sexta-feira, 29 de junho de 2018

SMORGASBORD










                                                                Smörgåsbord











   Agenor Guardanapo havia decidido mudar de vida no ano novo...
   A idade estava chegando e ele temia que, se continuasse com o tipo de vida que levava, teria sérios problemas no dia do juízo final...
   O cara era uma desgraça... Bebia, fumava, namorava todo mundo... Não queria saber se ela era velha ou nova, feia ou bonita, gorda ou magra. O coração batia, ele comia! Adorava orgias e tudo mais que fosse contrario aos ensinamentos de Deus.
   Todo dinheiro que ganhava, gastava em bebida, mulheres, cigarro, gorjeta para dançarinas, peladas e' claro... Coisas assim.
   Aos quase sessenta anos de idade, não tinha nada em sua vida de que pudesse se orgulhar. Havia feito besteira a vida inteira mas, agora era diferente. Estava decidido...
   Não sabia se estava cansado da vida que vivia ou arrependido do modo que sempre viveu. Apesar de seu estilo de vida, frequentava a igreja e era uma pessoa boa, de princípios. Praticava suas incoerências mas nunca prejudicou ninguém ou permitiu que outrem pagasse pelas consequências de seus atos.
   Acontece que o homem era pior do que São Tome', tinha que ver para crer. Ver duas vezes antes de crer uma so'.
   Naquele Domingo, depois da missa, foi ate' a sacristia, conversar com o padre.
-  Dom Cascudo, bom dia! Posso falar com o senhor, um minuto?
-  Claro meu filho! Respondeu o sacerdote.
-  E’ o seguinte seu padre: Tô querendo mudar de vida, ser um melhor cristão para que,
   quando morrer poder ir para o céu. O problema e’ que não sei como e' la'... Gostaria
   de dar uma chegada no céu e no inferno, so' para ver a diferença e, depois de ver como e', ter mais um incentivo para mudar de vida.
-  Nunca ouvi falar disso mas, tudo bem! Vou ver o que posso fazer. Respondeu o
   padre. Porque você não acredita? Não e' mais fácil? Finalizou.
-  Pode ser para o senhor mas, pra mim, so' vendo... Aquela historia do Tome', lembra?
   Normalmente, “Vou ver o que posso fazer...” pode ser “traduzido” como “Não enche meu saco!” Mas, mesmo sem saber porque, ele achava que arrumaria um modo de alcançar sua meta.
   Agenor continuava sua vida, agora dando uma trégua a seu “modus vivendi”. Pelo menos ate' se certificar que as diferenças entre la' em cima e la' em baixo valiam a pena...
   Dois domingos depois voltou a falar com Padre Cascudo...
-  E ai seu padre? Conseguiu alguma coisa?
-  Meu filho, pensei que você estivesse de brincadeira...
-  Seu padre! E' serio! Trata-se da minha salvação eterna... O senhor tem que me ajudar.
-  Meu filho, me da' mais uma semana. Vou resolver isto. Com certeza!
   Duas semanas depois, em uma missa, Dom Cascudo chamou aquele fiel e pediu para que, depois da missa, fosse falar com ele.
   Agenor não parou de tremer a missa toda. Estava tão nervoso que, mesmo sem saber, rezou dois terços, pratica que havia adquirido algumas semanas antes, com a finalidade de limpar um pouco sua barra. Não que tivesse a intenção de rezar mais do que deveria mas, com aquele nervosismo, sua mão tremia tanto que pulava uma conta para frente e duas para trás.
   No final da missa, la’ foi ele em direção `a sacristia... Ao olhar para o padre, ainda tremendo de nervoso falou:
-  Seu Padre, e' melhor deixar pra la'. Não sei se quero saber sobre coisas que não devia...
-  Agora e' tarde meu filho... Ja' ta' tudo combinado. Assim que eu fechar a igreja você  vai    ter sua resposta. Disse Dom Cascudo.
   Enquanto o padre fechava a igreja, Agenor, apoiado a uma mesinha da sacristia, na qual tentava se segurar, fez com que os santinhos sobre ela começaram a cair, um por um, espatifando-se ao chão. Cabra esperto, sorrateiramente, levantava a toalha que forrava a mesinha e com a ponta dos pés empurrava os cacos quebrados para embaixo dela... Ate' chegou a pensar se isso seria considerado pecado... Mais um!
   O padre voltou e, enquanto tentava acalmar sua “ovelha negra”, uma luz mais clara do que a do sol invadiu a igreja e procurou seu caminho ate' onde estavam.
   Assim que toda aquela claridade penetrou o interior completamente, um anjo apareceu dizendo:
-  Venha meu filho, vamos fazer um “tour” pela vida eterna...
   Agenor nem conseguia falar...
   O anjo pegou o homem pela mão e saíram atravessando parede, porta, muro... Apos subir um pouco no espaço, tomaram velocidade e desceram como um foguete, passando pelo chão, entrando na terra e viajando alguns minutos por uma escuridão assustadora. Agenor se sentia como se estivesse viajando em uma montanha russa.
   Finalmente, pararam por alguns segundos e, de repente, uma claridade começou a revelar uma enorme mesa, repleta de comida, um Smörgåsbord, melhor dizendo. Todas as iguarias do mundo sobre uma mesa que se perdia de vista, com cadeiras de ambos os lados e, as pessoas sentadas em frente a tudo aquilo magras, com o semblante de desespero, famintos, sem saber o que fazer ja' que a distancia entre as cadeiras e o centro da mesa era muito grande e, as colheres `a sua frente, atadas `as mãos, com mais de um metro de comprimento, eram suficientes para alcançar as travessas de comida mas, por serem muitos grandes, não permitiam que conseguissem levar qualquer alimento `a boca e e' claro e, os alimentos estavam muito longe para serem alcancados por suas maos.
   O anjo olhou para Agenor e disse:
-  Ja’ viu como e’ o inferno?
   Ao reparar o aceno afirmativo que o homem fez com a cabeça, o anjo falou:
-  Vamos ao céu!
   Depois de minutos rompendo a escuridão, ainda de mãos dadas, saíram sobre as ruas velozmente e voavam em direção ao firmamento...
   Chegando muito acima das nuvens, pararam sobre uma imensidade toda azul claro...
   Novamente, apos alguns segundos, outra imagem se revelava. A mesma cena... Uma mesa enorme exatamente igual `a que haviam visto no inferno. As mesmas cadeiras, as mesmas colheres, as mesmas comidas, tudo exatamente igual. Mas as pessoas sentadas `a mesa estavam alegres, bem nutridas, coradas, felizes...
   Agenor não entendeu nada mas ficou curioso...
   O anjo olhou para Agenor e disse:
-  Ja’ viu como e’ o céu?
   Depois de notar o aceno afirmativo com a cabeça, o anjo pegou o homem pela mão e voltaram para a sacristia da Igreja.
   Em la’ chegando, Dom Cascudo ainda aguardava por eles.
   Ao colocarem os pés no chão, Agenor reuniu todas suas forcas e, vencendo o pavor, perguntou ao anjo:
-  Não entendi nada! Pelo que vi não ha’ diferença entre o céu e o inferno. Com colheres  
   daquele tamanho, ninguém consegue se alimentar. Mas porque as pessoas no céu estão 
   tao felizes e as do inferno tao sofridas?
   O anjo olhou para ele e, com um sorriso sutil explicou:
-  E’ porque no céu, uns alimentam aos outros.

