terça-feira, 26 de novembro de 2013

SINAIS DE DEUS








                                                        Sinais de Deus







   Em 1993, por oitenta e um dias consecutivos o grande Rio Mississippi permaneceu inundado, matando cinquenta pessoas e causando um prejuízo enorme em danos e perdas. Muitos diziam que aquela era uma enchente que chegou e decidiu ficar para sempre. As águas cobriam uma área de mais de quarenta e quatro mil quilômetros quadrados...
   Todos que tinham chance estavam evacuando, assustados e temerosos.
   Dick Crotch um homem muito religioso, temente a Deus, estava em pé na varanda, com água cobrindo sua pernas, quando o motorista de um daqueles caminhões enormes, que as rodas são maiores do que uma pessoa, que por sua casa passava, falou:
-  Vem! Te dou uma carona. A enchente esta’ aumentando muito rápido...
-  Não se preocupe, meu Deus vai me salvar... Disse o Dick, invocando toda sua fe’...
   O caminhão foi embora, rapidamente tentando fugir da situação...
   As aguas estavam implacáveis, subindo rapidamente.
   Dick, tentando se proteger, agora estava na varanda de um quarto no segundo andar da casa.
   Ali esperava quando apareceu um barco que ja’ havia resgatado alguns moradores desesperados. Assim que o homem ao leme do barco viu seu vizinho, falou:
-  Dick, vamos embora, a enchente esta’ enorme...
-  Não se preocupe, meu Deus vai me salvar... Disse Dick com toda sua fe’ do mundo...
   O barco se foi, deixando o homem para traz...
   Mas a enchente não queria saber conversa e continuava inundando tudo.
   A esta altura, nosso amigo ja’ estava em pe’ no teto da casa quase totalmente coberto pelas águas...
   Olhando para cima viu um helicóptero jogar uma corda e o piloto gritar:
-  Vem! Esta cidade vai ser completamente destruida em alguns minutos...
-  Não se preocupe, meu Deus vai me salvar, respondeu Dick, com toda fe’ do universo...
   O piloto olhou para ele, balançando a cabeça, como se estivesse dizendo, “Que babaca!”
   A agua inundou toda a cidade, arrasou tudo  e Dick morreu afogado...
   Chegando ao céu, indignado pelo descaso do Criador, por ele esperava, pronto para lhe dar o maior esporro...
   A demora o irritava cada vez mais. Pensava na maneira mais agressiva de confrontar Deus, quando o viu ao horizonte, caminhando vagamente sobre as nuvens...
   Mesmo de longe, assim que avistou Dick nervoso, andando de um lado para o outro, começando a abrir a boca, Deus disse:
-  Nem vem! Não quero ouvir nada! Te mandei um caminhão, um barco e um helicóptero... Que mais
   você queria?

   A historia de Dick Crotch nos lembra um fato muito importante... Devemos sempre saber distinguir e, principalmente, não ignorar os sinais de Deus.




