quinta-feira, 29 de março de 2018

MELHOR DO QUE NADA!











                                                     Melhor do que nada!







   Ontem, em um programa de televisão, assisti a entrevista de uma famosa atriz Americana das décadas de quarenta e cinquenta, reminiscendo a respeito de seu casamento com um, também muito famoso, ator (na época, o mais importante de Hollywood). Ela tinha apenas vinte anos de idade, ele quarenta e seis, uma enorme diferença, especialmente naqueles dias quando, costumes e padrões morais eram mais rígidos do que atualmente.
   Esta atriz era muito bonita e, apesar de muito jovem, ja’ era cobiçada por todos os homens. Ele, embora um dos mais famosos da época, certamente não era o mais bonito, ou o mais idolatrado pelas mocinhas, embora possuísse um carisma impar.
   Quando esta atriz o pediu em casamento, ele ficou chocado. E’ claro que apreciava a jovem atriz, ja’ haviam ate’ trabalhados juntos em alguns filmes, conversavam muito, eram amigos mas, sua admiração parava ai’. Nunca pensou que seria possível te-la como esposa.
   Ela ficou desconcertada quando seu pedido não foi aceito imediatamente. Talvez, ate’ um pouco de seu orgulho tenha sido ferido.
   Ele, disse a atriz ao entrevistador, havia confessado meses mais tarde que, pela primeira vez em sua vida não sabia o que fazer. Gostava daquela atriz mas, achava que a diferença de idade entre eles era muito grande.
   Conversando sobre suas indecisões com um outro ator, amigo de ambos, este perguntou: “Quantos anos você acha que viveriam sem problemas, ate’ que esta diferença de idade começasse a interferir em suas vidas?” “Talvez uns cinco anos!” Respondeu ao amigo. Este então retrucou: “Cinco anos e’ melhor do que nada, não acha?”
   Os dois se casaram e viveram felizes por onze anos, ate 1957, quando ele faleceu.

   Esta entrevista então me lembrou a historia de meu amigo Élio e Sheila, sua namorada por quatro dias pessoalmente e dois meses “epistolarmente”.

   Sheila conheceu meu amigo através de um site de seminários literários que ele participava. Ali, poemas eram escritos e a discussão sobre as obras aberta ao publico. Duas vezes por semana ela mandava comentários, elogios, opiniões e ate’ pedidos para poemas a respeito de um determinado tema.
   Estava tao eufórica a respeito daquele homem que acabou, primeiro descobrindo seu telefone para contato e, apos algumas conversas, praticamente o “intimando” a visita-la na cidade onde residia.
   Sheila residia no Brasil, ele, nos Estados Unidos.
   Élio atendeu ao “pedido” de conhece-la, sem muitas pretensões ou esperanças mas, acabou com uma opinião favorável a respeito dela. Sheila era inteligente, muito afável, educada, interessante, apesar de sexualmente reprimida ao extremo, o que foi descoberto no primeiro dia do encontro...
   Essa característica so’ não era obvia para ela... “Jamais faria isso!” era a maneira que ela encontrava para indicar sua preferência sexual (“tara” em Português claro), em dado momento...
   Élio era um homem experiente. Naquela época estava com sessenta e cinco anos, embora aparentasse menos de cinquenta. Extremamente educado, gentil, considerado, parecia que havia estudado para ser um cavalheiro. Ouvia, prestava atenção, entendia o psique das mulheres, tinha bom gosto, sabia agradar sendo genuíno.
   Naqueles quatro dias Sheila conseguiu “botar pra fora” toda sua vida de repressões sexuais. Estava perdidamente apaixonada como ela mesma havia confessado... Mas, havia um problema. Sério! Ela tinha apenas quarenta e quatro anos...
   Você tem a idade da minha mãe! Disse uma vez, aos prantos, em uma conversa telefônica.
   Era visível, mesmo `a distancia, mesmo ao telefone, que ela sabia o que queria mas, temia de que maneira sua família, ou a sociedade em geral, reagiria diante daquela situação. Reação tipica de uma pessoa reprimida... Mais uma prova clara de como toda sua vida tinha sido manipulada por regras, normas e tabus que na maioria dos casos so’ se aplica ao alheio.
   No dia do aniversário de Élio, em uma conversa ao telefone disse: “Voce não foi, não e’ e nunca sera’ prioridade em minha vida”. Ele ainda tentou procurar saber de onde vinha aquela afirmacão meio aleatória, ao que ela respondeu: “Do fundo da minha alma.”
   Foi a ultima vez em que conversaram...

