quarta-feira, 16 de julho de 2014

ED LINCOLN








                                                           Ed Lincoln

                                          Maio 31, 1932 - Julho 16, 2012






   Ha’ dois anos, neste dia, o maior organista de todos os tempos nos deixou...
   Aos que não conhecem, ou não se lembram, Ed Lincoln era líder de um grupo musical que ostentava seu nome e, através dos anos ficou conhecido como "O Rei dos Bailes". Ele veio do estado do Ceara', onde nascera, para o Rio de Janeiro ainda muito jovem tocando contra-baixo, embora ja' fosse pianista...
    Lincoln começou a tocar para dançar na boite Drink, no Conjunto “Djalma Ferreira e seus Milionários do Ritmo”, outro grande musico da época que fez muito sucesso. Porem, se ouvirmos suas gravações, o que da’ o verdadeiro toque de qualidade e requinte `a elas e’ o som que Ed Lincoln tirava do piano que, tocava.
   Todos os que tiveram a sorte comparecer a bailes de clubes e formaturas nos anos sessenta e inicio dos setenta, puderam ouvir o melhor da musica brasileira e internacional...
   Ed Lincoln tocava de uma maneira muito simples mas com uma sofisticação incompreensível. Seu conjunto era elementar, apenas dois instrumentos de solo, orgão e pistom. Os outros, guitarra, contra-baixo e bateria faziam ritmo juntamente com quatro cantores que “engrossavam” a "cozinha"; como era chamado, naqueles dias, a sessão rítmica de um conjunto ou orquestra. Mas o som que aquele grupo de excelentes músicos fazia soar era mais completo e sofisticado do que o de uma orquestra.
   Anos depois formou seu próprio conjunto e começou a animar bailes...
   Um dos momentos mais emocionantes que vivi aconteceu no “Baile das Bolas” em Janeiro de 1963 na Associação Atlética Tijuca, um pequeno clube social no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro.
   Estava chegando ao baile que iniciaria `as 11 da noite. Assim que entrei no clube, ainda prestando atenção `as meninas, que “desfilavam” seus vestidos “polka dots”, foi quando ouvi o conjunto do Ed Lincoln ensaiando “Garota de Ipanema”, recém composta meses atrás e que so’ seria revelada ao mundo muitos dias mais tarde.
   Nunca havia visto uma harmonia tão bem elaborada por nenhum musico.
   Naquele baile, a musica foi executada varias vezes, muitas delas aplaudidas pelos que ali estavam.
   Ainda era quase um menino aos meus quase vinte anos de idade, mas o que `aquele dia presenciei foi algo inesquecível que sempre fez parte de minha vida.
      Em 1963, Ed Lincoln sofreu um grave acidente de carro, e ficou afastado de suas atividades artísticas, porém , tendo Eumir Deodato, ao piano, seu conjunto cumpriu fielmente todos os bailes contratados. Fui o único período em que seu conjunto não contou com um Orgão Hammond como instrumento de destaque.
   Outro momento que jamais esqueci foi “O baile da Volta” quando ele retornava aos palcos apos o acidente que quase tomou sua vida e o manteve por mais de seis meses internado em um hospital.
   Naquele dia, no Clube Monte Líbano, no Rio de Janeiro, uma multidão de quatro mil pessoas aplaudiam com fervor quando ele, ainda fragilizado, em passos curtos, tomava o palco, sentava ao orgão e cantava, pela primeira vez em sua vida “Voltei”, cancão composta por ele e Sílvio Cezar, para marcar indelevelmente outros tantos anos nos quais ainda teríamos sua presença, protoganizando, sem duvida alguma, a cena principal de todos que, como eu, tiveram o prazer de dançar ao som daqueles acordes magistrais que jamais serão ouvidos novamente...


   Muitos anos mais tarde, ja’ nos Estados Unidos, conheci outro grande organista, Jackie Davis. Um dia, em uma visita `a sua casa em Jacksonville, FL mostrei um video que exibia o grupo do Lincoln animando um baile de formatura.
   Jackie estava em silencio enquanto assistia `a gravação , o que durou por quase uma hora. Ao final, quando perguntei o que achava, colocou as mãos juntas, olhou para elas por alguns segundos, e respondeu: “- Queria poder tocar como ele...”
   Em retrospectiva, quando trago a minha mente alguns dos momentos mais felizes que vivi, em muitos deles estão a figura de Ed Lincoln, sentado ao orgão, sorrindo feliz e deixando a magia de sua musica alcançar um patamar inigualável.
   A ultima vez que me encontrei com Ed Lincoln foi em 2009, em uma das minhas visitas ao Brasil. Assim que me viu, ele lembrou daquele menino que o aguardava na porta dos clubes para, junto com os músicos do conjunto, poder entrar, ja' que não tinha convite para a festa ou não era sócio do clube onde se apresentaria `aquele dia e, muitas vezes sentava a seu lado, no banco do orgão, talvez tentando entender como acontecia a magia da criação. Foi um encontro emocionante que nunca vou esquecer.

   Muito obrigado, meu amigo... Sei que você esta’ no céu, ocupando um lugar de destaque, juntamente com tantos outros músicos, talvez igualmente inesquecíveis, alegrando os dias dos menos afortunados que não tem o mesmo dom de musicalizar e produzir trilhas sonoras para suas vidas...
    Você, meu amigo, compôs, enquanto conosco estavas, os melhores acordes que ate’ hoje enchem de alegria `as memórias de todos que tiveram a sorte de dançar ou ouvir tuas composições ou as de tantos outros que você, com tua arte, engrandecia...
   Se houvesse um consolo para essa perda irreparável seria a frase que Oscar Peterson, outro mago do piano, costumava dizer... “Old musicians never die, they just decompose...”








    Copyright 7/2014 Eugenio Colin.


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