quinta-feira, 25 de julho de 2013

VINGANÇA MALIGNA






                                                         Vingança Maligna





   Estava lavando o carro na porta de casa quando chegaram Jeralda, minha vizinha e seu amigo Saulo, o filho da Puglia, voltando da academia.
   Estavam conversando sobre poderes sobrenaturais, inexplicáveis...
   Perguntaram minha opinião. E' claro que se eu afirmasse não acreditar, a "discussão" estaria praticamente encerrada, em sinal de respeito `a uma pessoa mais experiente. Não sabia quem era a favor ou contra a teoria mas, botando lenha na fogueira, disse que eu tinha poderes sobrenaturais...
   Contei que, anos atrás, dirigindo meu carro em uma estrada de terra no interior de Minas Gerais, apos uma tempestade de vários dias que havia inundado parte da região, olhei pela janela e vi um carneiro tentando sair do atoleiro. Quanto mais tentava, mais se afundava. Parei o carro a procura de algo que me ajudasse a resgata-lo. A única coisa que encontrei foi uma galho de palmeira, longo e resistente. Me apoiei bem na margem da estrada e atirei uma extremidade do mesmo em direção ao carneiro que, não sendo burro, imediatamente entendeu que eu estava tentando salva-lo.
   Assim que saiu, esfregou o nariz em minha calca, não sei se para agradecer ou para limpa-lo da lama que poderia estar impedindo sua respiração, e saiu correndo em direção `a mata.
   Naquela noite, ao chegar ao meu destino, sonhei que era recebido por um rebanho de carneiros e que, o "chefe" deles, colocou a pata na minha cabeça e falou: "De agora em diante te concedo poderes totais. Sobre a pessoa de quem o nome na boca de um dos nossos colocares, terás completo comando de seu destino, para o bem ou para o mal.
   Os dois me olharam com uma cara de surpresa, sem saber se deveriam acreditar que aquela historia era verdadeira...
   Jeralda, que tem mais intimidade, e que também, embora mais nova, e' cem vezes mais esperta de que seu amigo falou:
-  Você e' cheio de historia... Tem poderes nada! Se você tivesse poderes estava dirigindo uma
   Mercedes ao invés de um Volkswagen...
-  Meus poderes são para controlar o destino de uma pessoa, não para ganhar um carro. Respondi.
-  Quer que eu faca um teste com você? Perguntei, em tom de voz serio e sombrio.
   Ela olhou para mim, olhou para o Saulo, pensou por alguns segundos e começou a sorrir...
-  Que poderes nada! Falou, ainda sorrindo.
-  Você ta' maluca? Não brinca com essas coisas... Isso e' serio! Disse seu amigo.
   Naquele momento descobri quem acreditava em que.
-  Esta noite, depois que você dormir, vou fazer uma experiência com você. Amanha vai ver
   que vai acontecer. Disse, olhando para ela bem serio.
   Enquanto se afastavam ainda ouvi seu amigo dizendo: "Para de brincar com o que não entende." Jeralda sorria, sem saber se deveria voltar atrás em seu desafio.
   Em casa, fiz um pequeno carneiro de papel machê, coloquei em sua boca uma folha enrolada com um poema que escrevi, e pedi que Amelia, sua mãe, o colocasse sobre uma cadeira, ao pe' da cama para que ela pudesse ver assim que acordasse.
   Na folha de papel `a boca do carneiro, escrevi...

   Minha vingança sera' maligna,
   confortando toda  a tristeza
   então, ate’ sera' digna,
   colocando em cheque o dom da beleza...

   Em uma manha, não muito distante,
   depois de acordar cocando a cabeça,
   sentiras um odor, um cheiro constante
   assim que te olhar no fundo do espelho.

   Mexendo com os dedos na ponta do pe',
   movendo o nariz pra baixo e pra cima,
   não vais aguentar aquele chule'
   cheirando na casa, empesteando o clima.

   Agora ainda tonta, o olho esfregando,
   escova com pasta escovando o dente,
   vais ver os da frente, de leve soltando,
   caindo na pia com agua ainda quente.

   Banguela, na mesa tomando cafe,'
   sem dente, chupando a manteiga do pão,
   a meia cobrindo o cheiro do pe',
   vais ate' assustar a pulga no chão.

   Voltando p’ra cama, dormindo chorando,
   tentando entender o que aconteceu,
   vais voltar ao passado na mente lembrando
   de palavras perdidas que alguem prometeu.

   Procurando esquecer a dor quer sentia,
   escolhendo uma calca entre aquelas que tinha,
   ja' toda arrumada pra Academia,
   sentiras a bochecha coberta de espinha.

   Com a boca fechada, o pe' protegido,
   tentaras disfarçar tua figura com zelo,
   o rosto coberto com creme fedido,
   choraras ao ver caindo o cabelo.

   Mamãe, o que e' isso? Por favor me conta,
   To careca, banguela, coberta de espinha,
   um chule' que me deixa ainda mais tonta...
   Onde foi a beleza que ainda ontem eu tinha?

   Sei não minha filha! Volta ao teu passado...
   O que você fez? Me conta primeiro!
   Se deixou noutro dia alguem magoado,
   ele deve ter dado teu nome ao carneiro...


Copyright 2013 Eugenio Colin







  