   E’ claro que meu amigo ficou triste, chocado... Não havia recebido o melhor presente que dela podia esperar mas, mesmo triste, mesmo desapontado, mesmo ferido, seguiu sua vida.
   Talvez para fugir do ambiente que no momento se associava com tristeza e desapontamento, resolveu passar uns dias na Itália. Sempre teve vontade de conhecer `a Europa mas nunca tivera tido a chance.
   Mesmo nos pouco tempo em que estiveram “juntos” ja’ haviam feito planos... Assim sendo, trazendo com ele para aquela viagem as mesmas tristezas das quais estava tentando fugir.
   Verona, local escolhido para a primeira parada no país, não merecia ser visitada com tanta tristeza como aquela que aparantemente carregara em sua “bagagem”.
   Embora tentando seguir sua vida na maior normalidade possível, nada era normal. Estava em um local estranho, sem amigos, sem namorada, sem ânimo, com uma puta dor de cotovelo... Nada bom!
   E’ claro que não deveria ter vindo... Como pensara varias vezes mas, agora não tinha jeito. A alternativa era tentar fazer o melhor do pior. Se e’ que, estar na Itália, visitando locais históricos maravilhosos, cheio de Italianas, que para ele sorriam a todo momento, doidas para levar um amasso, pode ser considerado “o pior”.
   De Verona, foi para Roma. Aparentemente, a mudança de ares melhorou um pouco seu estado de espirito... Como qualquer turista, de qualquer parte do mundo, que chega em Roma, visitar o Coliseu esta’ no topo da lista. Tentou! Não conseguiu! Assim que chegou perto dos arcos, sentiu um mal estar inexplicável. Um ambiente pesado e triste... Saiu dali o mais rápido possível. De longe admirava a maravilha arquitetonica embora a ideia `a qual aquela construção se propusera o repugnava.
   So’ em Roma pode apreciar as delicias culinárias da Itália, embora, o que mais o agradava era sentar em uma mesa de calcada de um bar e, degustando vinho enquanto beliscava pão com “dip” de azeite e especiarias locais, observando aos movimentos das pessoas que por ali passavam, tentando adivinhar suas historias. De onde vinham, para onde iam... Alguns conversavam alegremente com amigos, outros, sozinhos mostravam sinais de tristeza ou preocupação... Tantos, falavam ao telefone, marcando um encontro que talvez durasse apenas algumas horas ou aquela noite ou, procurando um membro da família que não haviam conseguido contactar durante o dia... Élio, como escritor, aprendera a prestar atencao `a reacoes pessoais, imaginar diálogos, tentar penetrar no íntimos daquelas almas ou, quem sabe, emanar alguma inspiração para uma nova historia que alguem, porventura, deixasse escapar de seus pensamentos.
   Seu segundo dia em Roma foi um pouco melhor. Estava mais conformado... Sabia que não podia controlar seu destino, se este estivesse, momentaneamente dependente  dos sentimentos de outra pessoa.
   Naquela noite, ao sair do hotel, foi informado que havia um bar, não longe dali, que oferecia musica ao vivo. Gostava de musica Italiana, estava entre suas preferidas...
   Ao chegar ao local, ficou surpreso... Aquele “bar” nada mais era do que um night club estilo Americano. No palco, um pianista, baterista, um guitarrista, pistonista e, do outro lado do palco, um órgão. Sem musico, abandonado, relegado ao ostracismo... A musica, de boa qualidade o agradava. Seus olhos porem, não saiam daquele instrumento mesmo sem uso naquela noite. Élio, alem de escritor, era também musico. Tocava órgão, piano e harmônica.
   Depois de alguns minutos, em um intervalo, quando os músicos possivelmente descansariam um pouco, se dirigiu ao gerente e indagou se podia tocar um pouco. Este  o apresentou ao pianista, responsável pelo grupo que, embora fosse Italiano vivera nos Estados Unidos por muitos anos o que facilitou enormemente sua comunicação.
   Élio sentou-se ao órgão e começou a “brincar um pouco” alguns acordes soltos come se estivesse se “aquecendo” para sua apresentação. Aos poucos começou a tocar alguns standards americanos, musicas que o acompanharam em sua infância e que ate’ hoje o faziam companhia, principalmente em horas como as que naqueles dias vivia.
   Estava tao embebido em seu próprio êxtase que nem percebeu os músicos que antes tocavam, `a sua volta. A pedido do pianista concordou, naquela noite, fazer parte do grupo que alguns minutos antes admirava. 
   Musica, assim como literatura, tinham um efeito catalizador em meu amigo. Conseguia transferir para o papel ou para as teclas os mais íntimos e profundos sentimentos que o envolvia em determinado momento. Assim aconteceu `aquela noite. A audiência não poderia ter sido mais receptiva. A incorporação de um organista havia sido o “chantily do bolo”.
   No final da noite, o chefe dos músicos o convidou para, se concordasse, fazer parte daquele grupo, enquanto estivesse em Roma.
   Nada melhor para ocupar e transferir os pensamentos de Élio. Mais um dia, tocando no bar, e decidiu permanecer em Roma pelo resto de suas “ferias” ao invés de visitar outras cidades.
   Praticamente fazia parte daquele grupo. Por dias tocava ali todas as noites. No ultimo dia antes de sua volta para a América, ao se despedir, o pianista pediu que ele o aguardasse por alguns minutos. Ao voltar, ofereceu a Élio uma posição permanente, se assim o desejasse, agora, como um musico contratado, com salario... Ele olhou para o pianista, olhou para o órgão, cocou a cabeça, pensou um pouco, e aceitou o convite, pelo menos temporariamente, como explicou.
   New York, New York, o nome daquele bar, começou a ver suas mesas lotadas, cenário completamente inverso ao que meses atrás quase havia obrigado ao dono daquele bar encerrar suas atividades. Por acaso, haviam encontrado a solução que vinham procurando ha’ anos. Aos poucos outros músicos passaram a visitar aquele local, tocar um pouco, cantar um pouco, conversar, trocar ideias, socializar com outros amantes da musica Americana, ali tao bem representada por aqueles músicos, um Italiano, um Frances, um Alemão, um Espanhol e Élio, meu amigo Brasileiro. Retrato tipico da América.
   Muitas vezes, enquanto os músicos descancavam e Élio tocava sozinho, as pessoas conversavam um pouco mais alto do que o “aceitavel” em um bar. Ele não se importava, pelo contrario, tocava mais baixo ainda como se estivesse fazendo um fundo musical para aqueles diálogos, o que, certamente agradava aos frequentadores que pareciam ate’ estar treinados. Na hora certa, meu amigo tinha um dom especial. Gradualmente começava a tocar mais alto ate’ executar um glizando, que finalizava com uma nota muito grave e permanente por alguns segundos. Sinal que era a hora de diminuir a conversa e prestar atencao na musica. 
   Um dia, enquanto meu amigo tocava sozinho, uma mulher, aparantemente muito jovem, perguntou se podia cantar uma cancão. Agora, como integrante do grupo e, acostumado com a leniência de todos que ali trabalhavam, se propôs acompanha-la. Assim que começou a cantar, todos que ainda conversavam, imediatamente dirigiram olhares e atencao a ela. Sua voz era grave, suave e agradável. Élio tocava ainda mais baixo, procurando faze-la ressaltar ainda mais... Os outros músicos, que ainda descansavam começaram, um a um, a voltar e tocar seus respectivos instrumentos. A cada um que chegava e começava a tocar ela virava, dando um sorriso como se estivesse agradecendo sua contribuição, a cada um deles os aplausos eram dirigidos pelos que se maravilhavam com o que ouviam. Uma canção foi seguida por uma outra, mais uma, e quando a jovem mencionou sair do palco, agradecida, todos pediram que continuasse. Aquela menina cantou canções em Inglês, Italiano, Frances e Espanhol. 
   Não era verdade, aquilo não podia estar acontecendo, pensara Guilhermo, dono da New York, New York. Ja’ estava feliz com o que fortuitamente havia conseguido mas, aquela menina era muito mais do que podia esperar acontecer em um “fundo de porao” de uma viela de Roma.
   Guilhermo veio logo em seguida cumprimentar `a moca. Os outros músicos exibiam um sorriso que por si so’ expressava claramente o que pensavam a respeito daquela apresentacao.
-  Como você sabia em que tom me acompanhar? Como sabia o que eu ia cantar? Perguntou Gigliola,
   nome da jovem, ao final da noite, depois que o bar estava vazio.
   Élio apenas sorriu em resposta.
-  De onde você e’? Perguntou ele.
-  Sou daqui mesmo, moro em um subúrbio da cidade. Disse Gigliola.
-  Você costuma vir a este bar? Indagou meu amigo.
-  Nunca vim aqui antes desta noite. Uma amiga me disse que havia aqui estado e
   ouviu um organista maravilhoso tocando sozinho. Sempre tive fascinação por órgão. `As vezes,
   sozinha em casa, ficava ouvindo por horas, cantando, acompanhada pela gravação. Tenho gravações
   de todos os organistas que conheço e, ate’ de alguns a mim desconhecidos que acabo descobrindo.
   E você, de onde e’?
-  Nasci no Brasil mas moro nos Estados Unidos. Respondeu ele.
-  E o que faz aqui, tao longe dos dois países? Perguntou Gigliola. 
-  Vim a Roma para visitar, um dia dei uma “canja” me convidaram para tocar  
   permanentemente e, aqui estou. Respondeu ele.
   A conversa continuava animada entre os dois. Um pouco mais tarde, Guilhermo se aproximou,
   agradeceu mais uma vez `a jovem e disse, se dirigindo a Élio:
-  Aqui esta’ a chave da porta de entrada. Tem comida na geladeira e bebida no bar. Quando vocês
   saírem, por favor, feche a porta e me devolve a chave amanha.
   
   A conversa se estendeu ate’ as cinco da manha quando Élio se ofereceu a acompanhar Gigliola ate’ sua casa. 
   Quando la’ chegaram seus pais ja’ estavam acordados. Fizeram questão que ele ficasse para o cafe’.
   A certa altura, não querendo abrir mão da companhia e da conversa fascinante que a entertia tanto, Gigliola convidou meu amigo Élio a ficar para o almoço.
   A conversa na hora do almoço era agradável e divertida, regada por fettuccini e chianti.
   Ao descobrirem que Élio ainda residia em um hotel, convidaram para que  morasse com eles. A casa era antiga e tinha alguns quartos vazios. Gigliola, filha única e por vezes solitária, principalmente devido a grande diferença de idade entre ela e seus pais, o que de certa forma dificultava um pouco a comunicacao, estava mais do que feliz com a oferta. Agora tinha com quem conversar sobre musica com alguem que era capaz de tocar o instrumento que mais apreciava.
   Meu amigo estava relutante. Primeiro, não sabia se seria apropriado morar na casa de estranhos, que acabara de conhecer. Segundo, porque não sabia se conseguiria resistir aos encantos daquela bela jovem que tao rapidamente tomara conta de seus pensamentos em apenas um dia. Terceiro porque, quanto mais longe do fogo menos chance teria de sentir sua bunda queimada.
   Mas, pensando bem, estaria seguro. Não era possível que aquela linda jovem Italiana fosse se interessar por um Carioca, duro, nascido em Parada de Lucas, criado em um orfanato, sem nunca ter conhecido seus pais, que so’ conseguiu sobreviver devido `a caridade de um orfanato... Alem do mais, não pagando diárias de hotel, certamente teria condições de ajudar um pouco, monetariamente, `aquela família que, pela aparência do ambiente em que viviam, realmente precisavam de ajuda.
   Para a alegria de Gigliola e, de certa maneira de seus pais, aceitou o convite. No dia seguinte, traria seus poucos pertences `a casa de seus novos amigos Italianos.

