domingo, 23 de dezembro de 2018

PRESENTE DE NATAL










                                                      Presente de Natal









    Natalino estava feliz da vida... Morando por vários anos nos Estados Unidos, tinha acabado de receber de sua esposa Natália, a melhor noticia pela qual jamais poderia esperar, pelo menos em um futuro próximo; em uma visita de rotina `a seu medico soube que ela estava gravida.
   Quando lhe deu a noticia, o homem pulou tanto, não conseguindo controlar sua alegria, que ela ficou ate' com medo que ele, numa daquelas demonstrações de felicidade, que mais pareciam voos rasantes, acabasse se despencando pela janela do apartamento do trigésimo quinto andar, onde moravam.
   `Aquela noite os dois quase não conseguiram dormir, passaram a noite toda conversando e tentando descobrir o nome do filho, ou filha...
   Aparentemente estavam tão cansados que, não conseguindo raciocinar com clareza, começavam a pensar em nomes como Linotália ou Talialino, Lita, ou Talo...
   Apos algumas horas de incongruências nominativas, chegaram `a conclusão que tentar misturar seus nomes so' iria criar constrangimentos para o futuro rebento. Assim sendo, depois de algumas ponderações mais coerentes, chegaram a conclusão que se menino, seu nome seria Noel e, se menina, Noelle.
   Assim que acharam um nome, finalmente, conseguiram dormir...
   Tudo corria bem ate' que uma grave crise financeira atingiu os Estados Unidos e por consequência, o mundo inteiro...
   Parecia ate' que Natalino estava prevendo... Em poucas semanas, perdeu o emprego.
   Após tentar tudo a seu alcance, decidiu que a única opção seria voltar ao Brasil que, segundo ouvira dizer, estava enfrentando `aquela crise bem melhor do que muitos países.
   No Brasil, não tardou em encontrar um emprego. Bem verdade, nem de perto comparável ao que havia perdido mas, `aquela altura do campeonato, com o bebê prestes a nascer, não podia se dar ao luxo de exigências.
   O casal, que vivia confortavelmente alguns meses atrás, agora enfrentavam séria crise financeira. Aos trancos e barrancos mal conseguiam manter sua união.
   Assim que Noelle completou cinco anos, Natália também começou a trabalhar, contribuindo com sua parte para o sustento da família...  Eles atravessavam um clima muito tenso, com nervos `a flor da pele; economizavam ate' papel higiênico... Tudo era restrito a um minimo necessário. Natalino tinha consciência que estava `a beira de perder sua família e por isso mesmo tentava controlar seu nervosismo ao máximo, o que, paradoxalmente, o fazia ficar mais nervoso ainda.
   Uma das coisas que mais o aborreciam era ver noticias diárias de corrupção em praticamente todos os estados, perpetrada por políticos, funcionários de alto escalão de empresas estatais, que ganhavam milhares de reais por ano e assim mesmo espotejavam os governos ou as empresas aos quais deviam proteger, animados por uma impunidade inconsequente, enquanto ele, honestamente tentava se manter com dignidade.
   Um dia, pouco antes do Natal, colocou sua filha Noelle de castigo, ao vê-la desperdiçando um rolo de papel dourado. A menina ficou muito triste mas,  obedeceu ao pai.
   No dia de Natal, um dia comum para aquela família por ja’ algum tempo, `a hora da ceia, que naquele ano constava apenas de um arroz de forno e uma jarra de suco de laranja, a menina foi a seu quarto e voltou com uma caixa, embrulhada com aquele papel dourado com o qual dias antes ela brincava, dizendo que era um presente para os dois, seu pai e sua mãe.
    Quando Natalino abriu a caixa e não encontrou nada dentro, gritou com sua filha, dizendo:             -  Você não sabe que, quando se da‘ um presente `a alguém, deve ter algo dentro da caixa?  
    A menina olhou para ambos, com lagrimas nos olhos dizendo:                                                            -  Papai! Não esta’ vazia... Eu soprei muitos beijos dentro da caixa, so' para você e para a mamãe.
    Natalino ficou talado... Imediatamente ajoelhou-se ao lado da filha, implorando por perdão.                                
    Tempos depois, ja' de volta aos Estados Unidos, agora como diretor executivo da mesma empresa que o havia despedido, ele exibia todos os anos, com destaque, na arvore de natal, aquela caixa e, a cada dia durante as festividades, tirava um dos beijos imaginários para lembrar do amor de uma criança que mesmo na adversidade nunca esqueceu de celebrar o espirito natalino.
    Na verdade, cada um de nos, e' presenteado por nossos filhos, amigos e Deus, com uma caixa dourada, cheia de beijos e amor incondicional... Aos que entendem o valor deste presente imaginário, basta ir la', “abrir a caixa” e tirar um beijo, a cada vez que necessitarem de consolo.

   Não existe possessão mais valiosa ou um melhor presente de natal...






Copyright 12/2018 Eugenio Colin

Nenhum comentário:

Postar um comentário