sexta-feira, 29 de maio de 2020

MEMORIES










                        Memories






Two years has passed since I last touched your hand.
Where did it go? I don't really understand...
Maybe you loved me the way I did too,
what happened to us, to me, to you?

Through all this time, since we've been apart,
I kept with me, deep inside, in my heart
things that we had, that we felt and we did,
memories of a past that I never got rid...

All the walks that we walked after work, I remember,
hand in hand, like teenagers, year round, till december
stollen kisses at the park, like if greeting "our" tree
memories yet so fond that I still keep with me...

And now, here you are, like if "running" again
almost breaking my heart, bringing back that pain
that one day was so sweet, like never before,
foreseeing embraces, and kisses, a lot more...

I hope, in our future, even being away
we'll find each other, like we did it one day,
so, then, I could write many words and, again
talk about many feelings that, in me, still remain...
 






Copyright 9/2019 Eugene Colin

quinta-feira, 21 de maio de 2020

SABÃO








                                                                 Sabão








   Através dos anos, a humanidade, por intermédio dos que a ela pertencem, tem contribuído com grandes ideias que não só resolveram problemas como também abriram o caminho para novas invenções ou aplicações... 
   Vejam a roda, como um exemplo. Existem, entre outras duas teorias para sua invenção: a primeira, cerca de 3500 anos AC na cidade de Ur. Conta-se que um de seus habitantes estava cansado de tentar fazer potes de barro usando apenas as mãos, resolveu colocar um eixo numa pedra e faze-la rodar com o barro na parte de cima e, com o auxílio do pé para impulsionar o dispositivo, deixava suas mãos livres modelar o pote. Porem, com o tempo, a quina da pedra que batia no suporte que sustentava toda a engenhoca, produzia faísca para cacete que, não só aporrinhava o homem, como, com o tempo, começou a quebrar as pontas da pedra que, depois, ficou arredondada. 
   Outra teoria seria que um dos Celtas ou um dos Poltrugas que viviam no extremo oeste da Europa, onde hoje e' Portugal (não ha' consenso sobre quem habitava a região `aquela época), resolveu que precisava de uma pedra para tapar um buraco enorme que servia de porta para sua habitacão. Apenas conseguiu achar a pedra que o agradava, muito distante de sua moradia. Começou então a levantar a base da dita e faze-la mover sobre o caminho, aos trancos e barrancos. Quando chegou em casa todo feliz, ficou mais feliz ainda ao perceber que as extremidades da pedra estavam arredondadas. Concluindo assim que se fosse redonda, seria mais fácil de ser movida.    
   Parece que assim, por pura coincidência, a roda, sem dúvidas uma das mais importantes invenções da humanidade, foi inventada, ou melhor, descoberta. 
   Os primitivos inventaram também o tecido, outra das grandes invenções da humanidade.    Naquela época, os homens corriam atrás das ovelhas para, com as mãos, arrancar os pelos que as cobriam, e levavam para casa onde as mulheres teciam suas vestimentas; papiros para escrever, protetores para os pés, coisas deste tipo. 
   Estudos recentes dos povos primitivos indicam que a produção do fogo pelo Homo erectus, o ancestral imediato do homem moderno, só aconteceu no período neolítico, cerca de 7 mil anos AC. O Homo erectus descobriu uma forma de produzir as primeiras faíscas, através do atrito de pedras ou pedaços de madeira. Os homens pré-históricos não tinham casa para morar. Descobriram então que as cavernas e grutas podiam abrigá-los da chuva, do frio, do sol, bem como dos animais perigosos. 
   Segundo alguns estudiosos, o primeiro meio de transporte inventado foi aquático, ainda na Pré-História. Para construir as canoas e botes usados para atravessar rios e lagos, os homens usavam troncos de madeira, bambus e juncos. A jangada, ainda usada no nordeste brasileiro e' uma lembrança de um dos primeiros meios de transportes. 
   Os norte-americanos, assim como o portal online da Nasa, defendem que o primeiro voo motorizado da história foi realizado no dia 17 de dezembro de 1903, na cidade de Kitty Hawk, nos Estados Unidos, com os irmãos Wright a bordo do modelo Flyer. Porem, o Flyer, na verdade, usava uma catapulta para o impulsionar. Em 23 de outubro de 1906, a bordo do 14-bis, o inventor Alberto Santos Dumont sobrevoou o campo de Bagatelle, na capital francesa, usando recursos próprios, sendo por isso considerado o "Pai da Aviação". Muitas outras invenções importantes foram acumuladas através dos anos como os aquedutos, a lampada de Edson, a bússola magnética, o vidro, a pólvora, o relógio, o calendário gregoriano, o telescópio, a fotografia, o telefone, a televisão, a “internet”, a vacina e inúmeras outras. 
   Porém, dias atrás, em meio da pandemia global causada pelo Covid-19, surgiu, proferida pela ex-presidente Dilma Rousseff (presidenta, segundo ela) o que talvez seja a maior e mais importante idéia de todos os tempos... Em uma entrevista televisionada, nossa ex-presidente (presidenta, segundo ela) verrucíferou, em frente `a todo o mundo a teoria, que em sua opinião doentia, seria a salvação da humanidade. Acredite ou não, quando indagada sobre os progressos com relação ao combate ao vírus que tanto nos afligem nestes dias, respondeu: 
 - Se o sabão mata o vírus, porque não fazem uma vacina com o sabão?                                                                   