   Eram seis horas da tarde quando os dois saíram em direção ao hotel no qual Élio ainda se hospedava para retirarem seus pertences e se dirigirem ao bar onde se apresentariam.
   E’ claro que Gigliola foi convidada para fazer parte do grupo. Aceirou a oferta de Guilhermo sem mesmo procurar entender de quanto se tratava. So’ queria cantar, acompanhada por aquele grupo que tanto a encantara desde os primeiros acordes que emolduraram sua voz.
   Em menos de um ano, New York New York era o local mais badalado de Roma. Aquele minusculo bar que pouco tempo atrás funcionava de dez da noite `as duas da manha, de terça `a sexta, agora abria, diariamente de seis da tarde, para uma especie de “Happy Hour” ate’ `as três da manha, de segunda a sábado. Foi necessário ate’ uma remodelação para que, um melhor planejamento do parco espaço, pudesse espremer os músicos e abrigar mais clientes.
   Élio, que começou apenas com uma canja, hoje se tornara em um musico regiamente remunerado, assim como os outros músicos e ate’ aquela jovem que apenas queria ouvir os sons de seu instrumento favorito acompanhando sua voz.
   Aquela convivência diária, fizeram com que meu amigo e a jovem cantora se aproximassem ainda mais. Dia apos dia, conheciam que tinham muito mais em comum do que apenas o gosto musical.

   Em uma tarde de domingo quando Gogliola e Élio sentavam `a varanda da casa onde  residiam, ela virou-se para meu amigo e, segurando sua mão com carinho, como poucas vezes havia feito antes, sentou-se a seu colo e, depois de um beijo apaixonado, que ele, e’ claro, respondeu, afinal de contas não e’ todo o dia que Papai Noel aparece e, tascou-lhe a pergunta:
-  Casa comigo? Ou, pelo menos, vamos viver como namorados ou marido e mulher,
   ou de qualquer maneira que quiser? So’ quero poder fazer você sentir todo o carinho,
   amor, amizade que tenho por você...
   Meu amigo so’ não perdeu o queixo no chão porque queixo não cai, apesar do ditado. Mas, ficou alguns segundos sem saber o que dizer, fazer ou pensar.
-  Quantos anos você tem? Foi a clássica pergunta que conseguiu fazer...
-  Vinte e cinco!
-  Gigliola! Eu tenho Sessenta e cinco... O que você tem na cabeça?
-  Tenho amor, carinho, admiração, felicidade... Tudo inspirado por você.
-  Isto não faz sentido, você e’ apenas uma menina...
-  Então que dizer que se eu encontrar alguem de minha idade, com quem não tenho a  
   menor afinidade, devo me entregar?
-  Não! Deve tentar conhece-lo, depois então...
-  Agora você esta’ falando como um velho! Interrompeu ela.
-  Desde quando você sente assim?
-  Desde o dia em que você me trouxe em casa...
-  Isto foi no dia em que te conheci!
-  Desde então. Enfatizou ela.

   A principio Élio ficou embaraçado, sem saber o que fazer. E’ claro que estava enfatuado por aquele sentimento. Gigliola era uma das mulheres, ou meninas, mais lindas que jamais havia visto, mas quarenta anos de diferença era mais do que qualquer “machao” conseguiria superar...
   Élio so’ aceitou a realidade de sua sorte no dia em que, dizendo que talvez não conseguissem viver como um casal por mais de três anos, ouviu em resposta:
-  O que e’ melhor, três anos ou nada?

   Sheila ainda esta’ so’. Tem uma pagina em varias redes sociais onde, em quase todas suas fotos, sopra beijinhos pensando que ainda e’ uma cocotinha. A idade ja’ a encontrou e ela ainda não percebeu.
   Gigliola e Élio vivem juntos por dez anos, tem uma filha, repartem seus talentos com os frequentadores no mesmo bar, ainda moram na mesma casa onde os avós mimam a neta ao extremo, enquanto os pais trabalham. Nestes últimos anos a vida tem sido muito generosa com meu amigo. Talvez tentando compensa-lo por tantos desachegos em seu passado.

   No ultimo ano Élio veio ao Brasil me visitar, trazendo sua esposa e filha. Nunca o vi’ tão feliz, radiante e jovem. Gigliola e', realmente, uma das mulheres mais lindas do mundo e Grazia, sua filha, e’ uma bela prova do que o amor e’ capaz...
   Tudo isso aconteceu porque Élio sempre achou que alguma coisa e' melhor do que nada..










Copyright 2013 Eugenio Colin

sexta-feira, 23 de março de 2018

THE SON...








 

                                                    The Son...






    A wealthy man and his son loved to collect rare works of art. They had Everything in their collection, from Picasso to Raphael. They would often sit together and admire the great works of art. 
When the Viet Nam conflict broke out, the son went to war. He was very courageous and died in battle while rescuing another soldier. The father was notified and grieved deeply for his only son. 
About a month later, just before Christmas, there was a knock at the door. A young man stood at the door with a large package in his hands. He said, "Sir, you don't know me, but I am the soldier for whom your son gave his life. He saved many lives that day, and he was carrying me to safety when a bullet struck him in the heart and he died instantly. He often talked about you, and your love for art." 
The young man held out his package. 
"I know this isn't much. I'm not really a great artist, but I think your son would have wanted you to have this." 
The father opened the package. It was a portrait of his son, painted by the young man. He stared in awe at the way the soldier had captured the personality of his son in the painting. The father was so drawn to the eyes that his own eyes welled up with tears. He thanked the young man and offered to pay him for the portrait. 
"Oh, no sir, I could never repay what your son did for me. It's a gift." 
The father hung the portrait over his mantle. Every time visitors came to his home he took them to see the portrait of his son before he showed them any of the other great works he had collected. The man died a few months later. There was to be a great auction of his paintings. Many influential people gathered, excited over seeing the great paintings and having an opportunity to purchase one for their collection. On the platform sat the painting of the son. 
The auctioneer pounded his gavel. "We will start the bidding with this portrait of the son. Who will bid for this painting?" There was silence. Then a voice in the back of the room shouted. "We want to see the famous paintings. Skip this one." But the auctioneer persisted. "Will someone bid for this painting? Who will start the bidding? $100, $200?" Another voice shouted angrily. "We didn't come to see this painting. We came to see the Van Goghs, the Rembrandts. Get on with the real bids!" But still the auctioneer continued. "The son! The son! Who'll take the son?" 
Finally, a voice came from the very back of the room. It was the long-time gardener of the man and his son. "I'll give $10 for the painting." Being a poor man, it was all he could afford. "We have $10, who will bid $20?" "Give it to him for $10. Let's see the masters." "$10 is the bid, won't someone bid $20?" 
The crowd was becoming angry. They didn't want the painting of the son. They wanted the more worthy investments for their collections. The auctioneer pounded the gavel. "Going once, twice, SOLD for $10!" A man sitting on the second row shouted. "Now let's get on with the collection!" 

The auctioneer laid down his gavel. 

"I'm sorry, the auction is over. When I was called to conduct this auction, I was told of a secret stipulation in the will. I was not allowed to reveal that stipulation until this time. Only the painting of the son would be auctioned. Whoever bought that painting would inherit the entire estate, including the paintings. The man who took the son gets everything!" 


   A little over two thousand years ago, like the wealthy man, God gave his son to save each one of us and, what the auctioneer said that that day still applies; "the one whom takes the son, gets everything..."







Copyright 2/2018 Eugene Colin                                                         

sexta-feira, 16 de março de 2018

TEQUILONOGIA DU ABRAÇO










                                                 Tequilonogia du abraço









   Um homem, no interior de Minas Gerais,  falava tão calmamente, que parecia medir, meditar sobre cada palavra dita...
   Depois de algum tempo, sentado so', embaixo de uma arvore que lhe dava sombra, ainda pensativo, tirou da boca o cachimbo que pitava, quando viu um conhecido chegar e a ele cumprimentar...

