sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Mr. JOHN









                                                            Mr. John








   John, um Americano, nascido em Knoxville, estado do Tennessee, nos Estados Unidos, era maluco por mulher... Por sua falta de sorte havia nascido justamente na que e’ considerada a cidade mais conservadora do “bible belt” Americano. Mulher ali so’ pra casar. Ate’ namorar e’ difícil.

   Para se dar uma olhada, de leve, em um peitinho, era um sacrifício homérico. Ate’ hoje, aos seus 27 anos, so’ havia conseguido uma vez. Assim mesmo teve que namorar por seis meses e jurar, de pe’ junto, que tinha intenção de casar.
   Uma vez, em uma tentativa que pensara ser providencial, arrumou um emprego de motorista de taxi, so’ porque um conhecido lhe disse uma vez que pegou uma passageira sem dinheiro para pagar a corrida, e lhe ofereceu mostrar os seios em troca. “Naquele dia, por sorte, não atropelei três cachorros, passei por cima de uma senhora com uma sacola cheia de compras de super mercado, derrubei um hidrante a avancei um sinal”. Disse aquele motorista.
   Mas John era mesmo sem sorte... Trabalhou dois anos como taxista, e não conseguiu conduzir nem uma porra d’uma mulher que estivesse sem dinheiro para pagar a corrida, ate’ gorjeta recebia.
   Vai ter azar la’ longe!
   Um dia em casa, em um mês de fevereiro, após haver desistido daquele emprego sem futuro, assistindo a um noticiário vespertino, pode ver, para seu espanto e alegria, uma reportagem sobre o carnaval do Rio de Janeiro. Nunca havia visto tanta mulher pelada. Foi meia hora de bunda, peito, coxas, umbigo pintado e coisas que nem sabia existir em corpo de mulher. Ao final do programa, nosso amigo estava babando mais do quem recém nascido. Estava pasmo, estupefato, assombrado, embasbacado, interdito, petrificado, atônito. Levantou da cadeira onde sentava, deu uma arrumadinha, para o que antes dormia poder caber dentro de suas calcas e decidiu; iria trabalhar o tempo que fosse preciso para poder juntar dinheiro e viver um ano no Rio de Janeiro. Se planejasse direito, daria tempo ate’ para vivenciar dois carnavais, se conseguisse sobreviver ao primeiro sem um ataque cardíaco. Não ia para trabalhar ou morar de vez. So’ queria poder ficar um ano sem fazer nada, sentado na praia, vendo mulher pelada... Quer dizer, quase pelada! Tinha o biquíni para atrapalhar...

   Três anos mais tarde, apos jornadas de trabalho que muitas vezes se estendiam por mais de quinze horas, John pediu demissão. Ninguém entendeu porra nenhuma. O cara era o melhor programador da empresa. Sabia tudo. Era educado, gentil, solícito, repeitava ao extremo as colegas de trabalho... Sarah, uma loira de olhos azuis que trabalhava com ele, fez tudo para namora-lo mas, John sabia muito bem... Se comesse, tinha que casar. Dispensou a menina na maior... Todos davam em cima dela e o John não quis. Seu único pensamento era mulher pelada no Rio de Janeiro. Quer dizer, quase pelada! Tinha o biquíni para atrapalhar...


   Finalmente chegou o dia pelo qual aguardara sua vida inteira. Sacou todo o seu dinheiro do banco, vendeu tudo que possuía, entregou o apartamento onde morava de aluguel, fez as malas com o pouco de roupa que havia sobrado e, saiu feliz em busca da realização de seu sonho. Tinha tudo ja’ planejado... Ia alugar uma quitinete no Leme; era mais barato do que Copacabana, Ipanema ou Leblon mas dava para ir ate’ la’`a pe’. Além disso, nos dias de preguissa, poderia ate’ tentar ver mulher pelada na praia do Leme... Quer dizer, quase pelada! Tinha o biquíni para atrapalhar.