Copyright 5/2020 Eugene Colin

sexta-feira, 15 de maio de 2020

TARADO









                                                      Tarado









   Ontem chegando em casa, ao parar o carro vi, pelo retrovisor, a Jeralda, filha da minha vizinha, correndo em direção `a casa ao lado.
   Sua mãe, que estava no portão recolhendo a correspondência, a recebeu.
   Ao sair do carro ainda ouvi seu discurso nervoso:
-  Sabe aquele tarado que dizem estar solto pela cidade? Sentou ao meu lado no 
ônibus
   Quase morri de medo...
   Quando ela viu meu sorriso, respondeu:
-  Não ri não! Eu quase morro de susto e você fica rindo? E' porque não foi com você... E 

   se uma tarada sentasse ao teu lado, no ônibus, e quisesse te levar para casa dela? Disse    a menina, afagando seu cabelo, uma das caracteristicas mais importantes, 
   segundo ela, em sua aparencia. Sua mãe uma vez comentou que, se algum dia algo 
   acontecesse `aquele cabelo, a menina, provavelmente, se suicidaria...
   Não disse nada porque, certamente, ela não concordaria com a resposta...
   Uma tarada, ao meu lado, querendo me levar? Nunca tive essa sorte!
   Mas, escrevi um poema a respeito do evento... 


   Subi no ômbus correndo,
   fugindo de um tarado,
   de medo o peito doendo
   virei e o vi' a meu lado...

   - Amor, toma essa balinha,
   pra adoçar sua boca.
   Eu sei que você vai ser minha, 
   na sua cabeça oca...

   Desci do ônibus com medo
   correndo pra minha vo'.
   - Você acordou t
ão cedo!
   Me disse ela com do'...

   - Não e' isso não vovo',
   eu vi' um tarado na rua,
   me pegou quando estava so'
   distraída, no mundo da lua...

   Com meu cabelo na mão
   dizia que me amava.
   Gritei: - Me larga, se não...
   Me largou, enquanto gritava...

   Limpei o cabelo enojada,
   xingando a sua mãe...
   - Não faz assim minha amada!
   - Ici, prenez a ma main!

   Eu acho que era um Frances,
   falava todo enrolado,
   babando que nem Pequinês,
   fazendo um bico pro lado...

   Mais tarde ao computador,
   olhando noticias de gente,
   eu li com grande pavor:
   o tarado estava doente...

   - E agora, o que vou fazer?
   Perguntei para minha mãe.
   - Não sei o que te dizer! 
   Vou pensar, te digo demain...

   - Falei com o meu doutor,
   contando o teu problema.
   Me disse com muita dor
   como resolver o dilema...

   - Vais ter que o cabelo cortar!
   Todinho! Deixa-lo pelado,
   pra então poder se livrar
   da doença daquele tarado...




Copyright 3/2020 Eugenio Colin. 

domingo, 10 de maio de 2020

MÃE









                                               Mãe




              Para completar o homem, Deus a fez mulher...
              Mas para participar do milagre da vida, Deus fez a mãe.

              Para liderar uma casa, Deus fez a mulher...
              Mas para edificar um lar, Deus fez a mãe.

              Para estudar, trabalhar e competir, Deus fez a mulher...
              Mas para guiar a criança, Deus fez a mãe.

