domingo, 9 de fevereiro de 2020

BRANCA DAS NEVES









                                                   Branca das Neves








 
   Branca Maria Dias Claros das Neves vivia uma infância de princesa... Sua casa era em uma das ultimas ainda existentes em um dos melhores pontos do Bairro. Tinha ate' um vizinho que morava em um prédio enorme, todo moderno, cheio de frescura para entrar, mas que todos os dias descia para brincar com Branca das Neves em uma casinha que existia em uma da inúmeras arvores que habitavam o enorme quintal do que mais parecia uma chácara, a apenas alguns minutos da praia do Leblon.
   Ela se vestia de princesa, ele de príncipe e la se iam para o castelo imaginário de uma infância invejável.
   De repente, quando a felicidade parecia eterna, a primeira tragedia; sua mãe faleceu. Embora todos,  sentiram como o mundo tivesse acabado, seu pai foi o que mais sofreu. Apos alguns meses porem se viu "enfeitiçado" por uma das secretarias da empresa de aviação da qual era dono. Uma mulher 30 anos mais nova do que ele, com uma cara de aproveitadora que todos viam, menos ele, a qual, com muito tato, esfregando ao extremo seus "atributos" físicos em sua cara e outras partes do corpo, acabou convencendo o otário que o amava "com todo seu coração". O velho caiu na conversa e casou com a megera que, em pouco tempo, começava a tornar a vida de Branca em um inferno permanente.
   A casa era cheia de espelhos pelos quais a "bruxa" passava constantemente, olhando por minutos seu perfil refletido, como se estivesse tentando se certificar que era a mulher mais linda do mundo.
   A medida que Branca ia crescendo e se tornando mulher, a madrasta se tornava mais cruel, intimamente reconhecendo que Branca das Neves, em pouco tempo se tornaria uma mulher maravilhosa.
   O pai, tardiamente reconhecendo a furada em que se meteu, adoecia cada dia mais, aos olhos de todos os serventes os quais Medeia (o nome da madrasta), agora tomando as rédeas da família, trazia no cabresto apertado.
   Branca das Neves, assim que seu pai caiu de cama, debilitado, sem reconhecer mais nimguem, manipulado pela esposa,  se mandou de casa, sem nenhum dinheiro, sem poder estudar e foi para em Bangu, propositadamente para ficar o mais longe possível da "miserável" que havia arruinado sua família.
   O único trabalho que conseguira era o de arrumadeira, para sete irmãos solteiros que viviam em uma casa enorme com cinco quartos que mais parecia um chiqueiro. Não era, nem de perto, o emprego de seus sonhos mas, era o melhor que conseguira `aqueles dias difíceis. Se os caras não fossem tão altos, poderíamos dizer que Branca das Neves trabalhava na casa dos sete anões.
   Depois de algumas semanas, nas quais transformou aquele bordel em uma casa super organizada, limpa, perfumada, obrigando os irmãos ate' a trocar de roupa diariamente para que ela as pudesse lavar, começou a procurar pelo pai. Quando descobriu que semanalmente frequentava um hospital em Jacarepaguá onde tentava fazer exercícios, tentando talvez, prolongar um pouco mais a vida que a madrasta fazia tudo para abreviar, passou a visita-lo.
   Em uma dessas visitas, quando pediu para conhecer o medico responsável pelo tratamento de seu pai, reconheceu nele Prince, o "príncipe" que com ela brincava diariamente quando era criança. Assim que viu Branca, dela se lembrou imediatamente, não conseguindo conter as lagrimas que escorreram por seu rosto.
   Quase sem deixa-la falar, a pegou pela mão e a levou `a sala dos médicos para que pudessem conversar. Explicou `a ela que seu pai sofria de uma condição chamada de Lewy Body Disease, causada literalmente por tristeza e depressão. Foi com muito pesar que enformou `a sua amiga de infância que seu pai não tinha muito tempo de vida.
   Visivelmente impressionado pela beleza daquela menina "engraçadinha" que com ele brincava quando criança, ficou mais triste ainda quando soube que ela trabalhava como domestica em uma casa de sete marmanjos. Mesmo sabendo, como ela explicou que se tratavam de ótimas pessoas, honestas e respeitadoras que tentavam a todo custo, uns com trabalho, outros com estudo, fazer algo de suas vidas que como a dela, não era das mais felizes nos dias atuais.