   Podia almoçar na praia. Sabia que vendiam cachorro quente, angu, milho verde, batata frita, as mesmas porcarias que comia em sua cidade natal... O único detalhe que  não havia conseguido resolver foi chegar ao Rio a tempo para o carnaval mas, tudo bem, o importante e’ que estava onde queria e, feliz da vida, podia aguardar o próximo carnaval, sentado na praia, olhando mulher pelada... Quer dizer, quase pelada! Tinha o biquíni para atrapalhar.
   Havia no entanto um problema um pouco mais sério que ele não conseguia resolver; o domínio da língua portuguesa. Não era completamente incapacitado mas, como pensara muitas vezes, “e’ muita difixil esso porro desxto linguou”. O importante e’ que o  básico ele conseguia falar, o problema era dos outros que não faziam o esfôrço necessário para entende-lo.

   A vida seguia, em sua opinião, melhor do que planejado. So’ ainda não havia ficado vesgo por sorte. Um dia, tentou virar o pescoço tão depressa que foi parar na Santa Casa de Misericórdia. No dia seguinte, nem todo enfaixado, como estava, deixou de ir `a praia para apreciar “o maior espetáculo da terra”, mulher pelada... Quer dizer, quase pelada! Tinha o biquíni para atrapalhar...


   Estava no Rio por mais de três meses quando, naquele dia, resolveu visitar a praia de Ipanema, onde nunca havia estado.

   Em la’ chegando, sentou em um banco na Vieira Souto e iniciou a admiração da “natureza”... De repente, sentiu seu olhar atraído por uma figura feminina que estava muito distante, quase inperceptivel... Aos poucos os detalhes eram revelados. Cabelos longos, negros e lisos, a pele morena, as pernas longas, o corpo escultural, olhos verdes... Como um imã, aquela mulher o atraiu, fazendo que ele se levantasse de onde estava e a seguisse. Andava a uma distância segura para não assustar a presa. Inconscientemente entrou no mesmo ônibus, sem mesmo saber o destino. Viajou por horas ate’ chegar não sabia onde. Mal entendeu o motorista dizer: “Bangu, parada final”. Assim que a viu levantar, fez o mesmo. Ainda a seguia a distância quando a percebeu entrando em um portão apertado, dando impressão de tratar-se de uma casa de fundos.
   Mas, e agora? O que poderia fazer? Não tinha a menor ideia de onde estava. Nem sabia como voltar para casa. Andou meia hora, de um lado para o outro da rua, pensando, pensando...
   Pensava naquela mulher maravilhosa, que o havia encantado, quando viu um casal se aproximar. Olhou para os dois sem saber exatamente o que queria fazer.
 - Tudo bem? Cumprimentou o rapaz que se aproximava dele.
 - Nau xei aindo. Respondeu John.
-  Você fala Português? De onde e’?
-  Sou de Tennessee, Estados Unidos maix esta’ aca paro conescer a Rio.
-  Ta' entendendo alguma coisa? Perguntou a moça que acompanhava o rapaz.
-  Me chamo Três Pernas. Apelido e’ claro. Esta e’ minha noiva, Rosilda Gostosa.
-  Minha nome es John.
-  O senhor mora aqui?
-  Não sei onde eu mora...
-  Esta’ perdido?
-  Acho que esta’. Respondeu John,
   Tentando ajudar, mesmo contra as advertências de Rosilda, Três Pernas convidou o forasteiro `a sua casa.
   Mais calmo, depois de contar toda aquela historia, desde quando ainda dirigia taxi, John confessou que nunca havia visto nada mais lindo em sua vida do que aquela mulher que entrara no portão que podia ser visto da casa onde estava.
   Não e’ a casa da Gracinha? Disse Rosilda.
   Inexplicavelmente, eles gostaram do estranho. Depois de horas de conversa, ofereceram que ele dormisse ali mesmo e que, no dia seguinte, Sábado, quando sabiam que seu interesse amoroso não trabalhava, os apresentariam.
   John não entendeu nada mas aceitou. Além do que, `a esta hora não tinha mais ônibus para Copacabana.

   Quando acordou, convidado para o cafe’ da manhã, teve a maior surpresa de sua vida; ali estava, diante de seus olhos aquela mulata que havia seguido na noite anterior, mais linda do que pensara com um sorriso capaz de fazer qualquer um  comprar a pasta de dente que anunciara.

