domingo, 27 de outubro de 2013

PROPAGANDA...








                                                               Propaganda...





   Márcia Melada era professora há mais de 20 anos. Seu currículo era exemplar... Nunca havia faltado um único dia, nunca havia transgredido nenhuma norma da escola, era admirada por professores e alunos...
   O ano letivo estava apenas se iniciando e Professora Márcia, pela primeira vez pegava uma turma de décima serie... Meninas e meninos eram adolescentes, na puberdade, gostavam de namorar, trocavam bilhetinhos durante as aulas, mas nada que sua experiência e praticidade não conseguissem controlar.
   Havia porem um aluno que se destacava do grupo por estar sempre quieto, compenetrado, cabisbaixo... Um dia, ao final de uma aula a professora o chamou e pediu que ficasse mais um pouco.
   Depois que todos deixaram a sala ela perguntou seu nome. Antônio Dotado, respondeu o rapaz...
   Indagou se algo o aborrecia ou se estava enfrentando algum problema. Ele disse que não... Era assim mesmo, tímido, introspectivo...
   Depois daquele encontro, Antônio passou a fixar seus olhares nos dotes físicos da professora, que ate então haviam lhes passado despercebido, principalmente seus enormes seios que quase a impediam de escrever ao quadro-negro.
   Dois meses depois Antônio ja' estava desesperado, não sabia o que fazer para atrair a atenção  da professora. Então, teve uma ideia genial...
   Um dia, ao entrar na sala de aula, Márcia vê, horrorizada, a inscrição  no quadro negro: "Antônio tem Pau Grande!" Com ponto de exclamação  e tudo, talvez para enfatizar o fato.
   Imediatamente ela apaga a inscrição. e, sem nenhum comentário da inicio `a sua aula.
   No dia seguinte, ao entrar na sala, a mesma coisa, agora com letras maiores: "Antônio tem Pau Grande!" Pela segunda vez ela apaga os dizeres, sem fazer nenhum comentário.
   Por uma semana, a historia se repete...
   Agora, sem saber o que fazer e tentando matar três coelhos com uma só cajadada, professora Melada decide colocar `a prova a veracidade da inscricao...
   Quando a campainha toca, no final da aula, Márcia pede a Antônio que fique na sala...
   Tranca a porta, pega o rapaz pelo braço e o leva para um canto que não poderia ser visto pela janelinha da porta da sala. Ali eta tira a roupa, pede que ele faca o mesmo e, violenta o aluno.
   Agora, pensava ela enquanto se aproveitava do apetite voraz daquele quase menino, se livraria dos dizeres, ja' estava pondo `a prova a veracidade da mensagem e, talvez conseguisse manter sua calcinha um pouco menos molhada.
   Duas horas depois, ambos deixaram a sala de aula com a sensação de terem conseguido suas metas...
   No dia seguinte, ao entrar na sala, ela lê no quadro: " A Propaganda e' a alma do negocio!"








  Copyright 2013 Eugenio Colin.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

INTROSPECÇÃO MATINAL






                                                         Introspecção Matinal








   Hoje pela manha, apos o desjejum, ainda sentado `a cafeteria do hotel, me chamou a atenção uma linda jovem morena, com longos cabelos avermelhados, olhos verdes, provavelmente aos seus trinta anos de idade, salto alto, pernas cruzadas, muito bem vestida, impecavelmente maquiada para aquela hora da manha, ainda saboreando os últimos goles de seu cappuccino. O dedo minimo da mão direita que segurava a chicara estava arqueado, como “manda” a etiqueta daquelas dondocas sofisticadas que a maioria de nós, pobres mortais, copiamos.
   Sem que percebesse, aquela mulher dominava toda a minha atenção. Observava seus mínimos detalhes e gestos, como se estivesse tentando aprender algo.
   Segundos apos o ultimo gole, pousou a chicara delicadamente, olhou para um lado, limpou o canto da boca com um guardanapo que mantinha no colo, olhou para o outro lado, pousou o guardanapo `a mesa e, delicadamente, introduziu o mesmo dedo que ha’ pouco tempo se mantinha arqueado, dentro do nariz.
   Se minha atenção ja’ era total, agora era imperativa.
   A mulher estava completamente absorta em seu trabalho de limpeza. Mexeu com o dedo de um lado para o outro e, voila’! Uma enorme meleca saiu presa `a seu dedo, com uma parte dentro de sua bem manicurada unha.
   A esta altura, sem perceber que captava minha total atenção, com as costas da unha do mesmo dedo minimo da outra mão, removia a parte da meleca que se escondia sobre a outra unha e, com um movimento automático e magistral, conseguiu transportar toda a “materia” nasal para a ponta do dedo indicador.
   Agora, completamente concentrada, movia o dedo indicador sobre o polegar, em movimentos circulares, sem perder o contato com a matéria desforme que, `a esta altura começava a se esferizar. Mantinha a mão que “trabalhava” em baixo do guardanapo que formava um pequeno arco por sobre a mesa. Vez por outra recuava um pouco a mão para averiguar se seu objetivo estava sendo conseguido. Mais alguns segundos e, expôs a mão que mantinha coberta ao alcance de seus olhos.  
   Certificando-se de que a consistencia estava adequada, levantou a toalha da e colou a meleca na parte inferior da mesa.
    Abriu a bolsa, abriu o batom que agora segurava, retocou os lábios e, levantou-se ao encontro de seu destino.
   Naquele momento pensei; se algum dia voltasse `aquele hotel, `aquele cafe’ e me sentasse a uma mesa e quando, disfarçadamente, ao tentar de me livrar da minha própria meleca, encontrasse outra, no mesmo local, tentando se grudar `a minha, seria isso considerado muita sorte ou, muito azar...
   Aquela cena matinal me fez refletir...
   Talvez outra pessoa que presenciasse aquele fato ficasse totalmente horripilado...  Sera’ que meleca esta’ sempre associada a narizes grandes e feios?
   Porque tanto preconceito? O que aquela mulher havia feito nada mais era do que um ato de higiene nazal. O que seria mais apropriado? Soar o nariz e, com o alarde, despertar a atencao de todos os que ali tomavam sua refeição ou, sorrateiramente, como havia feito, praticar sua higiene de maneira sutil e recatada.
   Todos sabemos que nosso nariz e’ a melhor e mais perfeita “maquina” de produzir meleca... Um nariz afilado, bem maquiado, acostumado aos mais sofisticados perfumes  franceses, como aparentava ser aquele ao qual tao absortamente acabara de observar ou o nariz do torneiro que respira po’ de aço o dia inteiro, todos devem ser limpos de alguma maneira.
   E’ claro que rhinotillexomania não deve ser desculpada, tudo tem o seu limite mas, tirar uma melequinha de vez em quando não mata ninguém. Alem do mais e’ fato comprovado que cada uma entre quatro pessoas admitiram que tiram meleca pelo menos uma vez ao dia.
   Ponderando um pouco mais, a respeito do acontecimento, pude entender que dedo com unha grande e’ bem mais adequado para uma boa limpeza nazal. Um dedo com unha muito curta torna praticamente impossível um bom desempenho. Também, pude lembrar que não e’ adequado enfiar qualquer dedo no nariz. O dedo mais apropriado para uma boa higiene nazal e’ o dedo minimo mas, não importa o dedo usado, se lavarmos bem as mãos apos o inestimável prazer de tirar uma meleca solida e consistente, resolveremos o problema da eventual infecção sem nos privarmos do prazer maior, da conquista de uma boa meleca.
   Agora! Se você achou que deveria ter guardado esta experiência para mim, que isto foi um assunto repugnante e inapropriado, examine a própria consciência, seja honesto e diga para si mesmo se nunca, em sua vida, meteu o dedo no nariz `a procura daquela meleca especial que lhe proporcionaria relaxamento e incomparável satisfação....