-  Oi cumpadri! Ta' pensativu pitando e tomando sua pincumel?
-  E', cumpadri... Tô pensando nu abraço... Falou o homem que pitava...
-  E u qui e' quiu cumpadri ta' pensandu du abraço? Indagou o outro... 
 E'... Das invenção doshomi, a qui mais tem sintidu e' u abraço...
   U abraço num tem jeito dum so' apruveita'! Tudo quantu e' genti, nu abraço, participa 
   duma beradim...
   Quandocê ta' danado di sordadi, o abraço de arguém tialivia...
   Quanducê ta' danadu di reiva, vem um, ti abraça e ocê ficate' sem graça di contunua' 
   cum reiva...
   Si ocê ta' filiz e abraça arguém, esse arguém pega um poquim da tualegria...
   Si arguém ta' duenti, quadu ocê abraça eli, eli começa a miroia', i ocê miroia juntu 
   tamém...
   Muita gentimportanti i lertrado ja' tentô da' um jeitu di sabê pruque quie' qui u abraço 
   tem tanta tequilonogia mas, ninguém inda discubriu...
   Mas, iêu sei...
   Foi u ispirito santo di Deus qui mi contô...
   Iêu vo conta' proceis uqui foi qui eli mi falô...
   O abraço e' bão prucaus du coração...
   Quandu ocê abraça arguém, faiz massage nu coração! I u coração du ôtro e' 
   massagiado tamém!
   Mas num e' so' isso, não...
   Aqui ta' a chave du maio' segreditudu: E' qui, quandu abraçamo arguém, nois 
   fiquemo tudo e' cum dois coração nu peito...
   Puisintão, procê qui oviu u quiêu pensei, eu gradeçu di coração i, querendo quiocê 
   carregui meu coração nu peito prumodifica’ cum dois... 
   Tomesse abraço procê!.

   O conhecido, ali de passagem, cumprimentando seu compadre, tirou o chapéu, cocou a cabeça e seguiu seu caminho, pensando:
-  Sera' quéisso qui chamum de "tequilonogia du abraço"?.





Copiright 1/2015 Eugenio Colin

sexta-feira, 9 de março de 2018

PINTO MORTO









                                                              Pinto Morto








   Tiers estava realmente exausto...
   A industria de sutiãs e calcinhas que, juntamente com o irmão, havia herdado de seu pai havia se tornado em uma enorme multinacional com fabricas em vários países da América do Sul, Europa e Asia.
   Tinha acabado de contratar um gerente para ocupar o seu lugar e, antes de assumir sua nova posição como Diretor Internacional, resolvera tirar um mês de ferias, o que não acontecia desde que, assustado, havia voltado do Japão com certeza absoluta que o representante maior de sua virilidade iria se desprender de seu corpo, como havia enfatizado Dr. Taka Noku, o especialista que havia consultado a respeito de uma protuberância anomálica que um dia notou em seu pênis.
   Foram meses e mais meses fazendo xixi sentado no vaso, com seu membro na mão para que, quando caísse, não o perdesse para sempre e pudesse embalsama-lo, guardando como um troféu, recordação de dias gloriosos que jamais seriam revividos.
   Com o tempo, muitos meses depois, começava a chegar a conclusão que o especialista podia estar equivocado. Seu membro, aparentemente, estava normal, não doía, aquela protuberância havia desaparecido e não sentia nenhum sintoma.
   A única coisa que não queria em sua vida era outra mulher. Havia decidido que se so’ usasse seu pinto apenas para fazer xixi, não correria o risco de perde-lo. De vez em quando podia ete’, talvez, “acaricia-lo” um pouco... Como, quem sabe, um premio de consolação por sua abstinência...
   O fato e’ que, para ele, depois daquela experiência, so’ o trabalho interessava. As funcionarias da fabrica onde trabalhava começaram ate’ a comentar que ele era homossexual o que, nem de leve, o incomodava. Melhor ainda! Pelo menos elas o deixariam em paz.
   O dilema de Tiers agora era muito diferente... Onde tirar ferias? Conhecia toda a Europa. Estados Unidos, nem se fala. E’ claro que não seria maluco de visitar o Oriente Médio. China ou Japão lhe traziam tristes recordações reminiscentes do tempo em que la’ andou procurando cura para a doença que afinal de contas, aparentemente, não tinha. Estava cansado de viajar pelo Brasil. Conhecia tudo...
   “O melhor mesmo e’ ficar um mês em casa pra aquietar.” Pensou... Pra aquietar? Pá quieta’? Paqueta’?... Isso mesmo! Nunca havia visitado a Ilha de Paqueta’, bem ali, debaixo de seu nariz... E’ bem verdade que viver um mês em uma Ilha que se pode visitar em meia hora ia ser difícil mas, quem sabe, ficar la’ uns três dias, relaxando na praia, tomando água de coco, cocando o saco... Talvez não fosse uma ma’ ideia.
   Resolvido! Três dias em Paqueta’ e voltaria para casa, bronzeado e feliz, alem de economizar uma grana filha da puta.
   O interessante e’ que desde de sua excursão pelo mundo, tentando salvar seu membro, Tiers havia se tornado extremamente frugal. Um dia, na praia de Copacabana, havia reclamado a um vendedor que cinco reais por um cachorro quente era um absurdo. Disse que podia comprar um quilo de salsichas por três. Tinha ate’ vendido seu BMW e comprado um Fusca. E’ bem verdade que havia pago uma fortuna pelo Fusca, ja’ que era quase novo mas, agora andava de Fusca, o que também tinha um efeito psicológico muito positivo, principalmente com os funcionários da fabrica.
   Quando disse a seu irmão que iria tirar ferias em Paqueta’, este perguntou; “Paqueta’ a Ilha? Na Baia da Guanabara?” Pensando que seu irmão estava se referindo a algum local exótico em uma Ilha sabe-se la’ onde, no meio de que...
   Tiers morava em um apartamento de cobertura na Vieira Souto. So’ ele e a cozinheira, Dona Carlota, uma senhora de sessenta anos. Era mais seguro do que ter uma faxineira e uma empregada com trinta anos cada uma.
   Arrumou uma pequena mala, um monte de shorts, muitas camisetas, três camisas, uma calca e uma sandália, nem tomou cafe’ e, assim que o sol nasceu, la’ se foi ao encontro do paraíso perdido na Baia da Guanabara.
   Quando chegou `a estação das barcas estava com fome mas, acabara de ouvir a campainha, primeiro sinal de que a lancha estava prestes a sair. A próxima so’ daqui a uma hora. Correu e conseguiu embarcar.
   Na viagem, atraído pela paisagem maravilhosa do Corcovado que da lancha vislumbrava, pensava porque as pessoas dão sempre mais valor ao que esta’ fora de seu alcance. Ele mesmo, agora envergonhado, lembrava que nunca havia tido tempo para aquela viagem mas sempre conseguia espremer excursões Europeias em seu calendário.
   Ao chegar em Paqueta’ procurava por um bar, na estação das barcas para, pelo menos, tomar um cafe’. Talvez ate’ resolver onde iria se hospedar. Na verdade, nem sabia se existia algum hotel na Ilha... Talvez uma pousada...
   Quase deixando a estação , que não tinha nem água para beber, ja’ na calcada da praça, viu um carrinho onde estava escrito na lateral, "uma refeição completa"...
 Sera’ que e’ seguro comer isso? Pensou, olhando para uns bolinhos, dentro de uma
   forma, que mais parecia uma barca... Sera’ que isso e’ bom?
   Mas, `aquela altura, a fome era maior do que a preocupação com segurança de sua saúde. Assim sendo, chamou por uma moca, de costas para o carrinho perguntando:
 A senhora e’ a vendedora aqui?
 Sou! Ouviu em resposta...
   “O que esta mulher maravilhosa esta’ fazendo aqui, vendendo bolinhos? Deveria estar desfilando como modelo... Se eu a tivesse usado como modelo, tenho certeza que venderia muito mais calcinha ou sutiã ou qualquer outra coisa em que ela estivesse dentro...” Pensou, ao reparar o rosto e a silhueta da vendedora.
   Pegou seu bolinho, pagou, agradeceu e saiu comendo...
   Na segunda dentada, resolveu voltar. Chegou perto da vendedora e falou:
 Puxa! Isso e’ muito gostoso... Me da’ mais um, por favor...
   Olhou mais uma vez para a moca que para ele sorria, como se estivesse dizendo: “Gostou ne’!”
   Desta vez, ao invés de andar, pediu um suco de laranja que ela também vendia e sentou-se em um banco, ali perto, para melhor poder saborear sua primeira refeição do dia.
   Comia distraído, ainda prestando atenção `aquela mulher, tão linda, ali “perdida”.
   Estava quase acabando seu segundo bolinho quando, de repente, como um flash back instantâneo, espontaneamente gritou: “Olinda?”
   A moca arregalou os olhos... Nunca ninguém a havia reconhecido desde que resolvera se “aposentar”.
   Olhou bem para aquele homem... Era muito novo para ter sido um de seus “clientes” mas, a voz, o rosto... Eram realmente familiares...
-  Como você pode se esquecer de mim? Disse ele.
-  Tiers? Disse Olinda, tentando, a todo custo, conter sua emoção ...
   Ele não exitou. Aproximou-se dela, abracando e beijando carinhosamente aquela a quem alguns anos atrás pedira em casamento.
-  O que você esta’ fazendo aqui? Perguntou Tiers.
-  Eu moro na Ilha. Vem! Vamos ate’ em casa e eu te conto tudo...
-  Mas, você esta’ trabalhando... Não vou te atrapalhar? Disse Tiers.
-  Não! Vamos... Disse Olinda enquanto guardava tudo e fechava o carrinho.
   Tiers colocou a mala sobre ele e começou a empurra-lo, em direção a casa de sua amiga.
   Sem saber porque, Olinda não conseguia esconder as lagrimas que vagarosa e delicadamente rolavam por sua face.
   Ele ficou calado ao perceber, respeitando aquele momento intimo.
   Em menos de dez minutos, por entre atalhos bucólicos, estavam na porta da casa de Olinda, na Praia da Moreninha. Ela abriu o portão, guardou o carrinho e convidou Tiers a subir.
   A escadaria era longa. Os dois subiram calados. Ao chegar `a varanda da casa e se voltar para a praia, não pode conter sua admiração : “Que maravilha!” Exclamou.
   Virou-se para Olinda que, de cabeça baixa, ainda com lagrimas em seu rosto encostava em uma parede da varanda, calada...
-  Esta’ tudo bem? Estou te aborrecendo? Perguntou, com uma voz terna e carinhosa.
-  Não! Eu so’ estou envergonhada. Respondeu Olinda.
-  Envergonhada de que? Não vai dizer que me vendeu bolinho velho...
   Olinda sorriu, tentando se descontrair, limpando o rosto.
-  Vem! Senta aqui! Me conta tudo! Desde a ultima vez em que nos encontramos...
   O relato foi longo e emotivo... Começou por sua infância, relatou sobre seu namorado que a “vendera” a um conhecido para pagar uma divida, falou sobre a tristeza de ter perdido os pais em um acidente de carro, a solidão de viver sozinha, sem amigos, a crueldade de muitas pessoas que cruzaram seu caminho...Explicou sobre uma serie de infortúnios ate‘ culminar com o episodio do atentado a um jovem de quem a vida salvara... Relatou como conheceu a Praia da Moreninha, após ter lido um romance ali encenado, o sacrifício que foi comprar aquele pedaço de paraíso...  Por horas a ouvia com atenção, vez por outra arrumando os cabelos de Olinda que delicadamente caiam sobre seu rosto.
   O mesmo carinho, a mesma atenção , a mesma delicadeza que ela rejeitara, que poderia ter sido parte permanente se sua vida ali estavam novamente, ao seu encalço. Ha’ muito tempo Olinda não vivia momentos tão ternos, cheios de emoção ... Que contraste com os últimos dias em que, nas ruas do Rio de Janeiro, procurava por quem pudesse pagar mais por sua companhia rigorosamente cronometrada. Ou mesmo comparado com o marasmo que seus dias haviam se tornado.
   E’ verdade que estava segura, em paz mas, era como se estivesse deixando sua vida passar por ela, carrega-la, ao invés de vive-la.

