quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A FONTE DA JUVENTUDE






                                               A Fonte da Juventude





   Alcebiades Aristóteles Antônio Antunes Arantes da Anunciacao Almeida de Sa’, um renomado pesquisador, que desde que se formara em medicina sempre dedicara boa parte de seu tempo em procurar solução para doenças e estados patológicos crônicos que afetava seus pacientes, era mais conhecido como Dr. Sa’.
   Dr. Sa’ era um incurável ideológico romântico. Achava que poderia e, se não pudesse, ao menos havia tentado, resolver os problemas de saúde da humanidade.
   Para ele, a maior riqueza do ser humano era a saúde. “Um duro com saúde vai ter sempre condição de trabalhar por dias melhores”, dizia constantemente...
   Dr. Sa’, poderia facilmente passar por um galã de novelas. O homem tinha quase dois metros de altura, forte como um boxeador, uma saúde de ferro, quando perguntado, dizia que nunca se lembrava da ultima vez em que esteve doente.
   Funcionarias eram difícil manter emprego em seu consultório. Não que não gostasse de mulher, pelo contrario, mas achava que não tinha tempo para se dedicar `a família ou a uma relação séria. Quando estava com vontade de “extravasar” seus “sentimentos” acumulados por algum tempo, procurava um Strip Club e, de la’ saia acompanhado por uma “atriz”para mais uma noite de aventuras inconsequentes que, segundo normas rígidas por ele mesmo estabelecidas, depois daquela noite nunca mais repetiria a mesma cena com a mesma “atriz”.
   Ultimamente porém, Dr. Sa’ estava muito envolvido em seu novo projeto. Uma serie de expedições `a Amazônia onde, com uma equipe de médicos e enfermeiras que havia formado, permaneceria por três meses cuidando de pacientes carentes.
   Este programa era financiado por sua própria fundação com auxilio da UNESCO e outras entidades filantropicas.
   O mesmo projeto de iniciativa do governo federal la’ comparecia de seis em seis meses. Assim sendo, o seu projeto preencheria o vácuo, contribuindo melhor para o auxilio da população local.
   Cada viagem cobria uma área especifica naquele enorme território. Desta vez o destino era Piniquim bem no centro da Amazônia.
   Para facilitar e dar maior conforto aos médicos e enfermeiras que o acompanhariam, as viagens eram feita por transporte aéreo em cooperação com a FAB.
   O cenário visto do alto era realmente amedrontador. Uma enorme área verde, aparantemente impenetrável. O único meio de transporte para aqueles pequenos povoados indígenas eram as hidrovias que, de la’ do alto, sumiam na vastidão do cenário.
   Estavam quase chegando ao pequeno aeroporto quando, de repente, uma enorme tempestade se armou, justamente no momento em que o avião começava a descida de aproximação.
   No meio de toda aquela água que do céu despencava, um raio atingiu a asa direita da aeronave, paralisando um dos dois motores. Alguns entraram em panico imediatamente. Nanando, um dos médicos que sofria de insonia, logo se arrependeu de ter brigado com sua noiva, razão pela qual havia aderido `a expedição; so’ porque ela vivia se recusando a dar pra ele, `as altas horas da madrugada, o que ele achava ter direito, mesmo ser ter mencionado casamento uma so’ vez, em cinco anos de compromisso.
   Dr. Sa’ havia ate’ sugerido algumas vezes que se enturmasse no mesmo “Clube” que frequentava, se quisesse, resolvendo o problema ali mesmo em uma das salas vip, nos fundos do estabelecimento mas, Nanando era fiel `a sua noiva.
   O panico ainda era geral quando o piloto avisou que se via obrigado a realizar um pouso  forçado. Todos se seguraram da melhor maneira possível, alguns que nunca haviam rezado em toda a vida, aprenderam rapidinho.
   O piloto estava tentando visualizar um rio mas estava difícil, sem muita claridade, com muita chuva, e arvore a dar com o pau. Finalmente, decidiu que não podia esperar mais... A porrada foi tão grande que so’ se via caixa subindo, gente descendo, vidro quebrando, agua entrando na cabine, explosões do lado de fora, faiscas do lado de dentro... Tudo que teriam direito se estivessem protagonizando uma superprodução hollywoodiana sobre desastre aeronáutico. Aquilo durou apenas alguns segundos que mais pareciam uma hora para os que la’ estavam. Finalmente... Silêncio total por alguns instantes, pouco a pouco, alguns gemidos, começaram a se ajudar uns aos outros... Por incrível que possa parecer, apenas alguns cortes e hematomas que começavam a ser notados nos bracos, pernas e rostos que ainda demonstravam pavor.
   Dr. Sa’ começou a, muito superficialmente, examinar um por um, constatando que nada mais sério havia acontecido. Estava tão preocupado que nem percebeu um enorme corte em seu braco que sangrava profusamente. Um dos médicos aplicou um torniquete que temporariamente resolveu o problema.
   Agora a chuva havia parado. O céu estava limpo e a claridade da lua era a única iluminação disponível `aquele momento.
   Abriram a porta do avião com cuidado e resolveram explorar a área imediata onde o avião havia parado, para se certificar que poderiam esperar pelo dia com as portas abertas. Sem muito caminhar, Dr. Sa’ pode ver, sem muita clareza, uma pequena arvore com folhas bastante grandes que se fechavam ligeiramente `a medida que eram tocadas. Notou também que elas eram quentes, mesmo estando em uma floresta tropical em uma noite úmida.
   Cortou uma das folhas, envolveu seu braco cortado e a amarrou com um rolo de gaze, solto de uma caixa, no interior do avião.
   Arrumaram da melhor maneira possível o que ainda estava espalhado e foram dormir.