   Copyright 2013 Eugenio Colin

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

JUJUBA








                                                               Jujuba







   Jujuba costumava dizer que se não fosse pela falta de sorte ele não teria sorte de especie alguma.
   O interessante e’ que apesar de ter feito um sacrifício filho da puta para perder quase sessenta quilos seu apelido continuava o mesmo... O problema e’ que ninguém havia conseguido qualifica-lo adequadamente. Não podia ser chamado de “palito” ja’ que não era esquelético, não podia ser chamado de “atletico” porque havia acabado de emagrecer e seus músculos ainda estavam flácidos. Ser apelidado de “Hulk” então, nem pensar... Na falta de uma nova classificação adequada a seu novo porte físico, a alternativa era continuar sendo “Jujuba”. O que, diga-se de passagem não o aborrecia muito... Aos dezenove anos de idade ainda estava por decidir o que era menos pior, “Jujuba” ou Carlozencio Aparecido das Neves, seu verdadeiro nome.
   Mas ele nem se preocupava com o nome ou apelidos pejorativos. Tinha um problema maior em sua vida de adolescente... Estava apaixonado pela Márcia...
   Márcia era a garota mais popular e, alem disso, fazia parte do time de natação do clube que frequentavam. As garotas na natação eram como o chantili do bolo... Primeiro porque tinham que mostrar as coxas para todo mundo. Ninguém nada vestida!  Segundo porque não gostavam dos homens que nadavam, que eram os mais bonitos do clube... Elas diziam que só tinha bicha na natação...
   Todo mundo queria namorar a garota...
   Um dia de passagem, Márcia disse; “Alo, tudo bem?” ao cursar por Jujuba. O cara só não se cagou todo porque ainda estava naquela dieta rigorosa, para perder os últimos quilinhos recalcitrantes e, o dia inteiro ainda hão havia colocado nada no estomago. Naquele dia que ela o cumprimentou quando passou pelo rapaz em uma alameda do Tijuca, ele ficou tao nervoso que deu uma porrada com a cabeça na parede que nem viu`a sua frente... Quando chegou em casa com a testa sangrando, ainda meio desnorteado, seu pai perguntou: "quem fez isso com você?" Sem mesmo saber o que estava falando respondeu: " A Márcia!" Ainda ouviu seu pai comentar: "Agora você apanha de mulher?
   Mas seu pai não sabia de nada. A Márcia havia falado comigo, e isto era algo para ser guardado a vida inteira. O machucado na testa ficaria curado em alguns dias...
   Ela acabou namorando o Egberto, campeão de tênis do clube, cabelos pretos olhos azuis e quase dez centímetros mais baixo do que Márcia. Como alguns atores do cinema Americano que cismam em se casar com mulheres mais altas do que eles.
   Mas Egberto não tava nem ai, era o maior cara de pau... Namorava a menina mais linda e cobiçada do bairro e ainda “galinhava” atrás de qualquer rabo de saia que cruzasse seu caminho.
   Um dia Márcia se encheu de tanta falta de respeito e terminou o namoro com o Egberto. O cara ficou tao abalado que foi pego chorando pelos cantos escuros do clube varias vezes... Pediu, implorou, prometeu mas Márcia estava irredutível... Não queria mais saber do cara...
   Jujuba, por sua vez também tinha seus interesses amorosos atrás dele. A primeira foi a Angela, apelidada de Angela Man. Diziam que ela andava igual a um homem. Reta, sem o menor rebolado, depois foi a Frieda Staerke, loira, olhos azuis... Gordinha, meia "sem sal" e, segundo a maioria dos rapazes, cheirava a sabonete. Parecia que havia acabado de sair do banho, não importava a hora do dia, o que, pensando bem, e’ mais uma qualidade do que um defeito.
   Mas Jujuba não era de deixar vencer pelo destino padrasto que o perseguia... Apendeu a dançar... Dançava como ninguém! Nas ferias escolares, quando não precisava acordar cedo, ia a baile de formatura todo o dia... Ate’ as mães das meninas faziam fila para dançar com ele. Por isso mesmo, com o tempo, as garotas começaram a achar que o Jujuba so’ gostava de coroa e, não queriam mais dançar com ele. E’! O cara era mesmo sem sorte...
   Um Sábado, estava programado o “Baile da Maria Cebola”, no clube em que frequentava.  Jujuba nem queria ir... Gostava de dançar, certo! Mas achava que nenhuma menina o convidaria e assim sendo estaria se preparando para tomar chá de cadeira a noite inteira e o pior e’ que uma das “regras” do baile, alem da tradicional; homem não pode tirar mulher pra dançar, era que, ninguém poderia recusar o convite de uma dama... Ora! Então, o “Baile da Vinganca” como era apelidado pelos pobres meninos sempre rejeitados, não faria o menor sentido... Durante o ano inteiro os caras eram ignorados. Agora, no único dia em poderiam dar o troco, “tiraram o dinheiro de seus bolsos.”
   Mas, Sábado sozinho em casa, assistindo ao Moacyr Franco Show, em preto e branco, não era, nem de perto pareo para o baile da Maria Cebola... Pelo menos no baile as garotas eram em cores...
   Começou o baile e nada... A musica era excelente. Os rapazes da natação, mesmo sendo bicha, estavam dançando o tempo todo, o Egberto então, nem se fala. mas Jujuba estava la’ sentado no mesmo lugar, quase com calo na bunda.
   Ja’ haviam se passado quase duas horas de baile quando, distraído, uma mão batendo com os dedos na mesa, sequencialmente e a outra segurando o rosto, quase sonolento, sentiu um perfume familiar e uma mão suave e delicada tocando seu pescoço... Levantou a cabeça ainda a tempo de ver o rosto mais lindo do mundo falar ao seu ouvido;
 Dança comigo!
   A Márcia! `A sua frente, trajando um vestido preto com bolinhas brancas, cabelos soltos como não costumava usar, mais linda do que nunca...Novamente! Jujuba so’ não se cagou todo porque não tinha o habito de comer nada antes de ir a um baile.
   Pergunta se Jujuba recusou o convite... Dançaram a noite inteira... E toma elogio da Márcia... Você dança tao bem... Como você esta’ elegante... Adorei seu penteado assim para o lado... Você esta’ parecendo um ator de cinema Americano... Adoro a maneira que você me segura, firme e delicadamente ao mesmo tempo...
   Depois de tanto elogio, se a cueca de Jujuba não fosse nova e bem apertada, a pobre da Márcia seria arremessada pro lado de forra do salão pela “catapulta” do rapaz.
   Em dado momento ele ate’ contemplou a possibilidade de se matar ali mesmo. Morrer dançando com a Márcia era o passaporte para o paraíso. Depois acabou desistindo da ideia... Não queria ensanguentar um vestido tao lindo.
   O cara não acreditava o que estava acontecendo... Imagina so’! Ate’ o Egberto estava com ciumes dele.
   No fim do baile, Márcia falou:
-  Aparece mais! A gente pode ate’ conversar depois dos treinos...
   Jujuba nunca apareceu... E’ Claro que a garota estava de gozação. Pensou... “A mais cobiçada do bairro dando bola pra mim?” Devo estar jogando pedras na lua...
   Então, aconteceu um fato inusitado na vida do Jujuba...
   A Maria Luiza, que havia acabado de terminar o namoro com o Vadeco. Pediu então ao Celinho, amigo de ambos, para perguntar se Jujuba tinha namorada, ja’ que estava interessada nele por muito tempo. Jujuba havia acabado de terminar o namoro com a Marinete, uma magricela de bunda grande, que nunca havia conseguido esquecer seu primeiro namorado, e vizinho, o Caique...
   Sem nem pensar, Jujuba disse ao Celinho que tinha namorada, porque não queria namorar ninguém com nariz grande e torto.
   Não! Ca’ entre nos, nessa Jujuba tinha razão...A menina era bonitinha, magrinha, coxinhas grossas, peitinhos iguais a laranjas lima maduras, lábios carnudos e bom de beijar mas, o nariz da moca faria qualquer bruxa morrer de inveja. O que ele nem teve tempo de saber e’ que a menina era um doce de pessoa, inteligente, culta, preparada, extremamente educada mas, aquele nariz...
   Anos depois, em um restaurante da praça Saenz Pena, na Tijuca, Jujuba viu um casal que chamava atenção de todos... O homem era como um gala de cinema Americano, ou de novela, se você se julga um nacionalista recalcitrante e, a moca, capaz de fazer a Sophia Loren parecer uma empregada domestica.
   Ainda tinha a linda mulher na mira dos olhos quando a viu se aproximando em sua direção. Por via das duvidas ainda olhou para trás, só para se certificar se era mesmo em sua direção que ela andava. Assim que olhou para frente novamente, ouviu:
 Lembra de mim? Sou a Maria Luiza, costumávamos frequentar o mesmo clube...
   Quando ouviu o nome a primeira coisa que olhou foi para o nariz. Perfeito, lindo, afilado e seu rosto era uma obra de arte... Milagres da cirurgia plastica...
-  Este e‘ meu marido, Larry. Disse ela.
   O aperto de  mão do tal do marido foi tao forte que Jujuba não sabia se ele estava de sacanagem, tentando machucar alguem que por acaso houvesse “machucado” sua esposa no passado ou, se ele era mesmo tao forte assim, sem o menor esforco.
   Se arrependimento matasse, Jujuba havia caído duro ali mesmo, com a cara dentro da vasilha de maionese do buffet `a sua frente... Ele nunca soube se Maria Luiza fez aquilo por vingança, como quem diz: “olha o que você perdeu seu babaca” ou se por educação.
   E’! O cara era mesmo sem sorte...
   Jujuba fez tanta cagada em sua vida, tomou tantas decisões erradas que acabou tomando a ultima que, segundo suas projeções proporcionais, acabaria de vez com sua existência... Arrumou as malas, sem mais nem menos, e decidiu se mudar para os Estados Unidos. A única coisa que sempre quis na vida foi namorar a Márcia, parecia ate’ uma obsessão mas, por outro lado, em sua mente, sabia que ela não era sardinha pra sua rede.
   Havia ouvido falar das oportunidades nas terras do Tio Sam, assim sendo resolveu arriscar... Sua primeira surpresa foi que as mulheres Americanas o adoravam... Era só dizer que era Brasileiro e elas despencavam das arvores... Diziam que ele era bonito, simpático, inteligentes e ate outros elogios que, no inicio nem conseguia entender, ja’ que seu Inglês não era tao bom assim.
   Mas, nosso amigo Jujuba mudou de pais mas não mudou seu comportamento. No Brasil dispensou, sem pensar, a única que se interessou por ele. Agora, no pais do Tio continuava dispensando todas elas...
   Em um momento de sua vida ate’ flertou com a possibilidade de se tornar homossexual mas, pensando melhor, achava que devia doer muito...
   Resolveu então, para acabar com conjecturas improváveis e impossíveis, pensar apenas no trabalho...
   Começou trabalhando como garçon para custear seus estudos de Inglês. Assim que dominava o idioma, arrumou um emprego nas Nações Unidas como tradutor... Continuou estudando línguas... Agora, se dedicava também ao Italiano. Depois Frances, Espanhol e, finalmente Alemão.
   Em menos de dez anos, passou de analfabeto em Inglês `a tradutor multilingue. Sua vida corria `as mil maravilhas. Depois então que conseguiu se convencer que era menos complicado viver sozinho, se considerava realizado e feliz.
   Mais alguns anos e Jujuba era o mascote das Nações Unidas. Poderia traduzir os principais idiomas, estava sempre pronto pra trabalhar, não tinha mulher pra encher o saco e, quando se sentia muito só, com vontade de descarregar “sentimentos” acumulados, tinha uma lista enorme de colegas de trabalho que estavam loucas para ouvir falar e, ate’ mesmo conhecer de perto, as qualidades e utilidades do “Pau Brasil”.
   A vida de Jujuba, que depois que se tornou cidadão Americano mudou o nome para Carl, Americano jamais conseguiria pronunciar “Carlozencio”, era perfeita... Nunca esteve tao feliz...