   Tiers ouvia tudo atentamente, sem dizer uma palavra. Quando ela se calou, ainda consternada, segurando sua mão convidou-a para almoçar no Rio, ou em seu local preferido naquela Ilha encantadora.
-  Que tal se eu cozinhar para nos? Disse Olinda.
 - Melhor ainda! Respondeu Tiers, que havia denotado muita emoção e ansiedade em
   Olinda enquanto conversavam... Queria lhe dar tempo para relaxar, descontrair,
   poder  respirar aliviada, tomar consciência que aquilo tudo ja’ fazia parte do passado,
   fato que, talvez ela ainda não tivesse se dado conta.
-  Quer que eu compre alguma coisa para você preparar? Indagou Tiers.
-  Abre esta porta atrás de você e da’ uma olhada. Instruiu Olinda.
   Ao olhar para o lado de fora, pela porta da cozinha, pode observar um terreno que subia a encosta do morro, parecendo não ter mais fim. No ponto mais alto que sua vista conseguia alcançar, um jardim Japonês com centenas de plantas e flores de cores harmoniosas. Uma escada em pedras que, la’ de cima, terminava no final de uma área gramada, ao lado de uma horta repleta dos mais diversos tipos de legumes e verduras... O perfume das hortaliças, e especiarias misturando-se com o cheiro de jasmim e outras flores davam `aquele local uma fragrância que dificilmente seria esquecida.
   Tiers estava perplexo. Sabia que Olinda vivera uma vida cruel mas, voltar diariamente para aquele local, certamente teria um efeito catalizador, capaz de redimir qualquer “pecado”.
   Estava imóvel. So’ poder olhar tudo aquilo, sentir aquele perfume valia mais do que um mês de ferias em qualquer parte do mundo...
   Olinda, orgulhosa, vagarosamente chegou a seu lado, com cuidado para não tira-lo do transe em que momentaneamente vivia.
-  Bem vindo ao meu mundo particular... Disse ela, de bracos cruzados, com um sorriso
   quase imperceptível, com o rosto ainda marcado pelas trilhas das lagrimas que
   espaçadamente insistiam em abrir novos caminhos como se estivessem tentando
   leva-la a de volta um passado não muito distante.
-  Olinda! Isto e’ uma maravilha... Nunca vi nada como isto... Não consigo sair daqui...
-  Obrigado! Vem, vamos escolher o que comer... Disse ela, pegando Tiers pela mão e
   o conduzindo em direção `a horta.
   Enquanto Olinda cozinhava, com um cálice de vinho `a mão, Tiers a observava a uma distancia discreta. Sem muita maquiagem, parecia um pouco mais velha. Suaves rugas cicatrizavam seu rosto, compondo uma beleza indescritível. Quantos anos deveria ter agora? Pensava... Talvez trinta e cinco? Seu corpo parece estar melhor do que sua lembrança fotografara... Os cabelos dessarrumados lhe davam uma beleza incrível. A voz que ouvia, vez por outra, indagando algo ou pedindo que lhe passasse isto ou aquilo, era de uma suavidade musical acolhedora... Uma mulher perfeita... “Agora me lembro porque me apaixonei por ela” Pensou...
   Tiers estava quieto. Muito pensativo para o conforto de Olinda...
 - O que houve? Você esta’ tão calado... Disse Ela.
 - Muita coisa ao mesmo tempo... Te encontrar assim, inesperadamente...
 - A quanto tempo você mora aqui?
 - Uns cinco anos... Quando comprei a casa, estava meio abandonada. Aos poucos a
   restaurei ao projeto inicial, depois construí o jardim, a horta... Nos finais de semana
   aqui ficava, reclusa, tentando esquecer, fingindo ser uma pessoa completamente
   diferente daquela que “passeava” pela Cinelândia.

