quinta-feira, 25 de julho de 2013

VINGANÇA MALIGNA






                                                         Vingança Maligna





   Estava lavando o carro na porta de casa quando chegaram Jeralda, minha vizinha e seu amigo Saulo, o filho da Puglia, voltando da academia.
   Estavam conversando sobre poderes sobrenaturais, inexplicáveis...
   Perguntaram minha opinião. E' claro que se eu afirmasse não acreditar, a "discussão" estaria praticamente encerrada, em sinal de respeito `a uma pessoa mais experiente. Não sabia quem era a favor ou contra a teoria mas, botando lenha na fogueira, disse que eu tinha poderes sobrenaturais...
   Contei que, anos atrás, dirigindo meu carro em uma estrada de terra no interior de Minas Gerais, apos uma tempestade de vários dias que havia inundado parte da região, olhei pela janela e vi um carneiro tentando sair do atoleiro. Quanto mais tentava, mais se afundava. Parei o carro a procura de algo que me ajudasse a resgata-lo. A única coisa que encontrei foi uma galho de palmeira, longo e resistente. Me apoiei bem na margem da estrada e atirei uma extremidade do mesmo em direção ao carneiro que, não sendo burro, imediatamente entendeu que eu estava tentando salva-lo.
   Assim que saiu, esfregou o nariz em minha calca, não sei se para agradecer ou para limpa-lo da lama que poderia estar impedindo sua respiração, e saiu correndo em direção `a mata.
   Naquela noite, ao chegar ao meu destino, sonhei que era recebido por um rebanho de carneiros e que, o "chefe" deles, colocou a pata na minha cabeça e falou: "De agora em diante te concedo poderes totais. Sobre a pessoa de quem o nome na boca de um dos nossos colocares, terás completo comando de seu destino, para o bem ou para o mal.
   Os dois me olharam com uma cara de surpresa, sem saber se deveriam acreditar que aquela historia era verdadeira...
   Jeralda, que tem mais intimidade, e que também, embora mais nova, e' cem vezes mais esperta de que seu amigo falou:
-  Você e' cheio de historia... Tem poderes nada! Se você tivesse poderes estava dirigindo uma
   Mercedes ao invés de um Volkswagen...
-  Meus poderes são para controlar o destino de uma pessoa, não para ganhar um carro. Respondi.
-  Quer que eu faca um teste com você? Perguntei, em tom de voz serio e sombrio.
   Ela olhou para mim, olhou para o Saulo, pensou por alguns segundos e começou a sorrir...
-  Que poderes nada! Falou, ainda sorrindo.
-  Você ta' maluca? Não brinca com essas coisas... Isso e' serio! Disse seu amigo.
   Naquele momento descobri quem acreditava em que.
-  Esta noite, depois que você dormir, vou fazer uma experiência com você. Amanha vai ver
   que vai acontecer. Disse, olhando para ela bem serio.
   Enquanto se afastavam ainda ouvi seu amigo dizendo: "Para de brincar com o que não entende." Jeralda sorria, sem saber se deveria voltar atrás em seu desafio.
   Em casa, fiz um pequeno carneiro de papel machê, coloquei em sua boca uma folha enrolada com um poema que escrevi, e pedi que Amelia, sua mãe, o colocasse sobre uma cadeira, ao pe' da cama para que ela pudesse ver assim que acordasse.
   Na folha de papel `a boca do carneiro, escrevi...

   Minha vingança sera' maligna,
   confortando toda  a tristeza
   então, ate’ sera' digna,
   colocando em cheque o dom da beleza...

   Em uma manha, não muito distante,
   depois de acordar cocando a cabeça,
   sentiras um odor, um cheiro constante
   assim que te olhar no fundo do espelho.

   Mexendo com os dedos na ponta do pe',
   movendo o nariz pra baixo e pra cima,
   não vais aguentar aquele chule'
   cheirando na casa, empesteando o clima.

   Agora ainda tonta, o olho esfregando,
   escova com pasta escovando o dente,
   vais ver os da frente, de leve soltando,
   caindo na pia com agua ainda quente.

   Banguela, na mesa tomando cafe,'
   sem dente, chupando a manteiga do pão,
   a meia cobrindo o cheiro do pe',
   vais ate' assustar a pulga no chão.

   Voltando p’ra cama, dormindo chorando,
   tentando entender o que aconteceu,
   vais voltar ao passado na mente lembrando
   de palavras perdidas que alguem prometeu.

   Procurando esquecer a dor quer sentia,
   escolhendo uma calca entre aquelas que tinha,
   ja' toda arrumada pra Academia,
   sentiras a bochecha coberta de espinha.

   Com a boca fechada, o pe' protegido,
   tentaras disfarçar tua figura com zelo,
   o rosto coberto com creme fedido,
   choraras ao ver caindo o cabelo.

   Mamãe, o que e' isso? Por favor me conta,
   To careca, banguela, coberta de espinha,
   um chule' que me deixa ainda mais tonta...
   Onde foi a beleza que ainda ontem eu tinha?

   Sei não minha filha! Volta ao teu passado...
   O que você fez? Me conta primeiro!
   Se deixou noutro dia alguem magoado,
   ele deve ter dado teu nome ao carneiro...


Copyright 2013 Eugenio Colin







  

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