quinta-feira, 5 de junho de 2014

A CUSADA DA MORTE








                                                         A Cusada da Morte







   Robaldo estava feliz da vida! No dia seguinte pela manha, um Sábado, iria visitar a cidade de Carmo do Rio Claro, MG, não muito longe de Poços de Caldas, onde residia. Resolvera que, este final de semana iria inaugurar sua mais nova aquisição... Um Fusca 1994, serie especial, equipado com catalizador e tudo. Equipamento muito importante em um carro que não possui la’ muitos equipamentos a serem ressaltados como pontos positivos de venda. Mal sabia o dono da agencia que vendeu o veiculo, pobre mortal, que, bem poderia ter guardado sua verborreia comcominante para alguem que não estivesse, por tanto tempo, perseguindo aquele carro que comprou. Finalmente, havia realizado seu sonho de juventude e, esta semana iria com ele, chumbinho, como ja’ havia carinhosamente, apelidado seu “companheiro”, apreciar as belezas de um final de semana no interior de Minas Gerais.
  Chegaria ao destino Sábado pela manha e, voltaria no Domingo, depois de apreciar o sol descansar atrás da represa de furnas que, anos passados, havia “roubado” uma grande parte da cidade que agora a abrigava.
   Como planejado, la’ estava nosso amigo, a caminho do passeio de final de semana... Apreciava seu novo carro da mesma maneira que deixava a paisagem da estrada florida e cheia de curvas também povoar aqueles momentos agradáveis que vivia. Estava curtindo tanto as qualidades de seu carro, que quase lamentou quando chegou ao destino.
   Seu desjejum daquela manha, ao invés do sanduíche de Queijo de Minas com cafe’ e frutas, como habitualmente acontecia, foi substituído por um pastel, que so’ sabia ser de queijo porque estava escrito no guardanapo que o embrulhava, ja’ que o gosto que sentia, a cada dentada, era o do vento, que saia impregnando seu nariz com cheiro de gordura queimada. Acompanhava sua primeira refeição um copo de caldo de cana... E’! O final de semana prometia...
   Assim que chegou `a pousada que o acolheria por dois dias, tomou conhecimento dos pontos turísticos da cidade. O que ver, o que fazer, o que saber sobre a represa, uma vez inimiga da cidade.
   Decidiu para a tarde daquele dia, a conselho do concierge do hotel, participar de uma pescaria onde um residente local, pescador aposentado que ali estava desde os dias de vacas gordas, era o quia.
   Subiu ao seu apartamento para reconhecimento e vestir algo mais apropriado `aquela  “aventura”...
   Assim que entraram no barco, o guia explicava como pescar o Piau, primo distante das piranhas, um peixinho pequeno que fazia parte da maior quantidade de habitantes  das aguas da represa. Como usar no anzol uma isca, feita de massa com queijo parmezao, por incrível que pareca, uma iguaria para aqueles pobres inocentes que morreriam pela boca.
   Ja’ com a barca em movimento, a atenção era total... Seu Buru’, o pescador/guia, se sentia como responsável por aquela turma que não tinha a menor vocação para pescaria.
   Robaldo porem, não estava se sentindo muito `a vontade. Não gostava de pescar e, so’ estava ali porque, aparentemente, era a melhor diversão do local... "Pelo menos, os “pescadores” devolvem as “pescarias” ao seu habitat natural. Menos mal!" Pensava, enquanto com a mão segurando o queixo, olhava evasivamente para as aguas da represa. Não estava se sentindo muito `a vontade mas, o dia quase chegava ao fim e, no dia seguinte, pretendia visitar outras atracões como a serra da Tormenta, as Cachoeiras, o Museu do Indio, depois comer alguns doces locais e voltar pela Ponte Torta, de onde apreciaria de perto a represa de furnas.
   Mas isso era para amanhã... Hoje, o negocio era fazer o melhor de uma decisão mal tomada. Ate’ então, a única coisa que o agradou foi a viagem, a potencia do seu Fusca, a realização de um sonho antigo...
   A barca estava cheia. Nosso amigo, no entanto, estava sentado em um banco lateral, apenas apreciando a natureza e, de vez em quando, tendo sua visão atraída para um dos ineptos pescadores que, aparentemente, disputavam entre si, quem era o pior deles.
   Em dado momento, um cardume de piaus, atraiu sua atencao... Os pequenos peixes pareciam golfinhos, subindo e rescendo das aguas, com suas manchas escuras nas escamas prateadas refletidas pelos raios de sol de final de tarde... Seu Buru’, assim que ouviu o barulho, contrastando com o silencio local, apenas quebrado, vez por outra, pelo grito histérico de Magvalda, uma mulher escandalosa que parecia nunca ter feito nada na vida a não ser acompanhar a novela das seis.
   Robaldo estava tao encantado que, alem de se levantar, ainda debruçou para fora do barco, tentando ficar mais perto da cena deslumbrante.
   Assim que os outros notaram a admiração do admirador, vieram `as pressas para o outro lado, onde ele ainda estava. Nosso amigo, que ainda se distraia com os pobres peixinhos, que talvez houvessem decidido, em uma “reuniao relampago”, fazer algo diferente para distrair a atencao daqueles babacas que não tinham nada mais o que fazer, o que, aparentemente, pela confusão que poderiam verificar, `as vezes que subiam fora das aguas, haviam conseguido.
   Assim que Robaldo percebeu a correria, segurou-se como pode em um dos postes que sustentava a cobertura da embarcação, instintivamente tentando se precaver do que pressentia poderia acontecer, assim que notou uma senhora de proporções ligeiramente avantajadas tropeçou em um balde cheio de iscas, que inadvertidamente encontrara em seu caminho. Procurando equilíbrio, Magvalda, como se lia no cracha’ que ela ostentava no vestido,tentando em vão, abrigar seus seios monstruosos, se segurou no mesmo poste que Robaldo ainda se apoiava e, como um pião, rodou, metendo uma bundada na perna do pobre, que não conseguiu se segurar e caiu, direto, com a cara no lago. Os pobres dos peixes, quase atingidos pelo homem, saíram nadando em disparada e, embora assustados, estavam agradecidos por não serem obrigados a dividir as aguas da represa com aquela senhora que causou o acidente, como puderam observar, bem maior do que aquele homem.
   Imediatamente, jogaram uma bóia para o “passageiro” que, agradecido, segurou-se e foi resgatado. A “senhora” não tinha a menor ideia do que estava acontecendo e, ainda tentava se levantar do chão onde caíra sentada, ricocheteada pelo impacto que quase havia mandado o dono do Fusca “novinho” de volta para a eternidade...
   Infelizmente, ao invés de ver cachoeiras e museus, fotografias antigas, comer docinhos locais, o Domingo foi passado em uma cama da casa de saúde local, so’ por precaução.
   Segunda feira, recuperado do susto e ja’ de volta ao trabalho, admirava seu Fusca da janela de seu escritório, ainda tentando esquecer o acontecido, quando um amigo, batendo em suas costas, perguntava como foi o final de semana...
   Robaldo olhou para trás e, lembrando o pesadelo que vivera respondeu, como se seu amigo houvesse presenciado o acontecido:
-  Olha! Meu amigo! Se eu por acaso não tivesse uma bóia para me socorrer, aquela mulher teria me
   matado... Teria sido a cusada da morte.






Copyright 5/2014 Eugenio Colin.

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