quarta-feira, 19 de junho de 2013

RUA ECOLOGIA






                                                               Rua Ecologia




   Câmeras de televisão, repórteres, fios e cabos espalhados por tua rua... Um caos total na rua Philomena Carola, que a partir deste dia especial teria seu nome mudado para “Rua Ecologia”.
   Era a primeira tentativa do município em criar uma rua ambientalista. As casas geravam, através de seus painéis solares 73% da energia que consumiam, a agua que abastecia as casas eram filtradas e próprias para consumo antes mesmo de chegar `as caixas. Lixo reciclado em coletores apropriados para cada tipo de material, plantas de diversos tipos nas calcadas, canteiros de flores...  Realmente um esforco inédito para criar algo novo.

   Finalmente chegara a hora. Todos os moradores ali presentes.  O Prefeito,  recitando um discurso cheio de baboseiras ao qual ninguém prestara atenção, encerara a cerimonia, quando, oficialmente, mudou o nome da rua para “Ecologia”. Agora, como havia mencionado quando segurava o microfone, era so’ viver em paz, aproveitando os beneficios de uma rua planejada que se tornaria modelo `a muitas outras

    Era a primeira tentativa da cidade para melhorar, em muito, a qualidade de vida naquele município.
   Carvalho Pinto, Dona Xeca e seus filho Armando Pinto chegaram bem na hora. O caminhão que trazia a mudança foi obrigado a esperar ate’ que o prefeito e sua comitiva se mancassem e fossem embora.
   A família havia acabado de mudar para Rua Ecologia.
  
   A rua, que era sem saída, havia sido fechada pelas autoridades, tornando-a assim em uma especie de condomínio. Tinham ate’ eleito um administrador responsável pela preservação daquele lugar maravilhoso, na opinião dos moradores.
   Embora com apenas oitenta casas, quase duzentos jovens ali habitavam.
   Nas calcadas, de ambos os lados, canteiros de flores davam um perfume especial ao ambiente. No final da rua, uma praça, cheia de arvores e ate’ um coreto, era o lugar favorito para o encontro de rapazes e moças que ali se reuniam todas as tardes para conversar, tocar violão, fofocar e, os que ainda não tinham namorada, tentar arrumar uma.
   Joãozinho, um dia, conversando com um monte de amigos, ponderou que a rua so’ tinha arvores e flores, relegando verduras, legumes e vegetais a um segundo plano, no contexto ecológico.
   Decidiram então, em uma reunião naquela mesma tarde, apelidar os moradores com nomes de verduras, legumes e vegetais, de acordo com suas aparências “verduleguvegetarianas”, homenageando assim `aquelas plantas que tao bem nos nutrem, ate’ então esquecidas…
   Joãozinho recebeu o apelido de Pepino, Angela seria conhecida como Uva, Ricardo agora era chamado de Nabo, Maria Emília seria Vagem mas, como era pequenina, carinhosamente a apelidaram de Vaginha. Lourival passou a ser chamado Quiabo, uma vez que babava toda vez que ria muito, Clarisse era chamada de Pera, Alex, descendente de Alemães, recebeu o apelido de Pimentão, ja’ que seu rosto era redondo e vermelho, Jaime, sempre descabelado, recebeu o apelido de xucrute. Irritado pelo apelido que não gostou, convocou uma nova reunião pedindo a abolição de seu apelido, tendo como base factual, o argumento que xucrute não e’ vegetal, teoria que foi unanimimente rejeitada apos outra reunião da comissão na casa de Alex, quer dizer, Pimentão, quando sua mãe demonstrou, inequivocamente que xucrute e‘ preparado com repolho, razão pela qual o apelido foi mantido  e assim por diante.
   So’ depois do terceiro dia em sua nova residencia, Armando teve tempo de começar a conhecer os outros jovens que moravam na rua. A esta altura porem ja’ haviam esgotado todos os nomes de vegetais, legumes ou verduras que conheciam. Haviam ate’ apelado para outras línguas quando resolveram apelidar Genoveva de Petit-Pois e Tony, que era filho de Italianos, de Zuchini que, embora não tenha nada a ver com o idioma, soava Italiano.
   So’ restava então, pelo menos por enquanto, apelidar o novo morador de Pintinho. Se pais também fossem receber apelidos, Seu Carvalho seria apelidado de Pintão.
   Numa das tardes em que estavam todos reunidos na praça do final da rua, Pintinho não pode deixar de notar a presença encantadora de Vaginha. Foi amor `a primeira vista. Sabendo porem, por um dos meninos, que ela era muito tímida, começou a tomar cuidados especiais quando conversavam para não assusta-la com alguma palavra mal colocada ou uma frase dúbia e assim, perder, quem sabe, a primeira chance em sua vida de conquistar a primeira namorada.
   Depois de alguns encontros e vários passeios de mãos dadas pela rua, para a ira de alguns rapazes que nunca haviam nem de perto sentido o cheiro de Vaginha, a coisa caminhava bem estre os dois. Pintinho começa a saber das preferências de Vaginha e a cercava com todo carinho e atenção. Alguns ate’ ja’ estavam de implicância com Pintinho. “Como e’ que um cara estranho chega na rua e arruma logo uma namorada? E logo a Vaginha que todos querem!”
   Mas Pintinho era de boa paz. Queria mesmo era ficar bem juntinho de Vaginha, com ela gozar de sua companhia, e ignorar o mundo.
   Um dia, quando ja’ estavam juntos por mais de três meses, convidou sua namorada para tomar um sorvete em sua casa, o que ela, um pouco reticente aceitou.
   Quando la’ chegaram perceberam que seus pais não estavam em casa. Vaginha olhou pare ele com uma cara desconfiada mas, também gostava de Pintinho e, um sorvete e’ um sorvete, alem do mais, eram três horas da tarde e seus pais deveriam chegar a qualquer momento, pensara...
   Carinhosamente ligou a televisão em frente ao sofa’ da sala onde ela sentou aguardando pelo sorvete prometido, enquanto ele ia `a cozinha para lhe servir uma “banana split” de creme chocolate e morango, favoritos de sua namorada. Os sorvetes estavam na geladeira mas a banana, o caramelo e a castanha de caju’ não conseguia encontrar.
   Vaginha olhava para os movimentos de seu namorado, `aquela altura realmente desconfiada. O que sera’ que ele esta’ tentando? Pensava.
   Mais alguns segundos e Pintinho chamou Vaginha para ir `a cozinha ajuda-lo, após, finalmente haver descoberto a castanha, a banana e o caramelo em um armário la’ no alto, fora de seu alcance.
   Assim que ela se aproximou, falou:
-  Pega aqui p’ra mim, abre as pernas e deixa eu trepar em cima. Depois eu deixo você comer  
   tudo sentada no sofa’, ate’ lamber o caramelo que sobrar em cima da banana que vou te dar.
   Vaginha cobriu a boca com uma das mãos e fugiu apavorada, sem nem reparar que seu namorado apontava para uma escada que pretendia ela pudesse alcançar e abri-la para que subindo, pudesse alcançar o que encontrara.
   Vaginha era tão tímida que nem entendeu que quando sua mãe a recomendava que tivesse muito cuidado com os pintinhos, não estava se referindo a um menino, filho do Carvalho.

   Porque não soube ser claro em sua maneira de se comunicar, Pintinho perdeu Vaginha para sempre, mesmo continuando ser seu vizinho na Rua Ecologia.


Copyright 2013 Eugenio Colin

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