   Certo dia foi escalado para um projeto no qual jamais havia participado. Uma reunião do G20.
   Não estava preocupado... Nada mais do que rotina rotineira.
   No dia da primeira reunião, uma hora antes, nosso amigo ja’ estava la’. Testava os equipamentos despreocupadamente quando uma linda loira entrou em seu cubículo.
A primeira reação, ao sentir aquele perfume familiar, foi de dizer: “to de ferias...To satisfeito por duas semanas...”
-  Jujuba? Perguntou a mulher.
-  Como você sabe do meu apelido de criança. Aqui todos me conhecem como Carl.
-  Não se lembra de mim, não e’? Disse a mulher.
-  Sinceramente, não!
-  Sou a Márcia! Lembra? Da natacao?
   Desta vez, só não se cagou todo porque costumava tomar um “breakfast” muito leve, a base de banana e frutas...
   Mulher e’ uma coisa mas, a Márcia não e’, nem nunca foi uma mulher... Márcia era uma deusa. Parecia que agora, mais de trinta anos depois, ela estava ainda mais linda, mais segura, mais imponente... A Márcia parecia uma escultura em que o tempo, nosso escultor tao temido, havia conseguido  aperfeiçoar.
   Nosso amigo, abriu a boca, quase babando, sentou numa cadeira que, providencialmente, estava atrás dele, evitando que metesse a bunda no chão e, não pode segurar uma lagrima espontânea que teimava em lembra-lo do passado.
   Assim que percebeu, ela se inclinou, limpou aquela prova de carinho com seu polegar e o beijou carinhosamente no rosto...
   Foi preciso alguns segundos para que Carl se refizesse e conseguisse perguntar:
-  Como vai você? O que esta’ fazendo aqui?
-  Vim com a delegação do Brasil e alguem me descreveu o “melhor tradutor” da UN e, não sei
   porque, pensei ser você... Vim aqui confirmar...
  A conversa durou por quase uma hora e so’ foi interrompida quando a reunião começou e Carl interpretava...
  Márcia ficou a seu lado o tempo todo. Não pode deixar de notar a diferença naquele garoto tímido que conhecera quando mais jovem.
  Foram mais de três horas nas quais ela, pacientemente esperava sua chance.
   Ao termino de sua tarefa, ao saírem do edifício, Carl se ofereceu a levar Márcia a seu hotel ou onde estivesse hospedada.
- Carl, se você não se importar gostaria de ficar com você. Soube que você agora
   mora aqui em Nova Iorque, certo?
   O cara engoliu em seco... Não era possível! “A Márcia, pedindo para ir ao meu apartamento? Eu sei que não estou sonhando. Então, o que esta’ acontecendo?” Pensou.
   Só não se cagou todo porque não ficava bem...
   Andando de mãos dadas pelas ruas de Manhattan, trocavam confissões... Carl dizia que nunca havia se casado. Nem mesmo namorada tinha... Márcia soltou a bomba quando falou:
-  Jujuba, ou Carl, como preferir, você esta’ tao bonito. Tao seguro de si. Nem de perto
   me lembra aquele menino tímido que conheci...
   Sabe que depois daquele baile em que dançamos a noite inteira nunca mais quis
   namorar ninguém? No clube, alguns dos rapazes queriam me namorar para tirar 
   onda. Na PUC, quando la’ estudava, todo mundo queria dormir comigo porque diziam
   que eu era gostosa...
   De vez em quando dava uma trepadinha inconsequente, so’ pra não perder a forma
   mas nunca mais queria ver o cara...
   O único homem que eu gostei foi você. Você sempre me respeitou... Era muito tímido
   pro meu gosto mas isso era o teu charme...  Você era diferente de todos...Todo  
   mundo queria se fazer de bonito pro meu lado. Você era autentico e, nunca dancei
   com ninguém que dançasse tao bem...
   Estou muito feliz por poder te ver novamente...
-  Posso te fazer uma pergunta? Indagou Márcia.
-  Claro! Disse ele.
-  Porque você deixou escapar uma lagrima quando me viu?
   Pronto! Agora o cara se derreteu... Começou a chorar de verdade.
   Márcia o abracou, segurando a cabeça do amigo e a descansando sobre seu ombro. Com uma das mãos ele tentava enxugar as lagrimas que insistiam verter. Com a outra mão segurou a cintura da amiga, com a mesma determinação que fizera anos antes, na única vez em que dançaram a noite.
-  Márcia, a alegria de te ver foi o maior presente que jamais recebi em minha vida. Disse ele, ainda
   tentando se controlar. Você tem certeza que quer ficar em meu apartamento hoje? Finalizou...
-  Hoje, amanha... Pelo tempo que eu estiver aqui, se você quiser. Disse Márcia.
-  Tem certeza? Perguntou Carl.
-  Absoluta!
-  Muito bem! Então amanha, quero que você comunique `a tua delegação que esta’
   saindo do emprego... Nos casamos e você fica aqui comigo... Se quiser te arrumo
   um emprego na UN...
-  Aceito! Disse Márcia, sem nem pensar nas consequências...

