sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A TEORIA DO DIVÓRCIO









                                                   A Teoria do Divórcio









   Naquela manhã Adão havia acabado de acordar...
   Na realidade ele acabava de ter sido criado alguns dias atrás e ainda não havia se acostumado por completo a dormir no chão. Diga-se de passagem não se sabe porque (a cama ainda não havia sido inventada). Olhou para um lado, para o outro e ficou abismado... Tudo tao bonito! Jardins bem cuidados, flores diversas, cada qual mais linda do que a outra, o céu muito azul...  “Estou no paraíso!” Pensou... E estava mesmo!
   Levantou, coçou a bunda, deu uma espreguiçadinha, passou a mão num monte de frutinhas pretas que estavam bem a sua frente e botou uma na boca...
   “Porra! Que troço ruim...” Pensou, cuspindo tudo num impulso.
   Ninguém sabe o que ele comeu (as frutas ainda não tinham nome).
   Andou mais um pouco e pegou outra fruta, meio amarelada, parecendo com uma bola de futebol Americano, de uma cor aboborizada, macia por dentro, cheia de sementinhas pretas que descobriu `a primeira mordida. Dessa ele gostou! Comeu umas cinco, com casca e tudo (ainda não tinham inventado a faca).  E’ claro que, algum tempo depois, que não pode ser exatamente descrito (o relógio ainda não havia sido inventado), teve uma puta caganeira. Aos primeiros sintomas, aquela revolução no estomago e barriga, correu para trás de um arbusto e deixou cair... So’ não da’ para entender porque correu para trás da arvore ja’ que era a única pessoa habitando o paraíso... Azar do esquilo que, apesar de ter saído correndo, quando pressentiu o “desastre”, ainda teve uma parte de sua cauda infectada pela diarreia do homem, que era novo ali mas agia como se ja’ fosse dono do pedaço ha’ muito tempo.
   A única saída era esfregar a bunda na grama para amenizar a porcalhança (o papel higiênico ainda não havia sido inventado).
   A este ponto, começamos a duvidar historicamente da inteligência do cara. Vivia entre dois rios. O Tigre e o Eufrates mas, mesmo assim optou por outros métodos de limpeza, não tao eficazes e mais doloridos. Aquela manhã não havia começado muito bem! Não que ele tivesse reclamado. Também, reclamar para quem? Não existia ninguém mais no paraíso...
   O tal do homem andava o dia inteiro. Daqui pra ali, sem nada pra fazer, a não ser enfiar algo no pe’ de vez em quando, ja’ que andava descalço (o sapato, nem a sandalia haviam sido inventados). Pior era ficar com um monte de espinhos e sujeira enfiados no pe’. O cara era tão burro que não sabia nem tirar espinhos. O grandes tudo bem. Não tirava por falta de experiência e, os pequenos, justiça seja feita, não poderiam ser extraídos (a pinça ainda não havia sido inventada).
   Depois de alguns meses vivendo no paraíso, o cara ja' estava a ponto de se suicidar e, assim,  atrapalhar os planos do criador. Não dava para aguentar tanta solidão, sem falar de alguns bichos chatos pra cacete como gatos que miavam o dia inteiro, pernilongos que azucrinavam seus ouvidos além de pica-lo com voracidade, lobos que uivavam a noite inteira, galos que começavam a cantar muito antes do sol nascer, um monte de patos selvagens que voavam como barata tonta sem saber pra onde ir, e ainda os morcegos que, toda noite, insistiam em morder a bunda do pobre do homem, pensando que se tratava de melão.
   Pensando bem, a vida não era tão maravilhosa assim no tal do paraíso...
   Sabendo do que se passava na cabeça do cara, um dia, enquanto dormia, a providência divina pensou em arrancar uma de suas costelas e, Eva, a primeira mulher do mundo, foi criada.
   Quando acordou, Adão estava com uma puta dor nas costas. A principio pensou que havia dormido de mal jeito mas, quando viu uma mulher, pelada `a sua frente, aí e' que não entendeu nada.
   Aquele primeiro encontro foi arrasador... Ao reparar bem, notou que sua “amiga” tinha duas bolas no peito, como duas laranjas bicudas, coisa que em seu corpo não existia e, olhando com alguma atenção, notou que ela não tinha nada pendurado entre suas pernas... Aquela criatura, certamente era doente, fisicamente deformada, não era possível!
   A principio, um olhava para a cara do outro com uma curiosidade exemplar... O fato de não saberem falar dificultou, em muito, a comunicação entre os dois.
   Adão tocou as deformidades peitoris daquela criatura e fez um gesto como se tivesse indagando: “O que e' isso?”