   A mesa rustica que ocupava a pequena sala de jantar estava caprichosamente decorada. A simplicidade daquela casa dava ao ambiente um toque de sofisticação difícil de igualar.
   Aos poucos, conversando sobre amenidades durante o almoço, Olinda começou a se descontrair, havia ate’ sorrido algumas vezes ao ouvir a historia da saga penilica pela qual seu convidado havia passado `a procura da cura para um problema que, na realidade, não existia.
   Ao som de Miles Davis, Oscar Peterson e outros mestres do Jazz,  a noite encontrava   os velhos conhecidos que ainda trocavam confidências sentados `a varanda, tendo a praia da Moreninha como paisagem principal.
- Quais são seus planos, esqueci de perguntar... O que esta’ fazendo aqui? Disse Olinda.
  A DuAssiens cresceu muito. Assumi o cargo de Diretor Internacional e antes de
começar a viajar pelas fabricas resolvi tirar alguns dias de ferias...
-  E veio para em Paqueta'? Disse Olinda.
-  Você sabe que esta e’ a primeira vez que venho aqui?
-  Esta' arrependido... Pela surpresa? Indagou Olinda.
-  Sabe? Agora pensando bem... Ainda não consigo entender porque você não quis
   casar comigo... Sempre achei que você gostava de mim...
 - Eu me sentia suja. Não era digna... Alem do mais você era tão jovem... Antes de
   pensar em romance, de amar alguém, teria que me redimir, me livrar dos pecados,
   ser digna...
 - E agora? Perguntou Tiers.
 - E agora o que? Disse Olinda.
 - E agora, ja' se redimiu! E agora, ja' se livrou dos pecados! E agora, ainda sou muito
   jovem! E agora, você casa comigo?
   Olinda levantou a cabeça espontaneamente assustada, arregalando os olhos e disse:
-  O que?
-  Você não tem namorada? Ou gosta de alguém? Perguntou Olinda.
 - Tive muitas namoradas, centenas de namoradas... Mas depois da minha luta pela
   manutenção do meu xara' aqui, nunca mais tive ninguém. Me cansei de aventuras,
   cheguei a conclusão que minha adolescência havia terminado havia muitos anos.
   Sabe? Depois daquele dia que você de deixou na Cinelândia, meu coração aos
   poucos enrijeceu... Por um lado, gostava de você, da tua companhia, gentileza,
   carinho, atenção , mas tinha medo que alguém me reconhecesse a teu lado e te
   causasse problemas. Disse Olinda.
   Sentados juntos, Tiers ainda “brincando” com fios de cabelos de Olinda entre seus dedos, a puxou delicadamente para perto, segurou seu rosto e a beijou amorosamente. Ela nem lembrava da sensação de um beijo. No pouco tempo em que se conheceram no passado, nunca haviam trocado um beijo.
   Sentimentos novos começaram a invadir seu corpo, sensações que nem lembrava existir a dominavam, sua mente urgia por carinho, desejo de possuir um homem, como jamais havia tido oportunidade, iniciar um contato, dominar alguém, se entregar, ao invés de fingir... Gritar de prazer, ao invés de chorar de dor. Seu primeiro namorado era machista, a usava para sua própria satisfação , ignorava o que ela sentia. O amor que iludia seus pensamentos estava apenas em sua mente, não na realidade daquele primeiro relacionamento de menina.
   Em poucos minutos percebeu que  as ideias que fazia de Tiers eram completamente diferentes. Se `aquela época soubesse que iria experimentar todas estas sensações, certamente não teria sido tão fácil se separar dele.
   A noite de amor foi intercalada por pequenos cochilos esporádicos...

   Os primeiros raios de sol refletidos nas águas da Baia da Guanabara feriam delicadamente aqueles olhos mal dormidos, saciados e satisfeitos...
-  Vem! Deixa eu preparar um cafe’ para nos... Disse Olinda, levantando sua “presa” pela mão...
 - Eu quero aqueles bolinhos de ontem... Disse Tiers, abracando o corpo semi nu de
   seu antigo amor, pelas costas, fechando o roupão ainda aberto que mal a cobria.
   Apos ao desjejum, decidiram ir `a praia que desde o dia anterior ele admirava. Ali perderam a manha inteira, descontraídos, felizes, interrogativos...

   A mesma rotina do dia anterior se repetia. Tiers adorava estar na cozinha, ao lado de sua companheira. Não sabia cozinhar e, talvez por isso mesmo, admirasse tanto a destreza, riqueza de movimentos de um lado para o outro, aqui e ali, abrindo portas de armários, deitando especiarias em panelas semi abertas, regadas ao vinho, azeite, leite de coco...
-  Tive uma ideia! Me diz o que você acha... Disse Tiers, enquanto relaxados, sentados
   `a varanda com as pernas esticadas ainda saboreavam o paladar do almoço, que
    recalcitrantemente permanecia em suas bocas...
 - Vamos viver aqui! Trabalho de segunda a quinta... Quando tiver que viajar você me
   acompanha... Em reuniões de negócios, nada melhor do que uma esposa para
   transmitir confiança e responsabilidade. Afirmou Tiers.
   Olinda olhava para ele, contrita, pensativa...
 - Vamos ate' o apartamento de meu irmão amanhã. A esposa dele te ajuda com os
   preparativos para o casamento. Ainda tenho um mês para nossa lua de mel, aqui
   mesmo, se você não se importar.
 - E sua casa? Onde você mora? Perguntou Olinda.
 - Em Ipanema, na Vieira Souto... Poderíamos morar la', se você preferir... Disse Tiers.
-  Sabe? Em um dia tive mais emoções, carinho, amor do que em toda minha vida...
   Tenho medo... Confessou Olinda.
 - Meu amor! Eu penso que nossa vida e' como uma estrada. Quando nascemos
   estamos no ponto de partida. `A medida em que por ela caminhamos encontramos 
   desvios, alguns deles, depois de algum tempo voltam `a mesma estrada, outros nos
   conduzem ate' o abismo. Ao entrarmos em qualquer destes desvios não sabemos
   antecipadamente ate' onde seremos levados mas, temos sempre a opção de
   voltarmos e buscar outro caminho se, daquele no qual estamos avistarmos o
   precipício. Você percorreu o seu caminho. Resolveu parar, refletir, se purificar, como
   você mesma disse, antes de continuar. Esta e’ a segunda vezes que nossos
   caminhos se cruzam... Por acidente, ou por destino, ou por coincidência... Podemos
   ignorar tudo e seguirmos atalhos separados ou, podemos juntar nossas mãos e
   percorrermos juntos o resto da estrada a nos destinada. A decisão e’ nossa.
   Ninguém nos obriga, ninguém nos impõe. Se o que experimentamos nos agrada,
   devemos repetir... Você me agrada, quero te repetir sempre, dia apos dia... Quero
   poder segurar tua mão e agradecer a Deus pela oportunidade de ter te encontrado...
   Duas vezes...
   Olinda levantou, vagarosamente caminhou ate' a sacada da varanda, olhou para Tiers, correu em sua direção, sentou-se a seu colo e o cobriu de beijos sem deixa-lo respirar...
-  Armand, meu irmão! A Estela esta’ ai?
-  Tiers? Respondeu Armand, ao atender o telefone. Onde você esta’? Finalizou...
-  Presta bem atenção... Disse Tiers. Amanha vamos nos encontrar para ela ajudar
   Olinda a organizar nosso casamento...
-  Quem e’ Olinda? Que casamento? Respondeu Armand.
-  Olinda e’ minha noiva. Vamos nos casar...
-  Tiers, você não tem nem namorada... Lembrou Armand.
-  Eu sei! Encontrei ela ontem...
-  Seu maluco! Você vai casar com uma mulher que conhece ha' um dia?
-  Não! Ha' muito tempo. Depois eu explico.
-  Mas teu pinto só serve pra fazer xixi. Teu pinto esta' morto... Ela sabe disso?
-  Isso e’ o que você pensa! Você precisa ver o que aconteceu ontem... Aquele monte
   de médicos não sabem nada... Amanhã, pergunta a Olinda se ela segurou e brincou a noite inteira
   com um pinto morto...