   O sol, refletido em uma das asas ainda presa na fuselagem, acordou a um por um. Puderam perceber que, no local onde haviam “pousado”, a água do rio era bastante clara e límpida. Dr. Sa’ resolveu então limpar seu braco e agora, com a luz do dia, poder avaliar melhor a profundidade daquele corte.
   Procurou uma toalha, agua oxigenada, um pouco de álcool e caminhou em direção ao rio. Notou porém, para sua surpresa, que aquele corte, apesar de muito profundo não doía ou incomodava, nem um pouco. Se abaixou perto da água que corria vagarosamente e, com muito cuidado começou a desamarrar a faixa que envolvia a folha que protegia o corte. Assim que desprotegeu o braco, gritou por Nanando e outros médicos que o haviam ajudado a cobrir o corte.
   Todos chegaram correndo assustados, e para o espanto geral, aquele enorme corte estava quase que completamente cicatrizado. Somente uma pequena linha vermelha lembrava que, apenas algumas horas atrás, uma laceração estava ali presente.
   Dr. Sa’ estava intrigado... Que planta seria aquela? Que poderes medicinais possuía? E’ claro que isto seria alvo de estudos muito mais detalhados.
   Resolveu então montar o Centro Atendimental Geral  Ambulatorial Da Amazônia, CAGADA, como se lia na sigla, ali mesmo. Quem sabe poderia se utilizar daquela planta maravilhosa para aliviar seus futuros pacientes...
   Os responsáveis pela logística daquela expedição se encarregaram de montar um esquema de transporte que trariam os pacientes ate’ ali. Dr. Sa’ não queria se afastar de sua descoberta. Naquele mesmo dia, enquanto todos se encarregavam de fazer a CAGADA de pe’, ele ligava seu computador tentando pesquisar a respeito de sua descoberta ocasional.

   Dois dias depois, começaram a chegar os primeiros pacientes. O Centro Odontológico era um dos mais procurados. Muitos problemas visuais também eram frequentes... Para cortes e pequenas lacerações localizadas, Dr. Sa’ agora contava com um aliado poderoso. Sua planta miraculosa.
   Naquele mês, em apenas um dia , a populacao local não pode contar com a CAGADA que tao bem lhes serviam, devido a tempestade que arrebatou sobre a região.
   Mas, Dr. Sa’ não estava com muita sorte em suas pesquisas. Ate’ agora não tinha a menor ideia sobre aquela planta miraculosa. So’ sabia que funcionava...
   Um dia chega uma senhora que acabara de se ferir na perna com um facão, enquanto desmatava parte do terreno onde sua palhoça se localizava.
   Ao ver aquele corte, Dr. Sa’ ja’ sabia o que fazer... Assim que pegou uma das folhas e voltou, ouviu a paciente dizer sorrindo:
-  Ah! O senhor vai botar No seu cu?
   A primeira reação do medico foi responder: “No seu, sua idiota!” Mas, não queria se rebaixar tanto, resolvendo ignorar o insulto.
 -  O que a senhora disse? Perguntou então, um pouco desconcertado pela verborreia ofensiva da
    paciente.
 -  A planta que o senhor segura... O nome dela e’ No seu cu... Repetiu a senhora.
 -  A senhora conhece esta planta? Indagou Dr. Sa’
 -  Meu falecido marido usava muito...
 -  A senhora sabe como soletrar este nome?
 -  Sei não moço! Mas o nome e’ esse... Disse a senhora.
    Ao dar o dia por encerrado, depois do ultimo paciente deixar a CAGADA, chamou Dr. Nanando. Ja’ que ele não dormia mesmo, pelo menos poderia ajudar na pesquisa daquela planta.
    Tentaram varias opções de pronuncia ate’ que, finalmente, depararam com uma pagina da África, onde descobriram artigos falando sobre plantas exóticas ate’ hoje desconhecidas pela humanidade. Por fotos e descrições de varias plantas, por comparações e medidas, chegaram `a conclusão que haviam descoberto algo que lhes dariam muita satisfação, algo lindo, valioso, maravilhoso, “Nuceucuh”.
    Agora, com o mistério desvendado, era so’ continuar as pesquisas e, imediatamente, publicar o mais que pudesse no Jornal de Medicina, para no futuro estar apto a clamar a autoria da descoberta, se isto ainda não tivesse sido feito.
  
