quarta-feira, 19 de novembro de 2014

BEETHOVEN









                                                                 Beethoven








   Aquela manhã de domingo havia se tornado o cenário ideal para o que estava para acontecer na Universidade de Harvard em Cambridge, apenas quinze minutos do centro da cidade Boston no estado de Massachusetts, USA.
   Para as oito horas da manha estava programado uma aula-palestra sobre filosofia no anfiteatro Joseph B. Martin na escola de medicina da mesma universidade.
   Os quase quinhentos assentos estavam praticamente tomados por alunos e muitos convidados para ouvir a palestra daquele que era considerado um dos maiores professores de filosofia dos Estados Unidos... O assunto, alem de polemico, era muito interessante e, se não se tratasse de uma Universidade de reputação internacional poderíamos dizer que alguns ali estavam atraídos pelo breakfast gratuito servido no restaurante das instalações...
   Oito horas em ponto, aplaudido por um auditório lotado, entrava o professor que se apresentava anunciando o tema daquela palestra: Aborto!
   Sua introdução, por si so’, poderia ser considerada uma aula completa onde ele próprio se colocara como “advogado do diabo”, introduzindo argumentos favoráveis a ambos os lados para que fossem discutido, analisado ou mesmo debatido, se houvesse interesse imediato.
   Em 1973, disse o professor, a Suprema Corte na decisão do caso “Roe x Wade” estabeleceu os parâmetros para a execução de abortos nos Estados Unidos. A decisão foi modificada em 1992 por outro caso importante julgado pela mesma corte, criando um novo standard para equilibrar os interesses do estado e da mulher com relação ao aborto que, continua sendo um assunto controverso na cultura e politica do pais, tendo comumente definindo como “pro choice” `aqueles que são favoráveis e “pro life” aos que desaprovam o aborto, apesar de grande parte da população estar ainda indecisa sobre o tema.
 Quando e’ um aborto justificável ou moralmente aceito? Perguntou o professor.
 Moralidade e’ um conceito que varia de pessoa para pessoa. Por isso mesmo em 
   debates como esse procuro perguntar se aborto deveria ser legal no pais ao invés da  
   pergunta  “aborto e’ certo ou errado” Assim sendo, procuro aqui, dificultar um pouco e
   mesmo complicar este debate. Disse ele novamente.
   Concomitantemente, surgiam vozes no auditório, defendendo ambos os lados da controvérsia. Argumentos como o de que um feto ja’ e’ um ser humano era rebatido por outros como, um ser humano necessita de uma consciência para que seja assim qualificado, algo que um feto ainda não possui. Então, neste caso, uma criança de três meses pode ser morta legalmente ja’ que ela ainda não tem consciência, o que so’ nela aparece a partir dos cinco meses de idade.
   Aos poucos, dois alunos, que igualmente se mostravam mais apaixonados pela polemica, foram convidados pelo professor para que se dirigissem ao palco onde ele, como mediador, organizaria a discussão.
   Os dois alunos apresentavam argumentos válidos e importantes como, por exemplo, se todas as vidas tem moralmente o mesmo valor, a mãe não tem o direito de terminar a vida do feto que ja’ e’ uma vida, assumindo que a vida começa no momento em que o ovulo e’ fecundado e o feto e’ formado.
   O professor lembrava aos debatedores que estava interessado no aspecto moral do assunto e não na parte legal, argumentando que, se as leis são baseadas na moralidade não temos a necessidade de debater o aspecto legal do assunto que, por si so’ seria preservado...
   Um dos dois  alunos perguntou se uma mulher violentada “poderia” abortar o feto, por sua própria escolha...
   A plateia permanecia em um silencio tumular, absorvendo cada palavra proferida e argumentada ao mesmo tempo em que o professor se deliciava com o acirramento respeitoso com que o debate era conduzido.
   Aparentemente, o debatedor “pro choice” estava mais preparado, ou melhor informado, ou era mais cético, ou menos emotivo, talvez mais pragmático... Mas, o fato e’ que estava conseguindo convencer `a audiência aderir ao seu ponto de vista.
   Ao final do debate, que ja’ durava por mais de duas horas, o professor, agradecendo pela colaboração dos dois alunos, pediu que voltassem `a seus assentos e propôs uma pergunta para a audiência.
   Solicitou que todos, inclusive os convidados, manifestassem suas opiniões...
   Dirigindo-se `a frente do palco, microfone `a mão, perguntou:
 - Se vocês soubessem que uma mulher com sífilis, que ja‘ era mãe de oito crianças, das quais três
   eram surdas, duas eram cegas, uma mentalmente retardada, estava novamente gravida, vocês
   recomendariam que ela fizesse um aborto?
   Pediria que todos os que fossem favoráveis ao aborto levantassem suas mãos. Finalizou o
   professor...
   A este momento, em toda a plateia, apenas três pessoas não levantaram as mãos, entre elas, e‘ claro, estava o aluno que veementemente rejeitava aborto sob quaisquer circunstâncias... 
   O professor calmamente, testemunhando aquela manifestação incontestável a favor de “mais um homicidio”, como ele próprio qualificava o aborto, abriu um sorriso irônico e disse, finalizando o evento:
-  Gostaria de pedir uma salva de palmas para todos os que levantaram as mãos em favor de um
   aborto...  Meus parabéns! Vocês acabam de matar Ludwig Van Beethoven..








