quinta-feira, 25 de julho de 2019

MITOS










                                                                    Mitos









   Mitos são representações falsas e simplistas, geralmente admitidas por membros de uma sociedade, algo que e’ recordado, representado ou afirmado de forma irrealista.
   Plantas carnívoras comem gente, tomar sorvete no inverno da' dor de garganta, manga com leite faz mal, elefantes tem medo de rato, goma de mascar gruda no estomago, cães sentem cheiro de medo, gatos sempre caem de pe', um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar, se cruzar os olhos e bater um vento você fica vesgo...
   Estes são alguns das centenas de mitos que ouvimos ao longo de nossa vida. Mas, nenhum deles porem chegam perto de fazer parte da realidade...

   Este pensamento me lembrou a historia de Clarimunda e Dorivaldo...
   Clarimunda era uma das mulheres mais lindas de cidade onde residia. E olha que estamos falando de uma cidade com mais de cinco milhões de habitantes... Alta, morena, cabelos negros e longos, olhos amendoados, feições clássicas e delicadas, esguia, sempre bem maquiada, dedos longos, unhas sempre feitas... Verdadeiramente uma modelo de capa de revista mas, não conseguia arrumar um namorado. Se saísse com alguém para ir a uma festa ou a um bar, era como se fosse o beijo da morte. Nunca mais veria o homem... Amigas, não tinha, ninguém conseguia ficar a seu lado por muito tempo. Sua mãe era a única pessoa na face da terra que havia aprendido a conviver com ela.
   Trabalhava por conta própria, em seu carro, fazendo entregas domiciliares, a única ocupação que conseguira manter, assim mesmo porque estava sempre sozinha e o contato com seus colegas e gerentes era minimo. Antes deste, de todos os empregos por onde passara havia sido dispensada.
   Ninguém entendia o motivo daquela discriminação cruel. Uma mulher tão bonita...
   E, Clarimunda ja' estava começando a ficar preocupada... Mais de quarenta anos, sem namorado e, ainda virgem. Não que aparentasse sua verdadeira idade mas, o fato e' que o tempo passava e nada...
   Um dia, em uma entrega, num bairro nobre da cidade, ao tocar a campainha, foi atendida por um homem muito forte, muito bonito, parecia um ator de cinema... Efetuou a entrega, recebeu sua assinatura e se foi, deixando com ele um belo sorriso que foi retribuído amavelmente, acompanhado por uma voz grave, máscula que mais parecia com a daqueles locutores que anunciam trailer de superproduções holliwoodianas, ao dizer: “obrigado querida!”
   A moça tremeu nas bases, seus joelhos balançavam a ponto de bater um no outro e foi com grande sacrifício que conseguiu deixar o local.
   O dia foi consumido por pensamentos envolvendo aquele homem lindo que havia encontrado, alguns ate' dignos de filmes pornocênicos da mais baixa qualidade.
   A noite foi terrível. Não conseguia dormir... Sera' que ele e' casado? Tem namorada? Ja' pensou o tamanho do pinto daquele cara?...
   No dia seguinte, não resistiu! Voltou a casa do homem sem mesmo saber o que fazer, ou dizer, como se aproximar...
   Tocou a campainha da porta e, desta vez uma senhora atendeu. Clarimunda gelou... Não podia ser sua esposa, tinha muita idade para isso, a menos que fosse a dona da grana, estava muito bem vestida para ser a governanta ou empregada... Ainda estava estática, chocada, sem saber o que dizer quando ouviu aquela mesma voz maravilhosa que encantara seus ouvidos no dia anterior dizer:
-  Quem e', mamãe?
   Pronto! Parte do problema esclarecido. Agora, tinha que pensar rápido, antes do homem chegar, para saber o que dizer...
   Assim que ele chegou e abriu um pouco mais a porta ouviu:
-  Como vai?
-  Bom dia! Vim aqui para confirmar que a mercadoria chegou sem avarias. Nosso
   serviço e' personalizado e sempre gostamos de saber a opinião de nossos clientes. Mentiu,
   descaradamente, Clarimunda.
-  Vamos entrar! Por favor... Convidou o homem.
-  Muito prazer! Meu nome e' Dorivaldo. Disse o homem, so' agora reparando que
   aquela mulher era realmente digna de maiores atenções, fato que não havia percebido
   no dia anterior.
   Dona Dorivalda, a senhora que atendeu `a porta, mãe de Dorivaldo, pode entender que os dois estavam interessados um no outro e, assim sendo, resolveu sair de fininho antes que começassem a se agarrar e, quem sabe, fazer coisa pior ali mesmo em sua frente.
   Dorivaldo não tirava os olhos da bunda da mulher que, por sua vez também dirigia olhares tentadores e pecaminosos  ao local onde presumia estar aquele algo tentador.
   Porem, um fato inexplicável chamava a atenção dele. A mulher não parava de se mexer, de um lado para o outro, pra cima e pra baixo, com se estivesse sentindo coceira e não quisesse se coçar.
   A dado momento perguntou:
-  Você esta' bem?
-  Tudo bem! Acho que e' a emoção... Respondeu.
-  Fica ai que te trago um pouco de água com açúcar para te acalmar...
   Assim que o homem se afastou, Clarimunda soltou o maior peido que jamais havia acontecido naquela sala...
   Dorivaldo assustado com o barulho disse para sua mãe que, felizmente para ela, estava em seu quarto:
 -  Mamãe não fica arrastando móveis sozinha. Me chama que eu te ajudo...
 -  Se for arrastar móveis te chamo! Estou lendo... Gritou Dona Dorivalda.
 -  Você ouviu um estrondo? Perguntou Dorivaldo se dirigindo a Clarimunda ao mesmo
    tempo que lhe oferecia um copo d’água.
-  Não! Respondeu ela com a cara mais lavada, sabendo muito bem que sofria de
   flatulência aerofágica e peidava mais do que uma cabrita.
   Clarimunda era consciente, ou pelo menos suspeitava, que esta era a causa pela qual não conseguia um relacionamento amoroso estável. Lembrava-se das vezes em que não pode segurar e passou pelos maiores vexames que alguém poderia passar mas, e agora? Não queria perder a chance e deixar escapar de suas garras de virgem faminta aquele homem maravilhoso. Pelo menos por alguns minutos estava aliviada.
   Tinha plena ciência que este era um problema praticamente sem solução. Ja' havia tentando tudo. Médicos, curandeiros promessas, remédios caseiros e, nada!
   Uma vez ate’ havia tentado introduzir uma rolha de champanhe no local apropriado antes de dormir. `Aquela época, ha' algum tempo estava com medo de não acordar no dia seguinte, asfixiada pelos gazes que `a noite, inconscientemente, deixava escapar. Naquele dia não tardou muito para que assustada, fosse despertada pela explosão que ouviu. Ainda sonolenta, a primeira impressão foi que uma bala perdida houvesse entrado em seu quarto. Depois, recuperando o pleno raciocínio, ajudada pelo insuportável cheiro de enxofre, abrindo mais os olhos, pode reparar um furo no teto, bem acima de sua cama... O difícil foi explicar aos policiais da PM que em sua casa chegaram, chamados pelos vizinhos, o que causara aquele estampido.