   Os dias se passavam e cada vez mais o ambulatório era procurado. Síndromes das mais variadas eram cuidadas. Dr. Sa’ havia conseguido ate’ envazar aquela planta, misturando parte de suas folhas picadas com pequenas porcões de álcool, éter sulfúrico, óleo de amêndoa e água destilada. A ideia era que o álcool pudesse desinfetar, o éter ajudar na vaporização, o óleo tornar a mistura mais aderente e a água espalhar os efeitos medicinais daquela solucao.
   Em uma manha, logo apos ter, delicadamente recusado a oferta de um paciente de comer rabo de jacare’ como seu desjejum, alegando que sua primeira refeição diária era sempre o almoço, além de ser vegetariano, mentira deslavada que qualquer dono de churrascaria da cidade onde residia poderia facilmente desmentir, atendia seu primeiro paciente do dia. Tratava-se de uma senhora de, aparentemente, setenta anos com a pele de ambos os bracos cobertas de queimaduras que, embora leves e superficiais, segundo ela, incomodavam muito. O que mais o repugnava naquela paciente era que ela possuía apenas dois dentes, um na arcada superior o outro na inferior. Muito delicadamente, tentando não ferir a auto-estima da senhora, ele sugeriu que ela procurasse o Centro Odontológico que, certamente a ajudaria da correção daquela anomalia.
   A senhora, sorrindo respondeu: “Que nada douto! Isso são minhas faca. Com esses dente eu corto ate’ cana de açúcar...”
   Apos pensar que talvez cortar tanta cana de açúcar tenha sido a causa daquele sorriso esdruxulo, Dr. Sa’ não titubeou. Pegou um frasco da nova mistura que já havia preparado e, depois de limpar os ferimentos, a instruiu que usasse duas vezes naquele dia. A primeira vez dentro de quatro horas e, a segunda antes de dormir.
   Dentre os vários beneficios que aquela equipe estava trazendo a toda a populacao, um dos maiores, sem duvida havia sido a descoberta ocasional que um acontecimento inusitado havia tornado possível.
   `A noite, Sa’ aproveitava a insonia de Nanando para que ele, de bom grado, segundo varias vezes havia verbalizado, transcrevesse progressos, descobertas e realizações  em um diário que mantinham, organizando e descrevendo as atividades da CAGADA, o que diariamente faziam.