Copyright 12/2014 Eugenio Colin

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

TRILOGIA


                                                             






                                                                     Trilogia






   Homem de Pau Grande

   Homens de Pau Grande estão praticamente em extinção... Estatísticas não comprovadas indicam que existem apenas 5.530 homens de Pau Grande, no mundo inteiro.
   E’ claro que também se tem conhecimento de mulheres de Pau Grande e, quem procurar direitinho, no lugar certo, as encontrara...
   Homens com esta característica encantam `a certas mulheres, apesar das serias consequências por vezes proporcionais `a essas "qualidades"...
   Vejam o caso de Magda, por exemplo. O sonho dela era casar com um deles. Talvez porque nunca tivesse namorado ninguém em sua infância, talvez apenas uma lembrança de criança, daquele dia inesquecível que viu um de seus amiguinhos brincando com uma cobra, e ela, na sua inocência infantil, confundiu isto com aquilo... A saudade daqueles dias simples e divertidos talvez ainda a iludisse, fazendo com que ela acreditasse que, namorando um homem de Pau Grande, todos os seus problemas poderiam ser resolvidos e todas suas lembranças resgatadas permanentemente...
   Muitas de suas amigas, principalmente as atuais, achavam que Homem de Pau Grande e’ algo desnecessário e supérfluo... Muitas delas se contentariam apenas em ter apenas um homem, completo, e' claro, com todos os membros, mesmo que um pouco flácidos...
   Um dia, uma de suas amigas de infância, que havia ha' muito tempo deixado esses homens no passado, com quem casualmente havia encontrado na rua Marques de Pombal no Rio de Janeiro, cidade que havia tomado emprestada como sua ha’ muitos anos, para onde migrou ainda criança e hoje trabalhava, lhe disse que jamais se casaria com um homem de Pau Grande. Não queria nem ver Homem de Pau Grande `a sua frente...

