sexta-feira, 28 de agosto de 2020

MEIO CHEIO OU MEIO VAZIO









                                                Meio Cheio ou Meio Vazio









   André Pé, depois de mais de quinze anos `a frente de sua industria de calcados, resolvera diversificar...
   Depois de alguns anos de pesquisas de mercado, vendendo sandálias, achava que era hora de investir em sapatos. “Dedão Macio”, como era o nome da industria, devido ao seu know-how havia criado um modelo de sapato que, segundo eles era categoricamente revolucionário. Era como ter o mesmo conforto de uma sandália em um sapato fechado.
   Em uma promoção para testar a qualidade de seu novo produto, André havia ordenado que protótipos fossem distribuídos a alguns transeuntes felizardos que, poderiam e deveriam dar sua opinião com relação a conforto, qualidade, custo e tudo mais... O slogan que criaram para aquela promoção era “ Falem mal mas, falem do Dedão Macio”. E não e’ que ninguém falou mal...
   Foram mais de mil pares de sapatos, propositadamente fabricadas sem o menor cuidado ou controle de produção mas, o tal do sapato era tão bem bolado que assim mesmo era super-confortável.
   Agora, faltava apenas acertar a estrategia de mercado e pronto. Dedão Macio ficaria melhor ainda. Porem, André sabia que a concorrência no mercado domestico era muito grande, por isso, teve uma ideia: pensara em tentar abrir um novo mercado, ajudando assim, caso as vendas no mercado Brasileiro estagnasse por algum motivo.
   Andre’ era muito meticuloso e gostava de fazer tudo com  muita segurança, gostava de dar passos seguros, não gostava de surpresas ou imprevistos...
   Para isso, numa primeira etapa de estudo de um mercado internacional de calcados, pensara em lançar uma produção exclusiva dirigida especificamente para o oriente-médio.
   Contratou um vendedor experiente com a finalidade exclusiva e especifica de verificar, tomar conhecimento e dar sua opinião a respeito de alguns países daquela região, principalmente a Arabia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, praticamente esquecidos pelo mercado Brasileiro.
   A entrevista com Murilo Moroso agradou a Andre’ e, depois de explicar ao primeiro pretendente o que realmente tentava realizar, deixou a reunião esperançoso e confiante em seu tino comercial.
   Murilo ficaria uma semana hospedado em cada pais. Neste período faria contatos, visitaria lojas, tentaria, se pudesse estabelecer um esboço de negócios que poderiam ser realizados e ate’ mesmo tentar estabelecer um representante local que se interessasse por uma distribuição exclusiva.
   O cara estava tão animado que, todo orgulhoso fez questão, ele mesmo, de levar seu novo vendedor ao aeroporto e desse se despedir todo esperançoso, desejando-lhe boa sorte.
   Moroso não mostrava o mesmo otimismo que pudesse animar seu patrão. Talvez porque ele morria de medo de avião. Atravessar o oceano e voar ate’ Londres e depois sofrer mais ainda, num total de mais de 24 horas, era algo que o vendedor não sentia o menor prazer em fazer mas, por outro lado, era uma grana boa que não podia deixar passar por fora de seu bolso, alem do mais quem sabe, ate’ conseguiria arrumar um revendedor e, segundo ele, a partir dai, tentar ganhar dinheiro pelo telefone, sem ter que voltar la’, pelo menos por algum tempo.
   Pé estava otimista, mesmo sem ter recebido um único telefonema de seu empregado. A esta altura, não tinha certeza de que havia feito a escolha certa mas, também, Moroso fui o único que se apresentou interessado na proposta.
   Os negócios continuavam progredindo com o Dedão Macio. O protótipo final do novo calcado havia chegado e André estava realmente orgulhoso. O novo lançamento era da melhor qualidade e, principalmente o custo de produção era irrisório comparado com a concorrência... Desta vez André Pé havia pisado na mosca. Quer dizer... Acertado da mosca!
   Finalmente o grande dia havia chegado. Murilo estava de volte de sua viagem ao Oriente-Médio, com as respostas para as aspiracoes do empresário.
-  Preparou seu relatorio, Sr. Murilo? Perguntou André, sentado `a cabeceira da mesa 
   da sala de reuniões de sua empresa.
-  Não! Respondeu Murilo.
-  Como assim? Você passou duas semanas viajando e nada a dizer?
-  Como e’ que eu vou vender sapato em um local onde todo mundo só anda de
   sandália? Não preciso de um relatorio para dizer isso...
   O homem estava devastado... Não era possível que não houvesse uma solução. Também não queria ir la’ ele mesmo. Não se via em condicões de deixar sua empresa neste momento tão crucial... O remédio era tentar novamente, mandar outra pessoa para la’ e, antes de desistir de seus planos, receber uma segunda opinião...
   Desta vez resolveu usar alguem da própria empresa, ao invés de um vendedor profissional.
   Ja’ por algum tempo estava prestando atenção em um faxineiro da empresa que estava sempre com espanador de pó e uma vassoura em sua mão, o Horácio Rodo. O cara tinha sempre uma solução para qualquer problema que se apresentasse. 
   Soube que em um dia de verão os funcionários estavam reclamando do calor insuportável na linha de produção da fabrica. Ja’ estavam ate’ pensando em pedir dispensa quando o faxineiro botou a mão no queixo, olhou um pouco para um enorme exaustor que tomava conta da metade da parede dos fundos da fabrica, foi `a caixa de ferramentas, botou uma escada nas costas, subiu la no alto, soltou a enorme hélice, fixando-a na posição inversa e, pronto! Ou invés de sugado, agora o ar estava sendo soprado mas, como se não bastasse, ainda improvisou um chuveiro na ponta de uma mangueira d’agua que colocou `a frente do “ventilador”... “Muito engenhoso”, comentou Dr. Pé quando soube do fato.
   Porque não então tentar? Quem sabe o Rodo não resolve mais um problema da empresa...
   Dito e feito! Uma semana mais tarde la’ se ia nosso herói ao encontro do mercado Arabe...
   Desta vez André não estava la’ muito confiante. Ja’ começava ate’ a pensar em uma outra alternativa, caso o Rodo viesse a confirmar a mesma opinião de seu antecessor.
   No dia programado para o encontro com o vendedor improvisado, de certa maneira responsável pelos destinos do Dedão Macio, la’ estava seu presidente sentado `a cabeceira da mesas de reunião.
   Assim que viu seu empregado chegar, `a ele fez a mesma pergunta:
-  Preparou seu relatorio, Sr. Rodo?
-  Não!
   O presidente pensou por instantes... “Novamente!”
-  Não doutor mas, se o senhor quiser eu preparo um... Não e’ preciso ser muito
   esperto para ver o que eu vi...
-  E o que foi que o senhor viu Sr. Rodo?
   O funcionario olhou para ele entusiasmado e falou, quase gritando:
-  Eu vi que nos vamos arrebentar de vender sapatos... La’ todo mundo só anda de sandália...


   Depois desta reunião, André Pé, descobriu que os fatos são os fatos e que, na maioria dos casos, não temos poder sobre eles. Mas, a grande diferença, o que move montanhas, o que promove sucessos ou testemunha fracassos, e’ a maneira com que encaramos estes mesmos fatos... E’ aquela velha historia de ver o mesmo copo d’agua meio cheio ou menos vazio.








Copyright 8/2014 Eugene Colin

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