              Para os desafios da sociedade, Deus fez a mulher...
              Mas para o amor e carinho, Deus fez a mãe.

              Para fazer aquele trabalho, Deus fez a mulher...
              Mas para embalar o berço e construir um carater, Deus fez a mãe.

              Para ser princesa, Deus fez a mulher...
              Mas para ser rainha, Deus fez a mãe.





Copyright 5/2011 Eugene Colin

sexta-feira, 1 de maio de 2020

O MELHOR DA FESTA









                                                         O Melhor da Festa








   Amando Nabo Seta, um Português que havia chegado ao Brasil com apenas três anos de idade, possuía uma característica importante que o diferenciava de noventa e nove por cento de seus compatriotas; so’ gostava de mulher loira.
   `As vezes, na rua paquerando, nem olhava para outra mulher que não fosse loira. Para sua sorte, não se importava se o cabelo fosse pintado, contanto que fosse amarelo, tudo bem. Por outro lado, a única maneira de saber se aquela linda mulher que, eventualmente, chamara sua atenção era loira de verdade, não poderia ser verificada imediatamente...
   Sabia muito bem que, se por ventura, se atrevesse a sugerir que ela mostrasse seus pelos pubianos, levaria uma porrada tao grande no meio dos chifres que certamente passaria a ver tudo preto por muito tempo. A solução era então dar um credito de confiança para a amada em potencial ate’ que naturalmente pudesse descobrir a verdade, o que, na realidade não importava, ja’ que, sempre mostrado `a ele, e ao publico, seriam seus maravilhosos cabelos loiros.
   Por sorte, ou por azar, ja' que sua busca infrutífera se estendia agora por alguns anos, foi parar logo em Blumenau que, alem de estar cheio de loiras, como dizem os habitantes locais; “aqui, ate’ mulher que vende cachorro quente na rua e’ bonita”.
   Ponha-se você na pele do nosso amigo e imagine como se sentia... Mulher loira, bonita e sozinha...
   Na rua, por vezes, se portava como um cachorro perdido atrás de linguiça. Passava uma loira, la' se ia o Amando atrás da mesma. Se outra cruzasse, em direção oposta, Amando virava imediatamente... Se o perfume da “candidata” o agradasse, ai então e' que se portava como bêbado depois de uma trombada no poste.
   Mas o cara não dava sorte... Talvez porque a maneira pela qual tentava iniciar o dialogo não era apropriada para a cultura local. Algumas da frases usadas para "quebrar o gelo", eram do tipo:
-  O “Maria”! Queres ir `a casa cozinhar, lavar minha roupa e depois dar uma trepadinha?
-  Se eu te der Cem tu das três?
-  Se prometeres lavar, passar, cozinhar e trepar, eu caso...
   O que não da' para entender e' como usando frases como estas ainda estava vivo. Talvez pela educação, amabilidade e costumes locais, tão bem conhecidos no pais...
   Ainda bem que não chegara a se apresentar a ninguém. Imagina pegar na mão de uma mulher e dizer: “Meu prazer, Amando Nabo Seta”.
   Um dia, conversando com um amigo na rua Sete de Setembro, perto do centro da cidade do Rio da Janeiro, não pode resistir ao ver uma linda loira passar e falou:
- Tu és mais gostosa do que ensopado de jilo' com maxixe e quiabo mas, mesmo sem
   estares no meu prato, te comia todinha...
   Ao ouvir aquilo, seu amigo não pode resistir...
-  Amando, tu ta' maluco? Como e' que você tem coragem de dizer isto a uma mulher?
-  Se não lhe digo, como vai a cachopa saber que gostaria de come-la?
-  Cara, não e' nada disso! Agora sei porque você ainda esta' so'.
   Provando ser um amigo fiel, Jacinto Fadigas se ofereceu a educar seu amigo e tentar ensina-lo a como iniciar um contato com uma mulher.
   O primeiro passo foi convida-lo `a sua casa para um jantar quando o apresentaria `a sua esposa, notória por seu bom gosto, sobriedade, educação, delicadeza.
   Não tardou muito para que ela soubesse por onde começar a corrigir seu novo conhecido.
   Assim que viu aquela mesa hiper sofisticada e o cheiro de especiarias que perfumava a sala de jantar, Amando falou:
-  Senhora Fadigas, ainda não provei nenhuma desta porrada de comida que a
   senhora esta' a preparar mas, tenho certeza, que estão gostosas pra caralho. Minhas
   ventas nunca falham. Quando sinto meu próprio chule', sei que e' hora de trocar de
   meia e, acredite-me, senhora Fadigas sua cozinha não cheira nada como chule'...
   Interessante! Pensando bem, não sentimos cheiro de meleca... Pois então
   como sabemos a hora de limpar o nariz. Esta porra deste pensamento agora vai estar
   a consumir meus miolos. Meleca não cheira, pois não?
   A esta altura, Dona Mirinha tinha certeza que Amando era uma batalha inglória mas, por insistência de seu marido que, apesar de gostar de seu amigo Lusitano, morria de vergonha de estar a seu lado, iria tentar resgatar aquela pobre alma dos abismos do inferno ou, pelo menos evitar que fosse assassinado por uma das insultadas por sua condescendente verborreia.
   O jantar, cheio de idiossincrasias foi, no minimo, incongruente. Se o Português abrisse a boca, podia esperar ouvir uma asneira ou algo absurdo e sem cabimento... Seus elogios soavam como insultos mas, por incrível que pareça, conseguia proferir insultos com carinho... O cara era completamente destrambelhado.