   Ainda solteiro, sem nenhuma aspiração romântica ate' `aquele momento, tentou marcar um encontro com Branca para que pudessem reatar os laços de outrora, ao que ela veementemente descartou, muito mais por vergonha de sua condição atual do que por interesse em seu antigo amigo, ao qual em sua infância havia aceitado como noivo oficial no castelo onde brincavam, naquela corte imaginaria.
   A única concessão foi a troca de numero de telefones para que se pudessem comunicar, numa emergência ou em um dia de saudade e lembranças infantis incontroláveis. Com o que ele concordou imediatamente, sabendo muito bem que, como dizia o Ze' Buchudo,  em caso de fome extrema e' melhor comer uma fatia de pão do que ficar esperando pelo file' mignon que pode não aparecer.
   Um dia, em uma das visitas `a seu pai, ao não encontra-lo, procurou por seu amigo que a informou que ele havia falecido alguns dias atras.
   Branca das Neves não conseguiu parar de chorar por horas, ate' descobrir que não tinha mais lagrimas para verter.
   A vida seguia sem muitas perspectivas de melhoras ate' que, um dia, quando menos esperava, ao abrir a porta da casa onde trabalhava, boquiabunda, viu `a sua frente a figura da madrasta, com uma conversa de "cerca-lourenço", trazendo `a enteada uma linda cesta de frutas cheia de maças, mais lindas ainda.
-  Me desculpe! Confesso que no inicio, quando vi você tão linda, em minha frente,  te
   encarava como uma ameaça e por muito tempo achei que se colocava entre eu e seu pai mas agora,    sabendo que ele não esta' mais conosco, me sinto muito so'. Gostaria que você pensasse na
   possibilidade de morarmos juntas novamente. Eu sei que não mereço tua confiança mas, você e' a        única coisa que me resta... Não aguento mais a solidão e a falta que sinto de teu pai. Disse a                madrasta com um semblante triste, denotando arrependimento... Me promete que vai pensar?              finalizou.
   Aquela visita, certamente foi uma surpresa para Branca. Ainda visivelmente impressionada, quase
que automaticamente, pegou uma das maças expostas na linda cesta e começou a come-la.
   Pensativa, enigmatizada, mordia a fruta nervosamente, ate' que se sentiu tonta, enjoada, vendo tudo rolar `a sua frente. Não tardou para que caísse ao chão onde permaneceu imóvel.
   Eram quase sete horas da noite quando o primeiro dor irmãos chegava. Mesmo antes de adentrar `a casa, estranhou a luz da sala acesa, ja' que Branca nunca trabalhava ate' tão tarde.
   O segundo chegou encontrando seu irmão ja' ao telefone falando com o SAMU. Quase que imediatamente os sete irmãos, reunidos, resolvessem ligar para Dr. Prince assim que encontraram o nome do medico entre os contatos telefônicos de Branca.
   Dr. Prince, quando ouviu o relato do acontecimento, imediatamente pediu que levassem a moca ao hospital no qual dava plantão `aquela noite, por coincidência, não muito distante da casa em que residiam.
   Um atendimento pronto, uma lavagem estomacal e muito carinho salvaram aquela que sempre esteve na mente de Prince, que não saiu do lado de sua amiga ate' que teve certeza que ela estava recuperada completamente.
   Naquela mesma noite, voltou ao hospital para visitar Branca...
   Em um "ataque" de coragem pouco comum `a Prince, quando se tratava de sentimentos íntimos, confessou seu amor antigo por Branca das Neves. Propôs a ela que vivessem juntos, ao mesmo tempo em que reatariam os laços do passado,  em que se conheceriam melhor... Seria uma relação puramente amistosa ate' que ela estivesse preparada para viverem juntos como marido/mulher, se ela assim decidisse ser seu desejo. Propôs ajuda-la `a recomeçar os estudos, propositadamente interrompidos pela madrasta.
   Um beijo sincero e carinhoso foi a resposta dada `a seu amigo desde criança.
   Foi com uma tristeza feliz que os sete irmãos receberam a noticia de que Branca das Neves se despediria agradecida, agora para seguir em busca da felicidade interrompida pela megera.
   Não demorou para que Dr. Prince descobrisse que a tal madrasta tentou se livrar de sua enteada para não ser obrigada a dividir a fortuna que parcialmente herdara.
   A decisão de ate' que ponto deveria processar Medeia, ficaria a cargo de Branca das Neves.








Copyright 1/2019 Eugene Colin.
 
 
 












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