   "Nossa vida pode ser muito fácil ou muito complicada. A opção e’ nossa!"... Pensou Agenor, sem conseguir tirar de sua mente aquele Smörgåsbord.






Copyright 10/2013 Eugenio Colin
   

sexta-feira, 22 de junho de 2018

MY HOME TOWN








                                                           My Home Town








   John Banks acabara de desembarcar em Moscou para acompanhar a Copa do Mundo.
   O Inglês nascido e criado em Londres tinha três paixões... Futebol e Mulatas e Copa do Mundo!
   Para comemorar seu aniversário de dezoito anos, seus pais lhe deram um presente que mudaria a vida do filho completamente: uma viagem a Moscou para assistir aos jogos do torneio. Acostumado a uma cultura mais fria e menos liberal, o cara ficou maluco quando viu tanta mulher Sul Americana, principalmente Colombianas e Brasileiras que desfilavam pelas ruas da cidade com barrigas e coxas de fora. Nunca havia visto tanta mulher quase "au naturel". A partir daquele dia jurou para si mesmo que so' aceitaria em sua vida mulheres morenas e, digamos, bem dotadas! Depois daquelas ferias, de volta a seu país natal, sabia que iria procurar, procurar, procurar e, adivinha! Não iria achar nenhuma morena para namorar. Resultado! Abstinência total.
   O cara era teimoso ou, digamos, determinado. Preferia ficar so' do que com aquelas Inglesas “sem graca” e brancas pra cacete...
   Agora sim! Estava no caminho certo. Sua ideia era tentar matar dois coelhos com uma única porrada, quer dizer, uma paulada so'.
   A Copa do Mundo estava prestes a começar e, e' claro não poderia deixar de acompanhar a seleção de seu país e, quem sabe, talvez ate' arrumar uma namorada. O cara estava realmente precisado...
   A seleção Inglesa não poderia ter encontrado local melhor para se concentrar... Estavam ao lado das selecoes da Colômbia, México, Peru e Brasil. Ali, tinha mulata pra cacete... O cara se sentia melhor do que pinto no lixo. Andando pelas ruas da cidade era muito difícil olhar para frente. A toda hora “uma delas” atraia sua atenção total...
   Banks estava tão desorientado que um dia, passando por uma loja do centro da cidade, comprou uma peruca, so' para poder andar de metrô bem colado `as mulheres sem ser notado. Passou mais de três horas viajando de underground, pouco antes dos jogos, daqui para ali... “What a feast!” Pensara varias vezes naquelas viagens.
   Enquanto torcia para ver o seu time passar para a segunda fase da Copa do Mundo, continuava se "divertindo". E' bem verdade que ja' havia perdido o primeiro jogo da Inglaterra, em compensação, ja' havia “namorado” mais de seis mulatas.
   Seu pensamento era que os jogos poderiam ser assistidos pela televisão em seu quarto de hotel, acompanhado por uma das “selecionadas”.
   Finalmente, o que estava esperando... Um jogo da Inglaterra. Para John era difícil acreditar que o grande dia havia chegado. Naquela manhã que havia acordado cedo, depois de seu cafe’ matinal ainda teve tempo de dar uma passeada pela cidade. A ideia era de poder ver mais um monte de mulher para compensar a quantidade de homem que iria ver durante o jogo.
   O estádio estava quase lotado. Gente para todo o lado. Mr. Banks havia escolhido seu assento cuidadosamente. Por coincidência divina e providencial, `a sua frente estava sentada uma mulata aparentemente muito bonita. Ainda não havia visto seu rosto mas teve a oportunidade de perceber que se tratava de uma mulher passional pela maneira que fraseava sua emoção:
  “ Acaba com a porra do gringo!”  “Mete porrada!”  “Passa a mão na bunda do loiro!” “Segura o filho da puta, não deixa ele chutar, seu babaca!”... Foram algumas das frases que John ouvia mas, não entendia quase nada. O que certamente havia percebido e' que a “moça” tinha um corpo escultural e uma bunda capaz de amortecer qualquer queda de um terceiro andar, alem da tatuagem que dizia "nem pensa!" exposta toda vez que pulava para acompanhar uma jogada emocionante.
   Por mais que tentasse, John não conseguia prestar atenção ao jogo... Pelo menos enquanto aquela mulher estivesse pulando, gesticulando, gritando e, encantando o felizardo.
   Banks so' conseguiu saber que o primeiro tempo do jogo havia terminado empatado quando, sem querer, deixou seu olhar escapar em direção ao placar... A partida estava 0 x 0 mas, aquela mulata estava vencendo, todas as outras, por 100 x 0.
   De repente, a mulher da' uma levantadinha da cadeira para esticar as pernas. Assim que se levantou, foi alvo de um pão, daqueles de cachorro-quente, que literalmente se abrigou entre seus lindos cabelos longos e cacheados. Calmamente, sem nem virar para trás, pegou o “projetil” com uma das mãos e o embrulhou em um guardanapo que, providencialmente, trazia no bolso.
   Mal terminara de guardar o pão e, uma salsicha acertou sua orelha, escorregou pelo pescoço e se abrigou entre seus seios... Agora, alguém havia se excedido, e muito!
   A esta altura o Inglês estava estático. Não sabia o que fazer. E’ claro que, dentre aquela multidão seria impossível reconhecer o perpetrador daquele ato injurioso. Banks estava ate' curioso em ver qual seria a reação daquela mulher que, agora se virava para trás, tentando, quem sabe, identificar o desrespeitador...
   Calmamente, a mulata tirou a salsicha dos peitos, colocou dentro do pão que havia guardado, embrulhou o cachorro-quente improvisado e, ainda de costas para o gramado, encarando o resto da arquibancada, deu uma mordida e gritou, a todos pulmões:
-  Olha so'! O filho da puta que me acertou com o cachorro-quente vê se me manda um guarana pra ajudar a descer melhor... Seu babaca!
   Banks não tirava os olhos da mulher, corajosa e destemida. Estava ate' um pouco intimidado por aquela reação inesperada. Mesmo sem dominar perfeitamente o idioma que ouvira, conseguiu entender e, consequentemente ponderar, embora para si mesmo, que se o cara jogasse la' de cima uma lata de refrigerante, certamente iria, desta vez, fazer um estrago considerável naquele rosto tão lindo.
   Pela primeira vez, desde que sentara, havia visto o semblante da mulata... Lindo! Muito Linda! pensava com seus botões...
   Assim que a mulher encarou Mr. Banks, que não tirava o olho dela nem para piscar, se encantou com o gringo. Ele era alto, loiro, olhos azuis, braços musculosos, plexo bem definido... Um verdadeiro galã de cinema.
   Com uma atitude espontânea, incontrolável, aquela bela mulata moveu sua linda mão em direção ao queixo de seu admirador, apertando-o com suavidade e abriu o maior sorriso de admiração.
   Então, o negocio pegou! John levou o maior susto de sua vida quando percebeu que aquela linda mulata tinha apenas dois dentes. Um na arcada superior e outro na inferior. Uma coisa horrível!
   Instintivamente, em uma reação praticamente involuntária, se levantou, apavorado, ao mesmo tempo que outras partes de seu corpo que estavam "de pe'" ha' muito tempo murchavam, e saiu correndo, subindo os degraus da arquibancada de dois em dois e falando, em voz alta:
-  To witness such terrible smile I didn’t need to travel that far... We have plenty of women with bad      teeth in my home town...







