sexta-feira, 19 de julho de 2019

MUJINHA & BONITÃO










                                                        Mujinha & Bonitão









   Depois do episodio ocorrido em um super mercado de Belo Horizonte, quando um de seus colegas de trabalho a pedira em casamento em frente de todos que `aquele momento ali estavam, Mujinha havia decidido se recluir, principalmente em relação   `a sua vida amorosa. Foi com muita dor no coração   que fez seu pretendente sofrer mas, ja’ com mais de sessenta anos de idade, tinha sido casada três vezes, por isso não queria saber de mais confusão em sua vida e, diga-se a verdade, todo relacionamento amoroso e' sempre uma puta confusão... Trazia também em sua bagagem três títulos, para ela muito importantes... Miss Bahia, quando tinha apenas dezenove anos de idade, Miss Java ( Juventude Avançada de Salvador ) e  Miss Puta ( Participação Unitária Trabalhista Americana ), entidades das quais na época fazia parte. Parecia que sua sina era de arrebentar corações masculinos, despreparados para aguentar as vibrações que olhos enamorados lhe mandavam em impulsos cheios de eletricidade amorosa.
   `Aquela altura de sua vida o que mais queria era dar uma folga `a sua querida “perseguida” companheira de muitas orgias indecentes inconsequentes.
   Mujinha estava tão decidida `a uma vida reclusa que de Belo Horizonte nem voltou para sua cidade natal. Resolveu parar em Teresina, Piauí. Não queria mais saber de trabalhar em super mercado. Resolveu então, so’ para melhorar um pouco sua renda de aposentada, trabalhar em uma agencia de viagem pela qual havia passado em seu primeiro dia de reconhecimento pelas ruas da cidade e leu em uma placa; “Precisa-se de ajuda”. Não queria atender a clientes... Na maioria dos casos, eles começam pedindo descontos, depois prazos para pagar e, conversa vai conversa vem acabariam olhando para os olhos verdes da mulata e, pimba! Poderiam se apaixonar e, novamente, “pobrema”! Felizmente, para sua alegria, o cargo era de caixa. No principio ficou meia escarmentada mas, pensando melhor, depois de ver o local onde iria trabalhar, constatou que se tratava de um cubículo pelo qual, do exterior, suas coxas estariam fora do alcance visual, seu rosto parcamente aparecia e, se cobrisse os peitos, talvez estivesse fora do alvitre de olhos cobiçosos.

   O tempo passava e, aos poucos, ela acreditava que havia feito a escolha certa. Primeiro, todos os homens que ate’ então havia visto na agencia, em sua opinião, eram feios pra cacete. Ate’ hoje, depois de mais de um ano de trabalho, nunca tinha encontrado com Brad Pit, Tom Cruise, qualquer outro ator do cinema Americano ou, pelo menos alguém que pudesse assemelhar-los. Nem um simples “pagodeiro” conhecido havia la’ solicitado por serviços. E’! Teresina era o lugar adequado para ela...
   Sua vida, rotineira e desesperadora para qualquer mulher, era apropriada para ela. Morando perto de trabalho, agora, coisa que nunca havia feito antes, acompanhava a novela das sete, das oito, o jornal depois da novela e o filme depois do jornal. O problema era so’ nos finais de semana. Não tinha novela e os programas exibidos na TV eram de endoidecer qualquer mortal.
   Numa Sexta-feira porem, procurando abrigo, fugindo de um temporal torrencial, coisa rara naquela região do pais, entra na loja um homem, mais molhado do que roupa dentro da maquina de lavar, pedindo licença para ensopar o chão imaculado daquele estabelecimento.
   Tentando evitar que algum cliente de verdade pudesse cair, machucar a bunda ou coisa pior e, em consequência acionar a loja, Brabinha, a gerente da loja, gentilmente pediu a Mujinha que pegasse uma toalha e enxugasse a loja. Mujinha, com cara de poucos amigos, aquiesceu.
   Assim que chegou perto do estranho e olhou para ele, imediatamente sentiu um frio na barriga. Que homem lindo! Pensou... O homem por sua vez, quando deixou escapar uma olhada nos peitos e nas coxas da baiana piauiense, não pose se conter e, com todo seu charme e educação   falou:
-  Pode limpar sem medo, não e’ mijo, so’ água.
   Mujinha não sabia como resistir a tanta “sutileza”...
-  Como e’ seu nome? Indagou ela.
-  Pode me chamar de Bonitão. Respondeu o homem.
   Não tardou para que Mujinha oferecesse uma outra toalha para que seu interesse se enxugasse.
   Apesar das olhares reprobatórios da gerente, Mujinha nem ligou. Sentou ao lado de Bonitão e continuou a conversa, a esta altura quase apaixonada por aquele homem lindo. Conversa vai, conversa vem, acabou convidando o homem para dormir em sua casa, quando soube que ele não havia reservado hotel e estaria de partida no dia seguinte. Pelo que conversaram, pode saber que Bonitão era de São Paulo mas, atualmente morava com a filha em uma cidade pequena no interior do Brasil. Descobriu também que havia sido casado e pensava que ainda era apaixonado pela ex-esposa. Soube que era vendedor e trabalhava para uma multinacional viajando pelo Brasil vendendo adubo e, como todo bom profissional que se dedica `a sua ocupação  , e pensa em seu trabalho, vivia na merda e, so’ tinha merda na cabeça. Mas isso seria problema para daqui a pouco, agora, seu único pensamento era não deixar escapar de sua vida o homem mais bonito que jamais havia visto.