   Jujuba, quer dizer, Carl não podia estar mais feliz... Foram necessários mais de quarenta anos para que pudesse fazer as pazes com sua adolescência e, justamente quando Márcia começava a ser apenas uma doce, inesquecível e mais marcante recordação de sua juventude, ela aparece e, como um furacão que chega sem aviso,  começa a jogar para cima as memorias do chão de suas lembranças

   Depois de trocarem o primeiro beijo sob os primeiros flocos de neve que começavam a cair, nas ruas desertas de Manhattan, de mãos dadas, saíram os dois correndo ao encontro do futuro que acabava de começar.
   E’! O cara teve em sua vida a única sorte que realmente importava...




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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

MITOS






                    
                                                                        Mitos









   Mitos são representações falsas e simplistas, geralmente admitidas por membros de uma sociedade, algo que e’ recordado, representado ou afirmado de forma irrealista.
   Plantas carnívoras comem gente, tomar sorvete no inverno da’ dor de garganta, manga com leite faz mal, elefantes tem medo de rato, goma de mascar gruda no estomago, cães sentem cheiro de medo, gatos sempre caem de pe’, um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar, se cruzar os olhos e bater um vento você fica vesgo...
   Estes são alguns das centenas de mitos que ouvimos ao longo de nossa vida. Mas, nenhum deles porem chegam perto de fazer parte da realidade...