   Coçando  a cabeça, como quem esta resolvendo se usa logo ou sai fora da moita, Dona Mirinha, recalcitrantemente, resolveu dar uma opção aos santos de operar um milagre.
   Convidou Amando `a sua casa novamente onde o treinaria em como despertar atenção e interesse de quem a ele interessasse interessar, ao mesmo tempo interessando ao seu interesse romântico, por ele se interessar de maneira interessante. Não queria que ele tivesse apenas um contato sem interesse ou privado de maiores interesses mas sim, algo que interessasse concomitantemente aos interesses românticos que aqueles interessados no interesse comum e interessante se interessavam em interessar.
   Dentre os tópicos em treinamento, estava também, maneiras `a mesa, como se portar junto `a uma dama durante uma refeição, em casa ou em publico. Como aprochegar, como escolher as primeiras palavras, como procurar descobrir os interesses da interessada e assim por diante... Em outras palavras aprender a “vaselinar” suas pretendentes...
   Os jantares aos quais era convidado três vezes por semana eram a base do treinamento que Dona Mirinha infletia em seu amigo, impiedosamente.

   Um dia, muitos meses depois, Jacinto chegou em casa todo animado, perplexo, sem acreditar no que tinha visto; naquele dia chuvoso, ao escorregar, cair, e ser praticamente atropelado por uma senhora que devia pesar quase duzentos quilos, Armando levantou-se do chão, com sua ajuda e falou para a senhora que ainda o olhava com uma atitude provocante; “Desculpe minha senhora se quase a fiz cair, sei que não deveria ter tropicado”. Alguns meses atrás, sua reação seria mais como se levantar e dizer: “O’ sua filha da puta, tu és cega? Não vês que eu estou aqui todo fodido? Não tens lugar melhor para enfiar as patas?”
   Mirinha, ao ouvir o relato, ficou realmente orgulhosa de seu trabalho. Naquele mesmo dia, ao jantarem, prestava bastante atenção `a Amando. Fino, delicado, atencioso, moderado, falando em voz baixa, ao invés de vociferar a respeito de chule' e meleca, como havia acontecido no primeiro jantar. Aleluia! Milagres acontecem...
   Parecia ate' que ele havia desistido de mulher loira... E' claros que ainda as encarava quando por ele passavam mas, agora de maneira respeitosa e sóbria. Apenas um discreto sorriso deixava escapar.
   Então, o inesperado tomou lugar. Deixou de olhar para todo o tipo de mulher, indiscriminadamente e' claro. Agora, estava `a procura de uma relação de verdade, não apenas uma trepadinha na sexta-feira, depois do trabalho.
   O ser humano e' realmente contraditório... Quando estava com fome, não sabia comer, agora que sabia como, havia perdido o apetite.
   Resolveu então, contra tudo e contra todos, entrar em um “site” de namoro a procura de sua parceira.
   Quem, por ventura, lesse o perfil do novo candidato, seria incapaz de dizer que, ha' apenas alguns meses atrás, estava proferindo obscenidades em ouvidos fortuitos que por ele ocasionalmente cruzavam nas ruas da cidade.
   Armando não era de se jogar fora. Era simpático, agora educado, atencioso, tinha um bom emprego, morava bem... E’ bem verdade que era mais cabeludo do que um macaco e, se não tomasse dois banhos por dia, seu chulé era capaz de contaminar ate' o caminhão do lixo passando do outro lado da rua... Mas, nada que uma depilação, e dois banhos por dia, pudessem resolver.
   Sempre, ao chegar do trabalho, a primeira coisa que fazia era sentar em frente ao computador e ler sua correspondência.
   Tinha tanta mulher interessada no raparigo que era difícil saber como começar a selecionar. E’ claro que, quem não fosse loira, estaria automática e irreversivelmente eliminada de suas pretensões amorosas.
   Amando não estava com pressa, ainda era jovem, pensara... "Mesmo que demore cinco anos para encontrar a futura dona do meu coração, não tem problema. O importante e' que acerte na mosca. Que dizer, acerte na moça. Ou seja que a moça seja a certa para mim. Bem, não faço questão que seja jovem, pode ser coroa, ou viúva ou cocota... Pode ser ate' uma vagabunda, neste caso, que queira se corrigir, e' claro. So' quero que seja a pessoa `a mim destinada pelos poderes celestiais".
   Depois de breves conversas inconsequentes, algumas ate' por vídeo, finalmente, um dia recebeu uma mensagem de uma mulher que realmente tinha tudo para ser a eleita.
   Era muito bonita... Loira, e' claro! Olhos azuis, rosto perfeito, lábios sensuais, alta, corpo bem proporcionado, mãos delicadas... O único revés e' que tinha sessenta e um anos de idade mas, pelo menos foi honesta em confessar a verdade, apesar de interessada em um homem que tinha trinta e cinco, não mentiu.
   A principio, a idade da pretendente o preocupava um pouco mas, depois de alguns pensamentos cruzados e ate' alguns argumentos entre sua razão e seu coração, decidiu que era melhor ter uma de sessenta do que ficar sonhando com duas de trinta.
   Começaram então, depois de terem aceito um ao outro, um romance epistolar onde trocavam opiniões, certezas, esperanças, aspirações futuras e, ate' mesmo desejos carnais ou, como diria o nosso amigo alguns meses atrás, antes da transformação drástica em sua personalidade; “sacanagem braba”.
   Amando estava feliz, assim como, aparentemente estava Delícia di Soppa sua pretendente, descendente de Italianos que para o Brasil imigraram no tempo da Guerra. Embora tenha sido criada Santa Catarina, atualmente vivia em Rondônia, sabe-se la' por que cargas d’agua.
   Para tornar tudo mais conveniente e providencial, Amando era uma ótima desculpa para voltar `a sua cidade natal apos tantos anos de ausência. Depois que se conheceram, começou realmente a sentir muitas saudades de suas raízes.
   Uma tarde, conversando com seu amigo Fadigas, confessou que estava vivendo uma das melhores fazes de sua vida e, esperava com ansiedade a hora de encontrar e conhecer pessoalmente `a Delicia, musa e-pistolar, responsável por toda aquela emoção romântica. Para ele, Delicia havia transformado seus dias solitários em uma constante dilação eufórica por um evento pessoal permanente.
   Fadigas também estava feliz por seu amigo, não so' porque finalmente teria a seu lado a companheira que tanto buscara como também deveria, depois da poeira assentada, parar um pouco de encher o saco.