 -  Na grande maioria dos casos, conversava sua amiga casualmente, homens de Pau Grande são
    burros, muito feios alem de mal educados e muitas vezes mal asseados... O que adianta vir de Pau
    Grande pro meu lado com todos os defeitos por tanto tempo acumulados...
    Clodoimundo, meu primeiro namorado, era de Pau Grande. Nunca tivemos relações
    sexuais mas, naqueles encontros fortuitos acompanhados de muita excitação e  
    descobertas, pude sentir o que seria se entregar a alguem assim. Nunca poderia
    dizer que o cara era o príncipe da beleza ou o rei do charme, pelo contrario...
    Nunca esqueci um dia que estava pronta para me entregar `a ele. Tinha feito tudo
    para deixa-lo entender que, `aquela noite, o presentearia com minha virgindade. Eu
    queria ter a  certeza que meu “querido” havia entendido aos sinais que
    eu “emitira”, entre eles o de, em um beijo ardente que trocamos naquela manha,
    quando enfiei a mão dentro das calcas do Clo, como era conhecido, e apertei com
    carinho o que ali encontrara, perguntando em voz alta: “- Preparado para o banquete
    de hoje `a noite?”
    Em minha mente, não havia duvidas... O grande dia havia chegado...
    `As oito da noite como combinado, la’ estava eu, `a beira do rio, sentada `as suas
    margens, em baixo de uma arvore de Pau Brasil, a única na região...
    Para falar a verdade, estava um pouco apreensiva... E’ claro que não pensava,
    antecipadamente em me casar com o Clo mas, quem sabe, se ele conseguisse
    superar, so’ um pouquinho, sua enorme falta total e absoluta de um minimo de
    inteligência, talvez ate’ arriscasse.
    Estava absorta em meus pensamentos quando um trovão muito forte me trouxe de
    volta `a realidade. Instintivamente olhei para o meu relógio. Nove e meia da noite. Ja’
    estava ali por mais de uma hora e nada do tal do namorado aparecer...
    “- Sera’ que vai chover?” Indaguei voz alta.
    Tentei olhar para o céu por entre as arvores que praticamente cobriam minha visão...
    Mais alguns segundos e outro trovão, este acompanhado por um raio que, por
    instantes, clareou completamente a região.
    Olhei mais uma vez para o relógio, apenas para constatar que a chuva anteriormente
    anunciada, havia chegado, E’, O jeito era ir para casa, ainda virgem e, agora
    molhada... Havia pensado em ficar toda molhada `aquela noite, mas apenas em
    partes localizadas de meu corpo, não dos pés `a cabeça...
    Nem corria da chuva, entregava-me totalmente `a ela, triste e desapontada...
    No dia seguinte, `as primeiras horas da manha, ouvindo a campainha tocar, fui `a
    porta da casa, constatando, para minha surpresa que ali estava Clo, todo ensopado,
    vestindo um terno com gravata e tudo, pingando agua como uma torneira defeituosa...
    “- O que aconteceu?” Perguntei.
    “- Mi discurpa, andei  noite toda, bati na porta di tudu qui era as casa da cidade onde 
    qui vi luz acesa mair num consegui discubri o diabo du “banquete” que você havia me
    cunvidado pra cume...” Disse Clo, todo apologético.
    Olhei para ele, pensei bem e, de certa maneira, me vi agradecida pelo que não
    aconteceu.
    O pobre do homem ainda estava la’ olhando para mim com uma cara de babaca
    quase impossível de ser descrita quando eu disse: “- Eu e’ que tenho que me
    desculpar... O “banquete” foi cancelado e eu esqueci de te avisar...”
    E você ainda quer um homem de Pau Grande?

    Magda, ouvira a historia de sua amiga, compenetrada e interessadamente... Lembrava agora depois do relatado que, quando menina ria a vontade ao ver alguns de seus colegas tropeçarem no ar, sair catando cavacos e aterrissar com a cara na lama. Mas, sem saber explicar porque, queria e achava de tinha a obrigação moral de casar com um desses homens... Tinha esperança de encontrar alguem menos burro do que Clo. Se não fosse cheiroso ou asseado, talvez o problema pudesse ser contornado. Beleza física era algo que para ela não importava muito. E’ claro que, sendo fotografa profissional, ate’ agora so’ havia namorado homem bonito, talvez ate’ por sua profissão e circulo de amizades mas, em sua mente, estava preparada para “encarar” um cara feio. Horroroso não! Feio!
   Magda nunca havia tido, em toda sua vida, pelo menos um namorado de Pau Grande. Saiu de la’ muito pequena, antes de atingir aquela idade mágica onde os meninos começam a virar homens, se interessar por mulheres e as meninas começam a abracar a possibilidade de trocar as bonecas de pano por um “boneco” de carne e osso.
   Estava louca para voltar `a sua pequena cidade natal no interior do Estado do Rio de Janeiro que impregnava sua mente. Queria visitar parentes e amigos, passear por locais ainda guardados em sua memoria de menina e, se possível, arrumar para si um namorado que, quem sabe pudesse, futuramente, ser seu marido... Sabia que a tarefa não seria fácil. A cidade possuía apenas pouco mais de cinco mil homens, muitos dos quais seriam eliminados antes mesmo de começar o “teste” mas, Magda era tenaz, firme em suas convicções, obstinada na sua persistência em buscar um sonho de infância... Tinha certeza que, qualquer que fosse o escolhido, ela teria como aparar as arestas, fazer de seu “projeto” um homem de verdade... A única exigência que para si mesmo fazia e’ que ele fosse de Pau Grande, RJ, sua cidade natal.