   Este pensamento me lembrou a historia de Clarimunda e Dorivaldo...
   Clarimunda era uma das mulheres mais lindas de cidade onde residia. E olha que estamos falando de uma cidade com mais de cinco milhões de habitantes... Alta, morena, cabelos negros e longos, olhos amendoados, feições clássicas e delicadas, esguia, sempre bem maquiada, dedos longos, unhas sempre feitas... Verdadeiramente uma modelo de capa de revista mas, não conseguia arrumar um namorado. Se saísse com alguem para ir a uma festa ou a um bar, era como se fosse o beijo da morte. Nunca mais veria o homem... Amigas, não tinha, ninguém conseguia ficar a seu lado por muito tempo. Sua mãe era a única pessoa na face da terra que havia aprendido a conviver com ela.
   Trabalhava por conta própria, em seu carro, fazendo entregas domiciliares, a única ocupação que conseguira manter, assim mesmo porque estava sempre sozinha e o contato com seus colegas e gerentes era minimo. Antes deste, de todos os empregos por onde passara havia sido dispensada.
   Ninguém entendia o motivo daquela discriminação tao cruel. Uma mulher tao bonita...
   E, Clarimunda ja’ estava começando a ficar preocupada... Mais de quarenta anos, sem namorado e, ainda virgem. Não que aparentasse sua verdadeira idade mas, o fato e’ que o tempo passava e nada...
   Um dia, em uma entrega, num bairro nobre da cidade, ao tocar a campainha, foi atendida por um homem muito forte, muito bonito, parecia um ator de cinema... Efetuou a entrega, recebeu sua assinatura e se foi, deixando com ele um belo sorriso que foi retribuído amavelmente, acompanhado por uma voz grave, máscula que mais parecia com a daqueles locutores que anunciam trailer de superproduções holliwoodianas, ao dizer: “obrigado querida!”
   A moca tremeu nas bases, seus joelhos balançavam a ponto de bater um no outro e foi com grande sacrifício que conseguiu deixar o local.
   O dia foi consumido por pensamentos envolvendo aquele homem lindo que havia encontrado, alguns ate’ dignos de filmes pornocênicos da mais baixa qualidade.
   A noite foi terrível. Não conseguia dormir... Sera’ que ele e’ casado? Tem namorada? Ja’ pensou o tamanho do pinto daquele cara?...
   No dia seguinte, não resistiu! Voltou a casa do homem sem mesmo saber o que fazer, ou dizer, como se aproximar...
   Tocou a campainha da porta e, desta vez uma senhora atendeu. Clarimunda gelou... Não podia ser sua esposa, tinha muita idade para isso, a menos que fosse a dona da grana, estava muito bem vestida para ser a governanta ou empregada... Ainda estava estática, chocada, sem saber o que dizer quando ouviu aquela mesma voz maravilhosa que encantara seus ouvidos no dia anterior dizer:
-  Quem e’, mamãe?
   Pronto! Parte do problema esclarecido. Agora, tinha que pensar rápido, antes do homem chegar, para saber o que dizer...
   Assim que ele chegou e abriu um pouco mais a porta ouviu:
-  Como vai?
-  Bom dia! Vim aqui para confirmar que a mercadoria chegou sem avarias. Nosso  
   serviço e’ personalizado e sempre gostamos de saber a opinião de nossos clientes. Mentiu,
   descaradamente, Clarimunda.
-  Vamos entrar! Por favor... Convidou o homem.
-  Muito prazer! Meu nome e’ Dorivaldo. Disse o homem, so’ agora reparando que
   aquela moca era realmente digna de maiores atenções, fato que não havia percebido
   no dia anterior.
   Dona Dorivalda, a senhora que atendeu `a porta, mãe de Dorivaldo pode entender que os dois estavam interessados um no outro e, assim sendo, resolveu sair de fininho antes que começassem a se agarrar e, quem sabe, fazer coisa pior ali mesmo em sua frente.
   Dorivaldo não tirava os olhos da bunda da mulher que, por sua vez também dirigia olhares tentadores e pecaminosos  ao local onde presumia estar aquele pinto tentador.
   Porem, um fato inexplicável chamava a atenção dele. A mulher não parava de se mexer, de um lado para o outro, pra cima e pra baixo, com se estivesse sentindo coceira e não quisesse se cocar.
   A dado momento perguntou:
-  Você esta’ bem?
-  Tudo bem! Acho que e’ a emoção... Respondeu.
-  Fica ai que te trago um pouco de agua com açúcar para te acalmar...
   Assim que o homem se afastou, Clarimunda soltou o maior peido que jamais havia acontecido naquela sala...
   Dorivaldo assustado com o barulho disse para sua mãe que, felizmente para ela, estava em seu quarto:
 -  Mamãe não fica arrastando moveis sozinha. Me chama que eu te ajudo...
 -  Se for arrastar moveis te chamo! Estou lendo... Gritou Dona Dorivalda.
 -  Você ouviu um estrondo? Perguntou Dorivaldo se dirigindo a Clarimunda ao mesmo
    tempo que lhe oferecia um copo d’agua.
-  Não! Respondeu ela com a cara mais lavada, sabendo muito bem que sofria de
   flatulência aerofágica e peidava mais do que uma cabrita.
   Clarimunda era consciente, ou pelo menos suspeitava, que esta era a causa pela qual não conseguia um relacionamento amoroso estável. Lembrava-se das vezes em que não pode segurar e passou pelos maiores vexames que alguem poderia passar mas, e agora? Não queria perder a chance e deixar escapar de suas garras de virgem faminta aquele homem maravilhoso. Pelo menos por alguns minutos estava aliviada.
   Tinha plena ciência que este era um problema praticamente sem solução. Ja’ havia tentando tudo. Médicos, curandeiros promessas, remédios caseiros e, nada!
   Uma vez ate’ havia tentado introduzir uma rolha de champanhe em seu anus antes de dormir. Naquela época, ha’ algum tempo estava com medo de não acordar no dia seguinte, asfixiada pelos gazes que `a noite, inconscientemente, deixava escapar. Naquele dia não tardou muito para que assustada, fosse despertada pela explosão que ouviu. Ainda sonolenta, a primeira impressão foi que uma bala perdida houvesse entrado em seu quarto. Depois, recuperando o pleno raciocínio, ajudada pelo insuportável cheiro de enxofre, abrindo mais os olhos, pode reparar um furo no teto, bem acima de sua cama... O difícil foi explicar aos policiais da PM que em sua casa chegaram, chamados pelos vizinhos, o que causara aquele estampido.

   Na casa de seu novo conhecido, depois de tomar um pouco d’agua e se sentir mais aliviada, conversaram tanto que ela nem voltou ao trabalho. Descobriu que seu interesse amoroso era um Industrial milionário, dono de uma fabrica de aeronaves para executivos. Era solteiro, nunca havia se casado, viajava para a Europa duas vezes por ano, era simples e frugal, apesar de todo dinheiro que tinha. Era presidente de três instituições de caridade. Todo ano, no dia de Natal, ao invés de esbanjar consigo próprio, gastava uma fortuna e passava o dia inteiro organizando e servindo um banquete para pessoas carentes na igreja em que sistematicamente frequentava. Alem disso era bonito pra cacete e devia ter um pinto enorme. Como poderia deixar este cara escapar?
   Dorivaldo, por sua vez também gostou do jeito de Clarimunda.
   O romance decolou sem maiores problemas. Ambos estavam felizes. Clarimunda ate’ descobriu uma maneira de não peidar; antes de encontrar com seu “amor” não comia nada, assim sendo não tinha nada em seu estomago para fermentar.
   As poucas vezes que saíram para jantar fora, pedia sempre salada e comia que nem um passarinho, tentando assim controlar reações químicas inevitáveis que poderiam resultar em catástrofe.