   Estavam la’ a pouco mais de um mês quando, inesperadamente um helicóptero pousou no meio da CAGADA.
   Desta vez não se tratava de um paciente que necessitava de atendimento urgente e sim o Governador do Estado que vinha pessoalmente agradecer por todo aquele esforco, dedicação, altruísmo por parte de Dr. Sa’ e sua equipe de profissionais abnegados. O Governador chegou ate’ a oferecer a construção de um Centro de Atendimento permanente, se aquele abnegado doutor se dispusesse a atuar como diretor daquele projeto, ali comparecendo apenas quinzenalmente.
   Dr. Sa’ gostou da ideia e se propôs a pensar como poderia ajudar a este novo projeto se concretizar.
   Mais tarde, apos a comitiva deixar o local, o atendimento aos pacientes continuava. Assim que chegou ao seu consultório, viu na sala de espera uma jovem, muito bonita, rosto angelical, cabelos negros e longos, olhos amendoados, usando um short tao curto e apertado que provavelmente estava impedindo a circulação sanguínea daquelas lindas coxas. Mas o que mais chamava atenção naquela jovem, alem da beleza,  eram seus enormes seios que mal cabiam naquela blusa toda rasgada. De repente, teve saudades do “Entra devagar” nome daquele “Strip Club” que sempre frequentava e que uma vez havia sugerido `a Dr. Nanando.
-  Em que posso ajudar `a jovem. Você não me parece doente... Disse Dr. Sa’, sem conseguir tirar os
   olhos daqueles seios encantadores.
-  O senhor não se lembra de mim? Disse a jovem.
-  Você ja’ esteve aqui? Perguntou Dr. Sa’.
-  Memoria curta doutô? Respondeu a jovem sorrindo.
   Ao reparar naquele sorriso inesquecível, com apenas dois dentes, um em cima o outro em baixo, Dr. Sa' lembrava daquela senhora a quem havia sugerido, com cuidado para não ferir sua auto-estima, procurar o Centro Odontológico.
-  O que aconteceu? A senhora me disse que tinha setenta anos... Indagou.
-  Setenta e um! Fiz aniversário semana passada...Agora eu sou “senhora”? Ainda ha’ pouco não
   tirava os olho das minha coxa e dos meu peito. De repente virei
   “senhora”? O que que houve Doutô, brochô?
-  Deixa eu ver os bracos. Melhoraram da queimadura? Indagou Dr. Sa’.
-  Doutô! Tanta coisa pra vê e o sinhô que’ olha' meus braço?
-  O que aconteceu? Indagou Dr. Sa’.
-  Sei la’! O senhor e’ que e’ o médico. Cheguei em casa, bebi aquele liquido do vidro e, 
    uma semana mais tarde as ruga começaram a sumi’, os peito crescê, a coxa
    engrossa’, a pele estica’ e agora to aqui doida pra agradecê ao sinhô. Se quise’
    posso agradecê aqui mesmo no chão... Disse a “senhora” ja’ desabotoando a blusa,
    concluindo...
 -  O pior e’ que to maluca pra dar uma trepadinha...
 -  A senhora não tem namorado?
 -  Doutô! Naquela tribo so’ tem homem com mais de quarenta ou menino com menos
    de quinze. Além do que, índio anda pelado! O senhor ja’ viu o tamanho dos pinto deles? Aquilo
    não da’ nem pra fazer cosquinha... O seu ainda não vi não mas não pode ser menor do que os deles.
   `Aquela altura, Dr. Sa’ so’ pensava em sua descoberta. Havia ocasionalmente encontrado o que todos os pesquisadores do mundo sempre procuraram.
    Acidentalmente aquela viagem havia se tornado no premio maior que jamais poderia ter alcançado. Agora teria algo muito mais importante a transcrever no Jornal de Medicina.
   Ainda estava absorto em seus pensamentos quando ouviu:
-  Doutô! Come’ qui e’... Tô aqui toda molhada. Vai querê ou não?
   Dr. Sa’ olhou para aquilo tudo que se exibia `a sua frente, pensou, cocou a cabeça, lembrou do seu “Strip Club” e falou:
-  Vamos fazer o seguinte... Procura o Centro Odontológico, arruma estes dentes e depois volta aqui
   para conversarmos...
-  Ta’ bem mas, primeiro agente trepa, depois cunversa... Disse a, “senhora”?
   A “moça/senhora” saiu correndo mais do que um foguete...
   Dr. Sa’ ponderava sobre ética profissional mas, agora queria saber se os efeitos daquela planta atingiam também a mente... Aquela senhora que antes tentava comprar uma televisão agora queria comprar uma cama nova. Pensando bem, teria que “pesquisar” mais sobre aquela total transformação alem de, e’ claro, estar em jejum por mais de dois meses, com as mãos todas machucadas, sem falar sobre outras partes do corpo, o que, tudo misturado, de certa forma, desculparia aquela atitude.
   Pelo menos, enquanto ali estivesse teria companhia, para o bem da ciência e’ claro, e porque não dizer, de toda a humanidade, alem de ajudar `aquela pobre senhora, agora moça, carente.
   Por um instante pensava mais alto. Premio Nobel de Medicina, mais dinheiro para poder ajudar a um maior numero de pacientes carentes e, quem sabe, uma companheira para esquentar as noites úmidas, `as vezes frias da Amazônia. E’ bem verdade que ela tinha setenta e um anos mas, pensando bem estava, gracas `a sua descoberta, agora estava melhor do que as “atrizes” do Entra Devagar.
   A historia se espalhou rapidamente por toda a equipe. Todos se sentiam orgulhosos por poder trabalhar com aquele gênio da medicina que, mesmo o fato de ter feito uma descoberta acidental, que so’ se materializou por seu esforco, persistência e dedicação, não tiravam o mérito de ter encontrado Nuceucuh, a fonte da juventude....






  


Copiright 2013 Eugenio Colin.

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