   Homem de Pau Pequeno


   Magda Magdalena Morgado estava muito feliz. Resolvera aproveitar seu mês de ferias para visitar Pau Grande, RJ, sua cidade natal. Tinha certeza que, desta vez encontraria o que sempre buscou em sua vida, para sua felicidade, um homem de Pau Grande.
   Havia saído da cidade muito nova e a primeira impressão que teve, ao chegar, e’ que tudo era tão pequeno...
   As ruas estavam estreitas, as casas coladas umas nas outras... Ate’ a pracinha da cidade parecia ter encolhido em sua percepção de mulher que deixou a cidade quando menina e voltava agora depois de viver tanto tempo em uma cidade muito maior e mais agitada.
   Percebeu também que a cidade estava mal cuidada, abandonada, suja.
   Sua ideia, em principio, quando deixou o Rio de Janeiro, era de encontrar o amor de sua vida, casar, e aqui ficar mas, agora, depois de algumas horas, ja’ não tinha tanta certeza de que queria voltar a viver em Pau Grande definitivamente.
   A casa onde nasceu e foi criada ainda estava la’, no mesmo lugar, intacta, a não ser pela inexorável ação nos anos...
   Resolveu ficar no pequeno hotel local, pelo menos por alguns dias, ate’ que pudesse providenciar a limpeza de sua propriedade.
   No dia seguinte, bem cedo, depois de contratar a limpeza, saiu em busca de velhas amigas.
   A primeira que encontrou foi Ava Gina, agora casada com duas filhinhas; a maior se chamava Ava de cinco anos e a menor Gina, com apenas dois aninhos... Foi uma festa! As duas pularam e se abraçaram que nem duas galinhas no terreiro...
   Ali mesmo soube das grandes novidades e fofocas da cidade.
   Tonico, um menino ate’ jeitoso que tinha mania de beijar todas as maninas da cidade havia se casado com Marcelo, filho da Puglia, uma senhora Italiana que morava ao lado do Educandário.
   Jairo, faxineiro da lanchonete, agora era o Prefeito da cidade.
   Adelicia do Pinto Velho havia se casado com o filho da Alice Barbuda, quem era 30 anos mais novo do que ela e, o pior, quer dizer, o melhor e’ que os dois viviam demonstrando seu amor em todos os bancos e arvores da cidade. Ja’ haviam sido presos mais de cinco vezes por atentado ao pudor...
   Numa dessas vezes, por falta de vaga, colocaram os dois em uma mesma cela. Menos de meia hora depois, quando o delegado flagrou os dois trepando no chão da cela, chamou um guarda municipal e ordenou que levassem os dois ate’ em casa, so’ para ter certeza que não atentariam ao pudor mais uma vez, pelo menos no mesmo dia. Havia porem uma razão para isso... Adelicia era gostosa pra cacete e tinha uma bunda de dar inveja a qualquer mulher. Agora! Adivinha qual era a tara do marido? Pois e'!...
   Depois de colocarem as fofocas em dia resolveram visitar Gravitolina Lino, outra amiga de infância... Perderam o dia e a noite toda em reminiscências agradáveis e engraçadas.
   No dia seguinte, tratou de supervisionar a limpeza de sua antiga moradia que, para sua surpresa, estava melhor do que esperava, mesmo depois de tantos anos de negligência.
   Em menos de uma semana ja’ estava hospedada em sua própria casa.
   Havia organizado um encontro onde pretendia rever todos que com ela cresceram naqueles dias distantes...
   Ouvira dizer, por uma das convidadas que era a primeira reunião daquele tipo que acontecia na cidade ha’ anos... Comida e bebida `a vontade, encontros agradáveis, recordações saudosas marcavam aquela reunião.
   No meio da noite, quando Magda saia do banheiro da sala, ainda ajeitando as calcinhas por cima da saia, deu de cara com um homem lindo. O mais lindo que jamais havia visto. Alto, forte, olhos azuis, cabelos negros... Um Pão!
   Ao encarar o cara ate’ engasgou com um pauzinho de sacanagem que ainda trazia `a boca. O homem, verdadeiro cavalheiro, se desculpou imediatamente e abriu um enorme sorriso para a anfitriã.
-  Meu nome e’ Carlos. Falou.
-  Tudo bem Carlos? Eu sou Magda, dona da casa...
-  Que bom te conhecer Magda... Mas você mora aqui? Sempre passava pela rua e via
    a casa fechada.
-  A verdade e’ que moro no Rio. Vim aqui para limpar a casa e faze-la minha casa para
   finais de semana. E você? Mora aqui?
-  Mudei para ca’ com meus pais ha’ três anos para acompanha-los. Um dia estava na praça
   reclamando que a cidade era suja, um homem que se apresentou como o prefeito, quando soube que
   eu era urbanista, me contratou e aqui estou...
 -  E você gosta daqui?
 -  Gosto! A cidade e’ calma... Esta’ meia abandonada mas e’ para resolver isso que