Copyright 2013 Eugenio Colin

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

NO MUNDO DA LUA






                       


                                                           NO MUNDO DA LUA











    Agora era oficial, a AEB, Agencia Espacial Brasileira finalmente havia decidido aprovar o projeto de Viagens espaciais tripuladas.
   Apos a saída da NASA, National Aeronautics and Space Administration, desta atividade, criou-se um vácuo no continente por este tipo de exploração. Os Americanos agora dependiam da Rússia para concluir os projetos desta agencia, ainda em andamento. Se tudo acontecesse conforme planejado, quem sabe, no futuro, poderíamos nós dar carona aos Americanos.
   Na tentativa de criar um projeto mais inclusivo e global, a AEB decidira criar uma sub-agencia encarregada por estes novos empreendimentos. As siglas desta nova sub divisão deveriam ser postadas em Inglês, tornando assim a agencia mais competitiva e inclusiva. Com este raciocínio, foi fundada a Brazilian Utmost National Development Administration, carinhosamente apelidada de BUNDA.
   Agora seriam necessários criar uma espaçonave, recrutar e treinar astronautas. O governo Norte Americano imediatamente se manisfestou interessado em colaborar com o projeto. Uma inicial injeção de capital tornaria tudo mais fácil.
   Ficou resolvido pelos administradores da BUNDA que o primeira nave espacial Brasileira teria concepção e projetos nacionais, embora aceitasse ajuda e participações de parceiros em potencial para este projeto arrojado e inovador.
   E’ claro que na atual conjuntura mundial, uma ideia como esta deveria ser primordialmente frugal e reciclável, de certa maneira baseado nas espaçonaves Americanas como a Endeavour, por exemplo...
  
   Apos toda a burocracia inerente a um estudo desta magnitude devidamente finalizada, começaram então as decisões inerentes ao tipo de espaçonave a ser desenhada. Analisando as aeronaves Atlantis, Discovery e Endeavour, nossos técnicos chegaram `a conclusão que, um desenho mais moderno e arrojado facilitariam a construção e desempenho.
    Ficou resolvido que a espaçonave seria individual. Apenas um Astronauta que fosse capaz de executar todas as tarefas da viagem por si so’, embora o espaço interno deveria ser confortável bastante para ate’ três tripulantes. Decidiram também que as asas deveriam ser bem menores do que os das espaconaves pela qual eram inspirados, os propulsores, mais arrendondados e o nariz um pouco menos pontudo e com uma fenda bem no centro com a finalidade de, segundo os técnicos, facilitar a entrada na atmosfera terrestre ao seu retorno.
   Assim que o protótipo foi finalizado, e suas fotos divulgadas, apos uma analise critica e bem humorada, como e’ característica dos Brasileiros, nossa Aeronave foi apelidada de “Pirocao”.
   Estava lançado o programa espacial Brasileiro onde a BUNDA seria responsável pelas atividades do “Pirocao”.
   Agora, os aspirantes a astronautas seriam primeiramente treinados na FAB, onde tomariam conhecimento dos princípios básicos da aviação. Depois, seriam transferidos para uma escola de especialização.
    Se o critério da escolha fosse o nome dos candidatos, Jacinto Dores, Pinto Brochado, Cármem Violada, Tagarela Calado, jamais seriam aceitos.
    Mas, antes de exclui-los seria necessário atrai-los... O diretor do programa pensou em lançar slogans como: “Quer ficar bem longe da tua mulher? Nos te mandamos pro espaco”, “Gosta de velocidade? Que tal pilotar um foguete?”, “Venha passar ferias no espaço sem pagar nada.”, “Odeia todo o mundo? No espaço não mora ninguém!”, “Troque sua moto por um foguete”... Quando sua ideia foi apresentada na próxima reunião, ficou resolvido, por unanimidade, que seria melhor contratar uma companhia especialisada em marketing.
   Nesta mesma reunião foi decidido que os Astronautas seriam autônomos, economizando assim alguns reais que certamente seriam esperdiçados em viagens, hotéis de luxo e outras mordomias so’ para a diretoria daquela agencia. Resolveram também que o quadro de Astronautas seria composto de apenas cinco pessoas, selecionadas dentre os que se apresentassem e, a primeira missão seria uma viagem `a Lua.
   Antes de recrutar os candidatos `a Astronautas era preciso porem criar o centro preparatório. Foi criado então o Brazilian Organization of Charter Aeronautic, BROCHA, como ficou conhecido.
   Agora sim! O cronograma estava estava tomando forma. A BUNDA seria responsável pelao treinamento do BROCHA para entrar no Pirocao.
   Foram mais de onze meses de trabalho árduo, apenas para que tudo começasse a funcionar adequadamente.
   Os candidatos se apresentavam de todas as regiões do pais. Foram mais de mil e quinhentas pessoas interessadas em trabalhar com a BUNDA para ter a chance de entrar no Pirocao.
   Paralelamente, a Aeronave era projetada...
   Depois de algumas das propostas, como a de usar um motor de fusca para economizar dinheiro, por exemplo, terem sido rejeitadas, e de alguns retoques no design, sua produção era iniciada.
   Agora, depois de mais um ano de trabalho árduo, era a hora da diretoria da BUNDA tirar ferias merecidas, tentando esquecer do Pirocao por algum tempo.
   O programa, ate’ o momento, tinha tudo par ser um sucesso. A maior prova disto e’ que, os diretores de um projeto que ate’ agora praticamente não existia, estavam tirando ferias...
   Tudo corria como esperado, sem maiores imprevistos...

