quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

DEPOIS DO CARNAVAL










                                                   Depois do Carnaval.









   Valdisnei Roliude Paramão estava prestes a realizar o sonho de sua vida...
   Para falar a verdade, mesmo com as pernas espremidas pelo assento anterior do Boeing 767, grande pra cacete por fora mas, excruciantemente apertado para os passageiros, especialmente para Val, como nosso amigo era popularmente conhecido em sua cidade natal de Várzea Grande, bem ao lado da capital do estado do Mato Grosso...
   Desde que nasceu, seu sonho sempre foi o de assistir um desfile de escolas de samba do Rio de Janeiro. Não pela televisão! Queria ver ao vivo aquele monte de mulher com o suor derretendo o único disfarce que escondia a “realidade” de cada uma delas, bem disfarçada pelas tintas que as cobriam. Ate' imaginava como deveria ser o cecê das mulatas... Queria ver tudo, ao vivo e em cores.
   Agora, ja' com seus 35 anos, depois de juntar dinheiros por muito tempo, sua hora havia chegado. Nem deu bola para seu patrão quando este lhe informou que seu pedido de ferias para o Carnaval havia sido negado. “Ah! E'? Tudo bem! Eu me demito!” falou... Ao sair, ainda olhou pra trás, so' para poder constatar a cara de babaca do empregador  e, sorrindo, ainda lhe deu uma banana...
   O piloto acabara de avisar que dentro de alguns minutos estariam pousando no Aeroporto Antônio Carlos Jobim. Imediatamente lhe veio `a cabeça o “samba do aviao”... Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudades... O que, no seu caso não era verdade ja' que esta seria a primeira vez que visitava a "cidade maravilhosa".
   Ainda esticava o pescoço tentando olhar la’ pra baixo pela janela minuscula do avião quando uma das aeromoças, agora chamadas de comissarias de bordo, ate' hoje ainda não se sabe porque, tentando colocar sua poltrona na posição vertical meteu os peitos em sua cabeça. Quando ele virou, de repente, não deu outra! Acabou com a boca entre os enormes seios da mulata que, imediatamente, para ele sorriu. Val ate’ achou que ela havia feito aquilo de proposito. Também, não era pra menos... O cara era bonito pra cacete, mais de um metro e noventa de altura, cabelos pretos e olhos verdes, impecavelmente vestido. Parecia mais um gala de telenovelas do que um gerente de hotel do interior do país.
   Na saída do avião, enquanto a maioria dos passageiros se despedia das “comissarias de bordo”, aquela mesma mulata colocou um cartão no bolso da camisa do nosso amigo, dizendo baixinho, ao pe' de seu ouvido: “-me liga...”
   Ele ainda deu uma outra olhada pra aeromoça, agora chamada de comissaria de bordo, ate' hoje ainda não se sabe porque, constatando que ela não era de se jogar fora. Depois do Carnaval, quem sabe? Ate' que poderia dar umazinha, se ela estivesse livre e ele estivesse vivo.
   Ainda olhando para as “qualidades” da aeromoça, quase caiu por causa disso... O operador, que deveria estar com preguiça ou sem tempo de fazer seu serviço corretamente, deixou um enorme vão entre a ponte de desembarque e o avião e, quando nosso amigo pensou em trocar de pe', para “entrar” na cidade maravilhosa com o direito, chegou ate' a tropicar... Adivinha que veio em seu socorro, segurando sua bunda para que não fosse ao chão ou, pior ainda, caísse la’ em baixo... Isso mesmo! Raimunda, ou “Rai” como estava escrito em seu cracha', a aeromoça que aparentemente estava sem programa para os próximos dias, ja' que estava dando em cima do passageiro acintosamente...
   Salvo pelo gongo de uma fatalidade que poderia ter sido fatal, la' se foi nosso amigo, em direção ao seu destino... Decidira se hospedar em um hotel na Avenida Mem de Sa',  relativamente perto do sambódromo, ao qual poderia ir `a pé e, se não fosse assaltado, ou alvejado por uma bala perdida, poderia chegar la' em poucos minutos...
   Mas Val era um homem otimista. So' queria ver mulher pelada e quem sabe, com alguma sorte, ate’ tentar provar um dos “frutos proibidos” que pela avenida desfilavam.
   Finalmente chegara o grande dia, `as nove horas da noite, la’ estava o Mato-Grossense, deslumbrado, estupefacto, atônito, abundorbado... Era tanta mulher pelada que o cara ja' estava ficando vesgo, além de estar suando profusamente, mesmo com aquela brisa refrescante que amenizava o calor do verão carioca...