   Na casa de seu novo conhecido, depois de tomar água e se sentir mais aliviada, conversaram tanto que ela nem voltou ao trabalho. Descobriu que seu interesse amoroso era um Industrial milionário, dono de uma fabrica de aeronaves para executivos. Era solteiro, nunca havia se casado, viajava para a Europa duas vezes por ano, era simples e frugal, apesar de todo dinheiro que tinha. Era presidente de três instituições de caridade. Todo ano, no dia de Natal, ao invés de esbanjar consigo próprio, gastava uma fortuna e passava o dia inteiro organizando e servindo um banquete para pessoas carentes na igreja em que sistematicamente frequentava. Alem disso era bonito pra cacete e devia ter um pinto enorme. Como poderia deixar este cara escapar?
   Dorivaldo, por sua vez também gostou do jeito de Clarimunda.
   O romance decolou sem maiores problemas. Ambos estavam felizes. Clarimunda ate' descobriu uma maneira de não peidar; antes de encontrar com seu “amor” não comia nada, assim sendo não tinha nada em seu estomago para fermentar.
   As poucas vezes que saíram para jantar fora, pedia sempre salada e comia que nem um passarinho, tentando assim controlar reações químicas inevitáveis que poderiam resultar em catástrofe.

   Mais uns poucos dias e os “pombinhos” não conseguiam se controlar. Ele estava louco para comer; ela, louca para dar...
   Combinaram então ir a um motel para extravasar toda aquela ansiedade.
   Mal fecharam a porta do apartamento e começaram a ser despir avidamente... A noite de amor seguia melhor do que antecipado por ambos... Certamente estavam felizes... Clarimunda começava a ficar mais confiante. Mais de duas horas naquele esfrega-esfrega e nenhum peido... Ate' que, sem querer Dorivaldo apoiou seu cotovelo sobre a barriga da moca, quando tentou se esticar para alcançar o telefone, do outro lado da cama, com a intenção de pedir algo para comerem.
   A principio, ela sentira apenas a pressão que o braço de seu companheiro havia feito. Segundos depois porem, o inevitável acontecia... Clarimunda começou a se espremer, morder os lábios com forca, juntar as pernas, enfiar a ponta do lençol na bunda, fingindo estar se limpando, sem nenhum resultado. A cada segundo a pressão era mais forte. Fazia de tudo para se conter e não desapontar seu “amor”. Tudo em vão!
   De repente, como uma panela de pressão pronta para explodir, aquele estrondo...
   Foi um senhor peido! O deslocamento do ar contido naquele quarto fechado fez a cama estremecer e alguns quadros de decoração nas paredes cair.
   Dorivaldo olhou para um lado, depois para o outro, procurando por algo que nem ele sabia o que. E' claro que não encontrou nada. Mais uns segundos e um cheiro insuportável invadia o ambiente. Clarimunda estava mais vermelha que um camarão depois de frito. Não sabia onde enfiar tanta vergonha. Dorivaldo, por sua vez, não entendia nada.
   Os gazes eram tão  fortes que Clarimunda poder ver, para sua consternação, lagrimas verterem dos olhos de seu amor. Quanto mais ele tentava limpar os olhos, mais os irritava... Ela se desculpou, tentou explicar, tentou disfarçar, pensou em botar a culpa em outro peidorreiro mas, pensando bem, so' os dois estavam ali... Pegou uma tolha no banheiro... Nada! Nada era capaz de amenizar tanto sofrimento... Dorivaldo não parava de chorar... Era como se tivesse sido atingido por uma daquelas bombas de gaz lacrimogêneo. Foi preciso mais de duas horas de um trabalho de recuperação intensa para que os “pombinhos” conseguissem deixar o ninho.

   A historia de Clarimunda e Dorivaldo serve muito bem para descredibilizar duas suposiçoes:
   Homem não chora...
   Mulher não peida...
   Dois dos mais comuns, entre tantos mitos.







   Copyright 7/2018 Eugenio Colin

Nenhum comentário:

Postar um comentário