sexta-feira, 28 de julho de 2017

BELEZA...







                                                  Beleza






                  Procurando em beleza de todas as formas
                   pensei eu,  então, como ser definida…
                   seria perfeição, segundo suas normas
                   ou prazer para os olhos pra so' ser sentida?
                   Uma flor e' bela, por do sol e' também, 
                   muito mais se temos conosco alguém…
                   As estrelas no céu, a areia, o mar
                   pintura tão bela que quero guardar…
                   As flores que caem sopradas ao vento,
                   uma lagrima solta pelo sentimento,
                   a presença de Deus nos guiando na vida                         
                   quando vemos de perto a esperança perdida…
                   Dentre tantas coisas que também são belas,
                   cancões, noites claras, tudo que se vê
                   um canto de pássaro, as flores singelas,
                   beleza de fato, pra mim, e' voce…







Copyright 7/2017 Eugene Colin

sexta-feira, 21 de julho de 2017

MMM









                                                                   MMM









   Marta Maria Murtinho havia acabado de chegar de volta ao Brasil apos cinco anos de ausência.
   Tinha  sido designada pela UNESCO, assim que havia graduado em engenharia ambiental por uma faculdade Americana, para trabalhar em Ouro Preto, Minas Gerais.  
   Sua conduta exemplar, ótimas notas, modéstia, preocupação com os problemas ambientais atuais que afligem a humanidade, além de ser Brasileira foram fatores importantes que, embora muito mais jovem do que outros candidatos, pesaram na decisão de ser nomeada como líder do grupo.
   Seus pais, que ainda residiam em Belo Horizonte, estavam mais do que orgulhosos. Marta era filha única que soube, muito bem, exceder as aspirações nela depositadas. Como havia voado direto para o Rio de Janeiro, decidira visitar primeiro sua futura cidade, tomar posse de sua moradia, antes de com eles encontrar. Ouro Preto estava bem no caminho de onde seus pais residiam...
   Assim que se instalou em uma casa muito modesta, na periferia da cidade, começou o processo de limpeza e adequação de sua residência `as novas tarefas que, de agora por diante, deveria exercer.
   Sua casa, longe de por perto lembrar uma mansão, necessitava de maiores cuidados, principalmente com relação `a limpeza e higiene, uma vez que estava abandonada por alguns anos. Tarefa que, por certo, tomaria mais de um dia de seu tempo para ser executada precariamente, ao contrario do que esperava. Mas isso não a desanimava, era so’ relatar `a seus pais o acontecido e eles ficariam mais do que felizes, ao saber que sua filha estava de volta, tomando rédeas de seu futuro. Marta era para eles o maior presente jamais recebido. Havia nascido apos quatro tentativas, que culminaram com resultados tristes. Sempre apoiaram a filha em qualquer decisão. Ate’ mesmo quando, ainda muito jovem, resolveu parar de estudar para trabalhar em um super mercado. Muitas vezes, mesmo sem entender certas atitudes da filha, tinham certeza que, de uma maneira ou de outra, ela “domaria” seu destino.
   A primeira providência seria se dirigir ao mais próximo super mercado e adquirir o que fosse necessário para aquela tarefa eminente.
   Assim que se viu em frente `a sessão de produtos de limpeza segurou uma embalagem de “scotch-brite”. Com a embalagem em sua mão, pode ver, no canto inferior esquerdo o nome do fabricante: 3M...
   Imediatamente, sua lembrança foi reportada `a anos atrás, quando trabalhara por alguns meses em um super mercado em Belo Horizonte.
   “Aquela voz estara’ para sempre em minha mente...” Pensara, ao recordar de Ze’ Raposo, um auxiliar de gerente do estabelecimento, que passava o dia inteiro, anunciando, pelo sistema de som do super mercado, as promoções do dia. De repente, sentiu um enorme aperto no coração, como uma ferida que nunca havia cicatrizado completamente e que vez por outra ainda doía.
   Naqueles dias, com apenas dezoito anos de idade, estava perdidamente apaixonada pelo colega. Sentimento que, aparentemente, ainda estava vivo e latente.
-  Vou ate’ la’, saber se o Ze’ ainda existe... Pensou, olhando para o nome 3M que havia sido seu apelido quando la’ trabalhava.
   Loucura! Pensou logo depois, colocando a esponja de limpeza no lugar onde estava, como se a mesma estivesse queimando suas mãos.
   Saiu da loja sem comprar nada, obsecada por aquela ideia repentina e absurda que a
dominava completamente. Sabia que não e’ de bom alvitre remexer muito no passado. Os efeitos podem causar danos insuperáveis. Por outro lado, seu “caso” com Ze’ Raposo nunca tinha sido completamente resolvido... Nunca havia se declarado. Talvez ele não tivesse conhecimento de seus sentimentos, talvez, na época, era comprometido... Pensando bem, naqueles dias, andava tão fascinada pelo colega que nem tentou investigar a seu respeito. A única coisa que queria, a única coisa que alegrava seus dias eram as horas de trabalho em que a voz de seu colega, através dos alto-falantes, soavam em seus ouvidos, como poemas sinfônicos do mais famoso compositor de quem jamais havia ouvido falar
   O resto do dia se arrastou... Não sabia o que fazer... “Cinco anos! O cara pode estar casado, ou namorando outras caixas, ou ter desaparecido, ou mudado de emprego...
   Que loucura!” Pensava... “Tenho que estar preparada para o pior” ou “para o melhor!" Rebatia, o lado otimista de sua personalidade.
   Não conseguiu dormir... Sabia que tinha que verificar, tentar encontrar seu ex-colega... Sabia também que estava se expondo `a maiores decepções mas, se não verificasse, aquela ideia a consumiria, pelo resto de seus dias. Queria virar para sempre aquela pagina de sua vida que ainda estava aberta no mesmo local... As lembranças estavam um pouco “empoeiradas” mas ainda dava para ver, claramente, em sua memoria, flash backs daqueles dias cheios de esperanças, regados por soba de jilo’ com quiabo, maxixe e batata baroa, prato favorito daquele colega, que cozinhava `a noite para, no dia seguinte, satisfazer seu querido Ze’ Raposo.
   Lembrou da primeira vez que resolveu preparar a legendaria sopa que seu interesse tanto apreciava. Marta odiava jilo’, com paixão. A baba do quiabo, escorrendo por entre seus dedos a faziam sentir calafrios, a batata baroa também era um pouco “pegajosa” mas, daquilo tudo era o que menos a repugnava. Maxixe não conta... Não tinha gosto de porra nenhuma.
   A primeira vez que, junto de seu colega, com ele dividiu a sopa, havia sido uma das mais horripilantes experiências de sua vida. A única maneira que conseguiu encontrar, para que ele não percebesse sua agonia, foi tagarelar o tempo todo, incessantemente, como um papagaio bem treinado. Ze’ Raposo devorava vinte colheradas e ela ainda estava tentando engolir a anterior. Mas, com o tempo, ate’ aprendeu a gostar de jilo’ e ate’ da sopa, que com tanto carinho preparava.