   Dois dias no Rio de Janeiro e nenhum incidente. Não havia sido assaltado, ninguém o havia chamado de babaca, nem mesmo caipira... Val ja' se sentia em casa, ate' o dono do Bar das Quengas, onde fazia suas refeiçoes, estabelecimento de “alta classe” onde “damas da noite” se reuniam, localizado na esquina da Mem de Sa' com Washington Luiz, bem no coração de seu trajeto diário, ja' o conhecia... Tudo corria `as mil maravilhas, muito melhor do que jamais poderia haver planejado...
   No ultimo dia de desfile, `as três horas da manha do dia seguinte, o cara não resistiu; pulou a cerca e foi ate' o asfalto para se “minglar” com aquelas mulatas fabulosas...
   Mal adentrou a passarela e começou a dançar, uma linda mulata agarrou em seu pescoço e lhe tascou um beijo na boca. Ao olhar para o rosto e o corpo da mulher, Val não podia acreditar... O céu estava claro mas estava “chovendo em sua horta”, e muito...
   Ao ouvir: “estou tão cansada, me acompanha ate' minha casa?”, nosso amigo so' não desfaleceu porque era muito macho. A mulata era a mais linda que jamais havia visto. Melhor do que a Raimunda do avião, quer dizer, a “Rai”. Claro que ele foi...
   Em la' chegando, no meio de uma conversa animada enquanto os dois tentavam se conhecer, Roberta, que aparentemente estava apaixonada ja' que não tirava os olhos de Valdisnei, pedindo licença, entrou no banheiro e, em poucos minutos de la' voltou toda asseada e perfumada, vestindo um lindo baby-doll rosa... Deu uma boa olhada para seu novo conhecido, de cima a baixo e disse: 
“- vou me deitar! Você vem?”
   Sabia que estava dentro de um apartamento mas, certamente, estava “chovendo em sua horta, e muito!
   Atendendo ao convite, Val tirou a roupa e, apenas usando uma sunga, foi ao encontro de seu destino...
   Rola pra la' esfrega pra cá, pega daqui, espreme dali e Val, acidentalmente, se depara com algo que certamente não deveria estar ali... Ainda deu uma boa segurada, so' para se certificar se “aquilo” era aquilo realmente o que estava pensando e, quando ouviu: “- Ai, aperta com forca amor, pode ate' morder, não ligo não, vou ate' gostar...”,  teve certeza.
-  O que? Você e’ homem? Indagou apavorado, pulando da cama.
-  Homem não! Transgender como se diz no exterior... Respondeu “Roberta”.
   Seu mundo caiu! De repente, Valdisnei se sentiu desolado e todo aquele encantamento havia chegado ao fim... "E se aquele monte de mulher pelada que vi, fosse tudo homem? Meu Deus, o mundo ta’ perdido..." Pensou, enquanto praticamente em um movimento único, pulava da cama, se vestia, e saia correndo daquele “apartamento maldito”.
   Carregando toda a tristeza do mundo em suas costas, nosso amigo voltava para o hotel para arrumar as malas e retornar correndo para sua cidade, onde os homens são homens e as mulheres são mulheres.
   Por sorte, conseguiu antecipar seu voo que so' aconteceria dois dias depois.
   Ja' dentro do avião, recostado em sua poltrona, tentando aliviar a pressão que o assento anterior fazia em seus joelhos, sentiu um perfume que achava ser familiar. Desta vez nem teve tempo de virar o rosto e meter a cara naqueles peitos que ja’ conhecia. 
-  Oi! Que sorte te encontrar novamente... Disse Raimunda, quer dizer “Rai”.
-  Tudo bem? Respondeu Valdisnei, meio escabriado, começando a desenvolver um pavor
   recalcitrante por mulatas gostosas.
   A viagem ocorreu sem maiores incidentes, a não ser por aquelas sacudidelas que todo mundo que voa de avião ja' esta' ate' acostumado... 
   `A saída, ao se despedir de Raimunda, quer dizer “Rai”, ela falou baixinho:
-  Da’ pra me esperar um pouco? Gostaria de falar com você...
   Val esperou pela “conhecida” por alguns minutos e, saíram do avião de braços dados.
-  Vou ter que ficar na cidade por uma semana para acertar minha escala mas não conheço ninguém
   aqui. Sera’ que você poderia me ajudar a achar um lugar pra ficar?
   O cara deu uma boa olhada pra mulata e, quase tentando esquecer os horrores pelos quais havia passado respondeu:
-  Se você não se importar pode ficar comigo... Moro em Várzea Grande, a poucos minutos daqui.
   O lindo sorriso de “Rai” foi a resposta que ele não ouviu.
   Com o pretexto de ajudar sua companheira, em um ato cortês, “tentando” alcançar a alça de sua mala, “acidentalmente” meteu a mão entre as pernas da "atendente de voo", com força e determinação, so' por via das dúvidas, desculpando-se imediatamente após. A moça não entendeu nada, mas sorriu...
   Valdisnei sorriu em resposta, certo de que, desta vez, não se repetiria o que havia  acontecido no Rio de janeiro, depois do Carnaval.