   John tremia de nervoso, pensou ate’ que fosse dar caganeira.
   Três Pernas e Rosilda se divertiam com a tentativa de conversa entre os recém conhecidos.
 - O gringo e’ legal! Disse Três Pernas `a sua companheira. Vamos deixar eles
    sozinhos...
   Os dois conversavam desde que se viram pela manhã. `A noite, John ate’ ja’ tinha melhorado seu Português. Pelo menos Gracinha estava entendendo...
   Eram onze horas da noite e os dois ainda estavam grudados no sofa’ onde sentaram desde que terminaram o almoço que ela mesmo fez questão de preparar.
   Desta vez foi Rosilda que sugeriu a Três Pernas que o convidasse para a quermesse do Bangu, clube que frequentavam. Ate’ seu amigo Brolha e sua prima estariam la’. John estava envergonhado de dormir pelo segundo dia na casa de uma pessoa que mal conhecia...
-  Fica frio, amigo! E’ um prazer. Além do mais, deixa eu falar... Por favor, tome
   cuidado com Gracinha. Ela’ e’ uma pessoa maravilhosa mas, não deu muita sorte na
   vida... Tinha muita ambição em estudar, ser alguem mas, arrumou um pilantra que a
   deixou quando estava grávida  e nunca mais apareceu, nem para ver a filha.
-  O que ser “pilantra”? Perguntou John
-  Uma pessoa desonesta, sem caráter, que engana os outros...
-  Oh! I know! An asshole!
-  O que? Indagou Três Pernas
-  Deixo pro la’! Disse John. Não preaculpa se. Não ser pinlantrow...

   Domingo pela manha, Gracinha chegou `a casa de Três Pernas toda sem jeito para saber de John se ela podia levar a filha com eles.

   Em um momento de desafogo, conversando com Rosilda perguntou: “Qual e’ a desse cara? Loiro, bonito pra cacete, parece um artista de cinema... Que sera’ que ele viu em uma empregada doméstica dura, com uma filha, que mora em Bangu?
- Amiga, você tem espelho em casa? Olha bem para o teu corpo, teu rosto... Você e’ 
   delicada, educada, gentil, linda... Não sei não minha amiga mas, tenho a impressão
   que você esta’ com sorte.
   Gracinha também havia se interessado naquele Americano. Não sabia direito o que ele queria. Por certo namorar, dar uns beijinhos, uns amassos... “Ate’ que eu dava uma trepadinha com ele...” Pensou, em um momento em que viu o tamanho de seus pés. Dizem que o tamanho do pe’ revela o tamanho de alguns orgãos do corpo... "Sera' que e' verdade?" Pensou, curiosa...

   Eram cinco horas da tarde quando resolveram que ja’ era hora de ir para a festa no clube. Gracinha estava mais linda do que nunca. Sua filha Graciosa ouviu de Mr. John, como ela o chamava, que era encantadora.

-  O senhor me ensina Inglês, Mr. John? Disse a menina.
-  Sou se voxe insenhar mim Portugueix... Respondeu
-  O que ele disse? Perguntou a menina `a mãe.
   Gracinha estava feliz... Mesmo ainda sem ter um sentimento maior por aquele estranho que conhecera ha’ apenas um dia, começava a admira-lo e, estava disposta, se ele obstinasse, a manter uma aventura amorosa. Principalmente porque ha’ anos não sabia o que era sexo. “Como e’ que eu vou trepar? Trabalho a semana inteira como uma condenada, estou sempre fedendo `a alho, cebola, cafe’, agua sanitária... No final de semana estou mais cansada do que jogador de futebol depois do treino”... Ainda bem que John não conseguia ler pensamentos. Se, vagamente, soubesse do que estava se passando na mente daquela mulata linda, como jamais vira outra igual, ela seria degustada ali mesmo, com roupa e tudo.
   Agora no clube, sentados `a uma mesa, ao lado de seus vizinhos, Gracinha falou, dirigindo-se a sua filha: “Quer um guarana’?” Apos a resposta afirmativa da menina, virou-se para John e disse: “Para você, meu amigo, vou trazer uma caipirinha.”
   Ela se levantou em direção ao bar, imanando, como fazia desde  o dia anterior, os olhares, pensamentos e atenções do gringo. Enquanto se afastava, em direção ao bar, John pensava: “Ja’ penxou esta mulier pelada?” O melhor e’ que, naquele pensamento, era pelada mesmo! Não tinha biquíni para atrapalhar...
   Assim que chegou de volta `a mesa, deu o refrigerante para a filha e caipirinha para John. Pronto! Era so’ o que faltava. Sem saber ela havia aberto a “boceta de Pandora”. Foi a primeira vez que ele estava provando uma caipirinea, como ele pronunciava. Passou a fazer parte integrante de sua vida...
   Agora, e’ claro, ele teria que dormir mais um dia na casa do novo conhecido. Tomou tanta caipirinea que ja’ estava de porre antes mesmo da festa começar. Gracinha se divertia... Gostava daquele homem. Ele era espontâneo, engraçado, gentil, sempre sorrindo, e além de tudo, passara o dia inteiro, conversando, brincando, fazendo cócegas em sua filha que, aparentemente, também havia se entrosado perfeitamente com seu novo “amigo”.
   Aquela Segunda-feira foi um dia triste. Tinha que voltar para casa. Acompanhou Gracinha ate’ o seu emprego em Ipanema onde ela ficaria ate’ o final de semana...
-  Poxo tei ver na Sábada por na manan?
-  Claro! Vou telefonar para Graciosa dizendo. Sei que ela vai ficar contente...  Respondeu, sorrindo.