Copyright 2013 Eugenio Colin

sábado, 3 de março de 2018

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   Era um dia importante na DuAsseins uma industria de roupas intimas femininas, muito tradicional, fundada ha’ mais de setenta anos por  M. Marchand Poule Voleur.
   Neste dia ele iria transferir a responsabilidade de sua industria para seus filhos Armand e Tiers. 
   Assim que os herdeiros chegaram `a sala de reuniões, M. Armand com sua fleuma proverbial falou: 
   - “Meus filhos! Solicitei vossas inapreciáveis presenças para citar a ambos que, de acordo com
   minhas aspirações pessoais, deixo-vos legado irrevogavelmente esta empresa a qual, ao longo dos
   anos fundei, estabeleci e consolidei  no mercado da indústria de suporte feminino. Acho que
   chegou a hora de aproveitar o que resta de minha vida ao lado de Claudette, minha nova esposa.
   Agora, tudo esta’ nas mãos de vocês. Ja’ trabalhei pra caralho. Não me encham mais o saco. Se
   fizerem cagada, que se fodam! Não quero mais saber de porra nenhuma...” E deixou a sala.
   Na verdade, Claudette, sua nova esposa, havia sido, ha’ apenas alguns meses passados, uma “dama da noite das ruas de Paris” que M. Marchand havia aprochegado e teve a cara de pau de propor na bucha:
-  “Escuta beleza! Tenho apenas mais alguns anos de vida. Se aceitar, ser minha companheira por
   estes anos, serei generoso em meu testamento. E’ claro que, vez por outra, você terá de cumprir
   suas obrigações de esposa. E’ claro também que não vou admitir nenhum tipo de traição. E’ pegar
   ou largar..."
   Ela pegou!
   Ja’, a respeito dos herdeiros, digamos que haviam nascido em berço esplêndido, muito esplêndido.
   Armand, o mais velho, era economista, circunspeto, sem tempo para outras coisas que não estivem intimamente ligadas ao trabalho. Tier, por sua vez, artista plastico, atualmente, ja’ por algum tempo, desempregado, possuía uma caracteristica marcante em sua personalidade, femeeiro ate’ a última presa.

   Estes acontecimentos inesperáveis tomaram os dois de surpresa. Agora teriam que se adaptar ao que o destino lhes apresentava. O jeito era assumir os negócios da família e rezar para o melhor.
   Ao tomar maior conhecimento da empresa, Armand decidiu assumir  para si os destinos da mesma. Contar com a ajuda do irmão era meio complicado mas, de qualquer forma, iria fazer o possível. 
   Depois de duas semanas, tentando contactar Tiers, finalmente, conseguiu convence-lo assumir parte de suas responsabilidades na empresa. Ficou decidido que Armand, o mais velho ficaria encarregado da parte administrativa e financeira da empresa e, o mais novo, pela parte de arte e produção.
   Logo de saída, assim que começou a pensar no futuro da empresa, Tiers resolveu que seria providencial expandir a linha de producao da empresa. Calcinhas e sutiãs deveriam ser complementados por meias de seda, camisolas, corpetes, ligas e ate’ cintas, destinadas `as que queriam melhorar a silhueta sem fechar a boca.
   E’ claro que seria necessário um novo catalogo que mostrasse toda a linha de produtos.
   Para economizar, decisão que agradou muito `a seu irmão, o diretor de arte resolveu que usaria algumas das funcionarias da empresa como modelos. Desta maneira, poderia também dar mais credibilidade aos produtos usando frases como: “além de trabalhar na DuAsseins, também uso os produtos que fabrico”. A primeira idéia foi usar frases como; “Com DuAsseins meus peitos tão bem guardados” ou “Minhas coxas ficam mais bonitas dentro das meias que fabrico”, “Com calcinhas da DuAssiens posso ate’ sentar em pregos. Sei que estou protegida” mas, algo lhe dizia que a maioria do publico não aprovaria dizeres como esses.
   Se Armand era sério em demasia, ate’ temido por alguns empregados, Tiers era exatamente o oposto. Todos adoravam o seu jeito alegre e brincalhão, seu sorriso contagiante, seu charme irresistivel. Quando deu inicio `a busca das funcionarias que se tornariam modelos, o rebuliço foi geral, pareciam mais um monte de “bobby-soxers” do que operarias de fabrica de subúrbio. E’ claro que seu patrão não era nenhum cantor famoso da década de 50 mas, elas também não estavam em Hollywood...
   Depois de um processo árduo, as sete “felizardas” forram selecionadas...
   Tacah Bolacha faria propaganda das cintas, Sônia Soneca das camisolas, Maria Justa dos corpetes e ligas, e assim por diante. Cada uma de acordo com a seus atributos físicos que ajudariam a realçar as qualidades dos produtos que anunciavam. O que ninguém entendeu foi como a Antônia Palito conseguiu ser selecionada para os comerciais de camisolas... A competição por uma posição de modelo da empresa estava tão disputada que Márcia Melada chegou ate’ oferecer “favores sexuais” em troca de uma vaga para posar de qualquer coisa. 
   Mas, se Tiers respeitava o local de trabalho, e não dava bola pra ninguém, fora dele a historia era outra. Cada dia aparecia com uma namorada nova. Fugia tanto, aqui e ali em suas horas vagas que, muitas vezes, não se sabia se estava trabalhando, se havia dado o dia por encerrado, se havia recebido uma “oferta” irrecusável... O importante e’ que, de uma maneira ou de outra, não sabiam dizer como, seu trabalho estava sempre em dia. E’ claro que vez por outra, alguma das funcionaria encontrava um pretexto para  “tirar alguma duvida” mas Tiers tinha anos de experiência no “mercado” e sabia como selecionar suas “fornecedoras”.
   A empresa corria melhor do que poderiam ter planejado, cada um dos irmãos habilidosamente executando as funções que se propuseram.
   Um dia de Domingo, ao tomar banho, notou uma pequena protuberância na parte inferior do, digamos, “embaixador de sua masculinidade”.
   A primeira reação foi de desespero... Depois, com mais calma, resolveu que, no dia seguinte, deveria  procurar um medico que pudesse ajuda-lo.

   Eram sete horas da manha quando Tiers saiu de casa em direcao ao consultório do Urologista. 
   Assim que o viu entrar, a enfermeira avisou que Dr. Urinaldo Mijardo ja’ o aguardava.
   Tiraram Raio X, fizeram ultrason e, depois de uma conferência telefônica de mais de quinze minutos com colegas, inclusive alguns com praticas em outros estados, fato que estava deixando nosso amigo muito preocupado, volta o medico com a solução do problema.
-  Tiers, devo confessar que estamos na presença de um caso extremamente raro. Pelo que pude
   observar, através dos exames radiograficos realizados, não ha’ nada de anormal com o seu pênis.
   No entanto e’ visível a protuberancia que se salienta na parte inferior do mesmo. Depois de um
   exame mais apurado e ate’ conferência telefônica chegamos a conclusão que se trata de uma bolha
   de ar que, indevidamente, se alojou no interior do seu membro.
-  Doutor, e isto tem cura? Indagou o paciente, preocupado.
-  Claro! Agora mesmo! Você vai sair daqui sem nenhum problema... Afirmou o doutor.
   Apos alguns minutos de espera, ja’ um pouco mais calmo, volta Dr. Urinaldo com os instrumentos
 necessários `a intervencao a ser realizada.
-  Meu filho, deixa-me explicar o que vamos fazer. Você vai chegar perto desta mesa, colocar seu
   pênis em cima dela. Com este martelo que tenho em minha mão, vou dar uma porrada na parte
   superior do mesmo e, o ar que esta’ alojado no interior saira’ pela ureia. Esclareceu o medico.
 - O senhor esta’ de sacanagem ne’? Se o senhor me diz que tem que fazer uma punção, vai la’ mas,
   dar uma martelada no meu piru’, nem em pensamento. Afirmou Tiers ao mesmo tempo em que
   vestia as calcas e se preparava para deixar aquele consultório para sempre.