quinta-feira, 18 de julho de 2013

NOLILINHA






                                                          Nolilinha






   Hi folks!
   I am almost six months old and this is my first attempt to connect with the world.
   I’m not sure about my name. When I was in my mom’s tummy, about every other week, for many months, I used to hear her saying Nolilinha, Nolilinha... I knew she was talking about me. A daughter/mother thing, you know! When I was born she introduced me to everybody as Savannah but, at home, she calls me Gurgula...
   So, I don’t know if my name is Nolilinha, Savannah or Gurgula, but I’m not concerned about it. I know I’ll have plenty of time to hear her justifications.
   Now! My mom is Lila and my dad is Tom.
   I’m really worried about my mom. I think she’s having problems with her batteries. Every evening, sometimes even earlier, she grabs something very strange that makes a weird sound, and puts over her chest for many minutes. After a while she jumps out of the couch full of energy and starts cooking dinner.
   Another thing that worries me about my mom is the lady that she keeps locked inside her car... Is this even legal? Every time she turns the car on, the lady talks: Please, say a command. I wonder if she’s a slave or something... My mom also has a phone which she uses to take pictures, to write on it, to make videos, to send e-mails, to ask for help when she’s lost, but when someone calls her, she does not answer.
   Grown ups are funny people...
   My dad is an Engineer. he spends hours drawing a bunch of lines and curves, numbers and letters, circles and tunnels on a large piece of paper... I think it’s a very complicated stuff because, many times, he does not remember what he did and needs special rulers and charts to remind him... Sometimes he comes home after work and likes to drink something dirty. He put a bunch of strange stuff together in a metal thing, shakes it so much that sometimes I get dizzy just looking at it, pours it in a glass that looks like a funnel, and drinks it.
   I’m also worried about my dad. Many times, he seats in front of the TV and keeps looking at a bunch of guys inside bizarre cars driving like maniacs, almost killing each other running for hours after nothing. At least the dogs run after a bunny...
   Gown ups are very funny people...
   I’m not sure if they understand me... Sometimes I’m sleepy and they put me on a thing that rocks like crazy, next to a lamp that makes a loud noise and, guess what? I wake up! Why can’t they put me in a quiet place and let me sleep?
   Also, sometimes they are mean to me... I know that they intend well but they hurt my feelings anyway. You see? A couple of weeks ago we went to a nice restaurant, they ordered a bunch of food, ate all of it and gave me milk... By the way, they better think of something fast, otherwise I’ll go on a hunger strike. And, if you think I’m wrong, try to drink only milk for over five months and then, tell me about it...
   I wonder why do they drive so fast, every time they cross a McDonald’s on the road... Don’t they know I watch TV?
   Another thing that bothers me is when people come in front of me and start making horrible faces and spitting on me, to catch my attention. I wish they could see their faces... I bet they would cry. So, how come they think it would make me laugh?
   Grown ups are really funny people...
   A few weeks ago I met my grandpa. A very handsome man, very elegant, as tall as my dad, I know he came from far away, but I think he is from another planet... I heard my mom saying how was your trip? Was the spaceship nice? Also, he speaks a strange language. He says things like, “Toma, ta’ cagada!” I know this is funny, because every time he said that, my mom laughed. He wears a kind of transparent shield in front of his eyes. Last time we were together I was hungry, I tried to eat his shield but it was very hard and tasted like metal... I didn’t like it!
   He brought me a shirt from his planet’s soccer army. It’s very nice, very colorful...
   He understands me... One day he was drinking the dirty thing in the strange glass, watching TV, just like my dad, while eating some chips and he gave me some, when my mom was not looking... He even let me put my hands inside the bag to choose my own.
   In one afternoon I was really bored. I was inside the house for two days straight and crying to let them know that I wanted to do something different. My parents didn’t get it but my grandpa did. He took me outside and begun to show me things, saying: “Olha aqui, a árvore”... “Não deixa o mosquito te morder! Sai fora zangão”... “Nãna nenem, não tô com sono não, meu dente tá coçando, me deixa passear”... I didn’t understand a word but, at least, he took me out of the house. Thank God!
   I know that he composed a song for me... I can’t sing it because I don’t speak yet, but I heard him singing many times... I like it!
   My grandpa went back to his planet now. He took a big saw with him, almost my size. I think he has to cut a lot of things, but he said he’ll be back soon.
   This week I’m going to visit my mom’s sister. She has two boys... I don’t know their names yet but that’s okay... If I don’t remember I can call them the big one and the little one. My mom goes there all the time. They talk a lot in the bathroom while her sister irons her hair...
   Well, I don’t have many things to say about myself at the moment... I’m really, really young but my mind is like a sponge and every day, every moment I’m learning and trying to adjust myself into this world. The only thing I know is that I’m happy. I also like these crazy people that make faces at me... I have a nice home, and there’s a cat in my house, but I’ll talk about her next time... I love my mom and my dad... And I love my grandpa too. He’s a very handsome man, very elegant too and, even being from another planet he understands me... I know that, if someday my mom forces me to eat my food, and I don’t want it, he’ll do it for me...



Copyright 2013 Eugenio Colin




terça-feira, 16 de julho de 2013

3 M






                                                                  3M







   Marta Maria Murtinho havia acabado de chegar de volta ao Brasil apos cinco anos de ausência.
   Tinha  sido designada pela UNESCO, assim que havia graduado em engenharia ambiental por uma faculdade Americana, para trabalhar em Ouro Preto, Minas Gerais. 
   Sua conduta exemplar, ótimas notas, modéstia, preocupação com os problemas ambientais atuais que afligem a humanidade, além de ser Brasileira foram fatores importantes que, embora muito mais jovem do que outros candidatos, pesaram na decisão de ser nomeada como líder do grupo.
   Seus pais, que ainda residiam em Belo Horizonte, estavam mais do que orgulhosos. Marta era filha única que soube, muito bem, exceder as aspirações nela depositadas. Como havia voado direto para o Rio de Janeiro, decidira visitar primeiro sua futura cidade, tomar posse de sua moradia, antes de com eles encontrar. Ouro Preto estava bem no caminho de onde seus pais residiam...
   Assim que se instalou em uma casa muito modesta, na periferia da cidade, começou o processo de limpeza e adequação de sua residência `as novas tarefas que, de agora por diante, deveria exercer.
   Sua casa, longe de por perto lembrar uma mansão, necessitava de maiores cuidados, principalmente com relação `a limpeza e higiene, uma vez que estava abandonada por alguns anos. Tarefa que, por certo, tomaria mais de um dia de seu tempo para ser executada precariamente, ao contrario do que esperava. Mas isso não a desanimava, era so’ relatar `a seus pais o acontecido e eles ficariam mais do que felizes, ao saber que sua filha estava de volta, tomando rédeas de seu futuro. Marta era para eles o maior presente jamais recebido. Havia nascido apos quatro tentativas, que culminaram com resultados tristes. Sempre apoiaram a filha em qualquer decisão. Ate’ mesmo quando, ainda muito jovem, resolveu parar de estudar para trabalhar em um super mercado. Muitas vezes, mesmo sem entender certas atitudes da filha, tinham certeza que, de uma maneira ou de outra, ela “domaria” seu destino.
   A primeira providência seria se dirigir ao mais próximo super mercado e adquirir o que fosse necessário para aquela tarefa eminente.
   Assim que se viu em frente `a sessão de produtos de limpeza segurou uma embalagem de “scotch-brite”. Com a embalagem em sua mão, pode ver, no canto inferior esquerdo o nome do fabricante: 3M...
   Imediatamente, sua lembrança foi reportada `a anos atrás, quando trabalhara por alguns meses em um super mercado em Belo Horizonte.
   “Aquela voz estara’ para sempre em minha mente...” Pensara, ao recordar de Ze’ Raposo, um auxiliar de gerente do estabelecimento, que passava o dia inteiro, anunciando, pelo sistema de som do super mercado, as promoções do dia. De repente, sentiu um enorme aperto no coração, como uma ferida que nunca havia cicatrizado completamente e que vez por outra ainda doía.
   Naqueles dias, com apenas dezoito anos de idade, estava perdidamente apaixonada pelo colega. Sentimento que, aparentemente, ainda estava vivo e latente.
-  Vou ate’ la’, saber se o Ze’ ainda existe... Pensou, olhando para o nome 3M que havia sido seu apelido quando la’ trabalhava.
   Loucura! Pensou logo depois, colocando a esponja de limpeza no lugar onde estava, como se a mesma estivesse queimando suas mãos.
   Saiu da loja sem comprar nada, obsecada por aquela ideia repentina e absurda que a
dominava completamente. Sabia que não e’ de bom alvitre remexer muito no passado. Os efeitos podem causar danos insuperáveis. Por outro lado, seu “caso” com Ze’ Raposo nunca tinha sido completamente resolvido... Nunca havia se declarado. Talvez ele não tivesse conhecimento de seus sentimentos, talvez, na época, era comprometido... Pensando bem, naqueles dias, andava tão fascinada pelo colega que nem tentou investigar a seu respeito. A única coisa que queria, a única coisa que alegrava seus dias eram as horas de trabalho em que a voz de seu colega, através dos alto-falantes, soavam em seus ouvidos, como poemas sinfônicos do mais famoso compositor de quem jamais havia ouvido falar
   O resto do dia se arrastou... Não sabia o que fazer... “Cinco anos! O cara pode estar casado, ou namorando outras caixas, ou ter desaparecido, ou mudado de emprego...
   Que loucura!” Pensava... “Tenho que estar preparada para o pior” ou “para o melhor!" Rebatia, o lado otimista de sua personalidade.
   Não conseguiu dormir... Sabia que tinha que verificar, tentar encontrar seu ex-colega... Sabia também que estava se expondo `a maiores decepções mas, se não verificasse, aquela ideia a consumiria, pelo resto de seus dias. Queria virar para sempre aquela pagina de sua vida que ainda estava aberta no mesmo local... As lembranças estavam um pouco “empoeiradas” mas ainda dava para ver, claramente, em sua memoria, flash backs daqueles dias cheios de esperanças, regados por soba de jilo’ com quiabo, maxixe e batata baroa, prato favorito daquele colega, que cozinhava `a noite para, no dia seguinte, satisfazer seu querido Ze’ Raposo.
   Lembrou da primeira vez que resolveu preparar a legendaria sopa que seu interesse tanto apreciava. Marta odiava jilo’, com paixão. A baba do quiabo, escorrendo por entre seus dedos a faziam sentir calafrios, a batata baroa também era um pouco “pegajosa” mas, daquilo tudo era o que menos a repugnava. Maxixe não conta... Não tinha gosto de porra nenhuma.
   A primeira vez que, junto de seu colega, com ele dividiu a sopa, havia sido uma das mais horripilantes experiências de sua vida. A única maneira que conseguiu encontrar, para que ele não percebesse sua agonia, foi tagarelar o tempo todo, incessantemente, como um papagaio bem treinado. Ze’ Raposo devorava vinte colheradas e ela ainda estava tentando engolir a anterior. Mas, com o tempo, ate’ aprendeu a gostar de jilo’ e ate’ da sopa, que com tanto carinho preparava.