   No dia seguinte bem cedo se dirigiu `a rodoviária, com destino a Belo Horizonte. Nem havia se arrumado direito como seria apropriado. Saíra de casa com a mesma roupa do dia anterior... Estava tao ansiosa que nem tomou banho, se maquiou ou se embonecou toda, tentando fazer seu antigo amor, avaliar o que tinha perdido. Juntou algumas pecas de roupas `as pressas, enfiou em uma mala e saiu de casa. Talvez estivesse mais interessada em uma auto-satisfação, ter certeza que seu antigo quase namorado tinha se mudado e seu paradeiro era ignorado pelos antigos colegas, se la’ ainda estivessem.

   Eram cinco horas da tarde quando desceu do ônibus na rodoviária da cidade. Menos de quinze minutos depois estava bem em frente ao “Guardiao do seu Bolso” nome do local onde trabalhara, depois de uma viagem que havia sido, no minimo, angustiante...  
   A fachada estava um pouco abandonada, o letreiro meio desgastado pela ação do tempo... Assim que entrou na loja, um aperto no coração. “E’ claro que as chances de encontrar o Ze’ eram remotas mas, quem sabem, alguém daquele tempo ainda trabalha aqui e pode me indicar seu paradeiro.” Pensou.
   Ainda olhava `a esmo, tentando se situar no tempo e na loja em que acabara de entrar quando ouviu:
-  A filha da pulga não tem lugar em nosso estabelecimento... Aqui, a higiene e’ total... 
   Compre seus produtos com confiança. Limpeza aqui abunda... E, por falar em bunda, 
   não esqueça do carinho que seu neném merece. Na ala de recém-nascidos temos as 
   famosas fraldas perfumadas “Ja’ Limpei”, as melhores para seu bebe. Não se 
   esqueça que todo o Sábado e’ dia de Piranha em nosso estabelecimento. Se quiser 
   pode comer aqui mesmo. Piranha ensopada, piranha empanada, piranha frita... E, 
   “cala a boca”, marca da nossa melhor chupeta para bebes de seis meses a dois anos...
   3M quase desmaiou ao ouvir aquela voz...
   Não podia acreditar... Ze’ Raposo ainda trabalhava no mesmo local!
   Impaciente, como quem esta’ prestes a perder seu voo internacional que a levaria ao destino sonhado, corria pelas alas do super mercado `a procura de seu antigo amor.
   Não conseguiu encontrar o interlocutor.
   Procurou pelo gerente. Não o conhecia! Não era o mesmo de seu tempo. Explicou seus motivos tentando saber onde estava o Ze’ Raposo.
-  Isto e’ apenas uma gravação. O Ze’ grava os textos em casa e nos manda para ser 
   executado no dia seguinte. Informou o gerente.
   Desapontada, tentou descobrir o endereço do antigo colega para um encontro. O gerente se recusou a fornece-lo mas, ao sentir o desespero e agonia daquela moca, alem de não tirar o olho de seus peitos, combinou com ela que, naquela mesma tarde, telefonaria para seu sub-gerente solicitando sua presença no dia seguinte.
   3M deixou a loja em busca de um hotel onde pudesse passar a noite. Sua melhor opção foi um Motel, não longe dali, onde um enorme cartaz exibindo a foto de duas bolas de sorvete, quase coladas uma na outra, com uma cereja um cada uma, propositadamente tentando sugerir dois enormes seios, onde se lia em letras garrafais; “chupa que e’ doce...” logo abaixo, em letras muito menores estava escrito; “sorvetes gratis”. Sem duvida um estabelecimento de classe...

