sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

HOMEM DE PAU GRANDE








 
                                                           Homem de Pau Grande








   Homens de Pau Grande estão praticamente em extinção... Estatísticas não comprovadas indicam que existem apenas 5.530 homens de Pau Grande, no mundo inteiro.
   E’ claro que também se tem conhecimento de mulheres de Pau Grande e, quem procurar direitinho, no lugar certo, as encontrara...
   Homens com esta característica encantam `a certas mulheres, apesar das serias consequências por vezes proporcionais `a essas "qualidades"...
   Vejam o caso de Magda, por exemplo. O sonho dela era casar com um deles. Talvez porque nunca tivesse namorado ninguém em sua infância, talvez apenas uma lembrança de criança, daquele dia inesquecível que viu um de seus amiguinhos brincando com uma cobra, e ela, na sua inocência infantil, confundiu isto com aquilo... A saudade daqueles dias simples e divertidos talvez ainda a iludisse, fazendo com que ela acreditasse que, namorando um homem de Pau Grande, todos os seus problemas poderiam ser resolvidos e todas suas lembranças resgatadas permanentemente...
   Muitas de suas amigas, principalmente as atuais, achavam que Homem de Pau Grande e’ algo desnecessário e supérfluo... Muitas delas se contentariam apenas em ter apenas um homem, completo, e' claro, com todos os membros, mesmo que um pouco flácidos...
   Um dia, uma de suas amigas de infância, que havia ha' muito tempo deixado esses homens no passado, com quem casualmente havia encontrado na rua Marques de Pombal no Rio de Janeiro, cidade que havia tomado emprestada como sua ha’ muitos anos, para onde migrou ainda criança e hoje trabalhava, lhe disse que jamais se casaria com um homem de Pau Grande. Não queria nem ver Homem de Pau Grande `a sua frente...

 -  Na grande maioria dos casos, conversava sua amiga casualmente, homens de Pau Grande são
    burros, muito feios alem de mal educados e, muitas vezes, mal asseados... O que adianta vir de Pau
    Grande pro meu lado com todos os defeitos por tanto tempo acumulados...
    Clodoimundo, meu primeiro namorado, era de Pau Grande. Nunca tivemos relações
    sexuais mas, naqueles encontros fortuitos acompanhados de muita excitação e  
    descobertas, pude sentir o que seria se entregar a alguem assim. Nunca poderia
    dizer que o cara era o príncipe da beleza ou o rei do charme, pelo contrario...
    Nunca esqueci um dia que estava pronta para me entregar `a ele. Tinha feito tudo
    para deixa-lo entender que, `aquela noite, o presentearia com minha virgindade. Eu
    queria ter a  certeza que meu “querido” havia entendido aos sinais que
    eu “emitira”, entre eles o de, em um beijo ardente que trocamos naquela manha,
    quando enfiei a mão dentro das calcas do Clo, como era conhecido, e apertei com
    carinho o que ali encontrara, perguntando em voz alta: “- Preparado para o banquete
    de hoje `a noite?”
    Em minha mente, não havia duvidas... O grande dia havia chegado...
    `As oito da noite como combinado, la’ estava eu, `a beira do rio, sentada `as suas
    margens, em baixo de uma arvore de Pau Brasil, a única na região...
    Para falar a verdade, estava um pouco apreensiva... E’ claro que não pensava,
    antecipadamente em me casar com o Clo mas, quem sabe, se ele conseguisse
    superar, so’ um pouquinho, sua enorme falta total e absoluta de um minimo de
    inteligência, talvez ate’ arriscasse.
    Estava absorta em meus pensamentos quando um trovão muito forte me trouxe de
    volta `a realidade. Instintivamente olhei para o meu relógio. Nove e meia da noite. Ja’
    estava ali por mais de uma hora e nada do tal do namorado aparecer...
    “- Sera’ que vai chover?” Indaguei voz alta.
    Tentei olhar para o céu por entre as arvores que praticamente cobriam minha visão...
    Mais alguns segundos e outro trovão, este acompanhado por um raio que, por
    instantes, clareou completamente a região.
    Olhei mais uma vez para o relógio, apenas para constatar que a chuva anteriormente
    anunciada, havia chegado, E’, o jeito era ir para casa, ainda virgem e, agora
    molhada... Havia pensado em ficar toda molhada `aquela noite, mas apenas em
    partes localizadas de meu corpo, não dos pés `a cabeça...
    Nem corria da chuva, entregava-me totalmente `a ela, triste e desapontada...
    No dia seguinte, `as primeiras horas da manha, ouvindo a campainha tocar, fui `a
    porta da casa, constatando, para minha surpresa que ali estava Clo, todo ensopado,
    vestindo um terno com gravata e tudo, pingando agua como uma torneira defeituosa...
    “- O que aconteceu?” Perguntei.
    “- Mi discurpa, andei  noite toda, bati na porta di tudu qui era as casa da cidade onde 
    qui vi luz acesa mair num consegui discubri o diabo du “banquete” que você havia me
    cunvidado pra cume...” Disse Clo, todo apologético.
    Olhei para ele, pensei bem e, de certa maneira, me vi agradecida pelo que não
    aconteceu.
    O pobre do homem ainda estava la’ olhando para mim com uma cara de babaca
    quase impossível de ser descrita quando eu disse: “- Eu e’ que tenho que me
    desculpar... O “banquete” foi cancelado e eu esqueci de te avisar...”
    E você ainda quer um homem de Pau Grande?

    Magda, ouvira a historia de sua amiga, compenetrada e interessadamente... Lembrava agora depois do relatado que, quando menina ria a vontade ao ver alguns de seus colegas tropeçarem no ar, sair catando cavacos e aterrissar com a cara na lama. Mas, sem saber explicar porque, queria e achava de tinha a obrigação moral de casar com um desses homens... Tinha esperança de encontrar alguem menos burro do que Clo. Se não fosse cheiroso ou asseado, talvez o problema pudesse ser contornado. Beleza física era algo que para ela não importava muito. E’ claro que, sendo fotografa profissional, ate’ agora so’ havia namorado homem bonito, talvez ate’ por sua profissão e circulo de amizades mas, em sua mente, estava preparada para “encarar” um cara feio. Horroroso não! Feio!
   Magda nunca havia tido, em toda sua vida, pelo menos um namorado de Pau Grande. Saiu de la’ muito pequena, antes de atingir aquela idade mágica onde os meninos começam a virar homens, se interessar por mulheres e as meninas começam a abracar a possibilidade de trocar as bonecas de pano por um “boneco” de carne e osso.
   Estava louca para voltar `a sua pequena cidade natal no interior do Estado do Rio de Janeiro que impregnava sua mente. Queria visitar parentes e amigos, passear por locais ainda guardados em sua memoria de menina e, se possível, arrumar para si um namorado que, quem sabe pudesse, futuramente, ser seu marido... Sabia que a tarefa não seria fácil. A cidade possuía apenas pouco mais de cinco mil homens, muitos dos quais seriam eliminados antes mesmo de começar o “teste” mas, Magda era tenaz, firme em suas convicções, obstinada na sua persistência em buscar um sonho de infância... Tinha certeza que, qualquer que fosse o escolhido, ela teria como aparar as arestas, fazer de seu “projeto” um homem de verdade... A única exigência que para si mesmo fazia e’ que ele fosse um homem de Pau Grande, RJ, sua cidade natal.




Copyright 2014 Eugenio Colin

  
  

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