quinta-feira, 16 de julho de 2020

INCOMPARAVEL SATISFAÇÃO









                                               Incomparável  Satisfação








   Hoje pela manhã, após o desjejum, ainda sentado `a cafeteria do hotel, me chamou a atenção uma linda jovem morena, com longos cabelos avermelhados, olhos verdes, provavelmente aos seus trinta anos de idade, salto alto, pernas cruzadas, muito bem vestida, impecavelmente maquiada para aquela hora da manha, ainda saboreando os últimos goles de seu cappuccino. O dedo mínimo da mão direita que segurava a xícara estava arqueado, como “manda” a etiqueta daquelas dondocas sofisticadas que a maioria de nós, pobres mortais, copiamos.
   Sem que percebesse, aquela mulher dominava toda a minha atenção. Observava seus mínimos detalhes e gestos, como se estivesse tentando aprender algo.
   Segundos apos o ultimo gole, pousou a chicara delicadamente, olhou para um lado, limpou o canto da boca com um guardanapo que mantinha no colo, olhou para o outro lado, pousou o guardanapo `a mesa e, delicadamente, introduziu o mesmo dedo que ha’ pouco tempo se mantinha arqueado, dentro do nariz.
   Se minha atenção ja’ era total, agora era imperativa.
   A mulher estava completamente absorta em seu trabalho de limpeza. Mexeu com o dedo de um lado para o outro e, voila’! Uma enorme meleca saiu presa `a seu dedo, com uma parte dentro de sua bem manicurada unha.
   A esta altura, sem perceber que captava minha total atenção, com as costas da unha do mesmo dedo minimo da outra mão, removia a parte da meleca que se escondia sobre a outra unha e, com um movimento automático e magistral, conseguiu transportar toda a “materia” nasal para a ponta do dedo indicador.
   Agora, completamente concentrada, movia o dedo indicador sobre o polegar, em movimentos circulares, sem perder o contato com a matéria desforme que, `a esta altura começava a se esferizar. Mantinha a mão que “trabalhava” em baixo do guardanapo que formava um pequeno arco por sobre a mesa. Vez por outra recuava um pouco a mão para averiguar se seu objetivo estava sendo conseguido. Mais alguns segundos e, expôs a mão que mantinha coberta ao alcance de seus olhos.
   Certificando-se de que a consistencia estava adequada, levantou a toalha da e colou a meleca na parte inferior da mesa.
    Abriu a bolsa, abriu o batom que agora segurava, retocou os lábios e, levantou-se ao encontro de seu destino.
   Naquele momento pensei; se algum dia voltasse `aquele hotel, `aquele cafe’ e me sentasse a uma mesa e quando, disfarçadamente, ao tentar de me livrar da minha própria meleca, encontrasse outra, no mesmo local, tentando se grudar `a minha, seria isso considerado muita sorte ou, muito azar...
   Aquela cena matinal me fez refletir...
   Talvez outra pessoa que presenciasse aquele fato ficasse totalmente horripilado...  Sera’ que meleca esta’ sempre associada a narizes grandes e feios?
   Porque tanto preconceito? O que aquela mulher havia feito nada mais era do que um ato de higiene nazal. O que seria mais apropriado? Soar o nariz e, com o alarde, despertar a atencao de todos os que ali tomavam sua refeição ou, sorrateiramente, como havia feito, praticar sua higiene de maneira sutil e recatada.
   Todos sabemos que nosso nariz e’ a melhor e mais perfeita “maquina” de produzir meleca... Um nariz afilado, bem maquiado, acostumado aos mais sofisticados perfumes  franceses, como aparentava ser aquele ao qual tao absortamente acabara de observar ou o nariz do torneiro que respira po’ de aço o dia inteiro, todos devem ser limpos de alguma maneira.
   E’ claro que rhinotillexomania não deve ser desculpada, tudo tem o seu limite mas, tirar uma melequinha de vez em quando não mata ninguém. Alem do mais e’ fato comprovado que cada uma entre quatro pessoas admitiram que tiram meleca pelo menos uma vez ao dia.
   Ponderando um pouco mais, a respeito do acontecimento, pude entender que dedo com unha grande e’ bem mais adequado para uma boa limpeza nasal. Um dedo com unha muito curta torna praticamente impossível um bom desempenho. Também, pude lembrar que não e’ adequado enfiar qualquer dedo no nariz. O dedo mais apropriado para uma boa higiene nasal e’ o dedo mínimo mas, não importa o dedo usado, se lavarmos bem as mãos após o inestimável prazer de tirar uma meleca solida e consistente, resolveremos o problema da eventual infecção sem nos privarmos do prazer maior, da conquista de uma boa meleca.
   Agora! Se você achou que deveria ter guardado esta experiência para mim, que isto foi um assunto repugnante e inapropriado, examine a própria consciência, seja honesto e diga para si mesmo se nunca, em sua vida, meteu o dedo no nariz `a procura daquela meleca especial que lhe proporcionaria relaxamento e incomparável satisfação....






Copyright 5/2020 Eugene Colin

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