   Na manha seguinte, antes das sete, antes da loja abrir, la’ estava de pe’ olhando para todos os lados, na esperança de encontrar seu antigo amor. Continuava curiosa... Sera’ que ele estava casado? Sera’ que tinha uma namorada? Sabia que so’ gostava de coroa... Possivelmente tinha se juntado com uma senhora de setenta anos, com um monte de netinhos que azucrinavam sua paciência.
   Mais alguns minutos, mergulhada em antigas recordações, pode ver Ze’ Raposo atravessando a rua em sua direção... Estava do mesmo jeito mas, não se vestia tao bem quanto no passado e, em seu semblante, mesmo de longe, dava para notar uma certa tristeza, carecteristica de quem tinha feito uma cagada filha da puta com seu destino.
   Pensando ser uma cliente madrugadora, que fazia questão de ser a primeira a entrar na loja, a cumprimentou.
   Mas algo era diferente naquela linda jovem, pensava Ze’. Parecia que ja’ a havia visto antes... Provavelmente uma cliente fiel ciente de que o “Guardiao do seu bolso” e’ o melhor lugar para esvaziar o cofre.
-  Ze’ Raposo? Disse 3M
   Agora sim! Tinha certeza que ja’ havia ouvido aquela voz. Talvez fosse uma das muitas clientes que havia salvo da ira de uma das caixas, apos uma reclamação, antes de ser atingida, no meio da testa, pelo mesmo rabo do bacalhau que havia acabado de comprar...
-  Lembra de mim? Repetiu a moca.
   Ze’ Raposo olhou bem para ela, pensou, pensou e disse:
-  Marta?
-  Pensei que ainda se lembrasse do meu apelido... Disse a moca.
-  Claro que me lembro... 3M! Disse Ze’ Raposo. Como esta’ você? Tao linda! O que
   aconteceu? Você esta’ parecendo um atriz de cinema... Que a esta’ fazendo aqui, 
   quer teu emprego de volta? Posso conseguir isso. Concluiu.
-  Bem! Um mês depois que deixei o emprego, embarcava de viagem para os Estados
   Unidos. Estava tao desesperada em fugir daqui que aceitei o convite que meus pais 
   receberam em uma carta, sobre um programa Americano de troca de estudantes. 
   Meus pais seriam responsáveis por um estudante de la’ e uma família Norte 
   Americana me receberia para a mesma finalidade. Depois de quatro anos me formei 
   em engenharia ambiental e acabei indo trabalhar para a UNESCO. Depois de algum 
   tempo. sabendo que era Brasileira, me perguntaram se gostaria de voltar ao Brasil 
   para supervisionar um projeto em Ouro Preto. Aceitei e, aqui estou... E você? Me 
   conta! Como vai? Finalizou 3M.
 - Ainda estou aqui...
 - Você me parece um pouco triste, o que aconteceu?
 - Uma longa historia... Respondeu Ze’ Raposo. Deixa eu ver porque me chamaram 
   aqui e, se tiver tempo, saímos para tomar cafe’. Você ja’ tomou cafe?
 - Não! Sai do hotel muito cedo para te encontrar e, você não tem que trabalhar. Te
   chamaram aqui para me encontrar... Disse 3M.
 -  Como sabe?
 - Ontem, quando vim aqui a tua procura, falei com o gerente tentando descobrir teu 
   paradeiro. Notei que ele não tirava os olhos do meu peito. Fiz beicinho, uma cara de 
   triste, debrucei sobre o balcão espremendo meus seios e, “voila'” ele se ofereceu a 
   te chamar para me encontrar. Confessou 3M.
 - Puxa vida! Você esta’ tao linda! Parece tao madura... Nem lembra aquela menina que
   trabalhava aqui... Você deve ter 25 ou 26 anos, certo? Disse Raposo.
 - Estou com 25. Faco 26 em outubro.
 - Tao jovem, trabalha para uma instituição Americana e ja’ vai ser responsável por uma 
   cidade? Estou feliz por voce...
-  Porque voce não procura o gerente, so’ para dar uma satisfação que aqui esteve e
   vamos tomar cafe’?
-  Veja so'! Não consigo parar de te olhar... Voce’ e’ uma deusa. Que aconteceu?
 - Vai la! Fala com ele e vamos... Insistiu 3M.