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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

FILHA DA PULGLIA.








                                                     Filha da Pulglia.







    Jeralda ( seu nome se escreve com "J" talvez devido `a ignorância do escrivão que expediu seu registro de nascimento ) e' a filha da Pulglia minha vizinha Italiana...
   Ontem, chegando em casa, a vi plantada na porta da garagem. Assim que me viu fez sinais com o braço, como se estivesse tentando chamar a atenção da policia depois de ter sido assaltada por cinco bandidos armados ate' os dentes.
   Mesmo antes de ter o vidro da minha janela completamente abaixada, ela meteu o rosto dentro do carro, tão perto, que deu ate' para sentir o sabor do chicletes que nervosa e estardalhosamente mastigava... "Vem logo! Quero te contar as novidades..." Falou.
   Aprendi, ao longo da vida que, com adolescente não se discute. Faz logo o que querem e se livre do problema... E' claro que, se o adolescente for seu filho, ou filha, ai não e' bem assim.
   Mas, Jeralda e' apenas uma amiga, assim sendo, tudo fica mais simples... E' só dar um pouco de atenção, rir um pouco e aconselhar da melhor maneira possível, sabendo, de ante-mão que, antes de ouvir a terceira palavra, a primeira ja' estara' completamente esquecida...
   Alem de hipocondríaca descobri, e ate' já conversei com sua mãe a respeito, que a menina sofre de TDAH... Para se comunicar com Jeralda com sucesso, as frases não podem ter mais do que cinco palavras... Por exemplo; se ela ouvir: "Por favor va' ate' a cozinha abra a porta direita do armário abaixo dos que ficam ao lado da geladeira e, na prateleira inferior, pegue um litro de leite desnatado, na prateleira logo acima o po' de canela e o milho e coloque na mesa ao lado do fogão, onde eu guardo o sal e o azeite, para que eu possa começar a preparar a canjica"... Vai voltar dizendo: "Não vi leite nem canjica na geladeira".

   Todavia, o importante e' que fui ate' la' e a ouvi contar, com toda emoção reunida , que estava apaixonada... Me falava deste rapaz lindo, loiro, olhos azuis, modelo profissional, a "coisa" mais maravilhosa que ja' tinha encontrado... Havia sido a ela apresentado na noite anterior em uma boite, quando foi assistir a um show. Lembrou ate' que ja' o havia visto antes, não lembra onde.
   Depois de expressar minha opinião sincera a respeito de tudo, me despedi. Ainda pude observar sua alegria ao entrar em casa pulando alegremente, como quem esta' dançando o "bale' dos apaixonados".

   Hoje, escrevi este poema que vou colocar em um envelope, `a ela endereçado,  e depositar debaixo da porta de sua casa... Quando ela ler, posso ate' ver em minha mente, o sorriso estampado no semblante da filha da Pulglia.


   Um dia andando na rua
   eu vi de orelha furada
   um cara, cintura ainda nua,
   camisa na barriga amarrada…

   Como e’ o seu nome, falei!
   Olhando p’raquela beleza.
   Andre’, em resposta escutei,
   irmão da Maria Tereza.

   Apaixonada fiquei!
   Na vida eu nada mais quero.
   Que homem lindo, pensei:
   ...Nós dois dançando um bolero…

   O tempo passava e o Andre’
   nenhuma atitude tomava,
   chorava por ele ate’,
   minha mãe e’ que me consolava…

   Comigo um dia encontrou
   n’um show em uma boite.
   Olhou p’ra mim, nem falou…
   Usava uma calca escarlate.