   Paralelamente, depois de um ano de estudos por parte dos candidatos que se submeteram a uma seleção acurada, cinco foram selecionados. Eram eles: Herculino Fraco, do Para’, Horácio Hermoso, do Rio Grande do Sul, Dolores Morrendo das Dores, da Bahia, Aeronauta Medroso, de Tocantins e Horinando Tarado, do Sergipe.
   Agora, seriam submetidos aos estudos e treinamentos do BROCHA para estarem aptos a entrar no Pirocao.
   Foi com muito orgulho que os cinco selecionados começariam, finalmente, a fazer parte do seleto clube do BROCHA.
   As primeiras semanas de treinamento cuidaram praticamente de explicações detalhadas sobre o espaço, atmosfera, efeitos da gravidade e tudo mais que fosse importante saber ja’ que, o astronauta teria que fazer tudo por si so’.
   As próximas semanas seriam dedicadas ao esclarecimentos de duvidas que os “alunos” pudessem ter a respeito da missão a que se propunham.
   As perguntas eram as mais variadas...
   Horinando Tarado queria saber...
 - Se não ha’ gravidade, que dizer que quando eu fizer coco as fezes vão ficar flutuando
   destro da espaçonave? Neste caso, na hora em que eu for almoçar, devo ter cuidado
   para não colocar o “alimento de ontem” na boca, certo?
   Ja’ Dolores Morrendo das Dores tinha outra preocupação...
 - Bem! Sendo mulher, tenho que mijar sentada. Neste caso, quer dizer que nada vai
   cair no vaso? Vou ficar toda molhada! E na hora de tomar banho? Vou ter que flutuar
   acima do chuveiro ou vou ter que ficar “voando”, correndo atrás da agua?
   Herculino Fraco porem, achava que seus colegas estavam apenas antecipando problemas. O que ele queria saber e’ como ia acender o fogão para esquentar as refeiçoes. Sem ar não ha’ chamas, certo?
   Horacio Hermoso queria saber como iria falar pela internet com a nova namorada que
finalmente conseguira arrumar, se estavam voando acima dos satélites de
comunicações. A moca era uma “fera” e ja’ tinha dito que se deixasse de falar com
ela por um dia podia arrumar outra.
   Aeronauta Medroso não tinha duvidas ja’ que ate’ aquele momento não havia
entendido porra nenhuma do que tinha sido explicado. Alem disso ja’ estava com um
medo filho da puta de tudo aquilo. So’ havia entrado naquela “fria” porque tinha sido
despejado, estava duro, e pelo menos ate’ então tinha lugar para morar e comida
para comer.
   Herculino Fraco queria saber se dava tempo de ir `a Lua e voltar antes da decisão do Campeonato Brasileiro ja’ que, tinha certeza, seu time do coração, o Tuna-Luzo seria o campeão do Brasil

   Com o tempo, quando se iniciaram os treinos nos simuladores, as duvidas, aos poucos, eram desfeitas e os “astronautas” começavam a se sentir um pouco mais confiantes.
   Todos se aplicavam bastante, com exceção de Aeronauta Medroso que, agora sim, ainda mais, estava com um medo filho da puta de tudo aquilo.
  
   Finalmente havia chegado a hora de selecionar o candidato que passaria a fazer parte do quadro dos grandes Heróis Brasileiros. Este seria, indubitavelmente, um dos maiores acontecimentos da historia do pais e, porque não dizer, da historia da humanidade. Afinal de contas, ate’ então, apenas Estados Unidos e Rússia faziam parte dos países que haviam conseguido botar um homem no espaço.
   No dia em que o “felizardo” seria escolhido, em uma cerimonia na qual os maiores mandatários do pais estariam presentes, Aeronauta Medroso chamou o Coronel Dorildo  Pinto Dodói, diretor da BUNDA e falou bem baixinho ao pe’ de seu ouvido:
-  Doutor! Tô fora... Nestes anos em que aqui estive, juntei um dinheirinho, comprei uma
   casinha e vou me mandar agora mesmo. Este negocio de ir `a Lua não e’ comigo...
   Ja’ tenho dificuldades de viver aqui, como e’ que vou viver na lua?
   Dr. Dodói pediu que ao menos ficasse ate’ o fim da cerimonia para evitar embaraços,
prometendo que ele não seria o escolhido. Aeronauta concordou.
   A cerimonia havia começado quando Horacio Hermoso chamou seu instrutor para um canto e declarou:
-  Infelizmente não vou poder mais participar deste projeto. Minha namorada esta’ doida
   para dormir comigo e disse que se eu não for para casa dela hoje, esta’ tudo
   terminado entre nós . O senhor me desculpe mas não posso perder esta
   oportunidade. A mulata e’ boa, bonita e gostosa... Alem do mais, tenho a impressão
   que este negocio de ir `a lua não e’ muito pra mim. Muito complicado!
   Assim que o prefeito da cidade começou seu discurso, ressaltando a bravura dos
Astronautas, seu senso de patriotismo, sua dedicação ao `aquele projeto, Dolores
das Dores puxou a ponta do paleto’ do uniforme do instrutor, ja’ que ela tinha apenas
um metro e trinta de altura, pedindo para ele se abaixar e falou:
-  Não vou poder ir `a Lua, se escolhida, minha menstruação estava atrasada, comprei
   ontem um teste na farmácia da base e descobri que estou gravida. Desculpe!
   Felizmente, para os coordenadores do projeto que ainda sobraram dois Astronautas e, com cuidado e discrição, ninguém tomaria conhecimento dos problemas pelo qual estavam passando.
   Na hora do sorteio, cheio de pompa e circunstância, Herculino Fraco foi o escolhido.
Mais uma vez, o estado do Para’, estaria em uma posição de destaque. O Estado era o pai do primeiro astronauta Brasileiro. Um dos pucos homens que teriam a chance de pisar em solo lunar. Estava feliz! A Horinando Tarado ficou prometida a próxima viagem.
   O resto da cerimonia transcorreu sem maiores imprevistos. Ninguém, dentre os convidados ou mesmo da imprensa, tomou conhecimento do que havia acontecido.

