quarta-feira, 23 de julho de 2014

JOHN BANKS








                                                                    John Banks








   John Banks acabara de desembarcar no Rio de Janeiro.
   O Inglês nascido e criado em Londres tinha duas paixões... Futebol e Mulatas!
   Para comemorar seu aniversário de dezoito anos, seus pais lhe deram um presente que mudaria a vida do filho completamente: uma viagem ao Rio de Janeiro no Carnaval. Acostumado a uma cultura mais fria e menos liberal, o cara ficou maluco quando assistindo a um desfile de Escolas de Samba. Nunca havia visto tanta mulher "au naturel". A partir daquele dia jurou para si mesmo que so' aceitaria em sua vida mulheres morenas e, digamos, bem dotadas! Depois daquelas ferias, de volta a seu país natal, procurou, procurou, procurou e, adivinha! Não achou nenhuma morena para namorar. Resultado! Abstinência total.
   O cara era teimoso ou, digamos, determinado. Preferia ficar so' do que com aquelas Inglesas “sem graca” e brancas pra cacete...
   Agora sim! Estava no caminho certo. Sua ideia era tentar matar dois coelhos com uma única porrada, quer dizer, uma paulada so'.
   A Copa do Mundo estava prestes a começar e, e' claro não poderia deixar de acompanhar a seleção de seu país e, quem sabe, talvez ate' arrumar uma namorada. O cara estava realmente precisado...
   A seleção Inglesa não poderia ter encontrado local melhor para se concentrar. No Rio tinha mulata pra cacete... O cara se sentia melhor do que pinto no lixo. Andando pelas ruas da cidade era muito difícil olhar para frente. A toda hora “uma delas” atraia sua atenção total...
   Banks estava tão desorientado que um dia, passando por uma loja do centro da cidade, comprou uma peruca, so' para poder andar de Metrô no carro das mulheres sem ser notado. Passou mais de três horas viajando de Botafogo ate' a Praça Saens Peña... “What a feast!” Pensara varias vezes naquelas viagens.
   Enquanto via o seu time passar para a segunda fase da Copa do Mundo, continuava no Rio de Janeiro. E’ bem verdade que ja' havia perdido o primeiro jogo da Inglaterra, em compensação, ja' havia “namorado” mais de seis mulatas.
   Seu pensamento era que os jogos poderiam ser assistidos pela televisão em seu quarto de hotel, acompanhado por uma das “selecionadas”.
   Finalmente, o que estava esperando... Um jogo da Inglaterra no Maracanã. Para John era difícil acreditar que o grande dia havia chegado. Naquela manhã que havia acordado cedo, depois de seu cafe’ matinal ainda teve tempo de dar uma passeada pela orla marítima. A ideia era de poder ver mais um monte de mulher para compensar a quantidade do homem que iria ver durante o jogo.
   O estádio estava quase lotado. Gente para todo o lado. Mr. Banks havia escolhido seu assento cuidadosamente. Por coincidência divina providencial, `a sua frente estava sentada uma mulata aparentemente muito bonita. Ainda não havia visto seu rosto mas teve a oportunidade de perceber que se tratava de uma mulher passional pela maneira que fraseava sua emoção:
  “ Acaba com a porra do gringo!”  “Mete porrada!”  “Passa a mão na bunda do loiro!” “Segura o filho da puta, não deixa ele chutar, seu babaca!”... Foram algumas das frases que John ouvia mas, não entendia quase nada. O que certamente havia percebido e' que a “moça” tinha um corpo escultural e uma bunda capaz de amortecer qualquer queda de um terceiro andar.
   Por mais que tentasse, John não conseguia prestar atenção ao jogo... Pelo menos enquanto aquela mulher estivesse pulando, gesticulando, gritando e, encantando o felizardo.
   Banks so' conseguiu saber que o primeiro tempo do jogo havia terminado empatado quando, sem querer, deixou seu olhar escapar em direção ao placar... A partida estava 0 x 0 mas, aquela mulata estava vencendo, todas as outras, por 100 x 0.
   De repente, a mulher da' uma levantadinha da cadeira para esticar as pernas. Assim que se levantou, foi alvo de um pão, daqueles de cachorro-quente, que literalmente se abrigou entre seus lindos cabelos longos e cacheados. Calmamente, sem nem virar para trás, pegou o “projetil” com uma das mãos e o embrulhou em um guardanapo que, providencialmente, trazia no bolso.
   Mal terminara de guardar o pão e, uma salsicha acertou sua orelha, escorregou pelo pescoço e se abrigou entre seus seios... Agora, alguém havia se excedido, e muito!
   A esta altura o Inglês estava estático. Não sabia o que fazer. E’ claro que, dentre aquela multidão seria impossível reconhecer o perpetrador daquele ato injurioso. Banks estava ate' curioso em ver qual seria a reação daquela mulher que, agora se virava para trás, tentando, quem sabe, identificar o desrespeitador...
   Calmamente, a mulata tirou a salsicha dos peitos, colocou dentro do pão que havia guardado, embrulhou o cachorro-quente improvisado e, ainda de costas para o gramado, encarando o resto da arquibancada, deu uma mordida e gritou, a todos pulmões:
-  Olha so'! O filho da puta que me acertou com o cachorro-quente vê se me manda um guarana pra ajudar a descer melhor... Seu babaca!
   Banks não tirava os olhos da mulher, corajosa e destemida. Estava ate' um pouco intimidado por aquela reação inesperada. Mesmo sem dominar perfeitamente o idioma local, conseguiu entender e, consequentemente ponderar, embora para si mesmo, que se o cara jogasse la' de cima uma lata de refrigerante, certamente iria, desta vez, fazer um estrago considerável naquele rosto tão lindo.
   Pela primeira vez, desde que sentara, havia visto o rosto da mulata... Lindo! Muito Linda! pensava com seus botões...
   Assim que a mulher encarou Mr. Banks, que não tirava o olho dela nem para piscar, se encantou com o gringo. Ele era alto, loiro, olhos azuis, braços musculosos, plexo bem definido... Um verdadeiro galã de cinema.
   Com uma atitude espontânea, incontrolável, aquela bela mulata moveu sua linda mão em direção ao queixo de seu admirador, apertando-o com suavidade e abriu o maior sorriso de admiração.
   Então, o negocio pegou! John levou o maior susto de sua vida quando percebeu que aquela linda mulata tinha apenas dois dentes. Um na arcada superior e outro na inferior. Uma coisa horrível!
   Instintivamente, em uma reação praticamente involuntária, se levantou, apavorado e saiu correndo, subindo os degraus da arquibancada de dois em dois e falando, em voz alta:
-  To witnessed such terrible smile I didn’t need to travel that far... We have plenty of women with bad
   teeth in London.

  



Copyright 6/2014 Eugenio Colin

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