Copyright 6/2018 Eugenio Colin

quinta-feira, 14 de junho de 2018

PICASSO











                                                              Picasso









   Arnudo Bichou, acabara de realizar o sonho de sua vida... Estava super feliz e agradecido `a sua esposa Marta Talco pelo nascimento de seu primogênito.
   Amante das artes e, ao mesmo tempo talvez tentando vingar-se de seus pais, decidiu dar a seu filho o mesmo nome de um dos maiores pintores da humanidade, a quem admirava severamente...
   Seu filho se chamaria Paulo Diego Francisco de Paula João Nepomuceno Maria dos Remédios Cipriano da Santíssima Trindade Mártir Patrício Luiz Clitóris e Picasso Bichou, tradução literal do nome do famoso pintor com apenas uma adaptação que, segundo ele parearia com a alcunha que definiu o pintor através dos tempos. O “Bichou” só entrou ali para dizer que o menino não era filho de chocadeira.
   Após alguns anos, quando o garoto começou a frequentar a escola, alvo de maldosas gozações, percebeu que talvez, em sua vingança, tivesse cometido um erro maior e mais grave do que seus pais. Só esperava que, que a adaptação ao nome do pintor não se tornasse uma sugestão maleficamente profética, nem desse ideias a seu herdeiro de se tornar um hermafrodito.
   Anos depois, sempre pensando no fato, andava um pouco mais tranquilo, depois que a terceira empregada doméstica se demitiu após relatar que o rapaz abriu a fechadura de seu quarto e, quando ela acordou assustada, viu o Picasso balançando `a sua frente já concluindo seu intento carnal que a embranqueceu com pavor...
   “Dos males o menor!” Pensava Arnudo, toda vez que acertava as contas com a empregada, tentando se desculpar pelo filho quando, na realidade, estava era muito satisfeito... Pelo menos seu filho era macho e, reparando bem, quando as “moças” a ele davam as costas, até que o menino tinha bom gosto... Especialmente Ermengarda, a ultima a se demitir, não era de se jogar fora. Pensando bem, dava de dez a zero na Marta Talco, sua esposa. Sentiu foi uma certa inveja do menino ao pensar: “se fosse eu ela não escapava, nem que eu tivesse que dopar a mulata”...
   Mas, o pior estava para vir...
   Aos dezoito anos, ao iniciar o cursinho para o ENEM, seus colegas, mais maldosos, ao saberem de seu nome completo, esqueceram o “Picasso” e, por causa do penúltimo nome, o apelidaram de “Bichaldo”.
   Ai o cara pulou... Embora na realidade, sabia ele, seus atributos físicos não fizessem jus a seu ultimo nome, ele não se importava... Ser chamado de Picasso era uma honra. Alem disso, ninguém nunca havia visto... Como poderiam desmentir ou apelida-lo que Piquinha?
   Agora, “Bichaldo”? Era demais! Não podia tolerar tamanha ofensa...
   Certo dia, ao saírem da aula, procurou Zé Melâncio para tomar satisfações... Tarde demais! A esta altura, todos os colegas sabiam que ele era o “Bichaldo”.
   Xinga daqui, argumenta dali, nada! Mesmo que o Melâncio quisesse, nada poderia ser feito. A única solução cabível era seguir pelas vias físicas, ou seja, cobrir o cara de porrada... Dançou! O colega lutava Karatê e só não machucou mais o Bichaldo porque ficou com pena...
   E agora? Se pelo menos o tivessem visto tomar banho e o apelidassem de Pintinho não seria tão humilhante...
   Em sua mente, a única maneira de se vingar de Melâncio, metido a galã, era namorar a garota mais bonita do cursinho...
   Por uma semana, Bichaldo, quer dizer, Picasso, prestou enorme atenção a todas as meninas. Não falava nada. Só butucava... Tomava em consideração altura, atributos físicos, desenvoltura, comportamento, som da voz, cor dos olhos... Enfim era como se fosse juri de um concurso de Miss Brasil...
   Reservou o Sábado para o desempate entre as duas melhores qualificadas: Ingrid, uma loira alta, lábios finos, olhos azuis, nariz afilado e empinado, filha de Suecos, rica pra cacete, a notar pela maneira como se vestia, gestos sofisticados, fala pausada, vocabulário próprio e pensado... O tipo da garota que o Melâncio gostaria de namorar e, Maria Mujinha, uma mulata baiana, de olhos verdes, lábios grossos, cabelos pretos e lisos, nariz grosso e chato, aparentemente muito simples e pobre mas... olha! Mais bonita do que qualquer mulher do mundo, além de, obviamente, ao notar seu rebolado, que fazia com que as saias rodadas que sempre usava, se movessem de um lado para o outro, como aquelas havaianas dançando “hula”, gostosa pra cacete.