    estou aqui.
    Magda estava perplexa. O homem era justamente o que sempre havia sonhado e jamais esperava encontrar naquela cidade. E, aparentemente, Carlos também havia simpatizado com ela, ja’ que não “desgrudaram” a noite inteira.
    O dia estava amanhecendo quando Carlos se despediu de sua anfitriã, não antes de marcar um próximo encontro...
   Em uma semana o novo conhecido ja’ frequentava a casa de Magda. Alem de tudo, o homem cozinhava como ninguém e, melhor ainda, fazia questão de lavar os pratos e arrumar a cozinha antes de se dirigirem a sala para tirar sarro ate’ o fim da madrugada.
   Apesar das caricias eróticas que trocavam, Carlos era um cristão fervoroso e acreditava que sexo, so’ depois de casados.
   Se fosse por Magda, ela tinha dado no primeiro dia mas, aquela altura dos acontecimentos ja’ estava ate’ pensando em casamento. Por mais que procurasse, não via nada de errado em seu novo conhecido.
   O mês de ferias foi muito melhor do que poderia esperar e, como tudo que e’ bom, passou rapidinho.
    Foi com lagrima nos olhos que comunicou a seu amigo que deixaria a cidade em apenas dois dias. Este, por sua vez, havia acabado de descobrir quer sua vida não seria a mesma sem a companhia de Magda. A noite foi triste, contrastando com tantas outras, vividas em um ambiente de  descontração e alegria.
   Ao se despedirem `aquela noite, Magda ainda pensou: “Nao e’ tao longe do Rio. Posso vir aqui sempre...”
   No dia seguinte, sete horas da noite, como havia acontecido quase todos os dias daquelas ferias, la’ estava Carlos, com um buque de flores, `a porta da casa de Magda que o recebeu com carinho, pulando em seu pescoço, o cobrindo de beijos enquanto agradecida, colocava as flores no sofa’, notando porem que ele estava com um semblante solene e introspectivo.
-  Tudo bem? Indagou ela.
   Ao invés de responder, Carlos ajoelhou no chão e disse:
-  Magda! Não tenho como deixar você ir embora e arriscar perde-la para outro.
   Embora te conheça a menos de um mês, tenho certeza que você e’ a mulher da
   minha vida. Não sei como viver sem você. Por isso, queria a honra de te-la como
   minha esposa. Se aceitar, prometo que farei de você a mulher mais feliz do
   mundo, e isso seria minha maior felicidade. Poder viver para te fazer feliz.
-  Aiiiiiiiiiiiiiiii ! Foi a única coisa que Magda conseguiu dizer ao cair sentada justamente
   sobre os espinhos das rosas que Carlos lhe havia presenteado...
   O cara olhou para ela sem saber o que fazer quando ouviu:
-  Ta’ doendo muito! Acho que entrou espinho na minha bunda...
   Infelizmente, desta vez não havia o que fazer... Embora contrariado, Carlos teve que tirar a calcinha de sua amada e com uma pinça que resgatara do armarinho do banheiro, começar a extrair os "intrusos" cravados `as nádegas de sua amada. Depois de uma inspeção cuidadosa e verificar que nada mais estava enfiado na bunda da namorada, colocou, com todo respeito, compressas de arnica com sal para aliviar a dor de sua amada.
   Sentindo-se melhor, ainda deitada na cama, com o cu pra cima, Magda disse que ficaria muito feliz em casar com ele.
   Em menos de um mês tudo estava preparado. A festa foi o maior acontecimento da cidade desde que Garrincha se sagrou campeão pelo Botafogo em 1967.
   Finalmente, o grande dia chegara. Magda estava doida para dar para um homem de Pau Grande.
Depois da festa que durou quase ate' o sol nascer, ainda deixando tudo do mesmo jeito que os convidados haviam largado, garrafas vazias, pratos com restos de salgadinhos e cheios de resquícios de sacanagem, guadanapos pelo chão, uma verdadeira zona, nervosamente, se preparava para dormir, quer dizer, trepar, colocando um lindo Baby Doll que não escondia absolutamente nada.
   Com o coração quase saindo pela boca se deitava ao lado de seu, agora esposo, o qual a esperava ansiosamente.
   Começou a acariciar aquele corpo sensual de atleta, deslizando sua mão delicadamente por seu pectus, abdome, ate’ chegar ao seu pênis...
   Então, não pode se conter quando viu, para sua surpresa um pinto que com benevolência não passava de cinco centímetros. "Mas os homens daqui deveriam fazer jus ao nome da cidade... Xi! Mas ele não nasceu aqui... E agora?" Pensava em silencio...
   Esperava, pelo menos, que aqueles cinco centímetros resolvessem seu problema. E’ claro que amava seu marido e nada a impediria de ser feliz. Nem o fato de ter se casado com um homem de pau pequeno.