   Raposo estava estupefactamente embasbacado. Como podia ter sido tao burro? Diziam que aquela “deusa” que ali estava, `a sua frente, era apaixonada por ele... Como e’ possível alguem ser cego tendo a visão sadia? Comparar 3M com Mujinha, romance mal sucedido que o mantinha triste ate’ hoje, era o mesmo que comparar Nosso Senhor com Ze’ Buchudo.
   Falou com seu Gerente, voltou ao encontro de sua antiga colega e saíram em direção a um botequim para tomar cafe’.
   Se 3M não fosse bem sucedida ainda, certamente estava no caminho certo. Notara que ela estava muito segura de si, sofisticada, elegante, assertiva... Completamente diferente daquela menina que, a seu lado almoçava, todo dia, sopa de jilo’, maxixe, quiabo e batata baroa.
   Assim que ele chegou de volta a seu lado, 3M tomou seu braço e saíram rumo `a sua primeira refeição em dois dias.
   Conversaram a manha inteira. Marta falara de sua “aventura” Americana, Raposo relatara sua “desventura” amorosa com Mujinha...
   Um pouco depois a convidou `a sua casa, oferecendo-se a cozinhar para ela, em troca das muitas sopas que havia degustado em almoços passados. Marta aceitou!
   Assim que chegaram, ela tirou o casaco que a protegia da frente fria que visitava a região, pendurando-o atrás da porta de entrada.
   Raposo olhava para ela, babando, literalmente.
-  O que vai me oferecer? Perguntou 3M.
-  O que você quer comer? Indagou Ze’ Raposo.
-  O que eu quero você não tem pratica em fazer, alias, sei por muitas fontes que nunca soube fazer
   direito... Disse 3M, sarcasticamente...
-  O que? Perguntou ele, um pouco constrangido e intimidado.
-  Sopa de jilo’, maxixe, quiabo e batata baroa. Respondeu 3M, sorrindo.
-  E’! Isso ai e’ com você mesmo! Retrucou Raposo.

   Marta se dirigiu `a cozinha, separou uma panela, as verduras, batata, alho, sal, pimenta e, iniciou o mesmo ritual que anos atrás a mantinha ocupada quase diariamente.
   O resto da tarde foi alegre e reminiscente...
   Ja’ era noite quando, sentados em sofa’ em frente `a televisão, que servia apenas de fundo pictórico para a conversa, Marta falou:
-  Me diz! Quais são teus projetos? O que você vê para teu futuro?
   Raposo olhou para ela, talvez pensando quão diferente sua vida poderia ter sido e respondeu:
-  Não sei! Nunca fiz planos para minha vida... Sempre vivi dia-a-dia...
-  Bem! Ja’ que não tem planos, que tal vir comigo para Ouro Preto? Tenho um trabalho    
   longo, árduo e complexo `a minha frente e sei que vou precisar de toda ajuda que 
   poder conseguir. O salário não e’ muito. Eu mesmo recebo muito pouco pelo que faço
   mas, trabalho para uma instituição filantropica que vive de doações. Alem do mais,
   so’ o orgulho de ser responsável por um trabalho que ficara’ para posteridade ja’ e’ 
   uma grande recompensa... Nosso trabalho  e’ de suma importância para preservação 
   das belezas do nosso planeta.
-  Mas, não conheço ninguém la'! Onde vou morar?
-  Vai morar comigo! Queria ter uma chance de te mostrar o quanto sempre te amei,
   desde menina... Você sabia que parei de estudar e fui trabalhar no super mercado so’  
   para poder ficar a teu lado, diariamente? Disse 3M.
-  Ta’ falando serio? Você pode ter, a teus pés qualquer homem que escolher... Disse 
   Ze’ Raposo.
-  Verdade? Indagou Marta.
-  Verdade! Respondeu Raposo.
-  Então, se ajoelha agora! Aqui na minha frente! Parabéns! Você acaba de ser  
   escolhido... Afirmou 3M.
   E não e’ que o nosso amigo ajoelhou mesmo...
-  Levanta dai seu bobo! Estou brincando... Não! Estava brincando quando disse para se
   ajoelhar. Não quero você como meu empregado, ou subserviente. Quero você como 
   meu namorado, meu amor...
-  Marta, você esta’ me gozando?
-  Não! Sempre gostei de você...
-  Mas olha para mim... Eu não sou nenhum garotão, bonito, cheio de músculos...
-  Eu não quero um garotão bonito, cheio de músculos... Disse 3M.
-  Você tem 25 anos, eu tenho mais de 40. O que vai acontecer daqui a vinte anos?...  
   Disse Raposo.
-  Vinte anos? Estou preocupada com o que vai acontecer na semana que vem. Daqui 
   a vinte anos, penso no que vai acontecer daqui a vinte anos e um dia. Respondeu 
   Marta.
-  Não e’ bem assim! Ponderava Raposo, ao ser interrompido com assertividade.
-  Me responde! O Bingulim ainda sobe? Perguntou 3M.
-  Claro!
-  Você gosta de mulher? Indagou, novamente.
-  Muito!
-  Você me acha atraente? Repetiu...
-  Você e’, e sempre foi, um sonho de pessoa... Quando trabalhávamos juntos, ouvia  
   cochichos que você gostava de mim mas, nunca pude acreditar... Você era tao jovem, 
   tao bonita...
-  Deveria ter me perguntado! Disse 3M.
-  Eu sei! Me arrependi, tempos mais tarde. Disse Raposo.
-  Quando vamos para Ouro Preto? Indagou 3M.
-  Você esta mesmo seria a respeito disso, não? Perguntou Raposo. 
-  Muito! Quando vamos para Ouro Preto?
-  Você acha que com o tempo poderia gostar de mim? Indagou 3M.
-  Eu gosto de você! Disse Ze’ Raposo.
-  Ótimo! Quando vamos para Ouro Preto?
   Ze’ Raposo sentou no Sofa’, longe de Marta, colocou sua cabeça entre as mãos, com os cotovelos apoiados sobre os joelhos, balançou a cabeça, olhou para ela e disse:
-  Me ajuda a fazer as malas?
   Marta saiu correndo, pulou sentada em seu colo e começou a beijar Ze’ Raposo.
   Em dado momento, quase sufocado por aquela quantidade de carinho e afeição, ele a afastou um pouco, segurando-a pelos ombros e perguntou:
-  Você tem certeza que e’ normal?
-  Claro que não! Você acha que isto e’ uma atitude de uma mulher normal?
-  Onde vamos morar, em Ouro Preto? Perguntou Raposo.
-  Não se preocupe! Tenho uma casa la’, na zona rural. Muito pequena, muito linda, 
   muito aconchegante, que precisa de muito trabalho para poder se tornar habitável... 
   Vai ser muito bom trabalharmos juntos novamente... So’ tem um detalhe! Gostaria de, 
   primeiro passar pela casa de meus pais para te apresentar... Eles são meio 
   antiquados e não quero que cheguem para visitar e me encontrem vivendo com
   um homem a quem não conhecem... Você se importa?
-  Claro que não! Respondeu ele.
-  Quem diria? Jamais pensei que este dia fosse chagar... Disse 3M, eufórica.
-  Posso te pedir um favor? Disse Ze’ Raposo, sisudo e compenetrado.
-  O que você quiser! Sorriu ela, em resposta.
-  Você faz sopa de Jilo’, maxixe, quiabo e batata baroa de vez em quando? Perguntou `a 3M.