   Dias depois, finalmente chegava a hora do lançamento. Todos estavam apreensivamente eufóricos. Por incrível que pareca tudo transcorria de acordo com o penejamento, sem nenhum imprevisto...
   Três horas antes do lançamento, uma multidão, alem de dignatários, políticos, imprensa, ja’ estavam presentes.
   Na sala de controle, as ultimas providências e ajustes eram verificados.
   Cel. Pinto Dodói estava muito feliz. Em apenas uma hora seu sonho de muitos anos estaria realizado. Ja’ ate’ pensava nas condecorações que receberia pela ideia de um projeto ambicioso tao bem executado. Seu sorriso ia de lado a lado das bochechas. Quase explodia de tanto orgulho. Ainda estava sonhando com as condecoracoes e, possivelmente ate’ com sua candidatura `a presidência da Republica quando seu celular tocou.
-  Coronel Dodói! Aqui e’ o Herculino Fraco! Coronel, estou no hospital...
-  O que aconteceu? Indagou o Coronel.
-  Ontem fizemos uma festa la’ em casa, uma especie de comemoração e despedida ao 
   mesmo tempo, no caso das coisas não darem certo e, conversa vai, conversa vem,
   sem perceber comi uma travessa de torresmo de porco com cerveja e caipirinha.
   Esta manha acordei com o pe’ do tamanho de uma bola de futebol. E justamente o
   pe’ do acelerador e do freio da aeronave...Fui ao hospital e o medico disse que estou
   com gota. Tô aqui deitado, de perna pra cima tomando soro e sem poder levantar ou
   comer nada por cinco dias.
   Coronel Dodói nem se despediu de seu “heroi”. Saiu correndo atrás do instrutor, desesperado. Faltavam apenas quarenta e cinco minutos para o lançamento.
   Imediatamente, assim que soube das novidades, o instrutor ligou para Horinando Tarado. Ainda bem que temos outro astronauta treinado, pensou...
   Assim que completou a ligação ouviu: "Este numero esta’ temporariamente fora de serviço por falta de pagamento. Por favor, procure a operadora para maiores esclarecimentos".
   Agora o negocio estava complicado... O que fazer? A solução era cancelar a porra toda e tentar outra vez mais tarde. “Atitude derrotista” com a qual Cel. Dodói não concordou, rejeitando-a enfaticamente.
   Numa reunião de emergência, ja’ que faltavam menos de meia hora para o lançamento, apos expor os imprevistos aos integrantes da cúpula da BUNDA, o Coronel  implorava por sugestões...
   Todos calados! Ninguém sabia o que fazer... Parecia que o jeito era chamar a imprensa, inventar um monte de desculpas, um botando a culpa no outro e, esquecer condecoracoes e candidatura `a Presidência da Republica.
   Carlos Castrado, um dos diretores da BUNDA que estava sempre na cozinha fumando e tomando cafe’ levantou a mão medrosamente. Assim que alguns dos participantes olharam em sua direção, ele disfarçou, fingindo estar cocando a cabeça. Atitude própria para a situação.
   Ao ver o desespero do Coronel, levantou a mão novamente...
-  Fala Castrado! Vociferou o Coronel.
-  Bem Coronel... Tem a Maria Pedreira, a moca da cozinha... Ela sempre diz que daria
   tudo para participar deste projeto.
-  A mulher do cafezinho? Indagou Cel Dodói.
-  Ela mesma!
-  Mas que experiência ela tem em empreendimentos espaciais? Perguntou Dodói.
-  Ue’! Ela vende buscape’ na feira livre de Domingo. Respondeu Castrado.
   A vinte minutos do lançamento ninguém pode ser muito exigente, pensava o Coronel, a esta altura irremediavelmente desesperado.
-  Vai la’! Chama a Maria Peideira! Instruiu o Coronel.
-  Dona Peideira! Disse Coronel Dodói assim que a cozinheira sorridente adentrou a
   sala de reuniões.
-  Meu nome e’ Pedreira, Coronel. Corrigiu a nova quase futura astronauta.
-  A senhora estaria disposta a ir `a Lua?
-  Claro! Todas minhas amigas sempre dizem que eu vivo no “mundo da lua”... Nunca
   fui la’ mas pelo menos estou acostumada a ouvir a ideia.
-  A senhora ja‘ pilotou alguma coisa? Carro? Moto? Indagou o instrutor dos
    Astronautas. 
-   Eu propriamente não! Mas meu primo foi motorista de Lotacão no Rio de Janeiro...
    Ah! Meu irmão também fazia corrida de caminhões em São Paulo... Bom! Eu vendo
    buscape’ na feira, se e’ que isto ajuda.Informou Maria.
    Olharam uns para os outros, depois todos viraram as cabeças em direcao ao Coronel, a espera de uma decisão.
    O Coronel olhou para o relógio. Dez minutos para o lançamento...
 -  O que vocês acham? Perguntou Cel. Dodói.
   Um silencio tumular invadiu a sala. Ninguém ousava dizer nada. Ninguém estava disposto a segurar aquele “rabo de foguete”, literalmente.
-  Castrado, vai la,’ avisa a imprensa que tivemos um imprevisto técnico e que o
   lançamento sera’ retardado em uma hora. Decidiu Cel. Dodói.
-  Dona Maria, vai na cozinha, tira o avental, depois acompanha o Instrutor ate’ a sala
   dos Astronautas, veste o uniforme e siga as instruções que ele lhe fornecer. Disse o
   Coronel.
   Em menos de dez minutos aparecia Maria Pedreira toda orgulhosa, vestindo um uniforme de Astronauta, segurando o capacete com uma das mãos, acenando para o publico com a outra mão. Da mesma maneira que uma vez havia visto na foto de um “colega” Americano.
   O instrutor ainda a acompanhou ate’ o interior da aeronave onde ministrou um curso completo de astronauta em dez minutos...
   Para sua surpresa, pelo menos aparantemente, Maria tinha cara de quem assimilara em dez minutos muito mais do que todos aqueles Astronautas, que ganharam um monte de dinheiro, durante o tempo de treinamento.

   Começava a contagem regressiva...
   Pelos alto falantes espalhados pela área publica do complexo do BROCHA podia se ouvir:
 "Atenção para a contagem regressiva. Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três,
   dois... Ignição iniciada".
 "Lançamento em três, dois, um segundo"...
   Foi poeira, barulho, fogo do rabo do foguete, talvez ate’ parecido com os buscapes que Maria vendia. Aplausos e ovações também podiam ser ouvidas... Uma Festa Nacional...