   Homem sem Pau

   Magda agora trazia dentro de si um dilema... Durante toda sua vida havia guardado tudo de melhor, seu amor, sua intimidade, sua virgindade, para presentear a um homem de Pau Grande... Sempre fantasiou que sua em sua noite de núpcias seria praticamente violentada por um homem desvairado que, com um cacete enorme, arrobaria suas entranhas mas, ao invés, teve em naquele dia tão esperado, um homem extremamente delicado carinhoso, cuidadoso que havia conseguido no máximo, com muito custo, fazer cosquinha na sua farfonha.
   Para quem cresceu lendo romances pornográficos, sonhando com concurso de pingolin, descascando cenoura so’ pra se distrair, a situação estava, realmente, totalmente, fora de controle... Não que não amasse seu marido mas, um cacete de cinco centímetros, e isto quando estava duro, era algo muito aquém de suas expectativas... Não tinha certeza que conseguiria viver com esta situação por muito mais tempo.
   E’ claro que não pretendia, pelo menos por enquanto, acabar com seu casamento por uma diferença métrica de apenas uns vinte centímetros que seus sonhos de puberdade idealizavam mas, por outro lado, se fosse ficar o resto da sua vida apenas sentindo cosquinha na periquita, então não precisava de um homem para isso. Ate’ um ventilador “turbo” resolveria o problema.
   No momento, o que precisava mesmo era um pinto grande e grosso que pudesse sacia-la por alguns dias.
   Magda não sabia o que fazer... Não queria ferir os sentimentos de seu marido, mesmo sabendo que com aquele pinto miniatura ele não estivesse conseguindo “ferir” nem pensamento. E agora? E’ claro que não queria sair pela cidade dando para qualquer “cacetudo” mas, também, agora era uma questão de sanidade mental...
   Resolveu então arranjar uma desculpa para ir ao Rio de Janeiro, queria pensar por algum tempo, reorganizar seus pensamentos sexuais, assumir ou desistir...
   Deu um beijo de ate’ logo em seu marido, colocou sua valise no porta-malas do carro e partiu em direção `a alguns dias de reflexão.
   Resolveu se hospedar no Copacabana Palace... Seria so’ por alguns dias e, melhor ainda, pensara, longas caminhadas pelas areias da praia a ajudariam a sossegar o tacho.
   E, assim o fez em seu primeiro dia de volta ao Rio de Janeiro, depois de uma noite mal dormida, quando havia sonhado com cobras, pepinos gigantes, troncos de arvores rolando a ribanceira a a esmagando contra as areias da praia... Traja-se casualmente, como tantos outros que aproveitam as manhas nas praias da cidade correndo pela orla da praia. Calca leg, tênis confortável, peitos esmagados, cabelos presos e óculos escuros...
   Andou! Andou! Andou! Do Hotel ate’ o Arpoador, ate’ o final do Leblon, de volta ao Arpoador, de volta ao Hotel. Estava tao cansada que naquela noite mal conseguira comer algo leve antes de dormir.
   No dia seguinte, ainda exausta, decidira apenas observar os que em sua situacao do dia anterior estavam. Debruçou-se `a janela de seu apartamento e olhava para a praia, vagamente... La’ ficou por horas, com a mente vagando, absolutamente em duvidas do próximo passo a ser tomado. Resolveu se produzir toda e sair para jantar em um dos muitos restaurantes que se aproveitavam do cenário magnifico para cobrar preços absurdos por refeições minusculas `a título de serem sofisticadas.
   Toda bonita e cheirosa, desacompanhada em uma mesa de restaurante era o suficiente para atrair a atenção de todos os que, casualmente e notavam.
   Magda estava tao concentrada em seus pensamentos que nem percebia o quanto chamava atenção.
   Terminada a refeição, resolveu voltar `a pe’ para seu hotel, não muito longe de onde estavam...
