quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

FANTASIA DE CARNAVAL








                                               Fantasia de Carnaval








   Marco Aurélio Aureliano da Silva Pinto era caminhoneiro desde que tirou sua carteira de motorista, aos vinte e três anos de idade, quando ainda era um menino franzino.
   Começou como ajudante e, muitos anos depois, quando ja' conhecia boa parte do Brasil, juntando todo o dinheiro que conseguiu economizar, pode comprar seu próprio caminhão.
   Agora sim ele podia dizer que era um caminhoneiro de verdade. Gostava da vida nas estradas... Seu caminhão era como sua casa, literalmente. Habilidoso como era, foi capaz de transformar aquela cabine em um mini-quitinete, quase igual `aqueles que são vendidos por uma fortuna exorbitante nas vielas estreitas de Copacabana, no Rio de Janeiro. Seu quitinete, quer dizer, a cabine de seu caminhão tinha uma cama, um banheiro, com chuveiro e tudo e ate' geladeira e microondas, se fosse necessário.
   Marcão, como era chamado pelos conhecidos, ja' que agora, muitos anos depois, comendo tanta porcaria pelas estradas afora, não era mais aquele menino de outrora... A idade estava chegando implacavelmente e, com ela, a barriga e os maus hábitos de quem vive so'.
   A única coisa que Marcão reclamava da vida que levava era a solidão. E’ claro que não podia ter uma família, nem mesmo uma namorada. Não tinha tempo nem para comer. Mal chegava em uma cidade e, enquanto o caminhao era descarregado, ja' estava procurando por outra carga, para qualquer lugar do pais. O que não podia era andar com o caminhão vazio.
   A maneira que havia encontrado, através dos anos, para amenizar a solidão era, de vez em quando, quando o fome apertava, “dar uma carona” para alguma mulher solitária perdida pela estrada.
   Para todas elas, assim que entravam no caminhão, com aquele sorriso sem graça que elas davam para alguem que acabaram de conhecer, sem a certeza de que deveriam ter conhecido, ouviam:
-  Meu nome e’ Marcão, sou do Maranhão, gostosão, entrou na boleia do meu caminhão, não tem 
   perdão...
   E’ claro que “as convidadas” não reclamavam, algumas porque estavam no meio do nada, sem outra opção de transporte e encaravam a “situação” como um pagamento pela carona, outras porque era aquilo mesmo que estavam procurando mas, para Marcão, não tinha importância. Em sua mente ela as ajudava e elas retribuíam...
   O único problema era que o cara era muito exigente. Se a mulher não parecesse, no mínimo, uma atriz da novela das nove, não entrava em seu veiculo. Por isso, `as vezes passava meses a fio tentando “resolver o problema” sozinho.
   Certa vez, logo após uma viagem de Porto Alegre para Manaus, agora voltando para o Rio de Janeiro, onde chegaria justamente no Sábado de carnaval, se não houvesse nenhum imprevisto. Ja' estava ha' dois meses na estrada em completo jejum, sem conseguir pegar mulher alguma, primeiro porque todas as que via nas estradas eram muito feias; segundo, porque também estava com pressa de chegar a tempo de ver se pegava alguma mulata, saindo do desfile, cansada, `a procura de “auxilio”...
   Assim que passou por Belo Horizonte, ja' saindo da cidade, viu uma freira.
   Com a desculpa de verificar a pressão dos pneus, parou um pouco mais `a frente, o suficiente para que desse tempo da freira chegar ate' ele enquanto batia nos pneus.
   Assim que ela estava a uma distancia suficiente para que suas feições pudessem ser reparadas pensou: “Puxa vida que freira bonita, tão novinha! Que os céus me perdoem!”
-  Bom dia freira! Falou assim que ela se aproximou.
-  Bom dia meu filho! Respondeu ela. Você esta indo para onde? Completou.
-  Estou indo para o Rio de Janeiro, a senhora quer uma carona? Disse o caminhoneiro.
-  Que coincidência! Também estou indo para la' para participar de um retiro. Respondeu a freira, ja'
   subindo no caminhão, auxiliada pelo homem.
   Assim que começou a dirigir voltando para a estrada, ele ainda deu uma boa olhada para a noviça e falou:
-  So'' tem um problema dona freira: Meu nome e' Marcão, sou do Maranhão, gostosão, entrou na 
   cabine do meu caminhão, não tem perdão...
   A feira deu uma boa olhada para o cara e, resignada, respondeu:
-  Meu filho, aqui na frente, você sabe... Sou virgem, não posso fazer nada mas, la' atrás, se você 
   quiser...
   O cara parou o caminhão no acostamento e, mesmo no escuro pode ver o jovem corpo da freira, enquanto ela tirava a roupa, aparentemente resignada com o seu destino.
   Mesmo se sentindo culpado, Marcão não perdoou, mandou ver e, o melhor e' que ele achava que a freira estava gostando muito, pelos gemidos que ela soltava enquanto ele “trabalhava”.
   A coisa foi tão boa que ainda pararam mais três vezes antes de chegar ao destino.
   Em toda viagem, Marcão estava martirizado, não conseguia se perdoar... Quatro vezes, em menos de 500 quilômetros, com uma freira...
   Assim que entraram na Avenida Brasil, quase chegando ao centro do Rio, a freira falou:
-  Meu filho, pode parar aqui na Penha que eu ja' vou descer...
   Gentilmente, Marcão parou o caminhão em um acostamento e, pegando a mão da freira com todo respeito falou:
-  Dona freira, me desculpe muito pelo que fiz com a senhora, que os céus me perdoem mas, por 
   favor, tente entender, a vida na estrada e’ muito solitária... `As vezes a gente passa três meses 
   sem...  A senhora sabe ne’?
-  Não tem problema meu filho. Os “céus” vão te perdoar... Disse a freira.
-  A senhora vai rezar por mim? Perguntou Marcão.
   Não precisa meu filho! Disse a freira.
-  Depois de um pecado desse que eu cometi, porque não? 
-  Porque meu nome e’ Amaral, sou de Natal, homosessual, e esta e' minha fantasia de
   carnaval...

   




Copyright 2/2020 Eugene Colin.

Nenhum comentário:

Postar um comentário