   Guardei a cena na mente
   pensando: que coisa esquisita…
   O Andre’ rebolando contente,
   exibindo sua traseira bonita…

   Então, dois meses mais tarde
   acordei de cara amassada,
   minha mãe fazendo alarde.
   Eu olhava e não via nada…

   Sentada em minha cama, mostrou
   um jornal que so’ tem artista,
   ainda assustada falou:
   Vem ver o que vi’ na revista…

   O Andre’! Apontou pra noticia,
   com a mesma calca na foto,
   beijando um negão da policia
   Em cima de uma moto…








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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

A GALINHA E O PINTO...








                                                    A Galinha e o Pinto...









   Galinha passeava tranquilamente pelas ruas da Lagoa dos Patos quando, ainda de certa forma distraída viu, involuntariamente, sua visão se fixar no Pinto que andava em sentido contrario...
   Ao reparar melhor naquela "maravilha", como sua mente classificou o que se apresentava `a sua frente, pode perceber que se tratava de um Pinto de respeito. Não so' era grande mas também volumoso, totalmente tomando conta do ambiente e dos olhares de todos que por ele passavam.
   Pintos, por si so' ja' chamam atenção, principalmente do sexo oposto... São bonitinhos, pouco pelo, na grande maioria dos casos tem cabeças peladas mas, quando "rebolam" despretensiosamente dentro das calcas que os escondem, ai as "moelas" ficam doidas...
   Galinha era seria, de certa maneira ate' rude e mal educada mas, isto nada mais era do que um artificio para afastar de si, qualquer pinto que pretendesse brincar com ela e se sentir como "um pinto no lixo", neste caso, a caracterizando como o lixo.
   Galinha era muito bonita. Por onde passava atraia os olhares de todos.
   Era alta, bem aplumada, bastante asseada, andava sempre na ponta do pe', mostrando suas unhas muito bem cuidadas e, mais do que tudo, prestando muita atenção em sua higiene, e principalmente cheirosa, atributo extremamente raro de ser encontrado em galinhas.
   No momento exato em que se cruzaram, o Pinto não prestou muita atenção `a Galinha e ela percebeu isto, mesmo sem estar olhando diretamente para os olhos daquela maravilha, como anteriormente ela o havia qualificado. Mas, em sua mente, aquele Pinto não podia ser desprezado ou esquecido. Sabia que corria o risco de perde-lo para sempre se o deixasse escapar. E, não queria perder mais um pinto em sua vida, principalmente este, que a havia excitado tanto...
   Assim sendo, pensou rápido e, imediatamente bolou o plano genial de sair correndo pela multidão, no mesmo sentido em que seu objeto de foco se descolava, com cuidado para que ninguém percebesse e, mais adiante, tentasse novamente cruzar com o Pinto na esperança que, desta vez, tivesse sucesso em sua tentativa conquistual.
   Um pouco mais adiante, ainda reparando no Pinto que, percebera se aproximar novamente, esticou o pescoço, se aprumou toda e tascou o maior sorriso no semblante.
   Desta vez, deu certo. O Pinto ficou maluco quando reparou nas curvas da Galinha. Aquilo que ali estava em sua frente não era algo de se deixar escapar.
   Como todo Pinto tímido e envergonhado, murchou diate da possibilidade, começou a suar de nervoso mas, mesmo assim, reuniu coragem e se atreveu a dar uma "bicada" na Galinha.
   Aparentemente foi amor a primeira vista.