   Mas a duvida persistia... O fato e' que, os olhos verdes da mulata não saiam da cabeça do Bichaldo, quer dizer, do Picasso mas, por outro lado, namorar a Ingrid significaria dar um tapa na cara do colega abusado.
   Outro problema... Como iria se apresentar `as colegas? As aulas haviam apenas começado e os colegas ainda estavam se conhecendo, não havia tido tempo de muita interação entre eles. E’ claro que não poderia chegar para uma ou outra e dizer:
 Ola! Sou o Bichaldo...
 Ola! Sou o Picasso, pior ainda. Seria como fechar as portas do futuro para sempre.
   Mas, o cara era esperto, apos pensar por algum tempo resolveu que um “encontro” casual seria a melhor opção... A escolhida receberia um encontrão na bunda, quando estivesse de costas para ele. O ato teria força suficiente para fazer com que a eleita deixasse cair todos os livros que abracava, sem, e' claro, machucar ou derrubar a “felizarda”.
   Genial! Agora só faltava escolher quem.
   Aquela duvida estava fazendo com que o Picasso ficasse com a cabeça dolorida.
   Aqueles olhos verdes... Mas, por outro lado, namorar a Maria significaria abdicar da vingança para sempre e, talvez abrir o caminho para o seu desafeto... O Melâncio jamais chegaria perto de uma mulata... Ele era muito esnobe, ja' estava bem claro.
   E’! Não tinha jeito... Tinha que namorar a branquela... Decidido!
   No dia seguinte, logo `a entrada do cursinho, a oportunidade ideal se apresentou. Na hora em que mencionou entrar na porta da sala, Ingrid correu para entrar `a sua frente.
   “E'” agora!” Pensou!
   Assim que se preparou para o “ataque” recebeu uma porrada que o atirou longe da Ingrid, de seus pertences e, da porta da sala.
   Ainda estava meio grogue, sem saber o que aconteceu quando viu bem `a sua frente um par de mãos delicadas, unhas vermelhas e bem manicuradas... Olhando um pouco mais acima pode ver aquele par de olhos verdes que rondavam seus sonhos por alguns dias e uma voz desgrenhada dizendo:
-  Num si avexe não colega... Sô meia zangaralhada assim mesmo... Mi dexa ajudar!
   Nosso amigo estendeu a mão, sem pensar... Quando, já de pé, perto da mulata, foi por ela abraçado, seu joelhos fraquejaram. Só não caiu ao chão porque Maria o segurava pela cintura... O coração do Picasso batia tao rápido que ele pensou que ia morrer ali mesmo...
   “A Ingrid? Esquece a branquela, não troco essa baiana por nada na vida”... Pensou enquanto era paparicado pela colega.
   Agora mesmo e' que o apelido pegou. O Bichaldo estava namorando a única mulata da classe mas, quer saber? O cara nem ligou, estava era feliz... Passaram a sentar juntos, se ajudar e destacarem entre os outros alunos...
   Uma semana depois, Maria Mujinha o convidou para conhecer seus pais.
   Picasso não era muito familiar com a cultura Baiana. No almoço, ao lado da nova namorada, comeu acaraje', vatapá e arroz doce de sobremesa... Adorou!
   Resumindo a história... Picasso e Maria Mujinha nunca mais se separaram... Estudaram juntos. Se formaram juntos. Fundaram sua própria firma de arquitetura e se mudaram para uma cidade do interior de Minas Gerais onde continuaram a prosperar...
   Anos mais tarde, quando se casaram, na noite de núpcias, Maria Mujinha confessou que se havia se apaixonado por ele, `a primeira vista e, como era muito tímida, bolou aquele esbarrão para que pudessem se aproximar.
   Naquela mesma noite descobrira também, ja' que haviam feito um mutuo voto de castidade ate' o casamento, que seu agora marido, não fazia exatamente jus ao seu nome, ou apelido se preferirem mas, em compensação havia presenciado uma especie de “milagre dos peixes”... Acabara de ver algo muito pequeno se multiplicar em tamanho de uma tal maneira imponente que ate' ele mesmo, Picasso,  se impressionara...
   O fato e' que hoje, estava de saída, `as pressas para o Aeroporto da cidade, onde receberia seus pais e os de Mujinha, para que juntos comemorassem o nascimento da primeira filha dos dois...
   E’ claro que havia aprendido a lição. Não queria saber de nomes como Bibinha, Cabrocha, Luluca, Periquita, Xana ou coisas parecidas...
   Nada melhor que dar `a menina o nome de Maria, o mesmo nome da mãe, nome forte simples, nome da sua amada, sua esposa, mulher maravilhosa que soube, como ninguém, conquistar seu eterno amor, aquele que ela sempre teve em sua mente  como o grande Picasso...