   Mais uns poucos dias e os “pombinhos” não conseguiam se controlar. Ele estava louco para comer; ela, louca para dar...
   Combinaram então ir a um motel para extravasar toda aquela ansiedade.
   Mal fecharam a porta do apartamento e começaram a ser despir avidamente... A noite de amor seguia melhor do que antecipado por ambos... Certamente estavam felizes... Clarimunda começava a ficar mais confiante. Mais de duas horas naquele esfrega-esfrega e nenhum peido... Ate’ que, sem querer Dorivaldo apoiou seu cotovelo sobre a barriga da moca, quando tentou se esticar para alcançar o telefone, do outro lado da cama, com a intenção de pedir algo para comerem.
   A principio, ela sentira apenas a pressão que o braco de seu companheiro havia feito. Segundos depois porem, o inevitável acontecia... Clarimunda começou a se espremer, morder os lábios com forca, juntar as pernas, enfiar a ponta do lençol na bunda, fingindo estar se limpando, sem nenhum resultado. A cada segundo a pressão era mais forte. fazia de tudo para se conter e não desapontar seu “amor”. Tudo em vão!
   De repente, como uma panela de pressão pronta para explodir, aquele estrondo...
   Foi um senhor peido! O deslocamento do ar contido naquele quarto fechado fez a cama estremecer e alguns quadros de decoração nas paredes cair.
   Dorivaldo olhou para um lado, depois para o outro, procurando por algo que nem ele sabia o que. E’ claro que não encontrou nada. Mais uns segundos e um cheiro insuportavel invadia o ambiente. Clarimunda estava mais vermelha que um camarão depois de frito. Não sabia onde enfiar tanta vergonha. Dorivaldo, por sua vez, não entendia nada.
   Os gazes eram tao fortes que Clarimunda poder ver, para sua consternação, lagrimas verterem dos olhos de seu amor. Quanto mais ele tentava limpar os olhos, mais os irritava... Ela se desculpou, tentou explicar, tentou disfarçar, pensou em botar a culpa em outro peidorreiro mas, pensando bem, so’ os dois estavam ali... Pegou uma tolha no banheiro... Nada! Nada era capaz de amenizar tanto sofrimento... Dorivaldo não parava de chorar... Era como se tivesse sido atingido por uma daquelas bombas de gaz lacrimogêneo. Foi preciso mais de duas horas de um trabalho de recuperação intensa para que os “pombinhos” conseguissem deixar o ninho.

   A historia de Clarimunda e Dorivaldo serve muito bem para descredibilizar dois mitos muito comuns...
   Homem não chora...
   Mulher não peida...
  







   Copyright 2013 Eugenio Colin
  

sábado, 9 de novembro de 2013

RAPIDEZ





                                                              Rapidez




                                                         
   Professora Orineivalda tinha sob seu comando a classe mais adiantada da escola.
   Val, como carinhosamente conhecida, era admirada por todos, principalmente pela maneira lúdica e inovadora com que ministrava suas aulas. Seus alunos eram notados e invejados por todos os outros... Alem dos conhecimentos curriculares, inerentes `a classe, eles eram também perspicazes, diligentes e muito atentos.
   Poderia se dizer que as aulas da professora Val nada mais eram do que brincadeiras constantes que envolviam Matemática, Português, Sociologia, Ciências e tudo mais.
   Ninguém chegava atrasado `a uma aula da professora e, na hora da saída parecia que não queriam ir embora. A grande maioria ficava em volta de sua mesa, como que pedindo por mais uma brincadeira, adivinhação, jogo ou outra coisa qualquer que os mantivesse divertido por mais alguns minutos.
   Meninos e meninas ja’ sabiam, a cada aula uma novidade...

   Naquela manha, Val se dirigiu `a turma e disse:
 - Hoje vamos falar sobre rapidez...
   Todos riram. Não sabiam de que mas sabiam que iam se divertir...
   A professora pergunta `a Mariazinha, uma de suas alunas preferidas;
 - Mariazinha o que e’ a coisa mais rápida que você conhece?
 - A luz professora! Respondeu a menina.
 - Muito bem! Disse a professora.
 - Agora você Nelsinho; me diz o que e’ mais rápido do que a luz...
 - O pensamento professora. Respondeu ele.
 - Muito bem! Repetiu professora Val.
 - E você Joãozinho? Me diz o que e’ mais rápido do que o pensamento e a luz.
 - Dor de Barriga Professora. Respondeu Joãozinho.
 - O que? De onde você tirou essa resposta?
 - Eu deduzi agora professora...
 - Como assim? Indagou Orineivalda.
 - Eu me lembrei que outro dia, eu fui ao banheiro e, quando pensei em ligar a luz ja’ tava todo
   cagado!







   Copyright 2013 Eugenio Colin.