   Mesmo que tecnicamente o tal interesse tivesse apenas acontecido na segunda vez em que se cruzaram, na realidade se qualificava como amor `a primeira vista, uma vez que so' agora, o Pinto havia encarado a Galinha e, desta maneira, apropriadamente, mantendo as características do famoso dito popular. Uma baboseira que, na realidade, e' a coisa mais difícil de acontecer na praticidade de mortais apaixonados ou pressupostos ao acontecimento.
   Imediatamente, assim que se encararam, ja' de mãos dadas, corações esperançosos, e hormônios `a flor da pele, sentaram no primeiro banco que encontraram na praça principal da cidade, onde `aquele momento estavam e começaram, sem perder tempo com necedades, a trocar confidencias, explicitar esperanças, silenciosamente rezar `a tudo quanto e' santo que conheciam, para que aquele encontro fortuito se transformasse em algo duradouro e prazeroso.
   Galinha não tirava os olhos do Pinto que estava cada vez mais "inchado" sentindo um prazer enorme em cada elogio que ouvia daquela que o devorava com os olhos, e que so' não o fazia literalmente por receio de ser presa por atentado ao pudor, se por acaso tentasse agarrar o Pinto na frente de todo mundo.
   Aquele achamento ja' durava por mais de quatro horas e, `a esta altura ambos ja' tinham certeza que haviam encontrado o amor de suas vidas... A Galinha impressionada pelo tamanho do Pinto não o largava nem por um segundo. Apertava tanto o pobre que ele ja' estava todo marcado, mais parecendo um camarão do que pinto. Este, por sua vez, encantado pela beleza, feminilidade, sinceridade e determinação da Galinha, enfiava sua cabeça no sovaco da "moça" que, prazeirosamente, o aconchegava com seu calor maternal... Se algum transeunte por acaso prestasse atenção `aquela cena, certamente não entenderia porra nenhuma. A cabeça do pinto tentando furar um buraco no sovaco de uma galinha era algo incompreensível `a qualquer mente, por mais pornovisual que fosse, mesmo tomando em consideração que, afinal de contas, estavam na Lagoa dos Patos.
   So' havia uma coisa que, depois de toda aquela conversa, entendimento, troca de carícias, cheia de revelações, histórias de infância, e sentimentos expostos preocupava o Pinto e ele, honesto e direto como era, e também tendo a certeza que o que havia surgido entre os dois não era apenas uma galinhagem ou uma aventura de fim de tarde ao redor do galinheiro, neste caso sedimentado naquela praça fatídica e inesquecível, carinhosamente se dirigindo `a sua ja' considerada namorada, falou:
-  Sabe? A única coisa que me preocupa e' este teu apelido... Não quero que você passe por
   constrangimento quando ouvir alguém te chamar de Galinha. Mesmo porque, não sei o que faria
   para te defender do insulto... Por que te chamam de Galinha? Você me parece uma pessoa tão seria,
   tão comedida e, segundo o que me disse, ate' hoje só teve um namorado, o que jamais poderia te
   qualificar como uma galinha...
   Com um sorriso sincero, puro, destemido e assertivo ela respondeu...
-  Não tem como, meu amor! Meu nome e' Maria Júlia Galinha... Galinha e' meu nome de família.
   Aquela revelação, soou como uma bomba explodindo nos ouvidos de quem esta' prestes a ouvir a narração do único gol do Brasil em um jogo contra a Alemanha, que ate' então o derrotava por 5 X 0. De certa maneira triste mas conformado, também disposto a aceitar o óbvio após ouvir aquele
segredo contundente e, mais do que tudo, ja' cogitando em defender o seu amor, se preciso fosse, ele desabafou...
-  E'! Ja' que meu nome e' Armado Pinto. o jeito e' me acostumar com o fato que, de agora em diante,
   seremos referidos por todos como A Galinha e o Pinto...