Copyright 9/2014 Eugenio Colin.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

UNSUSPECTING MAN...









                                               Unsuspecting Man...








The park bench was deserted as I sat down to read 
Beneath the long, straggly branches of an old willow tree. 
Disillusioned by life, with good reason to frown, 
Since the world was intent on dragging me down. 

And if that weren't bad enough to ruin my day, 
A young boy out of breath approached, from his play. 
He stood right before me with, his head tilted down 
And said with excitement: "Look here what I found!" 

In his hand was a flower, and what a pitiful sight, 
With its petals all worn, without rain and no light. 
Wanting him to take off dead flower and go play, 
I faked a small smile and then, shifted away. 

But instead of retreating he sat next to my side 
placing the flower to his nose, overacted surprise, 
"It sure smells pretty and it's beautiful, too. 
That's why I picked it; and here, it's for you." 

The weed before me was dying or dead. 
Not vibrant colors, orange, yellow or red. 
But I knew I must take it, or he might never leave. 
I reached for the flower, and replied, "Just what I need." 

But instead of him placing the flower in my hand, 
He held it mid-air without reason or plan. 
It was then that I noticed for the very first time 
That weed-toting boy could not see: he was blind. 

I heard my voice quiver, tears shone like the sun 
As I thanked him for picking the very best one. 
You're welcome," he smiled, and then ran to play, 
Unaware of the impact he'd had done on my day. 

I sat there and wondered how he managed to see 
A self-pitying woman beneath an old willow tree. 
How did he know of my self-indulged plight? 
Perhaps from his heart, he'd been blessed with true sight. 

Through the eyes of a blind child, at last I could see 
The problem was not the world; the problem was me. 
And for all of those times I myself had been blind, 
I'd see beauty in life, thanking every second that's mine. 

And then I held up that wilted flower to my nose 
And breathed in the fragrance of a beautiful rose 
And smiled as I watched that boy, weed in hand 
About to change the life of an unsuspecting man.







Copyright 1/2018 Eugene Colin