   Coronel Pinto Dodói estava realmente apreensivo. Tudo agora estava nas mãos de Maria Pedreira. Sua carreira, seu destino, suas aspirações politicas...
 Eu juro que se essa mulher não fizer cagada vai ser candidata a Vice-Presidente na minha chapa.
 "Vote Pinto/Peideira, os amigos da BUNDA"... Que pena! O nome dela e’
   Pedreira... Pensava o Coronel enquanto, com lagrima nos olhos assitia `a realização
   efetiva de seu projeto..




Copyright 2013 Eugene Colin
 
 


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

COMPENSAÇÃO







                                                          Compensação.     






   Carlinhos Calado era o melhor aluno da classe. Da escola também...
   Sua necessidade de saber sobre tudo, nos mínimos detalhes, fazia com que ele fosse respeitado por professores, diretores, colegas, assim como por seus pais. E olha que seu pai era um juiz que se salientava por sua capacidade e domínio de quase todos os assuntos do presente e do passado.
   Mas, apesar disto, as vezes Carlinhos não entendia palavras mais elementares e simples que se pronunciasse. Talvez porque queria entender mais do que sua compreensão permitia...
   Um dia, em uma aula de Português,o subjeto era sobre palavras com mais de um significado.
   A palavra daquele dia era "compensação"...
   Apesar das tentativas da professora de explicar o significado daquela palavra tao comum, Carlinhos não entendeu bulhufas... Estava indignado! Para ele não havia aluno burro e sim professor que não sabia ensinar ou se fazer entender...
   Naquela tarde, chegando em casa com um semblante sombrio e preocupado, seu pai indagava o que estava acontecendo.
   Carlinhos contou que sua professora quis explicar o significado de compensação e ele não havia entendido.
   Seu pai, usando sua verborreia intelectual, na tentativa de ajuda-lo falou:
-  E' fácil meu filho...
   Compensação tem vários significados... Pode ser, por exemplo, o salario mensal que alguem recebe.    A compensação por seu mês de trabalho.
   Em matéria de direito, pode significar uma forma de se extinguir uma obrigação em que os sujeitos
   da relação obrigacional são, ao mesmo tempo ambas as partes. Neste caso, o termo compensar e'
   tomado no sentido de equilibrar os débitos entre as partes ate' compensarem-se. Por exemplo Maria    tem uma divida de dez reais com João enquanto este também possui uma divida de dez reais com          aquela. Os débitos são extintos por compennsação... Entendeu?
-  Não! Ta' muito mais complicado do que a explicação da professora.
-  Compensação e' estabelecer um equilíbrio. Entendeu? Simplificou o pai.
-  Não! Respondeu Carlinhos.
-  Compensação e' o ato ou.efeito de compensar, estabelecer uma troca. Entendeu?
-  Não! Estou confuso... Respondeu o menino.
-  E' formar um equilíbrio, contrabalançar... Entendeu? Disse o pai.
-  Quer dizer que se eu botar um gato na balança, e ver o seu peso, isso e' compensação?
-  Não e' bem assim. Disse seu pai. E mais como se, por exemplo você ficar com algo que pertence a
   outrem em troca do que outrem tem de você. Entendeu? Finalizou o pai.
-  Não entendi nada! Estou cada vez mais confuso... Disse o menino.
   A este momento, o pai, ja' sem paciência, decidindo "rasgar o verbo" na tentativa de, finalmente ser entendido, falou:
-  Presta atenção! Se eu chegar em casa e encontrar tua mãe trepando com um estranho na minha
   cama, o que você diria que eu sou?
-  Bem! Neste caso o senhor seria um corno. Respondeu Carlinhos.
-  Em compensação você seria um filho da puta. Finalizou o pai.




   copyright 2013 Eugenio Colin.
  