   No dia seguinte bem cedo se dirigiu `a rodoviária, com destino a Belo Horizonte. Nem havia se arrumado direito como seria apropriado. Saíra de casa com a mesma roupa do dia anterior... Estava tao ansiosa que nem tomou banho, se maquiou ou se embonecou toda, tentando fazer seu antigo amor, avaliar o que tinha perdido. Juntou algumas pecas de roupas `as pressas, enfiou em uma mala e saiu de casa. Talvez estivesse mais interessada em uma auto-satisfação, ter certeza que seu antigo quase namorado tinha se mudado e seu paradeiro era ignorado pelos antigos colegas, se la’ ainda estivessem.

   Eram cinco horas da tarde quando desceu do ônibus na rodoviária da cidade. Menos de quinze minutos depois estava bem em frente ao “Guardiao do seu Bolso” nome do local onde trabalhara, depois de uma viagem que havia sido, no minimo, angustiante... 
   A fachada estava um pouco abandonada, o letreiro meio desgastado pela ação do tempo... Assim que entrou na loja, um aperto no coração. “E’ claro que as chances de encontrar o Ze’ eram remotas mas, quem sabem, alguém daquele tempo ainda trabalha aqui e pode me indicar seu paradeiro.” Pensou.
   Ainda olhava `a esmo, tentando se situar no tempo e na loja em que acabara de entrar quando ouviu:
-  A filha da pulga não tem lugar em nosso estabelecimento... Aqui, a higiene e’ total...
   Compre seus produtos com confiança. Limpeza aqui abunda... E, por falar em bunda,
   não esqueça do carinho que seu neném merece. Na ala de recém-nascidos temos as
   famosas fraldas perfumadas “Ja’ Limpei”, as melhores para seu bebe. Não se
   esqueça que todo o Sábado e’ dia de Piranha em nosso estabelecimento. Se quiser
   pode comer aqui mesmo. Piranha ensopada, piranha empanada, piranha frita... E,
   “cala a boca”, marca da nossa melhor chupeta para bebes de seis meses a dois anos...
   3M quase desmaiou ao ouvir aquela voz...
   Não podia acreditar... Ze’ Raposo ainda trabalhava no mesmo local!
   Impaciente, como quem esta’ prestes a perder seu voo internacional que a levaria ao destino sonhado, corria pelas alas do super mercado `a procura de seu antigo amor.
   Não conseguiu encontrar o interlocutor.
   Procurou pelo gerente. Não o conhecia! Não era o mesmo de seu tempo. Explicou seus motivos tentando saber onde estava o Ze’ Raposo.
-  Isto e’ apenas uma gravação. O Ze’ grava os textos em casa e nos manda para ser
   executado no dia seguinte. Informou o gerente.
   Desapontada, tentou descobrir o endereço do antigo colega para um encontro. O gerente se recusou a fornece-lo mas, ao sentir o desespero e agonia daquela moca, alem de não tirar o olho de seus peitos, combinou com ela que, naquela mesma tarde, telefonaria para seu sub-gerente solicitando sua presença no dia seguinte.
   3M deixou a loja em busca de um hotel onde pudesse passar a noite. Sua melhor opção foi um Motel, não longe dali, onde um enorme cartaz exibindo a foto de duas bolas de sorvete, quase coladas uma na outra, com uma cereja um cada uma, propositadamente tentando sugerir dois enormes seios, onde se lia em letras garrafais; “chupa que e’ doce...” logo abaixo, em letras muito menores estava escrito; “sorvetes gratis”. Sem duvida um estabelecimento de classe...