   Na manha seguinte `a noite que passou com a admiradora, Bonitão estava animado. Telefonou para a filha contando a novidade. A menina recebeu a noticia com ceticismo e reprovação  . Imediatamente começou a se referir `a sua, quem sabe, futura madrasta como “a bruxa”. Bonitão estava entre a cruz e a espada ou, se pudermos adaptar o ditado `a profissão que ele exercia, entre a prisão de ventre e o leite de magnésia. Não queria contrariar a filha, uma menina inconsequente que não queria saber de nada na vida a não ser comer, dormir e gastar o dinheiro de seu pai, razão principal pela qual não queria repartir a "fortuna" que Bonitão fazia com a merda. Mas também queria dar uma chance `a sua felicidade. Alem disso, Mujinha, apesar de sexagenária não era de se jogar fora, pelo contrario, quem os visse juntos diria que Bonitão era, pelo menos, dez anos mais velho do que ela.
   Ele estava decidido! Queria que sua “namorada” visitasse sua cidade, conhecesse sua filha, soubesse onde moravam... Afinal de contas, se combinassem, talvez pudessem viver "felizes para sempre".
   A reação   da filha em relação `a namorada foi de ódio `a primeira vista. Na Sexta-feira em que seu pai pediu para que ela fosse buscar Mujinha na rodoviária da cidade, a menina respondeu; “porque ela não vem voando em sua própria vassoura?”
   E’! Bonitão estava numa situação   difícil... Mas, estava decidido e tentar uma aproximação   entre as duas.
   Domingo, dois dias depois, Mujinha se ofereceu a preparar o almoço.
   A menina estava quase resignada com sua sina, ate’ a hora em que sentou `a mesa e sua futura madrasta se ofereceu a servi-la. Assim que abriu a tigela belíssima colocada ao centro da mesa, enfeitada com castiçais e tudo, falou:
-  Você gosta de panelada?
-  O que e’ panelada? Indagou a menina.
-  Tripa, pata e bucho de boi, bichinha. Respondeu a “madrasta” com seu sotaque
   nordestino.
   A menina, apresentou ânsia de vômitos, levantou da mesa correndo, jogou algumas bugigangas na bolsa e saiu do apartamento `as pressas, jurando a si mesma uma vingança inexorável. Comer tripa tudo bem... Tem gente ate' que gosta mas, ser chamada de bichinha era algo inadmissível em sua cabeça oca de quem não conhece o palavreado do nordeste.
   Enquanto caminhava em direção  `a casa de uma amiga, provavelmente também com a intenção   de filar uma boia, ja’ que seus planos de almoço se viram frustrados pela “bruxa”... E logo no dia em que estava disposta a dar um credito de confiança `a sabedoria de seu pai que, ate então só havia feito cagada em sua vida...
   Agora era pensar uma maneira de se vingar daquela intrusa em potencial que, ate’ agora, o único erro era de ter se interessado por um idiota que tinha uma filha imatura e inconsequente.
   Andava irritada, `a passos largos, em direção   a casa de sua amiga Celinha, que morava apenas algumas quadras distantes, quando pisou em um pedaço de barbante, daqueles que eram usado para amarar pão embrulhado em padaria... “Eureka!” Pensou... A ideia veio imediatamente... “Diabólica!” Sorriu ao terminar de planejar o plano.
   Ao chegar em casa, tarde da noite, Mujinha e Bonitão ja’ dormiam...
   Foi ao sofa’ da sala, levantou uma das almofadas e colocou uma daquelas bolas de plastico que quando apertadas emitem um som de peido...
   Naquela mesma noite, por baixo da porta do quarto onde os “pombinhos” dormiam, acendeu um daqueles barbantinhos que cheiram como enxofre. Com as “antenas” ligadas ainda pode ouvir Bonitão dizendo:
-  Mujinha! Acorda! Acho que você deveria ir ao banheiro...
-  Que tu ta dizendo bichinho? Respondeu, sonolenta.
-  To dizendo que tu ta’ peidando mais do que uma cabrita com caganeira... Respondeu
   Bonitão.
   Agora sim! Poderia dormir em paz... O inicio da vingança havia sido plantada...