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

PINTO MORTO








                                                                  Pinto Morto





   Tiers estava realmente exausto...
   A industria de sutiãs e calcinhas que, juntamente com o irmão, havia herdado de seu pai havia se tornado em uma enorme multinacional com fabricas em vários países da América do Sul, Europa e Asia.
   Tinha acabado de contratar um gerente para ocupar o seu lugar e, antes de assumir sua nova posição como Diretor Internacional, resolvera tirar um mês de ferias, o que não acontecia desde que, assustado, havia voltado do Japão com certeza absoluta que o representante maior de sua virilidade iria se desprender de seu corpo, como havia enfatizado Dr. Taka Noku, o especialista que havia consultado a respeito de uma protuberância anomálica que um dia notou em seu pênis.
   Foram meses e mais meses fazendo xixi sentado no vaso, com seu membro na mão para que, quando caísse, não o perdesse para sempre e pudesse embalsama-lo, guardando como um troféu, recordação de dias gloriosos que jamais seriam revividos.
   Com o tempo, muitos meses depois, começava a chegar a conclusão que o especialista podia estar equivocado. Seu membro, aparentemente, estava normal, não doía, aquela protuberância havia desaparecido e não sentia nenhum sintoma.
   A única coisa que não queria em sua vida era outra mulher. Havia decidido que se so’ usasse seu pinto apenas para fazer xixi, não correria o risco de perde-lo. De vez em quando podia ete’, talvez, “acaricia-lo” um pouco... Como, quem sabe, um premio de consolação por sua abstinência...
   O fato e’ que, para ele, depois daquela experiência, so’ o trabalho interessava. As funcionarias da fabrica onde trabalhava começaram ate’ a comentar que ele era homossexual o que, nem de leve, o incomodava. Melhor ainda! Pelo menos elas o deixariam em paz.
   O dilema de Tiers agora era muito diferente... Onde tirar ferias? Conhecia toda a Europa. Estados Unidos, nem se fala. E’ claro que não seria maluco de visitar o Oriente Médio. China ou Japão lhe traziam tristes recordações reminiscentes do tempo em que la’ andou procurando cura para a doença que afinal de contas, aparentemente, não tinha. Estava cansado de viajar pelo Brasil. Conhecia tudo...
   “O melhor mesmo e’ ficar um mês em casa pra aquietar.” Pensou... Pra aquietar? Pá quieta’? Paqueta’?... Isso mesmo! Nunca havia visitado a Ilha de Paqueta’, bem ali, debaixo de seu nariz... E’ bem verdade que viver um mês em uma Ilha que se pode visitar em meia hora ia ser difícil mas, quem sabe, ficar la’ uns três dias, relaxando na praia, tomando água de coco, cocando o saco... Talvez não fosse uma ma’ ideia.
   Resolvido! Três dias em Paqueta’ e voltaria para casa, bronzeado e feliz, alem de economizar uma grana filha da puta.
   O interessante e’ que desde de sua excursão pelo mundo, tentando salvar seu membro, Tiers havia se tornado extremamente frugal. Um dia, na praia de Copacabana, havia reclamado a um vendedor que cinco reais por um cachorro quente era um absurdo. Disse que podia comprar um quilo de salsichas por três. Tinha ate’ vendido seu BMW e comprado um Fusca. E’ bem verdade que havia pago uma fortuna pelo Fusca, ja’ que era quase novo mas, agora andava de Fusca, o que também tinha um efeito psicológico muito positivo, principalmente com os funcionários da fabrica.
   Quando disse a seu irmão que iria tirar ferias em Paqueta’, este perguntou; “Paqueta’ a Ilha? Na Baia da Guanabara?” Pensando que seu irmão estava se referindo a algum local exótico em uma Ilha sabe-se la’ onde, no meio de que...
   Tiers morava em um apartamento de cobertura na Vieira Souto. So’ ele e a cozinheira, Dona Carlota, uma senhora de sessenta anos. Era mais seguro do que ter uma faxineira e uma empregada com trinta anos cada uma.
   Arrumou uma pequena mala, um monte de shorts, muitas camisetas, três camisas, uma calca e uma sandália, nem tomou cafe’ e, assim que o sol nasceu, la’ se foi ao encontro do paraíso perdido na Baia da Guanabara.
   Quando chegou `a estação das barcas estava com fome mas, acabara de ouvir a campainha, primeiro sinal de que a lancha estava prestes a sair. A próxima so’ daqui a uma hora. Correu e conseguiu embarcar.
   Na viagem, atraído pela paisagem maravilhosa do Corcovado que da lancha vislumbrava, pensava porque as pessoas dão sempre mais valor ao que esta’ fora de seu alcance. Ele mesmo, agora envergonhado, lembrava que nunca havia tido tempo para aquela viagem mas sempre conseguia espremer excursões Europeias em seu calendário.
   Ao chegar em Paqueta’ procurava por um bar, na estação das barcas para, pelo menos, tomar um cafe’. Talvez ate’ resolver onde iria se hospedar. Na verdade, nem sabia se existia algum hotel na Ilha... Talvez uma pousada...
   Quase deixando a estação , que não tinha nem água para beber, ja’ na calcada da praça, viu um carrinho onde estava escrito na lateral, "uma refeição completa"...
 Sera’ que e’ seguro comer isso? Pensou, olhando para uns bolinhos, dentro de uma
   forma, que mais parecia uma barca... Sera’ que isso e’ bom?
   Mas, `aquela altura, a fome era maior do que a preocupação com segurança de sua saúde. Assim sendo, chamou por uma moca, de costas para o carrinho perguntando:
 A senhora e’ a vendedora aqui?
 Sou! Ouviu em resposta...
   “O que esta mulher maravilhosa esta’ fazendo aqui, vendendo bolinhos? Deveria estar desfilando como modelo... Se eu a tivesse usado como modelo, tenho certeza que venderia muito mais calcinha ou sutiã ou qualquer outra coisa em que ela estivesse dentro...” Pensou, ao reparar o rosto e a silhueta da vendedora.
   Pegou seu bolinho, pagou, agradeceu e saiu comendo...
   Na segunda dentada, resolveu voltar. Chegou perto da vendedora e falou:
 Puxa! Isso e’ muito gostoso... Me da’ mais um, por favor...
   Olhou mais uma vez para a moca que para ele sorria, como se estivesse dizendo: “Gostou ne’!”
   Desta vez, ao invés de andar, pediu um suco de laranja que ela também vendia e sentou-se em um banco, ali perto, para melhor poder saborear sua primeira refeição do dia.
   Comia distraído, ainda prestando atenção `aquela mulher, tão linda, ali “perdida”.
   Estava quase acabando seu segundo bolinho quando, de repente, como um flash back instantâneo, espontaneamente gritou: “Olinda?”
   A moca arregalou os olhos... Nunca ninguém a havia reconhecido desde que resolvera se “aposentar”.
   Olhou bem para aquele homem... Era muito novo para ter sido um de seus “clientes” mas, a voz, o rosto... Eram realmente familiares...
-  Como você pode se esquecer de mim? Disse ele.
-  Tiers? Disse Olinda, tentando, a todo custo, conter sua emoção ...
   Ele não exitou. Aproximou-se dela, abracando e beijando carinhosamente aquela a quem alguns anos atrás pedira em casamento.
-  O que você esta’ fazendo aqui? Perguntou Tiers.
-  Eu moro na Ilha. Vem! Vamos ate’ em casa e eu te conto tudo...
-  Mas, você esta’ trabalhando... Não vou te atrapalhar? Disse Tiers.
-  Não! Vamos... Disse Olinda enquanto guardava tudo e fechava o carrinho.
   Tiers colocou a mala sobre ele e começou a empurra-lo, em direção a casa de sua amiga.
   Sem saber porque, Olinda não conseguia esconder as lagrimas que vagarosa e delicadamente rolavam por sua face.
   Ele ficou calado ao perceber, respeitando aquele momento intimo.
   Em menos de dez minutos, por entre atalhos bucólicos, estavam na porta da casa de Olinda, na Praia da Moreninha. Ela abriu o portão, guardou o carrinho e convidou Tiers a subir.
   A escadaria era longa. Os dois subiram calados. Ao chegar `a varanda da casa e se voltar para a praia, não pode conter sua admiração : “Que maravilha!” Exclamou.
   Virou-se para Olinda que, de cabeça baixa, ainda com lagrimas em seu rosto encostava em uma parede da varanda, calada...
-  Esta’ tudo bem? Estou te aborrecendo? Perguntou, com uma voz terna e carinhosa.
-  Não! Eu so’ estou envergonhada. Respondeu Olinda.
-  Envergonhada de que? Não vai dizer que me vendeu bolinho velho...
   Olinda sorriu, tentando se descontrair, limpando o rosto.
-  Vem! Senta aqui! Me conta tudo! Desde a ultima vez em que nos encontramos...
   O relato foi longo e emotivo... Começou por sua infância, relatou sobre seu namorado que a “vendera” a um conhecido para pagar uma divida, falou sobre a tristeza de ter perdido os pais em um acidente de carro, a solidão de viver sozinha, sem amigos, a crueldade de muitas pessoas que cruzaram seu caminho...Explicou sobre uma serie de infortúnios ate‘ culminar com o episodio do atentado a um jovem de quem a vida salvara... Relatou como conheceu a Praia da Moreninha, após ter lido um romance ali encenado, o sacrifício que foi comprar aquele pedaço de paraíso...  Por horas a ouvia com atenção, vez por outra arrumando os cabelos de Olinda que delicadamente caiam sobre seu rosto.
   O mesmo carinho, a mesma atenção , a mesma delicadeza que ela rejeitara, que poderia ter sido parte permanente se sua vida ali estavam novamente, ao seu encalço. Ha’ muito tempo Olinda não vivia momentos tão ternos, cheios de emoção ... Que contraste com os últimos dias em que, nas ruas do Rio de Janeiro, procurava por quem pudesse pagar mais por sua companhia rigorosamente cronometrada. Ou mesmo comparado com o marasmo que seus dias haviam se tornado.
   E’ verdade que estava segura, em paz mas, era como se estivesse deixando sua vida passar por ela, carrega-la, ao invés de vive-la.