   Não havia dado mais de dez passos quando levou uma porrada no ombro que a estabacou de cara no chão. O homem que a acidentou, muito cavalheirescamente quase se ajoelhou pedindo desculpas. Ajudou-a a levantar e se ofereceu a leva-la de volta ao hotel em seu Mercedes-Benz conversível que fizera questão em mencionar que possuía. Magda não aceitou. Disse que estava próximo `a seu hotel e que estava bem, conseguiria caminhar sozinha embora com o rosto e uma das mãos ligeiramente cortados... O homem porem, “atencioso” como ninguém, pediu que sentassem por alguns minutos em um dos bancos do calcadão, so’ para se certificar que ela estava realente bem, antes de seguir seu caminho.
   Funcionou!
   Conversaram por quinze minutos, meia hora, duas horas... A esta altura ja’ sabiam bastante um sobre o outro. Magda não escondeu que era casada e que ali estava `a procura de um caminho a seguir, na encruzilhada em que seu casamento estava... Cornelio, nome do homem, disse que estava, finalmente, naquele dia fazendo juz a seu nome pela primeira vez...
   Conversa vai conversa vem, confissões confessadas, confissões escutadas, Magda convidou o estranho para acompanha-la ate’ seu hotel. Quando la’ chegaram, Cornelio se ofereceu a leva-la ate’ a porta de seu apartamento e ela aceitou...
   Asim que ela encostou o cartão na fechadura e se voltava para trás, seu companheiro ocasional tascou-lhe um beijo que quase a fez desmaiar. Magda nem pensou no casamento, marido, dignidade, porra nenhuma... A única coisa que queria era sentir emoções ainda ignoradas.
   Os dois andava em direção `a cama ao mesmo tempo que se livravam de suas roupas `a medida que avançavam em direção ao destino. E tome beijo, passar de mãos, segura aqui, encosta ali, ate’ que finalmente se deitaram...
   Magda ja’ estava toda molhada, ansiando pelo prazer que seu marido ainda não havia conseguido lhe proporcionar, quando, acariciando as pernas de Cornelio, diga-se de passagem mais lisas que que as suas, chegando ao lugar onde estaria o que procurava, percebeu que seu marido parecia um “gigante” em comparação ao que apalpava. A esta altura, seu companheiro, passando a mão por seus cabelos, de la’ saia trazendo ente os dedos a peruca masculina que usava... Naquela euforia e mistura de sensações, passava por frações de segundos pela mente de Magda que o cara era careca e tinha vergonha do fato. Depois, instintivamente tentando se acalmar e, possivelmente se preparando para enfrentar a cruel realidade, reparou que o homem tinha seios no local onde deveriam estar músculos...
   A esta altura, sentou-se `a beira da cama, colocou a cabeça sobre as mãos que, com os cotovelos apoiados sobre seus joelhos ajudavam a suportar todo o peso daquela decepção, traição, expectativa frustrada, e tudo mais que `aquele momento sentia.
   Virou em direcao `a Cornelio, que confessara ser Cornélia, em busca de uma explicação. O que ouvira foi algo inusitado... Seu companheiro confessou ser um transgender que se passava por homem para conseguir conquistar mulheres, na esperança que, no processo, alguma delas decidisse tentar, e acabar gostando de sua companhia.
   Magda esta indignada. “Porra! Que azar!” Pensava em voz alta...
   Cornélia ainda tentava se explicar, concomitantemente com sua caracterização masculina que ja’ havia começado a reestruturar, aos sons de “Sai daqui!”, Sem vergonha!”, “Canalha!”... Ate’ “Filho da Puta!” deixara escapar...
   Finalmente, ja’ `a porta do apartamento, pronto para deixar Magda novamente com seus problemas, talvez, em seu egoismo, sem ter percebido que havia contribuído para o agravamento deles, ainda falou:
 Sou apenas uma mulher diferente, também `a procura do amor...
   Magda, sem piedade, olhou para ele e gritou:
-  Você não e’ e, nunca sera’ uma mulher! Você não passa de um homem sem pau....