   A mulher, que ainda não sabia que se chamava Eva, fez um sinal, como se estivesse respondendo: “Como e' que eu sei? Acabei de chegar aqui e dou de cara com uma criatura cabeluda, fedida, bafuda, me olhando como se eu fosse uma assombração...”
   O negocio estava complicado! A comunicação entre os dois estava difícil... Eles faziam o que podiam pra tentar se entender... A principio, Adão achou que aquela criatura era uma intrusa... O paraíso era so’ dele, e ela so’ estava ali para complicar... Nem ele ainda sabia quanto!
   Mas, como bom anfitrião fazia o possível para “aturar” as feminilidades da estranha. Uma das coisas que mais o aborreceram foi quando Eva tampou o nariz e abanou o ar num dia em que Adão soltou um peido. Pratica comum antes da “intrusa” ali aparecer. E’ claro que ela não sabia que o som e o cheiro, caracterizavam um peido mas, o fato e definitivamente o cheiro a incomodavam. Quando viu aquela atitude puramente feminista pensou com seus cabelos (ainda não haviam inventado botoes): "Como se ela nunca fosse peidar... Deixa ela começar a comer batata doce!..."
   Com o tempo, os dois aprendiam a conviver com os animais que ali co-habitavam. Eva gostava de ratos, jacarés, corujas, cobras... Ja' Adão, preferia macaco, pinto, galo, leão, girafa, bichos assim...
   A vida continuava sem maiores implicâncias mutuas. Aparentemente os dois tentavam aprender a conviver em harmonia.
   Um dia, tempos depois, Eva chega toda lânguida, rebolando, senta-se ao lado do Adão e lhe oferece uma maça. Adão não entendeu nada... A “comunicação” entre eles não era assim tão íntima mas, como estava com fome, aceitou a oferta e deu uma mordida na tal da maça. Pronto! Era só o que faltava. De repente, aquela estranha parecia Marilyn Monroe aos seus olhos. Ainda deu mais uma olhada para a mulher, mordeu os lábios e, partiu pra cima dela. Eva, assustada, saiu correndo, sem saber o que mais fazer. Ainda assustada, após correr mais de um quilometro, finalmente cansou e caiu ao chão. Adão nem pensou. Caiu em cima dela e, pumba! Instintivamente descobriu o porque das diferenças físicas e como usa-las em beneficio mutuo. Eva, que a principio era temerosa e relutante, de repente, depois que provou o fruto proibido, pelo acontecido, gostou, já que depois da primeira “mordida” vivia atrás do Adão. Não queria mais nada na vida. O cara porém, estava tão cansado o dia todo que muitas vezes, quando Eva conseguia agarra-lo, fazia um sinal característico, querendo dizer que estava com dor de cabeça. Adivinha se adiantava? O homem já ate' andava com as pernas abertas, todo assado. Por muitas vezes pensou em fugir para outro lugar, tentando se livrar daquela tarada mas, sabia que não adiantava. Ela acabaria descobrindo...
   Um dia, numa de suas fugas, depois de horas procurando por seu companheiro, Ela viu um cavalo. Olhou, pensou, pensou, mas depois, ...puxa vida! que tamanho... Pensando melhor, olhando melhor, desistiu...
   Não ficou muito claro o que aconteceu mas, o fato e’ que, não se sabe como, nasceu Cain, seu primeiro filho. Adão achava que o menino não tinha nada dele. Completamente diferente. Eva, negou qualquer traição, também, naqueles dias as “regras” não eram bem claras mas, mesmo assim Adão, dando uma de machão, se sentiu ofendido e exigiu o divórcio. A mulher não entendeu nada. Nem sabia que estava casada (casamento ainda nao havia sido inventado), muito menos o que era divórcio. Ate' jurou ajoelhada sobre espinhos que não havia feito nada errado. Adão no entanto, deu mais uma olhadinha no “menino” e foi categórico... Divórcio!
   E’ claro que ele não sabia ao certo como materializar suas intenções. O mundo ainda não tinha advogados, tabeliães, juizes mas, em sua mente, ja' estava divorciado. Pronto!
   A história não relata eficazmente os acontecimento factuais... Sabe-se contudo que tiveram outro filho, Abel que, teoricamente, poderia ter sido concebido antes da descoberta fatal que dilacerou o coração do pobre do Adão. Ainda, 130 anos mais tarde teve um terceiro filho, Seth. Este, provavelmente não  era filho de Eva e sim de uma mulata africana que, não se sabe como, apareceu no paraíso.


   Dito por não dito, fato por não fato, na confusão daqueles dias em que a civilização ainda engatinhava, fica assim registrado, tendo toda essa confusão como evidencia, a teoria do divórcio...





Copyright 10/2019 Eugene Colin

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