quinta-feira, 9 de julho de 2020

PIRIGUETE









                                                       Piriguete










   Desta vez foi Amelia, minha vizinha quem estava triste.
   Sua filha Jeralda estava em São Paulo, passando ferias com o pai...
-  Estou morrendo de saudades! Sabe? Ate' das malcriações dela eu sinto falta... Um dia eu estava pronta para sair e perguntei o que achava de minha roupa. Ela tirou o rosto do monitor do computador por cinco segundos, olhou pra mim, e falou: "Você esta' parecendo uma piriquete!" Disse a vizinha, quase chorando, ao me encontrar...
-  E' mesmo! Não vejo a Jeralda por algum tempo. Noutro dia pensei ate' em perguntar se ela estava bem... Gosto muito da tua filha. Ela e' meia destrambelhada mas e' uma boa menina. Falei.
-  Meia? Completamente! Eu acho que no dia em que ela nasceu, o doutor esqueceu de dar os apertos finais nos parafusos da cabeça dela. Respondeu. Mas eu não vivo sem ela...  Você escreve um poema sobre sua ausência? Ate' eu ja' me acostumei a ler teus poemas. `As vezes ela me pergunta se você não mandou nada para ela? Sabe o Saulo, filho da Shnitzel, a Austriaca que mora no final da rua? Todo dia vem aqui perguntar se ela ja' voltou...Finalizou.
-  Mas, não fica triste! Daqui a alguns dias ela esta' de volta e tua paz esta' de ida... Retruquei. Vou entrar e, daqui a pouco, estou de volta com o poema... Finalizei, ao me despedir.

   Então, escrevi...

   Acordei na cama chorando...
   Estava em Santo Amaro,
   na minha vida pensando
   sozinha, sem um amparo...

   Que estou eu fazendo aqui?
   Pensava com meus botões.
   De fruta, so' tem caqui,
   nem manga, caju' ou limões...

   Não quero sair de casa,
   so' fico coçando o pe',
   `a noite olhando pra lua,
   cheirando o meu chule'...

   Se ligo o computador,
   tão triste, passando mal,
   me lembro com muito amor
   da minha cidade natal...

   Eu sei que falo demais
   `as vezes, quando estou nervosa.
   Nem muitos banhos de sais
   me tornam calma ou bondosa...

   Mas uma coisa aprendi
   nos dias em que me ausentei,
   saudade enorme senti,
   de noite ate' chorei...

   Lembrava do que deixei
   na casa onde ainda moro,
   conversas também lembrei,
   com o Juca, a quem não namoro...

   Mas de tudo que aqui vivi,
   enquanto estive ausente,
   o importante aprendi
   e guardo na minha mente...

   Preciso olhar e viver
   com minha mãe, tete a tete
   e finalmente entender:
   Eu amo a "piriguete"...





Copyright 5/2020 Euge Colin

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