  Na manha seguinte, ao acordar, sua primeira providência foi acender um outro barbantinho e colocar dentro de um vaso vazio, que nunca havia visto uma flor para enfeita-lo.
   Imediatamente, assim que sentiu o cheiro, Bonitão Exclamou:
-  Mujinha! Que esta’ acontecendo? Não da’ pra aguentar!
   A menina, mesmo com a boca cheia de pasta de dente, sorria satisfeita...
-  Bom dia! Disse ela assim que adentrou a sala.
-  Bom Dia minha filha! Respondeu Bonitão...
   Mujinha não falou nada... Sabia que não estava peidando, so’ não sabia o que estava acontecendo... Talvez não tivesse tido infância, talvez nunca houvesse se vingado de namoradas de pai, talvez não fosse tão ma’... O fato e’ que, tinha certeza que não havia peidado nem uma vez, apesar de ter comido o que comeu no dia anterior...
   Assim que saiu da cozinha em direção `a sala, para ficar bem longe da menina, da qual `aquela altura ja’ desconfiava, sentou-se exatamente em cima da almofada que escondia a bolinha de imitar peido...
   Ao ouviu o som característico, Bonitão falou:
-  Mujinha! O que ha’ com você? Me diz agora que não peidou...
   A menina apenas sorriu, desta vez, propositadamente alto para ser ouvida...
   A cada vez que a "bruxa" se ajeitava no sofa’, um novo peido...
   Desta vez, mesmo tomando cafe’ a menina, sorrateiramente, acendeu outro barbantinho e colocou dentro do mesmo vaso. Agora era som e cheiro, dando uma credibilidade maior ao plano diabólico tao bem executado.
-  Mujinha! Não ta’ dando p’ra te aguentar... Vai ao banheiro e caga logo! Exclamou Bonitão.
   Ao passo em que os dois se desentendiam, a menina sorria de satisfação.
   Finalmente, depois de tantas acusações, a moça acusada, resolveu fazer as malas e voltar para Teresina onde, quem sabe, poderia começar nova procura...
   Bonitão ainda tentou ponderar que talvez uma rolha de Champagne poderia resolver o problema, pelo menos temporariamente, mas Mujinha estava muito injuriada. Sabia que não tinha o habito de peidar e, a esta altura, sabia que a filha do Bonitão não queria ninguém entre eles.

 - Eu ate’ que gostava dela mas ela peida muito minha filha! Não da’ para aguentar... Exclamou
   Bonitão, de certa maneira entristecido, acariciando sua filha que, assim que Mujinha saiu, enquanto
   seu pai corria atrás dela, sem saber o que fazer, tratou de jogar pela janela os barbantinhos e o
   imitador de peido, antes que seu pai descobrisse o que realmente havia acontecido e, como ja’ havia
   feito outras vezes, a cobrisse de porrada.
- Eu ate’ que gostava dela mas ela peida muito, minha filha! Não da' para aguentar...
  De certa maneira, acho que sempre soube que jamais seriamos o casal  Mujinha e Bonitão.








   Copyright 2013 Eugene Colin

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