sábado, 2 de novembro de 2013

MUJINHA & BONITÃO






                                                        Mujinha & Bonitão






   Depois do episodio ocorrido em um super mercado de Belo Horizonte, quando um de seus colegas de trabalho a pedira em casamento em frente de todos que `aquele momento ali estavam, Mujinha havia decidido se recluir, principalmente em relação   `a sua vida amorosa. Foi com muita dor no coração   que fez seu pretendente sofrer mas, ja’ com mais de sessenta anos de idade, tinha sido casada três vezes, por isso não queria saber de mais confusão em sua vida e, diga-se a verdade, todo relacionamento amoroso e' sempre uma puta confusão... Trazia também em sua bagagem três títulos, para ela muito importantes... Miss Bahia, quando tinha apenas dezenove anos de idade, Miss Java ( Juventude Avançada de Salvador ) e  Miss Puta ( Participação Unitária Trabalhista Americana ), entidades das quais na época fazia parte. Parecia que sua sina era de arrebentar corações masculinos, despreparados para aguentar as vibrações que olhos enamorados lhe mandavam em impulsos cheios de eletricidade amorosa.
   `Aquela altura de sua vida o que mais queria era dar uma folga `a sua querida “perseguida” companheira de muitas orgias indecentes inconsequentes.
   Mujinha estava tão decidida `a uma vida reclusa que de Belo Horizonte nem voltou para sua cidade natal. Resolveu parar em Teresina, Piauí. Não queria mais saber de trabalhar em super mercado. Resolveu então, so’ para melhorar um pouco sua renda de aposentada, trabalhar em uma agencia de viagem pela qual havia passado em seu primeiro dia de reconhecimento pelas ruas da cidade e leu em uma placa; “Precisa-se de ajuda”. Não queria atender a clientes... Na maioria dos casos, eles começam pedindo descontos, depois prazos para pagar e, conversa vai conversa vem acabariam olhando para os olhos verdes da mulata e, pimba! Poderiam se apaixonar e, novamente, “pobrema”! Felizmente, para sua alegria, o cargo era de caixa. No principio ficou meia escarmentada mas, pensando melhor, depois de ver o local onde iria trabalhar, constatou que se tratava de um cubículo pelo qual, do exterior, suas coxas estariam fora do alcance visual, seu rosto parcamente aparecia e, se cobrisse os peitos, talvez estivesse fora do alvitre de olhos cobiçosos.

   O tempo passava e, aos poucos, ela acreditava que havia feito a escolha certa. Primeiro, todos os homens que ate’ então havia visto na agencia, em sua opinião, eram feios pra cacete. Ate’ hoje, depois de mais de um ano de trabalho, nunca tinha encontrado com Brad Pit, Tom Cruise, qualquer outro ator do cinema Americano ou, pelo menos alguem que pudesse assemelhar-los. Nem um simples “pagodeiro” conhecido havia la’ solicitado por serviços. E’! Teresina era o lugar adequado para ela...
   Sua vida, rotineira e desesperadora para qualquer mulher, era apropriada para ela. Morando perto de trabalho, agora, coisa que nunca havia feito antes, acompanhava a novela das sete, das oito, o jornal depois da novela e o filme depois do jornal. O problema era so’ nos finais de semana. Não tinha novela e os programas exibidos na TV eram de endoidecer qualquer mortal.
   Numa Sexta-feira porem, procurando abrigo, fugindo de um temporal torrencial, coisa rara naquela região do pais, entra na loja um homem, mais molhado do que roupa dentro da maquina de lavar, pedindo licença para ensopar o chão imaculado daquele estabelecimento.
   Tentando evitar que algum cliente de verdade pudesse cair, machucar a bunda ou coisa pior e, em consequência acionar a loja, Brabinha, a gerente da loja, gentilmente pediu a Mujinha que pegasse uma toalha e enxugasse a loja. Mujinha, com cara de poucos amigos, aquiesceu.
   Assim que chegou perto do estranho e olhou para ele, imediatamente sentiu um frio na barriga. Que homem lindo! Pensou... O homem por sua vez, quando deixou escapar uma olhada nos peitos e nas coxas da baiana piauiense, não pose se conter e, com todo seu charme e educação   falou:
-  Pode limpar sem medo, não e’ mijo, so’ agua.
   Mujinha não sabia como resistir a tanta “sutileza”...
-  Como e’ seu nome? Indagou ela.
-  Pode me chamar de Bonitão. Respondeu o homem.
   Não tardou para que Mujinha oferecesse uma outra toalha para que seu interesse se enxugasse.
   Apesar das olhares reprobatórios da gerente, Mujinha nem ligou. Sentou ao lado de Bonitão e continuou a conversa, a esta altura quase apaixonada por aquele homem lindo. Conversa vai, conversa vem, acabou convidando o homem para dormir em sua casa, quando soube que ele não havia reservado hotel e estaria de partida no dia seguinte. Pelo que conversaram, pode saber que Bonitão era de São Paulo mas, atualmente morava com a filha em uma cidade pequena no interior do Brasil. Descobriu também que havia sido casado e pensava que ainda era apaixonado pela ex-esposa. Soube que era vendedor e trabalhava para uma multinacional viajando pelo Brasil vendendo adubo e, como todo bom profissional que se dedica `a sua ocupação  , e pensa em seu trabalho, vivia na merda e, so’ tinha merda na cabeça. Mas isso seria problema para daqui a pouco, agora, seu único pensamento era não deixar escapar de sua vida o homem mais bonito que jamais havia visto.

