segunda-feira, 14 de abril de 2014

JILO'







 
                                                                    Jilo’







   Padre Jose’ Maria Guardanapo acabar de assumir a posição de pároco de Jijoca de Jericoacoara, pequena cidade do norte do Ceara’ com apenas 17 mil habitantes.
   Era um grande desafio para qualquer um que se candidatasse ou fosse obrigado a assumir tamanha responsabilidade... Todos diziam que a cidade era a campeã do pecado do estado. Era um tal de homem com homem, mulher com mulher que dava ate’ medo.
   Parecia que todo homem era bicha e toda mulher, sapatão.
   Mas, Padre Guardanapo não via nada de anormal, pelo menos `a primeira vista. Apenas mais uma tarefa igual a muitas outras que teria de cumprir em sua longa vida de missionário dedicado ao trabalho pastoral.
   Assim que assumiu suas novas funções, tratou de organizar a igreja e comprar dois confessionários, ja’ que ali não existia nenhum e, eles seriam imprescindíveis para a concretização da nova campanha que estava começando a planejar mentalmente.
   A época não era das melhores para iniciar uma tarefa de redenção daquela cidade endiabrada. Estavam a apenas uma semana do carnaval...
   O pároco não queria nem pensar no que iria acontecer na cidade naqueles dias pecaminosos e permissivos.
   Mas, pensando melhor, talvez essa fosse uma ótima oportunidade para catapultar costumes cristãos.
   Em sua mente prolifera ja’ ate’ imaginava slogans para a campanha a que se proporia. Frases como; “O Inferno e’ quente pra caralho, o Céu tem ar condicionado”, “Ande nas nuvens! Literalmente!”, “Troque seus muitos pecados por poucas oracoes”, “Fale comigo! Te dou uma carona para a vida eterna”, “Quanto maior o prazer da carne, maior o fogo no rabo...”, já passeavam em seus pensamentos...
   Foi muito difícil para um homem beato como Guardanapo, conseguir ver tanta mulher pelada nos desfiles das escolas de samba. Mas, com fe’, conseguiu superar a tentação.
   Aquela Quarta-feira de cinzas, tao ansiosamente aguardada chegou e, com ela, o inicio de seu plano para a evangelização daquelas almas perdidas.
   Apesar de todo dia usando os alto falantes da Igreja `a todo volume, apenas algumas pessoas compareceram para a cerimonia das cinzas.
   Como um verdadeiro otimista que era, ele pensava, talvez num processo de ocultar de si mesmo sua enorme frustração: “Melhor cinco do que nada”.
   Aos poucos, com muito trabalho, muita conversa, muita promessa que nem ele mesmo sabia se poderia ser cumprida, alguns gato-pingados começaram a aparecer para se confessar... Um dia, um dos jovens que captou sua atenção por ser muito forte e bonito apareceu para se confessar. O Padre entrou no confessionário, ainda cheirando a novo e falou:
-  Qual o seu pecado meu filho?
-  Padre, eu comi Jilo’... Disse o rapaz.
-  Filho! Comer Jilo’ não e’ pecado... Acho que nem e’ gula... Se ajoelha ao altar, reze
   uma Ave Maria e pode ir em paz... Disse Guardanapo.
   No dia seguinte, uma linda Jovem, morena olhos verdes, um par de coxas pra ninguém botar defeito, que poderiam ser admirados mesmo por trás das arestas de um confessionario pediu para se confessar.
   La’ foi Padre Guardanapo novamente para seu confessionario ainda cheirando a novo e falou:
-  Qual o seu pecado minha filha?
-  O Agenor Padre... Disse a moça.
-  Que tem o Agenor filha?
-  Ele ta’ doido pra me comer e o pior e’ que eu também to doida pra dar...
-  Minha filha! Sexo so’ deve ser administrado depois do matrimonio...
-  Seu Padre, O que e’ administrado?
-  Quero dizer que so’ os casados podem manter relações sexuais livremente...
 - E’ fácil pro senhor que e’ padre e não gosta de pinto... Todas minhas amigas ja’
   deram pra ele e dizem que ele tem um cacete enorme. Eu ja’ não aguento mais. To
   subindo pelas paredes meus dedos já estão ate’ com calo de tanto... O senhor sabe...
-  Eu entendo minha filha! Você que dizer que sua vagina ja’ esta toda ferida pelas
   masturbações frequentes que você administra em si própria...
 - Bem! Eu ia dizer que minha boceta ta’ toda assada e eu to com os dedos inchados
   de tanto coçar a farfonha mas, tudo bem...
-  Minha filha, tente resistir `as tentações... Reze dez Ave Marias, dez Padre Nosso, dez
   atos de contrição, va’ em paz e não peque mais...
 - Aí Padre! Vamos fazer um acordo... Eu rezo três Ave Marias, três Padres Nosso e fica
   por ai. Nem sei o que e’ acontrição...
  
   A cada dia, pouco a pouco, um a um, mais fieis se apresentavam `a igreja, para se confessar e assistir `a missas, principalmente jovens, o que agradava Padre Jose’, revelando que seu trabalho começava a surtir efeito.
   No dia seguinte, aquele jovem bonito novamente chegou `a igreja para se confessar...
   A mesma confissão: “Padre! Comi Jilo’”. Mais uma vez o Padre esclareceu que comer jilo’ não era pecado. A mesma penitencia e o jovem foi embora...
   A campanha evangelizadora estava surtindo efeito. Semana apos semana, mais pessoas compareciam `as missas.
   Aquele jovem bonito porem ja’ estava dando nos nervos do Padre. Dia sim dia não vinha ele dizendo que comeu jilo’. Pe. Envelope ja’ estava cansado de dizer que comer jilo’ não era pecado. Quando `aquela morena, pensava ele, ou ja’ deu pro tal do Agnaldo ou ja’ morreu infecção xerecal... Nunca mais a havia visto.
   Para comemorar seus seis meses na paroquia, lançou uma campanha regional. Todo aquele que se confessasse naquela semana ganharia uma rifa para uma moto Biz, novinha.
   Foi um tal de fiel pra todo lado... A fila dobrava o quarteirão mas, Padre Envelope estava feliz. Estava com a bunda inchada de ficar o dia inteiro sentado ouvindo pecados, alguns dos quais, extremamente cabeludos mas, tudo bem. Tudo em prol de uma vida melhor para seu rebanho...
   No intuito de tentar conhecer melhor aos que vinham se confessar e, também para dar um toque mais pessoal e intimo `as confissões, o Padre começou a perguntar os nomes dos fieis...
   Todos ajoelhavam, diziam seus nomes e a confissão prosseguia. A dado momento, não pode deixar de reparar um jovem muito estranho, unhas pintadas, peruca roxa, brincos nas duas orelhas, lábios discretamente pintados... Um horror!
   Mas Padre Envelope não podia, nem era de seu habito, descriminar a ninguém...
   Assim sendo, assim  que o jovem se ajoelhou no confessionário, ainda cheirando a novo, Padre Jose’ perguntou:
-  Meu filho, qual e’ seu nome?
   O rapaz, tirando os cabelos da testa, desmunhecando mais do que o Agnaldo Timóteo em seus áureos tempos antes de cantar Mãezinha Querida, respondeu:
-  Meu nome e’ Jilo’...






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