   O dia foi terrível para John. Não comeu nada o dia inteiro... Não queria sair de casa. So’ pensava nos dias em que esteve em Bangu.

   Dois dias depois, sem nenhuma explicação, telefonou para seu novo, e único amigo, Três Pernas, perguntando se dava para ajuda-lo a conseguir um emprego.
-  Pensei que você estivesse no Brasil para gozar férias?
-  E’u tambiem maix, para cuidar do famílio tenho que trabaliar... Disse John.
-  Que família? Pensei que estava’ so’... Respondeu Três Pernas.
-  Estar so’! O famílio vem por maix tarde...
-  Ta’ complicado entender mas, a melhor pessoa para te arrumar emprego e’ a Betty
    Frigida, amiga do meu amigo Brolha. Vou falar com ela.
-  Possa ir Sábado ate’ xua caso?
-  Claro! Melhor ainda! Vou falar com a Betty... Ela mora na lagoa e pode passar aí para 
   te pegar. Disse Três Pernas.
-  Maix nao ser longine pra elo?
-  Nada! A Betty adora vir a Bangu nos visitar...
   O resto da semana foi excruciante. John não saiu de casa uma vez sequer. Esqueceu de bunda, de peito, de coxa. So’ pensava em Gracinha. Havia ate’ se esquecido de ver mulher pelada... Quer dizer, quase pelada! Tinha o biquíni para atrapalhar...
  
