quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

O TARADO DE BANGU










                                                 O tarado de Bangu.










  Todos nos temos nossas manias, muitos colecionam coisas por motivos diversos… Alguns colecionam carros antigos, outros bonés, muitos colecionam discos, ou sapatos, perfumes, chaveiros, miniaturas… Trolinha colecionava batom. Batom era a única coisa que ela não podia ficar sem. Ela passava batom assim que acordava, mesmo antes de tomar café…
   Ninguém podia nem tocar em seus batons… Uma madrugada pegou Brolha cheirando um deles, que havia esquecido na pia do banheiro. Deu um grito tão grande com o pobre coitado que quase acordou todos os vizinhos de Bangu, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, onde morava. Ele, assustado deixou o batom cair dentro do vaso sanitário.
   Trolinha, injuriada, fez com que ele metesse a mão na privada e pegasse o batom. Assim que ele resgatou o batom ela ordenou:
-  Agora joga fora! Babaca curioso!
   É claro que seria muito difícil encontrar uma cor de batom que sua noiva ainda não tivesse mas, não importa. O importante era fazer com que Trolinha acabasse com aquela porra daquele mau humor que já “tava” dando no saco, embora não se atrevesse, nem de leve reclamar ou, pior ainda, demonstrar que não estava satisfeito…
   Dito e feito! Assim que saiu do trabalho entrou nas “Lojas Americanas” mais próxima e, na sessão de cosméticos, começou a procurar por algo que fosse capaz de agradar sua amada.
   Não demorou muito e uma vendedora ofereceu ajuda…
   Brolha que, como muitos homens não entendia porra nenhuma de batom, começou a se educar no assunto. 
   De repente, uma tarefa corriqueira, como a de comprar um simples batom, se tornou extremamente confusa. A vendedora que se revelou uma “expert” em batom, confundiu tanto a cabeça de Brolha que ele, que já não entendia nada do assunto, passou a entender menos ainda…
-  Isso também é batom? Perguntou segurando pequeno tubo, um pouco mais grosso
   do que um lápis.
-  Pra que esse “pauzinho” com uma borrachinha na ponta? Finalizou…
-  Isso e' “Lip Gloss”… Explicou a vendedora.
-  Lipu que? Perguntou Brolha curioso, passando um pouco em sua mão…
   A vendedora apenas riu, ao olhar a expressão de espanto no rosto de seu cliente…
   A esta altura, Brolha pensou que teria sido melhor comprar flores para sua amada, mesmo sabendo que ela não gostava de flores e que batom faria de Trolinha a mulher mais feliz do mundo…
   Nada disso! Pensou consigo mesmo… Só batom vai conseguir limpar minha barra…
   Após alguns minutos de indecisão e escolha, o balcão estava cheio de batom de todo o jeito, tamanho, qualidade e preço…
   A certa altura Brolha pediu a vendedora se ela poderia experimentar, nela mesmo, quatro batons dos quais queria escolher dois para presentear sua amada.
-  Como vou passar quatro batons ao mesmo tempo? Perguntou a vendedora curiosa…
-  Dois no lábio de cima, um em cada metade, dois em baixo. Um ao lado do outro… 
   Explicou...
   A pobre moça, que naquele momento achou que deveria ter ficado mais tempo no banheiro, fazendo xixi, ao invés de tentar ajudar seu cliente, olhou para Brolha com uma cara estranha, balançando a cabeça, ainda tentando visualizar a ridícula situação em que tinha se metido. Assim mesmo, resolveu ajudar…
   Os lábios da “pobre” mais pareciam aquelas rodas da sorte do programa do Faustão, cheia de cores, cada uma com um número. Até ela ficou curiosa e se olhou no espelho, não conseguindo conter o riso…
   Mas, por incrível que pareça isso ajudou e, Brolha decidiu o que iria presentear à sua noiva.
   Com o auxílio da vendedora, conseguiu selecionar entre as dezenas de batons espalhados pelo balcão, os que iria comprar: “Paixão Ardente” e “Lábios de Fogo”.
   Ao segurar os escolhidos, Brolha, inadvertidamente esbarrou em outros batons, ainda abertos sobre o balcão, que começaram e rolar em direção ao chão.
   Tentando evitar maiores transtornos para a vendedora que tão gentilmente o atendia, procurava, a todo custo impedir que aquela porrada de batom, alguns ainda abertos, melasse o chão todo, evitando assim cagada maior.
   Brolha, em último recurso foi tentar imprensar os batons contra o balcão, o que conseguiu malabaristicamente.
   Neste momento, pediu ajuda a vendedora para que resgatasse os batons, evitando que eles caíssem, já que estava com as mãos cheias…
   Instintivamente, Marilinda correu atrás de Brolha que estava apoiado no balcão, de pernas abertas… Depois de “planejar” a melhor maneira de pegar os batons, concluiu que sua única opção era tentar recuperá-los por baixo, entre as pernas do cliente… Assim o fez.
   Quando tocou o primeiro batom e o puxou para baixo, constatou, alertada pelo grito de Brolha que  tinha segurado algo semelhante a um batom, parecido com um batom, da cor de muitos batons mas que, não era bem o que parecia.
   Brolha, assustado pelo acontecimento inesperado, afastou seu corpo do balcão, liberando assim todos os batons que magistralmente, até então, estava protegendo.
-  Puta que pariu! Exclamou Marilinda, expontâneamente… Puxei o seu “pinto” sem
  querer…
   Brolha, consternado, um pouco embaraçado começou a ajudar a vendedora recolher os batons espalhados pela loja…
   Demorou mais de meia hora para que, com o auxílio do gerente e outro funcionário, tudo pudesse ser limpo.
   Assim que levantou do chão, olhando para sua calça branca de linho puro, constatou que estava todo melado de batom. É claro que não podia nem pensar em chegar em casa desse jeito. Na melhor das hipóteses seria castrado por sua amada que jamais acreditaria naquela historia de comprar batom... 
   Para Trolinha, com certeza, quando soubesse daquela historia jamais acreditaria em uma palavra. Em sua mente aquilo tudo era apenas mais uma maneira de justificar uma obcessão doentia daquele que, apesar de ser seu companheiro, era por ela considerado o Tarado de Bangu.









Copyright 8/2018 Eugene Colin

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