Copyright 2013 Eugenio Colin 

sexta-feira, 14 de julho de 2017

ZE' RAPOSO.









                                                              Ze' Raposo









   Antonio Almeida Santos Andrade das Graças Conceição Maria Raposo, era mais conhecido por seus amigos e colegas de trabalho como “ Ze’ Raposo”.
   Tanto nome e foi apelidado pelo último, precedido por um “Ze’“, que não tinha nada a ver com aquele monte de nomes que carregava em sua Identidade.
   Mas ele não se importava... Estava tão acostumado que muitas vezes atendia so’ por “Ze’ “... 
   - O Ze’ , ouvia...
   - Fala Marinaldo!... respondia.
   Para ele, todo mundo se chamava Marinaldo. Talvez como uma vingança, quem sabe...
   O fato e’ que era muito querido e respeitado por seus amigos e colegas que, como ele, passavam a maior parte do dia no “Guardião do seu Bolso”, o supermercado onde trabalhava. Ze’ Raposo era, possivelmente o único homem que possuia mais de um estado civil. Era divorciado, porque se separou da esposa. Viuvo, porque ela havia falecido no meio de um concurso numa quermesse, em sua cidade natal, quando tentava bater o recorde de comer cinco melancias em quinze minutos e, solteiro, porque era muito mais facil se declarar solteiro do que ter que explicar toda aquela história.

