nome dela e’ 
   Pedreira... Pensava o Coronel enquanto, com lagrima nos olhos assitia `a realização
   efetiva de seu projeto de alcançar o mundo da lua.







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