   Na manha seguinte, antes das sete, antes da loja abrir, la’ estava de pe’ olhando para todos os lados, na esperança de encontrar seu antigo amor. Continuava curiosa... Sera’ que ele estava casado? Sera’ que tinha uma namorada? Sabia que so’ gostava de coroa... Possivelmente tinha se juntado com uma senhora de setenta anos, com um monte de netinhos que azucrinavam sua paciência.
   Mais alguns minutos, mergulhada em antigas recordações, pode ver Ze’ Raposo atravessando a rua em sua direção... Estava do mesmo jeito mas, não se vestia tao bem quanto no passado e, em seu semblante, mesmo de longe, dava para notar uma certa tristeza, carecteristica de quem tinha feito uma cagada filha da puta com seu destino.
   Pensando ser uma cliente madrugadora, que fazia questão de ser a primeira a entrar na loja, a cumprimentou.
   Mas algo era diferente naquela linda jovem, pensava Ze’. Parecia que ja’ a havia visto antes... Provavelmente uma cliente fiel ciente de que o “Guardiao do seu bolso” e’ o melhor lugar para esvaziar o cofre.
-  Ze’ Raposo? Disse 3M
   Agora sim! Tinha certeza que ja’ havia ouvido aquela voz. Talvez fosse uma das muitas clientes que havia salvo da ira de uma das caixas, apos uma reclamação, antes de ser atingida, no meio da testa, pelo mesmo rabo do bacalhau que havia acabado de comprar...
-  Lembra de mim? Repetiu a moca.
   Ze’ Raposo olhou bem para ela, pensou, pensou e disse:
-  Marta?
-  Pensei que ainda se lembrasse do meu apelido... Disse a moca.
-  Claro que me lembro... 3M! Disse Ze’ Raposo. Como esta’ você? Tao linda! O que
   aconteceu? Você esta’ parecendo um atriz de cinema... Que a esta’ fazendo aqui,
   quer teu emprego de volta? Posso conseguir isso. Concluiu.
-  Bem! Um mês depois que deixei o emprego, embarcava de viagem para os Estados
   Unidos. Estava tao desesperada em fugir daqui que aceitei o convite que meus pais
   receberam em uma carta, sobre um programa Americano de troca de estudantes.
   Meus pais seriam responsáveis por um estudante de la’ e uma família Norte
   Americana me receberia para a mesma finalidade. Depois de quatro anos me formei
   em engenharia ambiental e acabei indo trabalhar para a UNESCO. Depois de algum
   tempo. sabendo que era Brasileira, me perguntaram se gostaria de voltar ao Brasil
   para supervisionar um projeto em Ouro Preto. Aceitei e, aqui estou... E você? Me
   conta! Como vai? Finalizou 3M.
 - Ainda estou aqui...
 - Você me parece um pouco triste, o que aconteceu?
 - Uma longa historia... Respondeu Ze’ Raposo. Deixa eu ver porque me chamaram
   aqui e, se tiver tempo, saímos para tomar cafe’. Você ja’ tomou cafe?
 - Não! Sai do hotel muito cedo para te encontrar e, você não tem que trabalhar. Te
   chamaram aqui para me encontrar... Disse 3M.
 -  Como sabe?
 - Ontem, quando vim aqui a tua procura, falei com o gerente tentando descobrir teu
   paradeiro. Notei que ele não tirava os olhos do meu peito. Fiz beicinho, uma cara de
   triste, debrucei sobre o balcão espremendo meus seios e, “voila'” ele se ofereceu a
   te chamar para me encontrar. Confessou 3M.
 - Puxa vida! Você esta’ tao linda! Parece tao madura... Nem lembra aquela menina que
   trabalhava aqui... Você deve ter 25 ou 26 anos, certo? Disse Raposo.
 - Estou com 25. Faco 26 em outubro.
 - Tao jovem, trabalha para uma instituição Americana e ja’ vai ser responsável por uma
   cidade? Estou feliz por voce...
-  Porque voce não procura o gerente, so’ para dar uma satisfação que aqui esteve e
   vamos tomar cafe’?
-  Veja so'! Não consigo parar de te olhar... Voce’ e’ uma deusa. Que aconteceu?
 - Vai la! Fala com ele e vamos... Insistiu 3M.

   Raposo estava estupefactamente embasbacado. Como podia ter sido tao burro? Diziam que aquela “deusa” que ali estava, `a sua frente, era apaixonada por ele... Como e’ possível alguem ser cego tendo a visão sadia? Comparar 3M com Mujinha, romance mal sucedido que o mantinha triste ate’ hoje, era o mesmo que comparar Nosso Senhor com Ze’ Buchudo.
   Falou com seu Gerente, voltou ao encontro de sua antiga colega e saíram em direção a um botequim para tomar cafe’.
   Se 3M não fosse bem sucedida ainda, certamente estava no caminho certo. Notara que ela estava muito segura de si, sofisticada, elegante, assertiva... Completamente diferente daquela menina que, a seu lado almoçava, todo dia, sopa de jilo’, maxixe, quiabo e batata baroa.
   Assim que ele chegou de volta a seu lado, 3M tomou seu braço e saíram rumo `a sua primeira refeição em dois dias.
   Conversaram a manha inteira. Marta falara de sua “aventura” Americana, Raposo relatara sua “desventura” amorosa com Mujinha...
   Um pouco depois a convidou `a sua casa, oferecendo-se a cozinhar para ela, em troca das muitas sopas que havia degustado em almoços passados. Marta aceitou!
   Assim que chegaram, ela tirou o casaco que a protegia da frente fria que visitava a região, pendurando-o atrás da porta de entrada.
   Raposo olhava para ela, babando, literalmente.
-  O que vai me oferecer? Perguntou 3M.
-  O que você quer comer? Indagou Ze’ Raposo.
-  O que eu quero você não tem pratica em fazer, alias, sei por muitas fontes que nunca soube fazer
   direito... Disse 3M, sarcasticamente...
-  O que? Perguntou ele, um pouco constrangido e intimidado.
-  Sopa de jilo’, maxixe, quiabo e batata baroa. Respondeu 3M, sorrindo.
-  E’! Isso ai e’ com você mesmo! Retrucou Raposo.