   Depois de divorciado, ou viuvo, ou solteiro, nunca teve uma namorada. Quando se separou, decidiu que a próxima namorada tinha que ser cheia de curvas, talvez para ajudar a se esquecer de sua ex-mulher que mais parecia uma reta quilométrica de uma estrada interestadual. “Não quero ver uma puta de uma linha reta no corpo da minha namorada... Ela vai ter que se parecer com a estrada de Santos: Aclives, declives e cheia de curvas”. Disse várias vezes...
   Apesar de ter trinta e cinco anos de idade, so’ olhava para mulher com mais de cinquenta e cinco. Ate’ aí, tudo bem... O problema e’ que, além de ser madura e experiente, ele queria que aparentassem, e se comportassem como “piriguetes”. Aí o negócio pegava... Tinham que se comportar como piriguetes mas deveriam ter carácter e valores morais irrefutáveis... O Ze’ era um cara complicado!
   Mas era calmo, determinado, assertivo... Achava que, mesmo que morresse solteiro, não tinha problema. Ja’ havia experimentado os prazeres da carne. Agora era a hora do amor, alem da sacanagem, e’ claro...
   Houve ate’ a história da Martha Maria Murtinho, a “3M” como era apelidada.
   A pobre da menina tinha dezoito anos, loira, olhos azuis, corpo escultural, mais perecia uma modelo internacional do que uma caixa de supermercado que caiu na besteira, ninguem sabe porque, de se apaixonar doidamente pelo Raposo. Chegava ate’ ao cúmulo de trazer de casa, para o almoço, sopa de jilo’ com maxixe, batata baroa e quiabo, so’ porque sabia que o seu “amor” gostava, fazendo questão de dividir com ele. O Ze’ comia a sopa mas, dispensava a menina, quando a grande maioria dos mortais faria exatamente o oposto.
   “3M” sofreu tanto que acabou se demitindo quando chegou `a conclusão que naquele mato ela não ia ver a cobra... E justamente quando havia sido eleita a “empregda do mês”. Nimguem entendeu sua atitude, apenas seu coração dorido e dilacerado de mágoa, ressumbrado por aquela dor acuminada.

   Ze’ Raposo ficou triste com a partida de sua colega... Quando ouviu dizer “ - Nunca mais, na tua vida, você vai ter sopa igual a essa “, ele respondia: “- E’ mesmo! E eu nem pedi a receita”... 
   Alguns até ponderavam se Raposo era ingénuo ou babaca.

   O fato e’ que a vida seguia no “Guardião do seu Bolso”. Nada mudava muito naquele dia-a-dia. E’ bem verdade que de vez em quando uma das “caixas” queria dar porrada em um cliente mal educado, criador de caso mas, acabava se acalmando quando ouvia: “- Calma Ofélia! O Cliente tem sempre razão...”
   “- Um dia ainda mato um desses filho da puta!”  era quase sempre murmurado mentalmente, em resposta.

   Finalmente dia primeiro de Maio chegou. Dia memorável, o “Guardião do seu Bolso” ia fechar ao meio-dia, coisa rara de acontecer...
   Naquela manhã Ze’ chegou ao trabalho alguns minutos mais tarde. Claro que não estava atrazado. Apenas alguns minutos após  `a meia-hora antecipada.
   Assim que adentrou o estabelecimento. Pode notar uma aglomeração incomum ao redor da caixa 3. Como todo curioso, foi ao local para “conferir”.
   Assim que pode se aproximar e meter a cabeça por baixo do sovaco de seu colega “Mignon”, um Francês com mais de dois metros de altura que trabalhava no açougue, pode ver, para sua perplexidade, uma mulata, de olhos verdes, cabelos negros e lisos, em uma mini-saia, com a blusa do uniforme que parcamente era mantida abotoada sobre seus seios, com o sorriso mais lindo que jamais havia testemunhado... Reparando melhor `aquele rosto angelical pode notar, abaixo dos olhos, em volta do pescoço e nas costas das mãos que gesticulavam afabilidosamente, rugas cuidadosamente cobertas por uma maquiagem impecável.
   O Ze’ nao podia acreditar... So’ faltava aquela coroa ser safadinha do jeito que ele sonhava...  Mas, ele era cabra esperto. Se tentasse uma aproximação imediata, seria apenas mais uma boca babando em volta da carne fresca. Além do mais, ele nunca poderia deixar de ser notado, ou pelo menos ouvido, dentro do supermercado, ja’ que, seu trabalho era de anunciar, o dia inteiro, microfone na mão, as promoções do momento... 
   “- Senhores e senhoras, não deixem de visitar a nossa seção de pescados e apreciar Pirarucu fresquinho, tirado agora, o Barracuda Filha, novinho, fresquinho, limpinho, pronto para comer”... Coisas desse tipo...
   O Ze’ tambem era uma espécie de auxiliar de gerencia. Quando a coisa esquentava ele chegava e jogava agua fria. Uma vez, a caminho do banheiro, morto de vontade de fazer xixi, chegou bem na hora em que Chica Bolacha ja’ estava com o braço no alto, punho cerrado, pronta para dar uma porrada na cara da Guilhermina que, se pegasse, talvez a introduzisse dentro do vaso sanitário, so’ porque esta, havia percebido e avisado, que aquela, estava com uma mancha marrom na parte de trás de sua calcinha. So’ teve tempo de ouvir a conclusão da frase: “ Cagada ta’ tua mãe, sua filha da puta”, segurar o punho da pretensa agressora e, quem sabe, devido ao esforço, ja’ que ela era manequim “+plus-size”, se mijar todo, concomitantemente emitindo sons similares a rufar de tambores que, aparentemente nada tinham a ver com o motivo que o havia levado a tentar usar o banheiro. O importante e’ que, as duas acabram saindo do local `as gargalhadas, de braços dados, espalhando para todo o supermercado que Ze’ Raposo estava na porta do banheiro, todo mijado, peidando que nem cabrito...
   Ninguem sabia como, mas ele sempre resolvia os piores problemas, mesmo que involuntariamente.