   Ao relatar o ocorrido `a seu irmão, este, preocupado,  se propôs ajuda-lo a resolver o problema.
   Apos alguns telefonemas, chegaram `a conclusão que o melhor seria consultar um especialista nos Estados Unidos. Em três dias estaria viajando para um consulta no Penile Glanular Health Surgery Center. 
   Finalmente, depois de uma semana preocupante, chega Tiers em NY para a visita que terminaria por vez com seus problemas. Afinal de Contas, Dr. Tom Ellior  era um dois maiores especialistas do mundo no assunto.
   Discretamente nervoso aguardava na sala de espera, olhando `as varias ilustracoes de parentes do seu, espalhados pelas paredes da sala. Reparando melhor, um deles ate’ parecia estar sorrindo. Otimista que era, imediatamente pensou; “este ai’ esta’ alegre porque saiu daqui curado... "
   A porta se abre e Dr. Tom o chama para o consultório.
   Mesmo ritual; Raio X, ultrasom, apalpamentos cuidadosos e curiosos, tudo o que tinha direto, pela fortuna que estava gastando.
   Desta vez a consulta foi mais demorada... Levou uma hora para que o medico voltasse `a sua presença com o diagnóstico que tanto aguardava.
-  Well... Começou o doutor, pelo que pude observar se trata de uma manifestacao raríssima em sua
   glândula reprodutora. O ultrasom me afirma e, o raio X confirma que, infelizmente... 
   No “infelismente” Tiers tremeu nas bases... Tinha certeza... “La’ vem merda” pensou.
-  As I was saying... Infelizmente, seu membro deve ser amputado, e rapidamente, para podermos
   evitar a difusão `a orgaos concomitantes.
   Era so’ o que faltava... Agora esta porra deste medico quer cortar o meu cacete e ainda vem com “infelismente?” Aposto que não esta’ nem de longe entendendo a falta que meu “companheiro” vai me fazer. Pensou ao sair do consultório.
   Estava arrasado! Telefonou `a seu irmão para contar os acontecimentos tristes que vivenciava.
   Armand, outro otimista, falava ao telefone; “nao esquenta meu irmão. Vamos solucionar isso. Vai pro hotel, descanca, deixa eu dar alguns telefonemas e amanha nos falamos”.
   Tiers não sabia se deveria ficar calmo ou preocupado. De um lado, outro medico significava outra esperança, por outro lado, isto também significava que se tratava de algo serio, afinal de contas, era o terceiro medico tentando resolver um problema filho da puta.
   No dia seguinte, muito cedo na manha, recebia a chamada de seu irmão. 
-  Vai procurar Dra. Sarah Pica, em Milão, a maior especialista Italiana no tipo de problema que você
   se encontra.
   La’ se foi nosso amigo, cheio de esperança, ao encontro da “Pica” que salvaria seu pinto.
   
   Na Itália, tudo se repetiu, inclusive o diagnóstico. A única diferença foi que, desta vez, seu membro foi manipulado por mãos femininas que, em situacao diferente, o deixaria ate’ satisfeito com toda aquela atenção.
   Agora sim estava fodido, e pelo próprio pinto...
   Passou o dia inteiro em seu hotel, desesperado... Dra. Pica havia inclusive informado que se a cirurgia não fosse executada em breve, correria ate’ risco de vida.
   Outo telefonema `a seu irmão, outro medico. Desta vez, lhe foi indicado um medico em Beijing, China, Doutor Xim Xi, a maior autoridade chinesa no assunto. Um detalhe porem o deixava mais preocupado. Ouvira dizer que, naquele pais, mulheres não eram permitidas a ter mais de dois filhos. Medida governamental na tentativa de controlar a super populacao. “Sera’ que aqui e’ obrigado cortar o cacete de todo homem?”
   Toda aquela rotina `a qual ja’ estava começando a se acostumar terminou da mesma maneira, o mesmo diagnóstico: “Seu membro deve ser amputado o mais rápido possivel”.
   Aparentemente, a solucao seria começar a se acostumar com a ideia de perder a parte do corpo que, ate’ então, lhe havia dado as maiores satisfações em sua vida.

   Estava em seu hotel, desesperadamente contemplando a paisagem quando o telefone tocou. Era seu irmão...
-  Tiers, sai fora dai’! Este medico não esta’ com nada, soube que tem mania de cortar o cacete de
   todo homem para evitar a super populacao. Em compensacao tenho noticias animadoras. Soube
   através do consulado do Brasil em Tokio que a maior autoridade em complicacoes penisticas esta’
   no Japão. Marquei uma consulta para você depois de amanha. Arrumei ate’ um tradutor quando
   soube que esse doutor e’ meio esquisito e se recusa a falar Inglês...
   Agora não sabia se devia ficar alegre ou triste, com esperança ou desesperado... O que realmente estava, naquela manha, era reminiscente...
   Lembrava de Marcinha, sua primeira “namorada” que de pequeno so’ tinha o nome. Naquele dia do passado, quando havia experimentado os “prazeres da carne” pela primeira vez sofrera mais do que passarinho em mão de criança. A mulher era enorme, com um “apetite” de quem não come por dois anos. Naquele dia, lembrava, havia sido, literalmente “devorado” por sua parceira... Quem sabe não foi esta a causa de seu problema... Lembrava-se que depois do “encontro” teve que manter o “pobre coitado” no gelo. Uma pessoa naquela situacao, se fizesse um exame medico, seria diagnosticada com escoriações generalizadas.
   Olinda Piroca, uma prostituta com quem “encontrava” em situacoes de emergência quase mudou sua vida completamente... A relacao entre os dois foi muito alem do que profissional/cliente. A mulher era linda, mais velha, experiente, culta, educada... Muitas vezes passeavam o dia inteiro, jantavam juntos e nem pensavam em sexo, apenas conversavam a respeito do passado, do futuro... Foi a única vez em que Tiers havia pensado em casamento. Nimgem diria que aquela mulher era uma profissional...
   Lembranças alegres, tristes, engraçadas, nem tão engraçadas, se sucediam na mente de Tiers como um longo filme no qual ele era o protagonista principal. Sua única esperança era que aquilo tudo tivesse um “happy ending”.

   O dia seguinte seria certamente corrido.
   Chegaria ao aeroporto, onde o tradutor o aguardava, apenas duas horas antes da consulta. Dali’ para o encontro com Doutor Taka Noku, o melhor do mundo.
   Ja’ no consultório, ao lado do tradutor, sentado em uma cadeira enorme, pode ver, para sua surpresa, um homem com quase dois metros de altura curvando-se para entrar no consultório.
-  おはようございます!私の名前 能古、どのように私は助けることができますか?
-  O Doutor perguntou em que pode ajudar. Ouviu na tradução.
   Sem cerimonia, Tiers abriu a calca, segurou seu pênis com carinho e mostrou ao doutor, explicando a ele tudo que havia acontecido.
   Com todo o cuidado, o doutor examinava, enquanto manipulava a causa de todo aquele drama, com dois pauzinhos, parecidos com aqueles que são usados para comida chinesa.
   Apos alguns minutos, saiu da sala dizendo:
-  私が見るこれと '第三のケース...
-  Informou que e’ o terceiro caso que viu. Vai voltar em alguns minutos. Disse o tradutor.
   Assim que o doutor entrou no consultório novamente, ouviu do paciente:
 - Doutor, o senhor e’ minha ultima esperança. Todo medico que vou diz que eu tenho que amputar
   meu pênis...
   Apos devidamente traduzido pelo interprete, disse o doutor:
-  完全に間違って駅。
-  Disse que os outros médicos estão completamente errados. Traduziu o interprete.
-  Doutor essa foi a melhor noticia que ja’ recebi em toda minha vida. Não vou ter que amputar meu
   pênis?
-  奈緒。Respondeu o doutor, apos ouvir a pergunta traduzida.
-  Não preciso fazer mais nada? Indagou Tiers.
-  いいえ、何もする必要はありません。彼は一人で落ちる
-  Não! Você não precisa fazer nada. Ele vai cair sozinho. Disse o interprete, traduzindo o que o
   doutor, em um Japones perfeito, falou:
- それだけでは分類されます





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