   Tiers ouvia tudo atentamente, sem dizer uma palavra. Quando ela se calou, ainda consternada, segurando sua mão convidou-a para almoçar no Rio, ou em seu local preferido naquela Ilha encantadora.
-  Que tal se eu cozinhar para nos? Disse Olinda.
 - Melhor ainda! Respondeu Tiers, que havia denotado muita emoção e ansiedade em
   Olinda enquanto conversavam... Queria lhe dar tempo para relaxar, descontrair,
   poder  respirar aliviada, tomar consciência que aquilo tudo ja’ fazia parte do passado,
   fato que, talvez ela ainda não tivesse se dado conta.
-  Quer que eu compre alguma coisa para você preparar? Indagou Tiers.
-  Abre esta porta atrás de você e da’ uma olhada. Instruiu Olinda.
   Ao olhar para o lado de fora, pela porta da cozinha, pode observar um terreno que subia a encosta do morro, parecendo não ter mais fim. No ponto mais alto que sua vista conseguia alcançar, um jardim Japonês com centenas de plantas e flores de cores harmoniosas. Uma escada em pedras que, la’ de cima, terminava no final de uma área gramada, ao lado de uma horta repleta dos mais diversos tipos de legumes e verduras... O perfume das hortaliças, e especiarias misturando-se com o cheiro de jasmim e outras flores davam `aquele local uma fragrância que dificilmente seria esquecida.
   Tiers estava perplexo. Sabia que Olinda vivera uma vida cruel mas, voltar diariamente para aquele local, certamente teria um efeito catalizador, capaz de redimir qualquer “pecado”.
   Estava imóvel. So’ poder olhar tudo aquilo, sentir aquele perfume valia mais do que um mês de ferias em qualquer parte do mundo...
   Olinda, orgulhosa, vagarosamente chegou a seu lado, com cuidado para não tira-lo do transe em que momentaneamente vivia.
-  Bem vindo ao meu mundo particular... Disse ela, de bracos cruzados, com um sorriso
   quase imperceptível, com o rosto ainda marcado pelas trilhas das lagrimas que
   espaçadamente insistiam em abrir novos caminhos como se estivessem tentando
   leva-la a de volta um passado não muito distante.
-  Olinda! Isto e’ uma maravilha... Nunca vi nada como isto... Não consigo sair daqui...
-  Obrigado! Vem, vamos escolher o que comer... Disse ela, pegando Tiers pela mão e
   o conduzindo em direção `a horta.
   Enquanto Olinda cozinhava, com um cálice de vinho `a mão, Tiers a observava a uma distancia discreta. Sem muita maquiagem, parecia um pouco mais velha. Suaves rugas cicatrizavam seu rosto, compondo uma beleza indescritível. Quantos anos deveria ter agora? Pensava... Talvez trinta e cinco? Seu corpo parece estar melhor do que sua lembrança fotografara... Os cabelos dessarrumados lhe davam uma beleza incrível. A voz que ouvia, vez por outra, indagando algo ou pedindo que lhe passasse isto ou aquilo, era de uma suavidade musical acolhedora... Uma mulher perfeita... “Agora me lembro porque me apaixonei por ela” Pensou...
   Tiers estava quieto. Muito pensativo para o conforto de Olinda...
 - O que houve? Você esta’ tão calado... Disse Ela.
 - Muita coisa ao mesmo tempo... Te encontrar assim, inesperadamente...
 - A quanto tempo você mora aqui?
 - Uns cinco anos... Quando comprei a casa, estava meio abandonada. Aos poucos a
   restaurei ao projeto inicial, depois construí o jardim, a horta... Nos finais de semana
   aqui ficava, reclusa, tentando esquecer, fingindo ser uma pessoa completamente
   diferente daquela que “passeava” pela Cinelândia.