   Marta se dirigiu `a cozinha, separou uma panela, as verduras, batata, alho, sal, pimenta e, iniciou o mesmo ritual que anos atrás a mantinha ocupada quase diariamente.
   O resto da tarde foi alegre e reminiscente...
   Ja’ era noite quando, sentados em sofa’ em frente `a televisão, que servia apenas de fundo pictórico para a conversa, Marta falou:
-  Me diz! Quais são teus projetos? O que você vê para teu futuro?
   Raposo olhou para ela, talvez pensando quão diferente sua vida poderia ter sido e respondeu:
-  Não sei! Nunca fiz planos para minha vida... Sempre vivi dia-a-dia...
-  Bem! Ja’ que não tem planos, que tal vir comigo para Ouro Preto? Tenho um trabalho   
   longo, árduo e complexo `a minha frente e sei que vou precisar de toda ajuda que
   poder conseguir. O salário não e’ muito. Eu mesmo recebo muito pouco pelo que faço
   mas, trabalho para uma instituição filantropica que vive de doações. Alem do mais,
   so’ o orgulho de ser responsável por um trabalho que ficara’ para posteridade ja’ e’
   uma grande recompensa... Nosso trabalho  e’ de suma importância para preservação
   das belezas do nosso planeta.
-  Mas, não conheço ninguém la'! Onde vou morar?
-  Vai morar comigo! Queria ter uma chance de te mostrar o quanto sempre te amei,
   desde menina... Você sabia que parei de estudar e fui trabalhar no super mercado so’ 
   para poder ficar a teu lado, diariamente? Disse 3M.
-  Ta’ falando serio? Você pode ter, a teus pés qualquer homem que escolher... Disse
   Ze’ Raposo.
-  Verdade? Indagou Marta.
-  Verdade! Respondeu Raposo.
-  Então, se ajoelha agora! Aqui na minha frente! Parabéns! Você acaba de ser 
   escolhido... Afirmou 3M.
   E não e’ que o nosso amigo ajoelhou mesmo...
-  Levanta dai seu bobo! Estou brincando... Não! Estava brincando quando disse para se
   ajoelhar. Não quero você como meu empregado, ou subserviente. Quero você como
   meu namorado, meu amor...
-  Marta, você esta’ me gozando?
-  Não! Sempre gostei de você...
-  Mas olha para mim... Eu não sou nenhum garotão, bonito, cheio de músculos...
-  Eu não quero um garotão bonito, cheio de músculos... Disse 3M.
-  Você tem 25 anos, eu tenho mais de 40. O que vai acontecer daqui a vinte anos?... 
   Disse Raposo.
-  Vinte anos? Estou preocupada com o que vai acontecer na semana que vem. Daqui
   a vinte anos, penso no que vai acontecer daqui a vinte anos e um dia. Respondeu
   Marta.
-  Não e’ bem assim! Ponderava Raposo, ao ser interrompido com assertividade.
-  Me responde! O Bingulim ainda sobe? Perguntou 3M.
-  Claro!
-  Você gosta de mulher? Indagou, novamente.
-  Muito!
-  Você me acha atraente? Repetiu...
-  Você e’, e sempre foi, um sonho de pessoa... Quando trabalhávamos juntos, ouvia 
   cochichos que você gostava de mim mas, nunca pude acreditar... Você era tao jovem,
   tao bonita...
-  Deveria ter me perguntado! Disse 3M.
-  Eu sei! Me arrependi, tempos mais tarde. Disse Raposo.
-  Quando vamos para Ouro Preto? Indagou 3M.
-  Você esta mesmo seria a respeito disso, não? Perguntou Raposo.
-  Muito! Quando vamos para Ouro Preto?
-  Você acha que com o tempo poderia gostar de mim? Indagou 3M.
-  Eu gosto de você! Disse Ze’ Raposo.
-  Ótimo! Quando vamos para Ouro Preto?
   Ze’ Raposo sentou no Sofa’, longe de Marta, colocou sua cabeça entre as mãos, com os cotovelos apoiados sobre os joelhos, balançou a cabeça, olhou para ela e disse:
-  Me ajuda a fazer as malas?
   Marta saiu correndo, pulou sentada em seu colo e começou a beijar Ze’ Raposo.
   Em dado momento, quase sufocado por aquela quantidade de carinho e afeição, ele a afastou um pouco, segurando-a pelos ombros e perguntou:
-  Você tem certeza que e’ normal?
-  Claro que não! Você acha que isto e’ uma atitude de uma mulher normal?
-  Onde vamos morar, em Ouro Preto? Perguntou Raposo.
-  Não se preocupe! Tenho uma casa la’, na zona rural. Muito pequena, muito linda,
   muito aconchegante, que precisa de muito trabalho para poder se tornar habitável...
   Vai ser muito bom trabalharmos juntos novamente... So’ tem um detalhe! Gostaria de,
   primeiro passar pela casa de meus pais para te apresentar... Eles são meio
   antiquados e não quero que cheguem para visitar e me encontrem vivendo com
   um homem a quem não conhecem... Você se importa?
-  Claro que não! Respondeu ele.
-  Quem diria? Jamais pensei que este dia fosse chagar... Disse 3M, eufórica.
-  Posso te pedir um favor? Disse Ze’ Raposo, sisudo e compenetrado.
-  O que você quiser! Sorriu ela, em resposta.
-  Você faz sopa de Jilo’, maxixe, quiabo e batata baroa de vez em quando? Perguntou `a 3M.





Copyright 2013 Eugenio Colin








sexta-feira, 12 de julho de 2013

O SONHO

                




                                                                  O Sonho





   Desta vez foi Amelia, minha vizinha quem estava triste.
   Sua filha Jeralda estava em São Paulo, passando ferias com o pai...
-  Estou morrendo de saudades! Sabe? Ate' das malcriações dela eu sinto falta... Um dia eu estava pronta para sair e perguntei o que achava de minha roupa. Ela tirou o rosto do monitor do computador por cinco segundos, olhou pra mim, e falou: "Você esta' parecendo uma piriquete!" Disse a vizinha, quase chorando, ao me encontrar...
-  E' mesmo! Não vejo a Jeralda por algum tempo. Noutro dia pensei ate' em perguntar se ela estava bem... Gosto muito da tua filha. Ela e' meia destrambelhada mas e' uma boa menina. Falei.
-  Meia? Completamente! Eu acho que no dia em que ela nasceu, o doutor esqueceu de dar os apertos finais nos parafusos da cabeça dela. Respondeu. Mas eu não vivo sem ela...  Você escreve um poema sobre sua ausência? Ate' eu ja' me acostumei a ler teus poemas. `As vezes ela me pergunta se você não mandou nada para ela? Sabe o Saulo, filho da Shnitzel, a Austriaca que mora no final da rua? Todo dia vem aqui perguntar se ela ja' voltou...Finalizou.
-  Mas, não fica triste! Daqui a alguns dias ela esta' de volta e tua paz esta' de ida... Retruquei. Vou
   entrar e, daqui a pouco, estou de volta com o poema... Finalizei, ao me despedir.
   Então, escrevi...

   Acordei na cama chorando...
   Estava em Santo Amaro,
   na minha vida pensando
   sozinha, sem um amparo...

   Que estou eu fazendo aqui?
   Pensava com meus botoes.
   De fruta, so' tem caqui,
   nem manga, caju' ou limões...

   Não quero sair de casa,
   so' fico coçando o pe',
   `a noite olhando pra lua,
   cheirando o meu chule'...
 
   Se ligo o computador,
   tao triste, passando mal,
   me lembro com muito amor
   da minha cidade natal...

   Eu sei que falo demais
   `as vezes, quando estou nervosa.
   Nem muitos banhos de sais
   me tornam calma ou bondosa...

   Mas uma coisa aprendi
   nos dias em que me ausentei,
   saudade enorme senti,
   de noite ate' chorei...

   Lembrava do que deixei
   na casa onde ainda moro,
   conversas também lembrei,
   com o Juca, a quem não namoro...