   Na manha seguinte `a noite que passou com a admiradora, Bonitão estava animado. Telefonou para a filha contando a novidade. A menina recebeu a noticia com ceticismo e reprovação  . Imediatamente começou a se referir `a sua, quem sabe, futura madrasta como “a bruxa”. Bonitão estava entre a cruz e a espada ou, se pudermos adaptar o ditado `a profissão que ele exercia, entre a prisão de ventre e o leite de magnésia. Não queria contrariar a filha, uma menina inconsequente que não queria saber de nada na vida a não ser comer, dormir e gastar o dinheiro de seu pai, razão principal pela qual não queria repartir a "fortuna" que Bonitão fazia com a merda. Mas também queria dar uma chance `a sua felicidade. Alem disso, Mujinha, apesar de sexagenária não era de se jogar fora, pelo contrario, quem os visse juntos diria que Bonitão era, pelo menos, dez anos mais velho do que ela.
   Ele estava decidido! Queria que sua “namorada” visitasse sua cidade, conhecesse sua filha, soubesse onde moravam... Afinal de contas, se combinassem, talvez pudessem viver "felizes para sempre".
   A reação   da filha em relação `a namorada foi de ódio `a primeira vista. Na Sexta-feira em que seu pai pediu para que ela fosse buscar Mujinha na rodoviária da cidade, a menina respondeu; “porque ela não vem voando em sua própria vassoura?”
   E’! Bonitão estava numa situação   difícil... Mas, estava decidido e tentar uma aproximação   entre as duas.
   Domingo, dois dias depois, Mujinha se ofereceu a preparar o almoço.
   A menina estava quase resignada com sua sina, ate’ a hora em que sentou `a mesa e sua futura madrasta se ofereceu a servi-la. Assim que abriu a tijela belíssima colocada ao centro da mesa, enfeitada com castiçais e tudo, falou:
-  Você gosta de panelada?
-  O que e’ panelada? Indagou a menina.
-  Tripa, pata e bucho de boi, bichinha. Respondeu a “madrasta” com seu sotaque
   nordestino.
   A menina, apresentou ânsia de vômitos, levantou da mesa correndo, jogou algumas bugigangas na bolsa e saiu do apartamento `as pressas, jurando a si mesma uma vingança inexorável. Comer tripa tudo bem... Tem gente ate' que gosta mas, ser chamada de bichinha era algo inadmissível em sua cabeça oca de quem não conhece o palavreado do nordeste.
   Enquanto caminhava em direção  `a casa de uma amiga, provavelmente também com a intenção   de filar uma bóia, ja’ que seus planos de almoço se viram frustrados pela “bruxa”... E logo no dia em que estava disposta a dar um credito de confiança `a sabedoria de seu pai que, ate então só havia feito cagada em sua vida...
   Agora era pensar uma maneira de se vingar daquela intrusa em potencial que, ate’ agora, o único erro era de ter se interessado por um idiota que tinha uma filha imatura e inconsequente.
   Andava irritada, `a passos largos, em direção   a casa de sua amiga Celinha, que morava apenas algumas quadras distantes, quando pisou em um pedaço de barbante, daqueles que eram usado para amarar pão embrulhado em padaria... “Eureka!” Pensou... A ideia veio imediatamente... “Diabólica!” Sorriu ao terminar de planejar o plano.
   Ao chegar em casa, tarde da noite, Mujinha e Bonitão ja’ dormiam...
   Foi ao sofa’ da sala, levantou uma das almofadas e colocou uma daquelas bolas de plastico que quando apertadas emitem um som de peido...
   Naquela mesma noite, por baixo da porta do quarto onde os “pombinhos” dormiam, acendeu um daqueles barbantinhos que cheiram como enxofre. Com as “antenas” ligadas ainda pode ouvir Bonitão dizendo:
-  Mujinha! Acorda! Acho que você deveria ir ao banheiro...
-  Que tu ta dizendo bichinho? Respondeu, sonolenta.
-  To dizendo que tu ta’ peidando mais do que uma cabrita com caganeira... Respondeu
   Bonitão.
   Agora sim! Poderia dormir em paz... O inicio da vingança havia sido plantada...

  Na manha seguinte, ao acordar, sua primeira providência foi acender um outro barbantinho e colocar dentro de um vaso vazio, que nunca havia visto uma flor para enfeita-lo.
   Imediatamente, assim que sentiu o cheiro, Bonitão Exclamou:
-  Mujinha! Que esta’ acontecendo? Não da’ pra aguentar!
   A menina, mesmo com a boca cheia de pasta de dente, sorria satisfeita...
-  Bom dia! Disse ela assim que adentrou a sala.
-  Bom Dia minha filha! Respondeu Bonitão...
   Mujinha não falou nada... Sabia que não estava peidando, so’ não sabia o que estava acontecendo... Talvez não tivesse tido infância, talvez nunca houvesse se vingado de namoradas de pai, talvez não fosse tão ma’... O fato e’ que, tinha certeza que não havia peidado nem uma vez, apesar de ter comido o que comeu no dia anterior...
   Assim que saiu da cozinha em direcao `a sala, para ficar bem longe da menina, da qual `aquela altura ja’ desconfiava, sentou-se exatamente em cima da almofada que escondia a bolinha de imitar peido...
   Ao ouviu o som característico, Bonitão falou:
-  Mujinha! O que ha’ com você? Me diz agora que não peidou...
   A menina apenas sorriu, desta vez, propositadamente alto para ser ouvida...
   A cada vez que a "bruxa" se ajeitava no sofa’, um novo peido...
   Desta vez, mesmo tomando cafe’ a menina, sorrateiramente, acendeu outro barbantinho e colocou dentro do mesmo vaso. Agora era som e cheiro, dando uma credibilidade maior ao plano diabólico tao bem executado.
-  Mujinha! Não ta’ dando p’ra te aguentar... Vai ao banheiro e caga logo! Exclamou Bonitão.
   Ao passo em que os dois se desentendiam, a menina sorria de satisfação.
   Finalmente, depois de tantas acusações, a moça acusada, resolveu fazer as malas e voltar para Teresina onde, quem sabe, poderia começar nova procura...
   Bonitão ainda tentou ponderar que talvez uma rolha de Champagne poderia resolver o problema, pelo menos temporariamente, mas Mujinha estava muito injuriada. Sabia que não tinha o habito de peidar e, a esta altura, sabia que a filha do Bonitão não queria ninguem entre eles.

 - Eu ate’ que gostava dela mas ela peida muito minha filha! Não da’ para aguentar... Exclamou
   Bonitão, de certa maneira entristecido, acariciando sua filha que, assim que Mujinha saiu, enquanto
   seu pai corria atrás dela, sem saber o que fazer, tratou de jogar pela janela os barbantinhos e o
   imitador de peido, antes que seu pai descobrisse o que realmente havia acontecido e, como ja’ havia
   feito outras vezes, a cobrisse de porrada.
- Eu ate’ que gostava dela mas ela peida muito, minha filha! Não da’ para aguentar...
  De certa maneira, acho que sempre soube que jamais seriamos Mujinha e Bonitao.







  
   Copyright 2013 Eugene Colin