   Um dia, algumas semanas depois de ter visto pela primeira vez Maria Januária Quitéria do Rosário, nome daquela linda baiana do caixa 3, quando saia do banheiro, desta vez sem imprevistos, notou, assim que segurou o microfone, por ele esperando calmamente deitado acima do balcão da recepção, que o objeto de seu mais recente afeto, se movia em sua direção... O Ze’, cabra malandro e experiente, nem titubeou, ensaiou uma cara de quem esta’ cagando p’ro mundo. Chegou ate’ a olhar para Januária de sobrolho...
Oi tudo bem! Disse ela, estendendo a mão afavelmente.
Tudo Bem! Respondeu Ze’ Raposo com tibiesa mas com acatamento, lenta e propositadamente transformando seu semblante de indiferente para acolhedor, retribuindo o gesto amical enquanto segurava, na sua, aquela mão morena, macia e bem cuidada.
Ouço sempre você pelos alto-falantes mas nunca tivemos oportunidade de conversar.
Disse Mujinha (seu novo apelido) enquanto cumprimentava o colega, fazendo sua “antena” ficar ligada so’ com um aperto de mão. - Sua voz e’ muito bonita! Finalizou...
 Obrigado! Gentileza sua... Respondeu.
   Agora Raposo estava começando a ficar emcabulado... Não conseguia tirar os olhos dos peitos da colega mas, ela parecia não se importar. Em dado momento ate’ desabotuou um pouco mais a sua blusa... Seu colega olhava para aquilo tudo como se estivesse esperando o momento em que ela fosse explodir. So’ pedia aos orixás que tivesse tempo de poder pegar um pedacinho, quando o aparentemente inevitavel acontecesse.
   Dias depois, Mujinha estava na hora do seu almoço e convidou seu colega para acompanha-la ate’ o refeitorio. “Esta’ ficando bom!” Pensava Raposo enquanto andava atrás dela, rumo ao destino. Olhava para “aquilo tudo” e via cachos de uvas `a sua frente. Madurinhos, docinhos, que certamente o refrescariam... Se comidos, e’ claro... Enquanto ela andava, seu colega pensava estar vendo o vento balançando aquele monte de delicias que ja’ havia algum tempo pensava em degustar. Chegou ate’, em dado momento, inclinar a cabeça, possivelmente procurando achar um novo ângulo para poder apreciar todas aquelas uvas que se moviam `a sua frente. Se via como um carro, deslizando suavemente por todas aquelas curvas que inevitavelmente o levaria ao “tunel do amor”.
Voce gosta de comida baiana? perguntou Mujinha assim que sentou `a mesa. Hoje eu troxe arrubacão, acarajé, abará e um pouquinho de munguzá de sobremesa...
O único que conheco e’ acarajé... E’ muito gostoso...
  A conversa decorria amigavelmente, perfumada pelo cheiro forte do tempero baiano.   
  Assim que terminou sua refeição, meteu a mão na bolsa, `a procura de algo. Saiu de la’ com um maço de cigarros na mao, perguntando se era permitido fumar no refeitório.
   Pronto! Era so’ o que faltava! A coisa que Raposo mais gostava no mundo era beijar boca de mulher fedida de cigarro... Pronto! Agora ele estava realmente, perdidamente, irremediavelmente, loucamente, apaixonado por aquela coroa que ouviu dizer tinha sessenta e um anos mas não aparentava nem quarenta... Se ela fosse safada então...
Jeito de piriguete ela tinha...

   Os dias se passavam... Ze’ Raposo e Mujinha estavam cada vez mais próximos. Porem, eram discretos... Ao contrário do que havia acontecido com 3M, desta vez ninguém percebeu que nutriam interesses concomitantes... Uma vez, durante um intervalo, na hora do almoço, Raposo chegou ate’ a dar uma cheirada profunda no cangote de Mujinha que, quando sentiu o fungado, ate’ chegou mais para trás, encostando todas as suas curvas na “alavanca de marchas” do Ze’. E’ claro que ninguém viu... Mas ele “mudou de marcha” instintivamente...

