terça-feira, 3 de dezembro de 2013

PERMISSÃO PARA COMER O MEU PERU








         
                                             Permissão para comer o meu Peru





   Nas vésperas de Natal, Papai Noel recebe algumas cartas inusitadas, algumas das quais difíceis de acreditar. Esta foi uma delas, enviada da cidade de Intercourse, Pensilvânia, USA, votada pelos “Duendes” como a mais estranha do ano...

   Querido Papai Noel,

   Como  o senhor bem sabe, América fica realmente especial nesta época do ano…
   As ruas são enfeitadas com motivos natalinos, sinos prateados, fitas vermelhas e verdes, figuras de Papai Noel, laços vermelhos… Ate’ muitos carros são decorados por seus motoristas. Os Shoppings então, nem se fala. Parece que o espirito de Natal desce nesta terra. Isto acontece ano apos ano e, por incrível que pareca, todos ficam excitados, alegres, entusiasmados como se nunca houvesse acontecido, como se tudo fosse novidade, como uma criança que vê Papai Noel pela primeira vez.
   Estações de radio tocam musicas de Natal o dia inteiro. Alguns canais de televisão exibem filmes de Natal diariamente, ouvimos histórias de milagres, alguns ate’ bastante plausíveis que, com um pouco de imaginação e boa vontade, bem que poderiam acontecer…
   Aqui, em locais de trabalho, enormes árvores de Natal, que quase chegam ate’ o teto são armadas e decoradas e, ao lado delas, muitas vezes um CD player toca musicas de Natal o dia inteiro.
   Antes do dia de Ação de Graças, muitas empresas distribuem `a cada empregado um brinde e, na semana antes do Natal, um presunto, daqueles que no Brasil ficam nas vitrines dos balcões das padarias, principalmente para fazer sanduíches.
   Tudo isso, toda esta fantasia que paira no ar, nos faz sonhar, aderir ao “espirito natalino” como se diz e, transformar em realidade os nossos desejos mais íntimos e importantes.

   Ela estava tao real… Parecia que a via comigo, a meu lado, sentada, como estivemos tantas vezes antes. A “contemplava” a meu lado, de pernas cruzadas, relaxadamente feliz, com as mãos no queixo, olhando para mim com o um sorriso maravilhoso, esperando que eu tomasse a iniciativa…
   Olhei para a moca, tirei o peru que trazia guardado `a algum tempo e botei para fora. Imediatamente “vi” sua mão linda e delicada segurando o peru pela ponta. Com um sorriso alegre, realizado, feliz, o colocou em sua boca de uma so’ vez, como se fosse um petisco, ainda olhando para mim, como se estivesse pedindo autorização , como se precisasse de permissão para comer o meu peru que, e’ claro, como tudo mais que tenho, seria dela também.
   Sentia esta presença tao viva e real, a mesma que me acompanha dia e noite, onde quer que eu va’, o que me alegra com uma companhia tao doce e agradável e que muitas vezes me faz sorrir sozinho, lembrando de nossas "conversas", de algo que disse e a fez feliz e, da felicidade que aquele sorriso me trouxe.
   Ainda fiquei algum tempo sentado, no mesmo lugar onde, apenas alguns minutos atrás via a mesma linda figura em minha frente, enchendo a casa de alegria e felicidade, com o som daquela voz ecoando pelas paredes que há alguns meses eram tao tristes e agora parecem que entendem o que ouvem e fazem com que as palavras ressoem, como tentando a tarefa impossível de embelezar aquela linda voz.
   Mais uma vez olhei para ela, segurando o peru que havia colocado na boca, mordendo delicadamente como se estivesse com medo de machucar.
   Estava curioso… Os dois tomates ainda estavam no mesmo lugar, ela ainda não os havia tocado. Toda vez que pegava o peru, via sua mão encostar em um deles mas, agia como se estivesse querendo evita-los… Sera’ que vai deixar para o final, para depois que estiver saciada, ou sera’ que não gosta dos tomates que acompanham o peru, pensei…
   Sinceramente, ao botar o peru pra fora, ate' havia pensado em fazer uma sacanagem mas, como  todos sabem, sacanagem sozinho não e' a mesma coisa. Alem do mais, o trabalho em agrupar em um palito tantos ingredientes, so’ vale a pena se tivermos alguem com quem dividir trabalho e prazer...
   Estava tao envolvido, tao absorto em meus pensamentos que nem percebi quando o sinal do forno me avisava que a refeição ja’ estava pronta.
   “Despertei”! Olhei para “ela” mais uma vez e percebi que estava sonhando acordado. Acho ate’ que “vi” quando ela não estava sentada na cadeira e sim dentro de mim com uma presença tao real e absoluta que por vezes se torna difícil de entender onde realidade e fantasia se separam.
   Levantei, ainda sorrindo, fui ao forno trouxe para a mesa o peru que havia acabado de preparar, juntamente com os tomates que antes havia descascado. Coloquei tudo sobre folhas de alface, “enfeitei” o peru com algumas fatias de cebola e trouxe para onde, apenas alguns minutos atrás, estava “sonhando”.
   Tenho certeza que, algum dia, vou ter a chance de, muitas vezes, dividir com alguem o peru, com ou sem os tomates, ou qualquer outra refeição que eu preparar... Mas a ansiedade que este momento chegue depressa e’ tao grande que, muitas vezes, me vejo sonhando acordado, me deliciando com uma mulher ainda “sem rosto”,  vivendo o futuro, tentando segurar junto a mim este sonho, o quanto puder, na esperança de que assim o fazendo, possibilite ao tempo passar correndo, sem nos enxergar, sem ver minha pressa em vê-lo `as nossas costas.
   Hoje, sonhei com quem ainda não conheço e, por alguns segundos ela esteve aqui comigo, compartilhando uma das tradições Americanas, ceando comigo o peru de Thanksgiving.

   Sei que e’ difícil para o senhor dar mulheres de presente mas, sendo Papai Noel e sabendo de tudo, talvez consiga e, se for possível, escolher uma para mim, dê preferência a mesma com quem vivo sonhando por algum tempo e que, ate’ ja’ colocou meu peru na boca...
   Por favor, encontre ela para mim...Não estou querendo lhe ensinar o que fazer mas, se a achar e mencionar o que ela fez, e' bem provável que se lembre.
   Ah! Se por acaso o senhor for entrar com ela pela chamine', tome cuidado... A bunda dela e’ grande, e pode ficar “engasgada”...

   Obrigado e, Feliz Natal!

   Horinando Bundim Dodói.




Copyright 2013 Eugenio Colin

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