   Mas de tudo que aqui vivi,
   enquanto estive ausente,
   o importante aprendi
   e guardo na minha mente...

   Preciso olhar e viver
   com minha mãe, tete a tete
   e finalmente entender:
   Eu amo a "piriguete"...


Copyright 2013 Eugenio Colin

quarta-feira, 10 de julho de 2013

それだけでは分類されます (VAI CAIR SOZINHO)





 
                               それだけでは分類されます
                                




   Era um dia importante na DuAsseins uma industria de roupas intimas femininas, muito tradicional, fundada ha’ mais de setenta anos por  M. Marchand Poule Voleur.
   Neste dia ele iria transferir a responsabilidade de sua industria para seus filhos Armand e Tiers.
   Assim que os herdeiros chegaram `a sala de reuniões, M. Armand com sua fleuma proverbial falou: - “Meus filhos! Solicitei vossas inapreciáveis presenças para citar a ambos que, de acordo com
   minhas aspirações pessoais, deixo-vos legado irrevogavelmente esta empresa a qual, ao longo dos
   anos fundei, estabeleci e consolidei  no mercado da indústria de suporte feminino. Acho que
   chegou a hora de aproveitar o que resta de minha vida ao lado de Claudette, minha nova esposa.
   Agora, tudo esta’ nas mãos de vocês. Ja’ trabalhei pra caralho. Não me encham mais o saco. Se
   fizerem cagada, que se fodam! Não quero mais saber de porra nenhuma...” E deixou a sala.
   Na verdade, Claudette, sua nova esposa, havia sido, ha’ apenas alguns meses passados, uma “dama da noite das ruas de Paris” que M. Marchand havia aprochegado e teve a cara de pau de propor na bucha:
-  “Escuta beleza! Tenho apenas mais alguns anos de vida. Se aceitar, ser minha companheira por
   estes anos, serei generoso em meu testamento. E’ claro que, vez por outra, você terá de cumprir
   suas obrigações de esposa. E’ claro também que não vou admitir nenhum tipo de traição. E’ pegar
   ou largar..."
   Ela pegou!
   Ja’, a respeito dos herdeiros, digamos que haviam nascido em berço esplêndido, muito esplêndido.
   Armand, o mais velho, era economista, circunspeto, sem tempo para outras coisas que não estivem intimamente ligadas ao trabalho. Tier, por sua vez, artista plastico, atualmente, ja’ por algum tempo, desempregado, possuía uma caracteristica marcante em sua personalidade, femeeiro ate’ a última presa.

   Estes acontecimentos inesperáveis tomaram os dois de surpresa. Agora teriam que se adaptar ao que o destino lhes apresentava. O jeito era assumir os negócios da família e rezar para o melhor.
   Ao tomar maior conhecimento da empresa, Armand decidiu assumir  para si os destinos da mesma. Contar com a ajuda do irmão era meio complicado mas, de qualquer forma, iria fazer o possível.
   Depois de duas semanas, tentando contactar Tiers, finalmente, conseguiu convence-lo assumir parte de suas responsabilidades na empresa. Ficou decidido que Armand, o mais velho ficaria encarregado da parte administrativa e financeira da empresa e, o mais novo, pela parte de arte e produção.
   Logo de saída, assim que começou a pensar no futuro da empresa, Tiers resolveu que seria providencial expandir a linha de producao da empresa. Calcinhas e sutiãs deveriam ser complementados por meias de seda, camisolas, corpetes, ligas e ate’ cintas, destinadas `as que queriam melhorar a silhueta sem fechar a boca.
   E’ claro que seria necessário um novo catalogo que mostrasse toda a linha de produtos.
   Para economizar, decisão que agradou muito `a seu irmão, o diretor de arte resolveu que usaria algumas das funcionarias da empresa como modelos. Desta maneira, poderia também dar mais credibilidade aos produtos usando frases como: “além de trabalhar na DuAsseins, também uso os produtos que fabrico”. A primeira idéia foi usar frases como; “Com DuAsseins meus peitos tão bem guardados” ou “Minhas coxas ficam mais bonitas dentro das meias que fabrico”, “Com calcinhas da DuAssiens posso ate’ sentar em pregos. Sei que estou protegida” mas, algo lhe dizia que a maioria do publico não aprovaria dizeres como esses.
   Se Armand era sério em demasia, ate’ temido por alguns empregados, Tiers era exatamente o oposto. Todos adoravam o seu jeito alegre e brincalhão, seu sorriso contagiante, seu charme irresistivel. Quando deu inicio `a busca das funcionarias que se tornariam modelos, o rebuliço foi geral, pareciam mais um monte de “bobby-soxers” do que operarias de fabrica de subúrbio. E’ claro que seu patrão não era nenhum cantor famoso da década de 50 mas, elas também não estavam em Hollywood...
   Depois de um processo árduo, as sete “felizardas” forram selecionadas...
   Tacah Bolacha faria propaganda das cintas, Sônia Soneca das camisolas, Maria Justa dos corpetes e ligas, e assim por diante. Cada uma de acordo com a seus atributos físicos que ajudariam a realçar as qualidades dos produtos que anunciavam. O que ninguém entendeu foi como a Antônia Palito conseguiu ser selecionada para os comerciais de camisolas... A competição por uma posição de modelo da empresa estava tão disputada que Márcia Melada chegou ate’ oferecer “favores sexuais” em troca de uma vaga para posar de qualquer coisa.
   Mas, se Tiers respeitava o local de trabalho, e não dava bola pra ninguém, fora dele a historia era outra. Cada dia aparecia com uma namorada nova. Fugia tanto, aqui e ali em suas horas vagas que, muitas vezes, não se sabia se estava trabalhando, se havia dado o dia por encerrado, se havia recebido uma “oferta” irrecusável... O importante e’ que, de uma maneira ou de outra, não sabiam dizer como, seu trabalho estava sempre em dia. E’ claro que vez por outra, alguma das funcionaria encontrava um pretexto para  “tirar alguma duvida” mas Tiers tinha anos de experiência no “mercado” e sabia como selecionar suas “fornecedoras”.
   A empresa corria melhor do que poderiam ter planejado, cada um dos irmãos habilidosamente executando as funções que se propuseram.
   Um dia de Domingo, ao tomar banho, notou uma pequena protuberância na parte inferior do, digamos, “embaixador de sua masculinidade”.
   A primeira reação foi de desespero... Depois, com mais calma, resolveu que, no dia seguinte, deveria  procurar um medico que pudesse ajuda-lo.

