sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

A PUPUNHA DA VIZINHA










                                                    A Pupunha da Vizinha











   Valmir do Pinto Grande havia acabado de comprar a casa de seus sonhos...
   Apos anos de trabalho, economia, planejamento, finalmente realizava o desejo da casa própria.
   Alias, Pinto Grande, como era por todos conhecido era o rei do planejamento... Desde pequeno planejava todos os seus atos. Ate' pra fazer xixi havia um plano. Se estava em casa de mulheres, fazia xixi sentado; "se por forças do inesperado eu molhar o vaso", pensava, "tenho que limpar antes de abaixar o assento"...
   Em sua juventude, nenhuma namorada escapava de seus projetos... Sempre tinha tudo calculado.
Primeiro, nunca levava namorada alguma para ver filme de terror. Uma moça assustada, poderia atrapalhar seus planos anteriormente planejados. Preferia filmes de amor, "chick flicks" como são qualificados em Hollywood. Tinha amigos que ate' achavam que o cara era bicha, apesar do nome. O que eles não sabiam era que numa cena triste, a menina começava a chorar e, Pinto Grande, num ato de solidariedade e apoio incondicional, colocava seu braço sobre o ombro da namorada, arqueando o mesmo `a frente para que com a ponta dos dedos conseguisse alcançar as bochechas da pobrezinha, toda molhada, pelas lágrimas, e' claro. Depois de enxugar `as ditas, deixava sua mão cair, "acidentalmente", sobre os peitos da companheira, na maioria das vezes, dentro do sutiã... A moça, agradecida pelo conforto se chegava mais ainda, o que o deixava curioso, sem saber se elas faziam isso de propósito pra dar mais espaço aos planos de consolação em progresso.
   O notável era que, além disso, ele era muito esperto.
   Quando entrou na faculdade para estudar botânica, sua grande paixão desde pequeno, notando que a maioria das mulheres não gostavam de usar sutiã, acabou então "estudando" anatomia feminina.
   O que ele fez assim que se formou?
   Fundou uma fabrica de sutiãs para quem não usava sutiã... Na verdade, o produto genial nada mais era do que uma armação ao redor dos seios, com alça de ombro, usando um pequeno suporte para levantar os "ditos" se por acaso fossem caídos... Tinha criado ate' dois modelos diferentes; com bico e sem bico. Assim, as clientes poderiam escolher o mais adequado a seus propósitos imediatos... Mas não pense que seu plano havia falhado devido a escolha profissional que fez. Nada disso! O fato e' que como todo planejador profissional, sempre teve o plano "B" e, a tal da "anatomia feminina" sempre foi seu plano "B" em qualquer outro projeto.
   Em pouco tempo o cara ficou rico. Vendia mais sutiã do que cerveja em jogo de futebol.
   Mas, agora era hora de estabelecer residencia para então, depois de tanta safadeza, poder casar.
   A casa escolhida não era a mais bonita do mundo mas, possuía duas características que o fizeram optar por esta opção. Primeiro, tinha um quintal bastante grande, cheio de arvores frutíferas e, segundo, e mais importante, estava localizada ao lado da mulher que era dona da maior pupunha que jamais havia visto.
   Magdala, sua vizinha, além de linda, possuía uma pupunha de fazer inveja a qualquer mortal. Assim que Pinto Grande, quando ainda tentava escolher sua futura moradia, viu aquela pupunha, não teve mais dúvidas. Tinha que morar ao lado daquela mulher para poder olhar sua pupunha a toda hora.
   Magdala, por sua vez, tinha plena consciência que sua pupunha era admirada por todos, vizinhos e transeuntes esporádicos e, sacana do jeito que era, usava sempre um short super apertado e blusa amarrada embaixo dos peitos, com a barriga aparecendo, toda vez que molhava as plantas de seu jardim. Não tinha vergonha pelo fato de todos pararem em frente `a sua casa para olharem escaradamente. Sempre se sentiu orgulhosa de sua pupunha e achava que o que era bonito era para ser mostrado e, fazia questão de que todos apreciassem aquela maravilha da natureza.
   Pinto Grande, em poucos dias vivendo em sua casa nova, ja' havia ensaiado alguns olhares de cobiça `a pupunha da vizinha, a qual, por sua vez, toda orgulhosa apreciava a atenção do vizinho.
   Toda noite, antes de dormir, Valmir olhava da janela de seu quarto, no segundo andar de sua casa, para o quintal da vizinha para que, mesmo no escuro, guardasse em sua mente `as imagens maravilhosas de uma pupunha que, ja' havia algum tempo, dominava todos seus pensamentos... Seus dias na "Sutiãs DuPeito", sua industria, eram cheios de ansiedade, olhando ao relógio várias vezes ao dia, na esperança que a tarde chegasse logo e, ao final dela, ao terminar seu dia de trabalho, pudesse correr para casa e mais uma vez apreciar o que tomava conta de sua mente o dia inteiro.
   A vida seguia, cheia de angústia para o Pinto Grande que na maioria dos dias murchava de decepção ao chegar em casa e constatar que aquela pupunha maravilhosa estava pertinho de seu alcance mas, a ele não pertencia. Não podia toca-la, estar perto dela, acaricia-la de vez em quando... Seu único consolo, se e' que consolo consola os inconsoláveis na busca de consolar um consolo que nada mais e', na verdade, uma frustração, era que ainda, pelo menos, podia olhar aquela que em pouco tempo ja' havia se tornado a pupunha dos seus sonhos...
   Uma manha de Sábado, depois de ja' viver em sua residencia por quase um ano, resolveu tomar coragem e expressar seus desejos `a Magdala.
   Tudo estava planejado... Logo apos o cafe' da manha, ao vê-la chegar em casa de suas compras semanais, se apressaria para encontra-la antes  que entrasse em casa. As sentenças certas a serem verbalizadas ja' estavam alinhadas em sua mente. Primeiro iria elogiar sua pupunha, tão rara no estado de Minas Gerais onde vivia. Depois comentar sobre suas bolinhas avermelhadas que tantas vezes admirara da janela de sua casa, então comentaria sobre a altura de sua pupunha e, finalmente pediria sua permissão para fazer mudas da bactris gasipaes, nome cientifico daquela árvore maravilhosa...
   Pretendia, se tivesse sorte, usando técnica que aprendera em pesquisas anteriores, que em menos de três anos pudesse ter em seu quintal, ao lado da mangueira, bananeira, laranjeira, limoeiro e de tantas outras plantas frutíferas, que com tanto orgulho cultivava, que se não fosse igual, pelo menos lembrasse aquela linda árvore da qual gostava tanto, a pupunha da vizinha...






Copyright 3/2017 Eugene Colin
 
 
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário