segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A ROLIÇA REBELDE











                                                       A Roliça Rebelde








   Felício Castro Pinto era um dos maiores aficionados por cinema que o mundo já conheceu. Foi criado vendo filmes... Primeiro, seus pais pensavam que televisão era baba’, e botavam o garoto para ver filme o dia inteiro. Quando se tornou adolescente, ia para o cinema as duas da tarde e so’ saia `as dez da noite... Quando começou a trabalhar, e ganhar dinheiro, passou a colecionar filmes... Quando começou a namorar, só queria saber de meninas que haviam emprestado seus nomes a filmes como Gilda, Anastácia,  Sabrina, Gloria, Roxana, Sarah, Frieda, Júlia, e por ai vai.
   Não que tivesse namorado tanto... Nem tinha tempo para isso, assistindo a tantos filmes mas, se alguem, por ventura quisesse se candidatar ao seu coração, ou pelo menos `a sua cama, mesmo que só por uma noite, seu nome deveria antes ter sido iluminado pelas luzes da ribalta.
   Certo dia, assistindo a um filme, e’ claro, em um cinema superlotado, por sorte encontrou um lugar... Ao sentar, ao lado de uma moca com alguns quilos que deveriam te-la deixado há algum tempo, `a ela sorriu gentilmente, como um cumprimento, ou um “boa noite”, ou um “com lisenca”, ou um “se encolhe um pouco”... A moca olhou pra ele e disse:
-  Não te conheço!
   Felício ficou abismado com tamanha grosseria mas, pensando bem, olhando para os lados, não havia nenhum outro lugar vazio, assim sendo, abdicar-se daquele, significaria ter que assistir ao filme de pé, portanto, ficou calado, ignorou a moca, e seguiu concentrado...
   Não demorou muito e ouviu:
-  Porra de filme chato! Em voz bem baixinha, como se estivesse falando so’ para ele ouvir.
   Ignorou o comentário, prosseguindo concentrado.
   Mais alguns segundos...
-  Que babaca! Se alguem me beijasse assim, metia porrada nele.
   Mais uma vez, nosso amigo ignorou o comentário, ainda concentrado no filme.
-  Não sei como você pode perder tempo com toda essa babaquice. Disse a moca, agora falando com
   ele.
   Desta vez, foi a gota d’agua... Felício deu uma olhada seria para a gordinha, se levantou e deixou a sala de projeção.
   Ja’ estava na praça de alimentação do shopping, tomando uma cerveja para esfriar a cabeça e não explodir de raiva, afinal estava querendo assistir `aquele filme por mais de um mês, quando sentiu uma mão tocando suas costas e uma voz grave e sensual dizendo:
-  Posso me sentar com você?
   E’ claro que aquilo havia sido uma pergunta retorica, uma vez que a moca, a mesma que o havia irritado anteriormente, já se sentara, muito antes de terminar a sentença.
   Felício abriu as mãos, balançando a cabeça, olhando para ela, como se estivesse perguntando; “o que você quer agora?”
-  Me desculpe mas não aguentava mais aquele filme e queria conversar um pouco... Te achei
   simpático! Gostei de você! Disse a moca que a ele se apresentou como Galvina.
   O cara olhou bem para ela, pensou, e disse para si mesmo: “Nao conheço filme com nome “Galvina”, detesto mulher gorda, e não estou a fim de ninguém hoje...” ainda olhando sua nova amiga de cima a baixo.
-  Você guarda meu lugar, enquanto vou ao banheiro? Disse Galvina, levantando-se e saindo sorrindo
   para seu novo conhecido...
   Ate’ agora, Felício ainda não tinha dirigido uma palavra `a sua companheira ocasional mas, não pode deixar de prestar atenção `aquela figura enquanto se afastava...
   E’ verdade que menina tinha uns quilinhos a mais, porem, justiça seja feita, estavam muito bem distribuídos, nos lugares certos. Alem disso, a garota era ruiva, olhos verdes, grandes e pidões, mais cheirosa do que bunda de neném depois do banho e, pôde reparar, por onde ela passava, as cabeças viravam em sua direção... Ate’ as mulheres a encaravam.
   Alguns minutos, e ela estava de volta a seu lugar...
-  Tomei a liberdade de pedir uma cerveja para você mas, se você não gostar, posso pedir um suco ou
    outra coisa... Disse Felício, aparente mente, mudando de ideia a respeito da moca...
-  Prefiro Chopp mas, tudo bem, faço um sacrifício em tua homenagem. Disse ela.
   E’ verdade que Galvina era muito bonita e chamava atenção por sua presença e por sua determinação mas, verdade também seja dita, os dois não tinham nada em comum... Qualquer assunto sobre o qual conversavam ressaltava mais ainda seus pontos de vista antagônicos. Sobre qualquer tópico...
-  Você sempre foi rebelde assim? Perguntou Felício.
-  Não sou rebelde! Apenas não sou uma daquelas dondocas idiotas como as quais você deve estar
   acostumado a passar suas horas vagas. Respondeu Galvina, imediatamente.
-  Me explica uma coisa que ainda não entendi... Eu estava quietinho assistindo meu filme, você me
   encheu o saco... Eu vim pra ca' tomar minha cerveja, quietinho e, me aparece você, novamente, e
   discorda de tudo que eu digo ou penso... Qual e' a tua?
-  Seguinte... Como você pode perceber, sou muito determinada. Aquele filme estava muito chato, o
   diabo do cara nem trepava nem saia de cima, quando te vi, ao meu lado, comecei a pensar em nos
   dois rolando na cama, como aqueles dois babacas que não faziam nada... Achei que seria muito
   melhor se fossemos protagonistas no nosso próprio filme. Sei que faco muito melhor do que aquela
   magrela anoréxica, feia pra cacete... Se você quiser experimentar... Alem do mais, sou solteira, não
   tenho namorado e estou no carito' por quase um ano... Não aguento mais...
-  Então e’ assim? Você acha que tenho que fazer o que você quer? Disse ele...
-  E’ isso ai meu amigo! Pegar ou largar... Disse ela.
   A esta altura, Felício ja’ estava ate' pensando nas cenas pornográficas do filme que estava, tao inesperadamente, prestes a protagonizar quando lembrou: “Puxa! Não me recordo de nenhum filme com nome de Galvina...”
   Mas, pensando melhor, olhando para aquela mulher linda que havia caído do céu, com todo aquele apetite, tão inesperadamente; lembrando que nunca se sabe o que o futuro nos reserva, dando uma chance ao destino, agradecendo `a sua sorte, se levantou, beijou aqueles  cabelos ruivos delicadamente e, tentando vencer uma de suas idiossincrasias ou ainda tentando inclui-la em sua logica, de certa maneira irracional, lhe estendendo a mão, com carinho, falou:
-  Vem! Vamos fazer nosso filme minha “Roliça Rebelde”..





  


Copyright 12/2014 Eugenio Colin  

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