   Ja’ haviam se passado cinco meses desde que conheceu sua Delicia. Ja' era tempo de começar a providenciar o encontro pessoal, teste final que, tinha certeza, confirmaria suas esperanças de que aquele “romance” fosse algo verdadeiro e duradouro.
   Antecipando os acontecimentos, sua “amada” pedira a ele que fizesse uma visita `a seus pais. Uma vez que moravam na mesma cidade.
   Naquele mesmo dia, em conversa telefônica, depois de um breve relato do que tinha acontecido, Amando marcou uma visita para o final de semana.
   Naquele Domingo, como combinado, la' estava nosso herói lusitano, dando o primeiro passo para a consolidação daquele namoro.
   O primeiro a recebe-lo foi o Sr. Collier di Soppa, um senhor que aparentava mais de oitenta anos, pai de Delicia. Assim que chegou `a sala de jantar, encontrou mais duas senhoras, uma aparentemente da mesma idade daquele senhor que o recebera, D. Appanella di Soppa que se apresentou como mãe de Delicia e uma outra bem mais nova, talvez beirando cinquenta anos, Bellamina di Soppa que disse ser irmã de sua namorada.
   Conversaram por algumas horas se racontando historias familiares, pessoais, alegres e pungentes... Como viviam em seu pais de origem, como decidiram escolher ao Brasil para sua segunda pátria, como aqui chegaram, as dificuldades enfrentadas... Amando também confessou historias sobre Portugal, sobre seus pais ja' falecidos, sobre as saudades que ate' hoje, tanto tempo depois do acontecimento, ainda sentia...
   A visita, que pretendia fosse curta e cordial, se estendeu ao almoço, depois para um cafezinho e so' se mancou quando viu D, Appanella sonolenta dando cabeçadas no encosto da cadeira onde estava sentada.
   Aquela havia sido uma agradável surpresa para Amando. Sabia que deveria ser gentil e educado com a família de sua noiva mas, nunca pensara que iria gostar tanto daqueles estranhos que acabara de conhecer.

   Finalmente, uma semana depois, receberia sua namorada no aeroporto dos Navegantes, cidade de Itajaí, menos de uma hora de distancia de Blumenau.
   Amando estava realmente nervoso. foram quase seis meses de vídeo conversas,
emails, telefonemas, muita alegria, felicidade... Como havia dito varias vezes `a sua namorada, mal podia esperar a hora de conhece-la pessoalmente para juntos poderem dar inicio `a “festa permanente” em que aquele relacionamento se tornaria.
   Estava se preparando como um menino se prepara para a primeira comunhão. Cortou os cabelos, comprou algumas pecas novas de roupa, deu uma ajeitada em sua casa, para torna-la mais condizente com padrões femininos... Havia ate', apos  ponderações intrínsecas, resolvido aparar um pouco os cabelos do sovaco e do pir... que dizer, do pe', sem o que seria difícil encontrar algumas partes, camufladas por aquele matagal de cabelos que cobria seu corpo.

   Eram três horas da tarde da terça-feira seguinte quando saia de casa em direção ao aeroporto. Em cinquenta minutos ja' estava na porta de desembarque, onde encontraria a namorada que chegaria `as cinco da tarde.
   Dez minutos antes do previsto, a porta se abria e os passageiros daquele voo começaram a sair. Não tardou para que reconhecesse entre eles aquela por quem esperava. Amando estava surpreso, Delicia não era nada daquilo que tinha visto anteriormente em vídeos e fotografias. Era muito mais bonita! Nunca, ninguém diria que aquela mulher tinha mais de sessenta anos de idade. Seu rosto impecavelmente maquiado, seus cabelos loiros brilhavam aos raios de sol que os tocavam, os lábios muito vermelhos, olhos azuis claros, desfilando um vestido preto que realçava todas as suas formas e davam azas `a imaginação. Enfim, uma mulher difícil de ser ignorada.