   Eram sete horas da manha quando Tiers saiu de casa em direcao ao consultório do Urologista.
   Assim que o viu entrar, a enfermeira avisou que Dr. Urinaldo Mijardo ja’ o aguardava.
   Tiraram Raio X, fizeram ultrason e, depois de uma conferência telefônica de mais de quinze minutos com colegas, inclusive alguns com praticas em outros estados, fato que estava deixando nosso amigo muito preocupado, volta o medico com a solução do problema.
-  Tiers, devo confessar que estamos na presença de um caso extremamente raro. Pelo que pude
   observar, através dos exames radiograficos realizados, não ha’ nada de anormal com o seu pênis.
   No entanto e’ visível a protuberancia que se salienta na parte inferior do mesmo. Depois de um
   exame mais apurado e ate’ conferência telefônica chegamos a conclusão que se trata de uma bolha
   de ar que, indevidamente, se alojou no interior do seu membro.
-  Doutor, e isto tem cura? Indagou o paciente, preocupado.
-  Claro! Agora mesmo! Você vai sair daqui sem nenhum problema... Afirmou o doutor.
   Apos alguns minutos de espera, ja’ um pouco mais calmo, volta Dr. Urinaldo com os instrumentos
 necessários `a intervencao a ser realizada.
-  Meu filho, deixa-me explicar o que vamos fazer. Você vai chegar perto desta mesa, colocar seu
   pênis em cima dela. Com este martelo que tenho em minha mão, vou dar uma porrada na parte
   superior do mesmo e, o ar que esta’ alojado no interior saira’ pela ureia. Esclareceu o medico.
 - O senhor esta’ de sacanagem ne’? Se o senhor me diz que tem que fazer uma punção, vai la’ mas,
   dar uma martelada no meu piru’, nem em pensamento. Afirmou Tiers ao mesmo tempo em que
   vestia as calcas e se preparava para deixar aquele consultório para sempre.

   Ao relatar o ocorrido `a seu irmão, este, preocupado,  se propôs ajuda-lo a resolver o problema.
   Apos alguns telefonemas, chegaram `a conclusão que o melhor seria consultar um especialista nos Estados Unidos. Em três dias estaria viajando para um consulta no Penile Glanular Health Surgery Center.
   Finalmente, depois de uma semana preocupante, chega Tiers em NY para a visita que terminaria por vez com seus problemas. Afinal de Contas, Dr. Tom Ellior  era um dois maiores especialistas do mundo no assunto.
   Discretamente nervoso aguardava na sala de espera, olhando `as varias ilustracoes de parentes do seu, espalhados pelas paredes da sala. Reparando melhor, um deles ate’ parecia estar sorrindo. Otimista que era, imediatamente pensou; “este ai’ esta’ alegre porque saiu daqui curado... "
   A porta se abre e Dr. Tom o chama para o consultório.
   Mesmo ritual; Raio X, ultrasom, apalpamentos cuidadosos e curiosos, tudo o que tinha direto, pela fortuna que estava gastando.
   Desta vez a consulta foi mais demorada... Levou uma hora para que o medico voltasse `a sua presença com o diagnóstico que tanto aguardava.
-  Well... Começou o doutor, pelo que pude observar se trata de uma manifestacao raríssima em sua
   glândula reprodutora. O ultrasom me afirma e, o raio X confirma que, infelizmente...
   No “infelismente” Tiers tremeu nas bases... Tinha certeza... “La’ vem merda” pensou.
-  As I was saying... Infelizmente, seu membro deve ser amputado, e rapidamente, para podermos
   evitar a difusão `a orgaos concomitantes.
   Era so’ o que faltava... Agora esta porra deste medico quer cortar o meu cacete e ainda vem com “infelismente?” Aposto que não esta’ nem de longe entendendo a falta que meu “companheiro” vai me fazer. Pensou ao sair do consultório.
   Estava arrasado! Telefonou `a seu irmão para contar os acontecimentos tristes que vivenciava.
   Armand, outro otimista, falava ao telefone; “nao esquenta meu irmão. Vamos solucionar isso. Vai pro hotel, descanca, deixa eu dar alguns telefonemas e amanha nos falamos”.
   Tiers não sabia se deveria ficar calmo ou preocupado. De um lado, outro medico significava outra esperança, por outro lado, isto também significava que se tratava de algo serio, afinal de contas, era o terceiro medico tentando resolver um problema filho da puta.
   No dia seguinte, muito cedo na manha, recebia a chamada de seu irmão.
-  Vai procurar Dra. Sarah Pica, em Milão, a maior especialista Italiana no tipo de problema que você
   se encontra.
   La’ se foi nosso amigo, cheio de esperança, ao encontro da “Pica” que salvaria seu pinto.
  
   Na Itália, tudo se repetiu, inclusive o diagnóstico. A única diferença foi que, desta vez, seu membro foi manipulado por mãos femininas que, em situacao diferente, o deixaria ate’ satisfeito com toda aquela atenção.
   Agora sim estava fodido, e pelo próprio pinto...
   Passou o dia inteiro em seu hotel, desesperado... Dra. Pica havia inclusive informado que se a cirurgia não fosse executada em breve, correria ate’ risco de vida.
   Outo telefonema `a seu irmão, outro medico. Desta vez, lhe foi indicado um medico em Beijing, China, Doutor Xim Xi, a maior autoridade chinesa no assunto. Um detalhe porem o deixava mais preocupado. Ouvira dizer que, naquele pais, mulheres não eram permitidas a ter mais de dois filhos. Medida governamental na tentativa de controlar a super populacao. “Sera’ que aqui e’ obrigado cortar o cacete de todo homem?”
   Toda aquela rotina `a qual ja’ estava começando a se acostumar terminou da mesma maneira, o mesmo diagnóstico: “Seu membro deve ser amputado o mais rápido possivel”.
   Aparentemente, a solucao seria começar a se acostumar com a ideia de perder a parte do corpo que, ate’ então, lhe havia dado as maiores satisfações em sua vida.

   Estava em seu hotel, desesperadamente contemplando a paisagem quando o telefone tocou. Era seu irmão...
-  Tiers, sai fora dai’! Este medico não esta’ com nada, soube que tem mania de cortar o cacete de
   todo homem para evitar a super populacao. Em compensacao tenho noticias animadoras. Soube
   através do consulado do Brasil em Tokio que a maior autoridade em complicacoes penisticas esta’
   no Japão. Marquei uma consulta para você depois de amanha. Arrumei ate’ um tradutor quando
   soube que esse doutor e’ meio esquisito e se recusa a falar Inglês...
   Agora não sabia se devia ficar alegre ou triste, com esperança ou desesperado... O que realmente estava, naquela manha, era reminiscente...
   Lembrava de Marcinha, sua primeira “namorada” que de pequeno so’ tinha o nome. Naquele dia do passado, quando havia experimentado os “prazeres da carne” pela primeira vez sofrera mais do que passarinho em mão de criança. A mulher era enorme, com um “apetite” de quem não come por dois anos. Naquele dia, lembrava, havia sido, literalmente “devorado” por sua parceira... Quem sabe não foi esta a causa de seu problema... Lembrava-se que depois do “encontro” teve que manter o “pobre coitado” no gelo. Uma pessoa naquela situacao, se fizesse um exame medico, seria diagnosticada com escoriações generalizadas.
   Olinda Piroca, uma prostituta com quem “encontrava” em situacoes de emergência quase mudou sua vida completamente... A relacao entre os dois foi muito alem do que profissional/cliente. A mulher era linda, mais velha, experiente, culta, educada... Muitas vezes passeavam o dia inteiro, jantavam juntos e nem pensavam em sexo, apenas conversavam a respeito do passado, do futuro... Foi a única vez em que Tiers havia pensado em casamento. Nimgem diria que aquela mulher era uma profissional...
   Lembranças alegres, tristes, engraçadas, nem tão engraçadas, se sucediam na mente de Tiers como um longo filme no qual ele era o protagonista principal. Sua única esperança era que aquilo tudo tivesse um “happy ending”.

