sexta-feira, 25 de março de 2016

O CACETE DO PADRE










                                                         O Cacete do Padre







   A cidade de Ubitubidaituba estava em festa...
   Ou melhor, as mulheres da cidade estavam em festa. A única Igreja local, que estava sem um pároco por quase um ano acabava de receber seu sacerdote e, como se não fosse este um motivo de alegria para a cidade, o padre, em seus quase cinquenta anos, era muito bonito... Porte atlético, cabelos meio grisalhos, olhos verdes... Um “pão” como diriam as “fieis” de mais idade (as velhas). O único senão e' que, contrastando com toda aquela beleza, o homem, apesar de não ter tanta idade, era surdo... Estava sempre com um daqueles aparelhos enfiado no ouvido do lado direito o tempo todo. Tudo bem! Ninguém e' perfeito...
   Passado alguns dias, após a noticia de que o padre era muito bem apessoado se espalhar pela cidade, a mulherada começou a lotar a igreja como nunca havia antes acontecido.
   Aos domingos, durante as missas, suspiros eram ouvidos, juntamente com as palavras latinas, uma vez que o novo padre, de formação tradicional, rezava missas tridentinas, aquelas que são celebradas em latim, como antigamente.
   Uma característica inusitada porem, que muitos notaram, era que o padre estava sempre com a mão direita dentro do bolso de sua batina. Alguns ate' chegaram a pensar que ele tinha um problema em sua mão, impressão que era desfeita para os que haviam visto sua mão ou o cumprimentado ao final das missas.  Tudo isto dava ao novo pároco um ar de mistério e admiração que as mulheres apreciavam muito mais do que os homens.
   Aos poucos, Pe. Paolo Andeotti, começava a se familiarizar com todos e, pelos conhecimentos adquiridos, começar uma obra no sentido de resolver, ou pelo menos ajudar a amenizar, os problemas de seus paroquianos.
   Um dia, Dona Vivinha, uma senhora muito humilde, muito fofoqueira, que era a faxineira da Igreja, desde não se sabe quando, ouviu uma conversa telefônica de Pe. Paolo, onde ele dizia, provavelmente a um amigo, ou familiar, que não largava seu cacete, segundo ele seu cacete era a pocessão mais preciosa, e que lhe dava mais prazer, entre tudo que acontecia em sua vida... Dizia ao interlocutor que o segurava constantemente, para “aciona-lo” toda hora que fosse necessário, por dentro do bolso de sua batina, tendo assim sua gratificação instantânea.
   Pra que!!! No dia seguinte todas as mulheres da cidade começaram a comentar sobre o “cacete do padre”... Sera' que e' grande? Fino? Muito grosso? Ah! Eu queria dar uma olhadinha... Eram alguns dos pensamentos, e ate' mesmo revelações `as amigas, que algumas moças deixavam escapar.
   Por incrível que pareça, apesar da idade do sacerdote, as mais jovem e' que estavam mais curiosas por uma oportunidade de ver o que ele tão bem escondia por baixo daquele monte de pano preto que vestia diariamente.
   Agora, todos os dias de confissão, a fila saia fóra de igreja... De repente todas se “lembraram” de seus pecados. Algumas ate'' olhavam para dentro do confessionário, tentando “pegar o padre em 
ação”. Quem passasse pela igreja, diria que era dia de festa... Um monte de mulher ajoelhada, rezando pelo perdão divino.
   Marluci, uma jovem em seus quase trinta anos de carito', um domingo, após a missa, meteu a mão por fóra do bolso do padre, tentando sentir o tamanho do que ele protegia com suas mãos.
   Muitas moças, ate' se matricularam nas aulas de latim que padre Paolo ministrava, no sentido de ajudar aos interessados a compreender melhor os ritos tradicionais, e os cantos gregorianos que ouviam todos os domingos. Mas, para suas frustrações, jamais puderam ver nada de comprometedor por parte do pároco.
   Não havia, em todo país mulheres mais exigentes do que as Ubitubidaitubanas. Os homens da cidade, que nunca estiveram com essa bola toda, que apesar de estarem em muito menor numero do que as mulheres não conseguiam namorar ninguém, agora começavam ate' a ficar com raiva do padre, como se ele fosse responsável pelas exigências femininas da cidade. So' para se ter uma ideia de ate' que ponto elas poderiam chegar, muitas verbalizavam, `a plenos pulmões, que o Brad Pitt era horroroso. Muito branco, olhos muito claros, apesar de ter muito mal gosto... Segundo a maioria delas, so' tendo muito mal gosto para se casar com um graveto ambulante de boca grande que parece não tomar banho nunca... Segundo a totalidade das “fieis”, padre Paolo dava de dez a zero no ator americano, principalmente depois de descobrirem que o cara deveria ser um “terror”, ja' que não largava o seu cacete. Muitas ate', pecaminosamente chegaram a pensar a “ajudar” o moço a segurar o “negócio” e dar um pouco de alivio `a sua mão.
   Mas, apesar da curiosidade paroquial, a vida seguia e Paolo mantinha sua fe fazia seu trabalho de maneira admirável. Pelo menos, de um modo ou de outrao a igreja estava sempre cheia e seus projetos de caridade começavam a surtir efeito, ate' mesmo entre os homens da cidade.
   No dia da festa em que a igreja comemorava um ano da chegada de padre Paolo `a cidade, Marluci estava disposta a descobrir o que o padre tanto fazia com a mão dentro do bolso. Havia ate' espalhado para suas amigas que “de hoje ele não passa!”
   Dito e feito! Na primeira oportunidade, encostou o padre na parede e, tascou-lhe a pergunta:
-  Padre, eu queria saber porque o senhor anda sempre com a mão no bolso...
   Assim que ouviu a pergunta, ele sorriu e começou a tirar a mão do bolso, aparentemente segurando algo, enquanto olhava para a fiel, maldosamente...
   A principio, Marluci levou um susto. Seu coração disparou enquanto ela pensava: “E' agora que o padre me mostra o tal do cacete...”
   Com o maior orgulho, padre Paolo tira do bolso um pequeno saco, com as bordas gravadas em ouro, ostentando o simbolo do Vaticano. Dentro dele, um pequeno gravador cassete.
   Olhou para Marluci e disse:
-  Este gravador me foi presenteado pelo papa quando recebi meus votos e fui la' comemorar. Aqui        tenho gravada minhas musicas preferidas que ouço a quase todos os momentos, principalmente 
   quando estou preocupado, triste, ou quero espairecer um pouco. Nunca tentei me atualizar, usando 
   MP3 ou outras modernidades. Adoro este pequeno cassete.
-  Ah! E' por isso que o senhor usa este aparelho no ouvido... Pensei que o senhor fosse surdo.
-  Não! E' o fone do meu cassete...

  Marluci saiu dali de certa maneira desapontada, tudo por causa da porra da faxineira que, em sua ignorância e surdez, achou que um um simples, inocente gravador, fosse o cacete do padre...






Copyright 9/2015 Eugene Colin

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