   Assim que ela também o reconheceu, foi a seu encontro e trocaram caricias amorosas. Todos ao redor não conseguiam tirar os olhos daquele par. Amando, por sua vez, mais parecia um galã da novela das oito do que um mal educado que alguns meses atrás oferecia dinheiro para tentar dar uma trepadinha.
   Mais alguns minutos de admiração por ambas as partes e saiam de mãos dadas em direção ao estacionamento.
   No caminho para Blumenau, Amando informava havia combinado ir diretamente `a casa de seus pais que ofereceram preparar um jantar em homenagem aos dois.
-  Ir direto para casa de minha família? Eles são tão chatos... Disse Delicia.
   Armando, desviando o rosto, olhava para sua companheira surpreso com aquelas palavras.
-  Você não gosta de seus pais? Perguntou.
-  Gosto ne'! São meus pais, tenho que gostar mas, meu pai e' surdo, tenho que falar as coisas mais
   de  dez vezes ate' ele entender. Minha mãe e' coxa, anda mancando, minha irmã e’ uma idiota que
   nunca saiu da cidade onde nasceu...
   Ao ouvir aquelas palavras, os olhos de Amando se encheram de lagrimas, ao
lembrar que D. Appanella contara que, quando fugiam da Itália, ao tentarem atravessar
escondidos uma barreira fascista, a menina, que mal sabia andar, teve sua perna
presa em uma cerca de arame farpado, ao tentar resgata-la, o barulho chamou
atenção dos soldados que patrulhavam a fronteira e começaram a atirar.
D. Appanella se jogou em cima de sua filha e teve uma das pernas atingida por uma rajada de metralhadora. Assim mesmo, andou dois dias, com a filha no colo, ate' chegar `a Stabio, cidade Suissa próxima `a fronteira Italiana. So' então pode ser atendida em um hospital de emergência.
-  As lagrimas são de alegria ou emoção? Perguntou Delicia, ao perceber o semblante
   de seu namorado que apenas balançou a cabeça em resposta.
   A viagem, a partir dali foi tensa e constrangedora...
   Ao chegarem `a casa de seus pais, que receberam os dois com muita felicidade e alegria, Delicia estava fria e mal conversava com os pais. Amando, tentando impedi-los de perceber a desconsideração da filha, fazia questão de lhes dispensar total atenção e cuidados especiais.
   Horas depois, sentados `a varanda da casa, Delicia tentava esclarecer os motivos da mudança de comportamento de seu namorado.
-  Você viu como tratas a teus pais? Se tu és assim com eles, como seras comigo
   depois que estivermos juntos?
-  Meu pai e' velho! Não sei como você tem paciência com eles... Alem do mais, vim
   aqui para ficar com você, não com eles... Respondeu Delicia.
-  Pois então tu podes voltar. Toda tua beleza não serve para nada se tratas aos outros
   desta maneira. Teu pai e' um herói que não exitou em viver em um pais estranho
   para que tu e tua irmã tivessem uma vida melhor. Tua mãe manca porque salvou tua
   vida e tua irmã e' uma pessoa feliz, tem a vida que escolheu e se dedica muito a teus
   pais. Você e' uma pessoa fútil... So' agora entendo coisas que ouvi dizeres e que, no
   momento, a mim não fizerem sentido.
-  Desejo a ti toda a felicidade do mundo mas, por favor, não mais me procures...
   Assim que terminou seu discurso, voltou `a casa e se despediu da família e da ex namorada.

   Semanas passaram ate' que um dia, por coincidência, se encontrou com Bellamina. Imediatamente a convidou para jantar, estava com saudades de todos, queria saber como estavam...
   Conversaram a noite toda sem mencionar uma vez o nome de Delicia.
   Ao final da noite, Amando, muito gentilmente se ofereceu a acompanhar sua ex-quase-cunhada ate' sua casa. Se seus pais ainda estivessem acordados, aproveitaria para matar as saudades.
-  Você tem falado com minha irma? Perguntou Bellamina.
-  Não! Nunca mais tivemos contato. Sabe? A melhor coisa para mim foi esperar pela
   chegada de tua irma. Tinha tantos planos para nos... Assim que a encontrei e
   começamos a conversar, todas minhas ideias despencaram como um castelo varrido
   pelas águas do mar. Depois que presenciei a maneira com que ela falou com você e
   com teus pais, de repente, ela se tornou para mim uma pessoa feia, insuportável.
-  Minha irmã não tem jeito. Foi um alivio para nos quando ela resolveu sair de casa. Meus pais
   estavam sempre tristes enquanto ela aqui vivia. Disse Bellamina.
   Não tardou para que chegassem `a casa da Soppa. Assim que entraram, constataram que Seu Collier e D. Appanella ja’ estavam dormindo.
   Sentados no mesmo banco, na varanda da casa, Amando e Bellamina ainda conversaram por horas... So' agora reparava melhor naquela mulher que, embora não fosse tão bonita e bem tratada como a irmã, era loira, olhos azuis, alta, elegante, solteira, muito gostosa, alem de educada, gentil, respeitadora e, principalmente, uma boa e dedicada filha.
   Ao se despedirem, ela o convidou para o almoço de Domingo.
   Antes de chegar ao carro, estacionado em frente `a casa, ainda deu uma olhada para Bellamina que acenou para ele exibindo um sorriso feliz.

   Assim que colocou o carro em movimento lembrou do tempo de menino, em uma semana que antecedia o Natal daquele ano, quando disse que mal conseguia esperar os dias que faltavam para abrir os presentes que havia pedido a Papai Noel. Sua avo' uma senhora baixinha que, toda vez que ria, sua barriga balançava, olhou bem para ele e falou; “meu filho, nunca se esqueça que a espera e' o melhor da festa.”







Copyright 10/2019 Eugene Colin