   Prezados clientes, hoje e’ Sabado, e Sabado e’ dia de Piranha em nosso estabelecimento... Vamos la’! Podem comer `a vontade, nosso supermercado esta’ cheio de Piranha... Nem precisa levar para casa. Coma aqui mesmo! Tem Piranha para todos os gostos... Tem Piranha Frita, Piranha ao Molho, Piranha com Legumes, Rabo de Piranha no pauzinho... Em nossa seção de comidas prontas, hoje e’ o Dia das Piranhas... Anunciava Ze’ Raposo, com sua voz aveludada, pelo serviço de som da loja.
   Bolacha na cara! Meus amigos, prestem muita atenção... Hoje tem bolacha na sua cara p’ra quem quizer... Em todas as nossa alas temos bolachas da marca Carinhosa, as melhores do Brasil, bem `a sua vista... Temos de Agua e Sal, Salgadinha, Presunto e Queijo.... Estão penduradas bem ao seu alcance. Não tem como deixar de ver... Lembre-se, leve uma antes de chegar aos caixas...
   O dia inteiro Ze’ Raposo fazia anuncio das promoções, sem parar, sem descanso...
   Em um intervalo, logo após ter argumentado sobre as maravilhas do Sabão Caca’, sentado em uma cadeira do refeitorio, copo d’água `a sua frente para refrescar a garganta, viu, com certa surpresa, a porta se abrir abruptamente e a figura esbelta e tentadora de Mujinha entrar e se dirigir rapidamente em sua direção. Chegou bem perto, se ajoelhou no chao, segurou a mão direita do Ze’ e a colocou dentro de seus seios dizendo, com aquele sotaque que ele ja’ estava começando se acostumar a ouvir:   - Não se avexe não! Mas, por favor, vamos embora juntos hoje... Tô retada, tô molhada desde que cheguei e ouvi voce anunciar que ia dar bolacha na cara de todo mundo.
   Fui com certa surpresa que Ze’ Raposo ouviu aquilo tudo, quieto, sem dar uma palavra...
   E’ claro que sairam juntos... Desta vez porem, os dois estavam cagando para quem visse ou comentasse alguma coisa...

   Chegou segunda feira. Como sempre, na hora certa, quer dizer, meia hora antes da hora, la’ estava o Raposo, muito depois, quase atrazada, chegava Mujinha...
   Olinda Cabrita, uma baixinha muito observadora que trabalhava na recepção, notou que, naquela manhã, Ze’ estava andando meio curvado e, de vez em quando, colocando a mão nos ovos, enquanto, Mujinha estava trabalhando de pe’ e com as pernas meio abertas. Muito estranho! Pensava...
   Não se sabe como, pela hora do almoço, todo mundo no Guardião do seu Bolso comentava que Mujinha estava gravida, mesmo com sessenta e um anos, e que o pai era o Ze’ Raposo...
   Foi para o espanto de todos, incluindo os clientes que estavam no estabelecimento que, dias depois,  Ze’ pegou o microfone e disse: - Meu amor! Mujinha, meu amor! Não consigo mais viver so’... Quero que você me dê a honra de ser minha esposa... Terminando a proposta `a frente do caixa onde ela estava, ajoelhado, mãos postas segurando o microfone.
   Ao ouvir aquilo, assustada, saiu correndo para o refeitório...
   Todo mundo parou! Silencio total! Ze’ Raposo, com cara de babaca, sem entender o que havia acontecido olhava para todos que também olhavam para ele.
   Calmamente se levantou, colocou o microfone que ainda segura sobre o balcão da recepção, quando por la’ passou, e se dirigiu ao refeitório...
   - O que aconteceu? Perguntou `a sua amada. Pensei que você gostasse de mim...
   - Eu gosto de você! Mas não para casar... Eu ja’ tive a minha vida, ja’ fui casada... Gosto de você p’ra uma trepadinha porreta como a desse final de semana... Gosto de ficar toda inchada, gosto de sacanice mas não quero ter compromisso. Além do mais, és vinte anos mais novo do que eu. Em alguns anos isso vai ser um problema...
   - Não quer pensar um pouco? Por favor! Pense por alguns dias...
   - Não tem o que pensar... Isso ja’ aconteceu antes e minha decisão foi a mesma.
   - Não te entendo! Pensei que eu fosse diferente...Murmurou Ze’ Raposo, completamente derrotado, triste... 

   Ele deu uma ultima olhada para sua companheira e deixou a sala cabisbaixo. Ao sair, olhou para a colega da recepção, não disse nada e foi embora.
   O clima estava tenso... Olhavam-se uns aos outros sem saber o que dizer, ou fazer... Assim que voltou de onde estava, Mujinha procurou o gerente e se demitiu, ali mesmo, sem justificativa.
    Era como se uma bomba houvesse explodido ou, como se estivessem paralizados pelos gazes emitidos por clientes que haviam comido a Feijoada da semana passada.
    O dia foi longo e triste, sem a voz do Ze’ Raposo ao microfone.

   Na manha seguinte, ao voltar p’ro trabalho, estava desapontado, triste, sizudo...
   Ao pedirem esclarecimentos, Ze’, envergonhado por ter sido desprezado, espezinhado, jogado ao lixo, sem saber o que fazer, apenas disse, tentando disfarçar a dor mais aguda que jamais sentiu: Foi uma brincadeira de mal gosto... So’ queria curtir com a cara dela...

   Moral da história:     Aqueles que são incapazes de atingir sua própria meta tendem a depreciá-  
                                    la, para diminuir o peso de seu insucesso.
                                    É fácil desprezar aquilo que não se pode alcançar.
                            ou:   Se não fosse burro, tava comendo a 3M ate’ hoje. Tinha ate' sopinha de 
                                    Jilo’ com maxixe, batata baroa e quiabo de sobremesa...






Copyright 2013 Eugenio Colin