   Eram nove horas da manhã de Sábado quando ouviu a voz de Betty pelo interfone. Ja’ a esperava. Desceu imediatamente.
   A conversa ate’ o destino foi animada. Betty colheu todas as informações inerentes ao emprego que John procurava. A única observação que fez foi: “ Mas você tem que melhorar teu Potugues”.
- “Estar trabenlhando nixtou!
   Betty se divertia com o Americano. Como os outros, havia gostado muito dele, imediatamente.
   Ao chegarem `a casa de seu amigo, todos ja’ la’ estavam, esperando por eles... A primeira a correr em sua direção foi Graciosa, que pulou em seu colo. Gracinha chegou perto e deu um beijo respeitoso em seu rosto enquanto ele a abraçava saudoso.
   O cafe’ da manhã, em sua homenagem preparado, era de fazer inveja a um hotel cinco estrelas... Tinha de tudo; pão doce, salgado, roquinha, bolo de milho e de fuba’, pão de queijo, jerimum, banana, mamão, queijo de minas e queijo prato, leite, cafe’. Tinha ate’ batata frita para a menina... Durante toda a refeição John estava muito calado e compenetrado, o que, de certa maneira, preocupava a todos, principalmente Gracinha, que ate’ tentava impedir sua filha de chegar muito perto dele.
   Assim que terminaram e se dirigiram `a sala. Betty começava a falar sobre o que estava pensando, em relação ao emprego de John quando ele, levantando-se de onde estava falou: “Dao licencia!” Se ajoelhou ao chão, em frente `a Gracinha, segurou sua mão, e disse:
-  Meu querido! Sei qui extou aca so’ poucous diax maix gosta saber se voxe ser meu
   exposo... Nao sei falo muito teu linguou maix sei qui te ama muita... Por Favor? Disse 
   John.
   Gracinha levou os dedos `a boca, arregalou seus lindos olhos verdes e começou a  chorar... “Porque mamãe ta’ chorando? Mister John não fez nada!” Pensava sua filha, entristecida.
   Betty, calada, instintivamente arregalara os olhos, sem saber de onde tudo aquilo havia surgido...
   O único que começava a entender era Três Pernas. “Por isso queria trabalhar...” Pensou.
   Pronto! Haviam aberto as portas da represa. Gracinha não parava de chorar. Ja’ havia molhado dois guardanapos, agora pedia uma toalha. John acariciava as mãos ásperas de sua, noiva. Graciosa se sentara em uma poltrona no canto da sala toda triste. Não estava entendendo porra nenhuma. Rosilda agarrou o braço do namorado e tascou-lhe um beijo bem babado, o qual, a respondeu beijando sua testa carinhosamente.
   Agora estava pior! Além de chorar, também soluçava.
   Rosilda veio com um copo de água com açúcar, que todo mundo sabe, não adianta nada mas, insistem em sua administração.
   Finalmente, depois de mais de uma hora, a coisa estava pior. Gracinha olhava para John e chorava... Desviava o olhar, se acalmava um pouco, olhava para ele e, chorava novamente.
   Os outros, demonstravam surpresa e alegria com risos e cumprimentos enquanto Gracinha chorava mais ainda.
   Em dado momento, Mr. John muito sério, olhou para ela e disse: “Nao quer maix nao! Desixtiu!”. Todos olharam para ele. Gracinha parou de chorar e disse: “O que?” Ao mesmo tempo em que ele começou a rir dizendo: “Viu? O suxto faix passa’ o lagrimos melhour di qui aguou doce...”
   Mr. John podia não saber falar Portugues mas, ja’ estava assimilando os costumes locais...
   Engraçado! De repente não queria mais ver peito, bunda, ou mulher pelada... Quer dizer, quase pelada! Tinha o biquíni para atrapalhar...
   Mas, não era isso que as meninas de Knoxville queriam, casar antes de trepar? Vai se entender a humanidade...
  
   O resto de dia foi de festa.
   John pediu que Gracinha parasse de trabalhar. Queria que ela estudasse e cuidasse da casa. Assim que casassem queria leva-la aos Estados Unidos para conhecer seus pais. Graciosa fazia sua parte. Tentava ensinar Português a Mr. John mas, ele era duro de aprender... Não conseguia entender quando usar “a” ou “o” no final das palavras... A menina fazia de tudo e nada de ver resultados.  “ Masculino e’: O, feminino e’: A. Entendeu Mr. John?” “Não! Que ser masculina? !” ouvia em resposta, invariavelmente...
   Em um domingo ensolarado, quando saiam para uma visita, e pequenas compras no shopping center mais próximo, Gracinha escorregou no meio fio da calçada e se estabacou no chão, bolsa para um lado, sapato para o outro, saia pra cima e calcinha aparecendo. Ao ver a mãe imóvel no asfalto quente, a menina gritou: “Mr. John! Mr. John! Acuda a mamãe!
   John, calmamente olhou para a menina, dedo em riste e afirmou: “Não e’ A Cu da mamãe! O certo e’ O Cu da mamãe”... As aulas estavam começando a ter resultados.

   Com o dinheiro que tinha, planejava comprar uma casa para eles, em Bangu, e’ claro, junto de seus amigos. Com o saldo, abrir uma conta de poupança, começar a trabalhar o mais rápido possível e iniciar a vida que jamais havia planejado.

   Em pouco tempo fazia parte de um circulo que, assim como ele, tiveram a felicidade de conhecer pessoas humildes, alegres, honestas e sinceras.
   Três Pernas, Rosilda Gostosa, Brolha, Trolinha, Betty Frigida, eram amigos de convivência quase diária. Ate’ Josélia Madrugada e Maria Cefetina os visitavam de vez em quando
   As ideias do passado deram lugar `as taras do presente. Havia trocado quantidade por qualidade. Em sua opinião, sua futura esposa dava de dez a zero em todo aquele monte de mulher pelada. Quer dizer, quase pelada! Tinha o biquíni para atrapalhar.
   Ganhou ate’ uma filha, sem ter que fazer nada...

   Vai ter sorte la’ longe, Mr. John!







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