   O dia seguinte seria certamente corrido.
   Chegaria ao aeroporto, onde o tradutor o aguardava, apenas duas horas antes da consulta. Dali’ para o encontro com Doutor Taka Noko, o melhor do mundo.
   Ja’ no consultório, ao lado do tradutor, sentado em uma cadeira enorme, pode ver, para sua surpresa, um homem com quase dois metros de altura curvando-se para entrar no consultório.
おはようございます!私の名前 能古、どのように私は助けることができますか?
-  O Doutor perguntou em que pode ajudar. Ouviu na tradução.
   Sem cerimonia, Tiers abriu a calca, segurou seu pênis com carinho e mostrou ao doutor, explicando a ele tudo que havia acontecido.
   Com todo o cuidado, o doutor examinava, enquanto manipulava a causa de todo aquele drama, com dois pauzinhos, parecidos com aqueles que são usados para comida chinesa.
   Apos alguns minutos, saiu da sala dizendo:
私が見るこれと '第三のケース...
-  Informou que e’ o terceiro caso que viu. Vai voltar em alguns minutos. Disse o tradutor.
   Assim que o doutor entrou no consultório novamente, ouviu do paciente:
 - Doutor, o senhor e’ minha ultima esperança. Todo medico que vou diz que eu tenho que amputar
   meu pênis...
   Apos devidamente traduzido pelo interprete, disse o doutor:
-  完全に間違って駅。
-  Disse que os outros médicos estão completamente errados. Traduziu o interprete.
-  Doutor essa foi a melhor noticia que ja’ recebi em toda minha vida. Não vou ter que amputar meu
   pênis?
-  奈緒。Respondeu o doutor, apos ouvir a pergunta traduzida.
-  Não preciso fazer mais nada? Indagou Tiers.
-  いいえ、何もする必要はありません。彼は一人で落ちる
-  Não! Você não precisa fazer nada. Ele vai cair sozinho. Disse o interprete, traduzindo o que o
   doutor falou: それだけでは分類されます





Copyright 2013. Eugenio Colin

sábado, 6 de julho de 2013

AMOR DE INTERNET






                                                           Amor de Internet





   Sabe quando dizem a você;  "não faz isso!" ou; "não acho uma boa ideia!" e algumas pessoas ignoram o "não" antes da frase?
   Pois e'! Foi exatamente o que aconteceu no sistema auditivo da Jeralda, a filha da minha vizinha.
   Ignorou o "não".
   Por enquanto, nenhuma conseqüência, outra alem de alguns fios de cabelo branco na pobre da mulher que, por incrível que pareca se chama "Amélia", tradução do nome Frances "Amelie" que significa "sofredora".
   E a pobre da vizinha tem sofrido com aquela menina...
   A sorte e' que as besteiras que faz são, de certa maneira, inocente e inconsequentes mas, assim mesmo, mãe e' mãe.
   Desta vez foi Amélia que me cumprimentou quando chegava em casa. Exibia com um semblante triste e preocupado quando me olhou...
-  Tudo bem? Perguntei.
-  Alem do fato da minha filha ter arrumado um namorado na Internet, tudo bem. Respondeu.
-  E o que fez você a respeito? Perguntei.
-  Quando o tarado quis me pegar você não disse nada. Respondeu, quando eu disse que deveria
   ter cuidado com quem não conhece por algum tempo.
-  Ela esta' no computador? Falei.
-  Então vou enviar, por e-mail, um poema para ela. Quando você ouvir risos e críticas, e' sinal que
   leu minha mensagem...

   Agora conheci Caio,
   de sua vida eu não saio.
   Eu acho, ele e' meu namorado...
   Melhor do que amar o tarado...

   Nei sei como aconteceu...
   Um dia no computador,
   falando com um amigo meu,
   vi um rapaz gemendo de dor...

   Fiquei com pena do cara,
   falei: Como e' o teu nome?
   - Eu sou o primo da Sara,
   uma magra, sempre com fome...

   Esse aí e' maluco, pensei.
   Porque me fala da prima,
   com quem nunca conversei
   e nem quero, ainda por cima?

   So' sei que conversa vai,
   bem como conversa vem,
   um dia o cara me sai
   com: - Eu sei que te amo, meu bem...

   Pera aí! Com susto falei.
   Teu nome nem tenho ate',
   se te amo ainda não sei.
   Me diz! Te chamas Andre'...

   - Meu amor, meu nome e' Caio.
   Eu moro aqui em São Paulo,
   de casa quase não saio,
   so' tenho um amigo: O Saulo...

   Porque tu não sais de casa,
   não penses que vais me trancar.
   Nem sonhe em cortar minha asa,
   a menos que queiras casar...

   Então, se pretendes casar,
   me deixa dizer o que quero,
   assim tu podes pensar
   se vais fazer o que espero...

   De dia, quando o sol nascer
   e' a hora em que quero dormir...
   `A noite, ao dia morrer,
   de casa eu quero sair...

   Não gosto de lavar o pe'.
   Pra que tanta água gastar?
   Eu sei que tenho chule',
   vê bem se vais aguentar...

   O sovaco todo o dia eu faço.
   E' assim que quero e pronto!
   Mas se eu levantar o braço,
   por certo tu vais ficar tonto...

   Meu sorriso esta' meio torto
   ate' eu tirar o aparelho...
   Aí , com todo conforto,
   vou gostar de me olhar no espelho...

   Ja' tive foi decepção...
   O filho da Santa que amava então,
   a quem dei todo meu coração,
   me traiu. Casou com um negão...

   Também! Eu nunca te vi,
   não sei como você e'!
   E queres que eu fique aqui
   em ti botando minha fe'?

   E se você e' um anão,
   com so' um metro de altura?
   Me diz: que faço então?
   Sem desculpas, me diz criatura...

   Eu acho melhor esperar
   ate' que eu tenha certeza,
   pra contigo não estragar
   toda esta minha beleza...


Copyright 2013 Eugenio Colin