 Copyright 5/2014 Eugenio Colin
  
  






sexta-feira, 7 de novembro de 2014

JE VOUS SALUE MARIE









                                                         Je vous salue Marie







                                      

   C'était l'année 1961, la bonne année ou l'aube, comme des publicités à la radio l'habitude de dire. Je vivais à Rio de Janeiro et, bien sûr, nous avons tous parlé portugais...
   Lors de ma première année de classe d'une école catholique, le frère, professeur de français, a demandé à l'ensemble de la classe qui était capable de dire "Je vous salue Marie" en français ... Si quelqu'un pouvait, il se trouve à 10 pendant trois mois ...
   Il était ma main en l'air.
-  Je peux! Je l'ai dit ...
-  Aller de l'avant! Dit le professeur avec un sourire de défi sur son visage.
   Je me suis levé et j'ai dit:

   Je vous salue, Marie pleine de grâce ;
   le Seigneur est avec vous.
   Vous êtes bénie entre toutes les femmes et Jésus,
   le fruit de vos entrailles, est béni.
   Sainte Marie, Mère de Dieu,
   priez pour nous pauvres pécheurs,
   maintenant et à l’heure de notre mort.
   ainsi soit-il
   Amen.

    Comme je le disais les lignes, il a été en train de changer progressivement son expression de sarcasme à l'égard. A la fin de cette classe, il m'a appelé et m'a demandé:
-  Vous n'allez pas me faire tenir ma promesse, vous êtes?
-  Bien sûr, je le ferai! Répondis-je.
   C'était la haine à la première classe ...
   Les autres professeurs de l'école étaient très bien... Amical, respectueux et leurs cours intéressants ... Mais, celui-ci ...
   Le pire, pour moi, c'est qu'il sert à enseigner mathématique, outre le français, et j'ai dû m'appliquer à mon mieux pour éviter de répéter cette année, sur les deux sujets.
   Je passe!
   L'année prochaine, c'était encore pire. Il ressemblait à sa haine grandissait ... A la fin de l'année, mon père a dû demander trois examinateurs du département de l'éducation de suivre mon examen final et assurez-vous qu'il était équitable.
   Je passe! Encore! 
   ... Après cela, je changé l'école.


Collège Sao Jose - Rio de Janeiro.






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