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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

SÃO PAULO








                                                            SÃO PAULO
  











   Trolinha estava feliz da vida com o convite de sua prima Rosilda e seu marido à ela e Brolha, seu noivo… Fazia muitos anos que não visitava sua terra natal mas agora, finalmente teria a oportunidade de desfrutar com seu noivo as belezas dos Morros de São Paulo.
   Sendo a próxima segunda-feira era feriado, enforcando a sexta e saindo de casa pela manhã, teriam praticamente quatro dias para usufruir as maravilhas da terra Paulistana.
   Como combinado, todos se encontraram no Galeão com destino ao passeio tão aguardado.
   Feliz, como não se sentia ha muito tempo, Trolinha era toda sorrisos para o noivo.
   Não tardou para que o portão de embarque fosse aberto e os quatro tomassem seus respectivos lugares na aeronave que os conduziria ao destino.
   Andando pelos corredores apertados do avião, com a cabeça abaixada para não dar porrada no teto, uma vez que ela tinha quase dois metros de altura, localizou seus assentos e entrou primeiro, já que queria sentar-se à janela para aproveitar a vista do voo matinal.
   Espremeu daqui e dali e chegou à conclusão que, ou o avião era muito pequeno ou ela era muito grande. A solução foi a de sentar-se próximo ao corredor onde, esticando a perna, conseguiria, ao menos, se acomodar melhor.
   Brolha sentou-se à janela e ela a seu lado.
   Rosilda e seu esposo sentaram-se imediatamente à sua frente.
   Prestes a decolar, a aeromoça, vendo a perna de Trolinha no meio do corredor, abaixou-se junto a ela e disse:
-  Por favor coloque sua perna no espaço de seu assento…
   Trolinha ajeitou-se o máximo que pode junto ao encosto colocou ambas as pernas em cima do assento, esmagando seus enormes seios que, se juntando abaixo de seu pescoço fazia com que eles parecessem enormes bochechas em seu rosto.
-  Assim tá bom ou você quer que eu corte as minhas pernas e as coloque no bagageiro superior, como você diz `a todo mundo, sua idiota! Ainda não deu para ver que essa porra deste avião foi desenhado para anões? Disse Trolinha em resposta à aeromoça que, hoje em dia e’ conhecida como “atendente de bordo”. Primeiro porque as “mocas” fugiram do serviço e também porque os “moços” começaram a aparecer para completar as vagas... A pobre da “atendente de bordo” saiu fora, de fininho, sem dizer nada.
   Mais alguns segundos e o avião já estava no ar.
   Trolinha, sem muita visão da paisagem, já que seu rosto estava bem mais alto do que a janela minúscula do “avião de brinquedo”, perguntou à Brolha que, distraído, olhava lá em baixo pela janela:
-  Vem cá! Esse avião não está indo na direção errada?
-  Como assim? Respondeu ele.
-  Se estamos voando para o sul o oceano não deveria estar à nossa esquerda?  Ou fui reprovada em geografia, sem saber... Perguntou Trolinha, meia sonolenta…
Brolha estava tão entretido com a paisagem que nem prestou atenção `a
pergunta, muito menos `a sarcástica orservação.                                                                                       -  A menos que a gente esteja voando de cabeça pra baixo e eu nem me dei conta…” Pensou Trolinha, ainda meio confusa… “Neste caso, eu deveria estar sentada com a cabeça na cadeira e com a bunda pra cima, recebendo esse ventinho chato e aporrinhante que eu não consigo desligar… Deixa pra lá!” Concluiu seus pensamentos, “arquivando” o assunto, doida para chegar logo em São Paulo.
   Estava dormindo já há algum tempo quando sentiu uma mão estranha apertando sua perna com força. Acordando assustada, encolheu a perna dizendo:
-  Vai passar a mão na perna da tua mãe, seu filho da puta!
-  Três Pernas, assustado por aquele grito, virou para trás e falou:
-  Calma Trolinha, só estava tentando achar o botão para voltar a cadeira para a
posição normal. Já estamos pousando. Alem do mais, qual e’ o maluco que vai querer passar a mao em coxas mais cabeludas do que ouriço irritado?
-  Desculpe Três Pernas, foi sem querer…
-  Trolinha você precisa “lavar” essa boca. Ninguém te aguenta! Disse Rosilda 
   sentindo-se mais ofendida do que seu marido.
   Um pouco envergonhada, tentando se esconder dos olhares dos outros passageiros que, evidentemente, ouviram tudo virou-se para o lado de seu noivo, ainda a tempo de ver o avião pousar e o terminal aparecer, lentamente.
   Saindo do avião, passando pelo túnel, chegaram à sala de desembarque que, pareceu estranha à Trolinha, mesmo sem ter ido a São Paulo por tanto tempo…
   De mãos dadas com Brolha ela comentava:
-  Acho que São Paulo encolheu… Esse aeroporto me parecia ser maior…
   Brolha apenas sorriu daquela observação sem dar muita importância…
   Andaram mais alguns metros e Trolinha viu à sua frente uma placa que dizia: “Bem-Vindos a Salvador”... Aquilo lhe pareceu estranho.
-  Salvador? Que é que estamos fazendo em Salvador? Indagou.
-  Não tem voo para Morro de São Paulo, a cidade é muito pequena. Disse Brolha.
-  Estamos na Bahia? Perguntou Trolinha começando a perder a esportiva. Eu detesto baiano!      Concluiu…
-  Trolinha fala baixo porque Salvador tá cheio de baiano. Não vai me arrumar confusão…
-  Confusão e’ o caralho! Eu quero ir pra São Paulo...








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