   A mesa rustica que ocupava a pequena sala de jantar estava caprichosamente decorada. A simplicidade daquela casa dava ao ambiente um toque de sofisticação difícil de igualar.
   Aos poucos, conversando sobre amenidades durante o almoço, Olinda começou a se descontrair, havia ate’ sorrido algumas vezes ao ouvir a historia da saga penilica pela qual seu convidado havia passado `a procura da cura para um problema que, na realidade, não existia.
   Ao som de Miles Davis, Oscar Peterson e outros mestres do Jazz,  a noite encontrava   os velhos conhecidos que ainda trocavam confidências sentados `a varanda, tendo a praia da Moreninha como paisagem principal.
- Quais são seus planos, esqueci de perguntar... O que esta’ fazendo aqui? Disse Olinda.
  A DuAssiens cresceu muito. Assumi o cargo de Diretor Internacional e antes de
começar a viajar pelas fabricas resolvi tirar alguns dias de ferias...
-  E veio para em Paqueta'? Disse Olinda.
-  Você sabe que esta e’ a primeira vez que venho aqui?
-  Esta' arrependido... Pela surpresa? Indagou Olinda.
-  Sabe? Agora pensando bem... Ainda não consigo entender porque você não quis
   casar comigo... Sempre achei que você gostava de mim...
 - Eu me sentia suja. Não era digna... Alem do mais você era tão jovem... Antes de
   pensar em romance, de amar alguém, teria que me redimir, me livrar dos pecados,
   ser digna...
 - E agora? Perguntou Tiers.
 - E agora o que? Disse Olinda.
 - E agora, ja' se redimiu! E agora, ja' se livrou dos pecados! E agora, ainda sou muito
   jovem! E agora, você casa comigo?
   Olinda levantou a cabeça espontaneamente assustada, arregalando os olhos e disse:
-  O que?
-  Você não tem namorada? Ou gosta de alguém? Perguntou Olinda.
 - Tive muitas namoradas, centenas de namoradas... Mas depois da minha luta pela
   manutenção do meu xara' aqui, nunca mais tive ninguém. Me cansei de aventuras,
   cheguei a conclusão que minha adolescência havia terminado havia muitos anos.
   Sabe? Depois daquele dia que você de deixou na Cinelândia, meu coração aos
   poucos enrijeceu... Por um lado, gostava de você, da tua companhia, gentileza,
   carinho, atenção , mas tinha medo que alguém me reconhecesse a teu lado e te
   causasse problemas. Disse Olinda.
   Sentados juntos, Tiers ainda “brincando” com fios de cabelos de Olinda entre seus dedos, a puxou delicadamente para perto, segurou seu rosto e a beijou amorosamente. Ela nem lembrava da sensação de um beijo. No pouco tempo em que se conheceram no passado, nunca haviam trocado um beijo.
   Sentimentos novos começaram a invadir seu corpo, sensações que nem lembrava existir a dominavam, sua mente urgia por carinho, desejo de possuir um homem, como jamais havia tido oportunidade, iniciar um contato, dominar alguém, se entregar, ao invés de fingir... Gritar de prazer, ao invés de chorar de dor. Seu primeiro namorado era machista, a usava para sua própria satisfação , ignorava o que ela sentia. O amor que iludia seus pensamentos estava apenas em sua mente, não na realidade daquele primeiro relacionamento de menina.
   Em poucos minutos percebeu que  as ideias que fazia de Tiers eram completamente diferentes. Se `aquela época soubesse que iria experimentar todas estas sensações, certamente não teria sido tão fácil se separar dele.
   A noite de amor foi intercalada por pequenos cochilos esporádicos...

   Os primeiros raios de sol refletidos nas águas da Baia da Guanabara feriam delicadamente aqueles olhos mal dormidos, saciados e satisfeitos...
-  Vem! Deixa eu preparar um cafe’ para nos... Disse Olinda, levantando sua “presa” pela mão...
 - Eu quero aqueles bolinhos de ontem... Disse Tiers, abracando o corpo semi nu de
   seu antigo amor, pelas costas, fechando o roupão ainda aberto que mal a cobria.
   Apos ao desjejum, decidiram ir `a praia que desde o dia anterior ele admirava. Ali perderam a manha inteira, descontraídos, felizes, interrogativos...

   A mesma rotina do dia anterior se repetia. Tiers adorava estar na cozinha, ao lado de sua companheira. Não sabia cozinhar e, talvez por isso mesmo, admirasse tanto a destreza, riqueza de movimentos de um lado para o outro, aqui e ali, abrindo portas de armários, deitando especiarias em panelas semi abertas, regadas ao vinho, azeite, leite de coco...
-  Tive uma ideia! Me diz o que você acha... Disse Tiers, enquanto relaxados, sentados
   `a varanda com as pernas esticadas ainda saboreavam o paladar do almoço, que
    recalcitrantemente permanecia em suas bocas...
 - Vamos viver aqui! Trabalho de segunda a quinta... Quando tiver que viajar você me
   acompanha... Em reuniões de negócios, nada melhor do que uma esposa para
   transmitir confiança e responsabilidade. Afirmou Tiers.
   Olinda olhava para ele, contrita, pensativa...
 - Vamos ate' o apartamento de meu irmão amanhã. A esposa dele te ajuda com os
   preparativos para o casamento. Ainda tenho um mês para nossa lua de mel, aqui
   mesmo, se você não se importar.
 - E sua casa? Onde você mora? Perguntou Olinda.
 - Em Ipanema, na Vieira Souto... Poderíamos morar la', se você preferir... Disse Tiers.
-  Sabe? Em um dia tive mais emoções, carinho, amor do que em toda minha vida...
   Tenho medo... Confessou Olinda.
 - Meu amor! Eu penso que nossa vida e' como uma estrada. Quando nascemos
   estamos no ponto de partida. `A medida em que por ela caminhamos encontramos  
   desvios, alguns deles, depois de algum tempo voltam `a mesma estrada, outros nos
   conduzem ate' o abismo. Ao entrarmos em qualquer destes desvios não sabemos
   antecipadamente ate' onde seremos levados mas, temos sempre a opção de
   voltarmos e buscar outro caminho se, daquele no qual estamos avistarmos o
   precipício. Você percorreu o seu caminho. Resolveu parar, refletir, se purificar, como
   você mesma disse, antes de continuar. Esta e’ a segunda vezes que nossos
   caminhos se cruzam... Por acidente, ou por destino, ou por coincidência... Podemos
   ignorar tudo e seguirmos atalhos separados ou, podemos juntar nossas mãos e
   percorrermos juntos o resto da estrada a nos destinada. A decisão e’ nossa.
   Ninguém nos obriga, ninguém nos impõe. Se o que experimentamos nos agrada,
   devemos repetir... Você me agrada, quero te repetir sempre, dia apos dia... Quero
   poder segurar tua mão e agradecer a Deus pela oportunidade de ter te encontrado...
   Duas vezes...
   Olinda levantou, vagarosamente caminhou ate' a sacada da varanda, olhou para Tiers, correu em sua direção, sentou-se a seu colo e o cobriu de beijos sem deixa-lo respirar...
-  Armand, meu irmão! A Estela esta’ ai?
-  Tiers? Respondeu Armand, ao atender o telefone. Onde você esta’? Finalizou...
-  Presta bem atenção... Disse Tiers. Amanha vamos nos encontrar para ela ajudar
   Olinda a organizar nosso casamento...
-  Quem e’ Olinda? Que casamento? Respondeu Armand.
-  Olinda e’ minha noiva. Vamos nos casar...
-  Tiers, você não tem nem namorada... Lembrou Armand.
-  Eu sei! Encontrei ela ontem...
-  Seu maluco! Você vai casar com uma mulher que conhece ha' um dia?
-  Não! Ha' muito tempo. Depois eu explico.
-  Mas teu pinto só serve pra fazer xixi. Teu pinto esta' morto... Ela sabe disso?
-  Isso e’ o que você pensa! Você precisa ver o que aconteceu ontem... Aquele monte
   de médicos não sabem nada... Amanhã, pergunta a Olinda se ela segurou e brincou a noite inteira
   com um pinto morto...




Copyright 2013 Eugenio Colin