sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

ULTIMO DESEJO











                                                       ULTIMO DESEJO










-  Meu amor, que tal se a gente desse uma trepadinha no banheiro do avião? 
-  Você acha que dá? Indagou Betty.
-  Em pé eu acho que dá. Informou Brolha, seu marido,agora já se preparando psicologicamente para
   o acontecimento prestes a acontecer no voo no qual ambos aconteciam.
   Àquela altura, completamente esquecida de que estava em um avião, até achando que a turbulência pela qual voavam eventualmente eram ondas no mar, cortada pelo navio no qual viajavam, Betty começava a planejar sua “lua de mel” no banheiro do avião.
-  Eu vou primeiro! Um minuto mais tarde você vem e mexe no trinco da porta. Aí eu abro e você
   entra. Disse Betty, toda sorridente…
   Levantou vagarosamente, olhando aos que dormiam ao por eles passar e se dirigiu à sua “alcova nupcial”…
   Não demorou vinte segundos e ouvia o barulho no trinco, como havia combinado com seu noivo…
Puxa! Ele deve estar realmente ansioso, quase não tive tempo de me sentar… Falou baixinho, consigo mesma, antes de abrir a porta.
   Ao abrir a porta, para sua surpresa, viu um menino, aparentemente com nove anos de idade, do lado de fora olhando para ela com os olhos mais esbugalhados do que os do Marty Feldman.
   Quando a viu sentada no vaso, com as pernas abertas como quem estivesse realmente fazendo suas necessidades, abriu a boca e voltou correndo, apavorado, para o lado de sua mãe que indagou:
-  O que houve meu filho? Você está pálido…-
-  Vi uma mulher sem calcinha, de perna aberta no banheiro, cagando e rindo para mim…
-  Não tem problema meu filho. Isso acontece. Talvez ela tenha esquecido de trancar a porta. Por que você não usa o banheiro na frente do avião?
-  Ah! E, se por acaso você ver um homem sentado, cagando, com o piru para fora 
   do vaso, não se assuste. Os vasos de avião são tão pequenos que, dependendo 
   do tamanho, ele tem que ficar p’ra fora. Disse a mãe do menino, carinhosamente.
   Exatamente um minuto depois de Betty ter entrado no banheiro, ouviu novamente alguém mexer no trinco da porta.
   Desta vez, já adquirindo alguma experiência em como trepar em um banheiro de avião sem despeitar suspeita, com cuidado, olhou pela fresta da porta, antes de abri-la completamente.
   Agora era realmente seu esposo, visivelmente preparado para a ação.
   Betty teve que se levantar do vaso para que seu marido pudesse entrar…
-  Vai ser difícil! Exclamou.
-  A gente dá um jeito...
-  Deixa eu entrar antes de você levantar a saia… Assim não dá!
-  Espera! É melhor você ficar de joelhos, de costas para mim. Instruiu Brolha, com
   a experiência de um trepador aéreo profissional
-  Minha cara vai bater na parede… Ponderou Betty, falando baixinho…
-  É verdade! Vê se dá para você se debruçar na pia… Perguntou.
-  Não dá nem pra eu debruçar minha mão na pia, olha o tamanho dessa pia. Não  
   dá nem para lavar os dedos, quanto mais as mãos… Se eu fosse homem mijava 
   na pia. É mais fácil do que acertar no vaso com esse balanço todo…Ela 
   respondeu.
-  Meu amor, vamos nos concentrar na nossa “lua de mel” depois a gente conversa sobre a melhor
   maneira de mijar… Disse ele.
-  Já sei! Você ajoelha, abre as pernas um pouquinho e eu me ajeito entre alas.
-  Será que eu tiro os sapatos? Perguntou Betty.
-  Acho que não precisa. Só toma cuidado para não furar meu saco com os
   saltos se o avião balançar… Pediu, tentando se precaver.
   Ela virou-se cuidadosamente e se ajoelhou no tampo do vaso que, não aguentando seu peso, partiu no meio, fazendo com que seu joelho ficasse preso na borda do mesmo.
-  Cacete! E agora? Desesperou-se o ainda noivo, testemunhando, através do espelho, a única   
   maneira que no momento podia ver dor e sofrimento estampado no rosto de sua esposa.
-  Já sei! Disse ele, como se a lâmpada do Professor Pardal tivesse se acendido em sua cabeça…
   Imediatamente tirou o cinto, amarrou na perna da recém casada, com toda força, fazendo com que a perna se dobrasse ainda mais e, assim sendo abraçando-a pela cintura, ajudou a liberá-la do vaso.
   Ele estava pronto para voltar ao seu assento quando ela falou:
-  Onde você vai? Não vamos trepar?…
-  Pensei que você tivesse desistido… Pensei que estava com dor… Disse.
-  Estou com dor na perna. Não na “xereca”… informou Betty.
   Animado pela ponderação de sua esposa, voltou-se e, quando ela colocou um pé sobre o vaso, agora sem tampo, começou a revelar sua “masculinidade”.
-  Meu amor! Você já está “preparado”? Disse Betty, ao ver o que lhe estava sendo revelado.
-  Minha querida, desde que te conheci, tenho estado preparado constantemente… 
-  Que bom, meu amor… Disse Betty, beijando seu esposo amorosamente ao
   mesmo tempo em que se apoiava, com as duas mãos coladas nas paredes do  
   banheiro, não só tentando evitar maiores complicações como, também para 
   tentar consumar seu casamento…
   Ele levantou a saia da esposa e perguntou:
-  Dá p’ra você segurar tua saia?
-  Só se for com a boca… 
    Mesmo sem ter certeza se a resposta havia sido retórica ou não, pegou a ponta da saia de sua esposa e enfiou em sua boca, aberta, ainda rindo da resposta que havia dado à seu esposo que
com esforço e cometimento tentava “alcançar” sua esposa. Toda vez que 
tentava, via seu corpo ser empurrado em outra direção pelos movimentos bruscos do avião que parecia estar atravessando uma área de turbulência.
   Mas ele era decidido. Gostava sempre de terminar a tarefa que havia começado, por isso mesmo não iria desistir tão facilmente.
   Novamente, com o auxílio de ambas as mãos, tentando apontar seu “projétil” em direção ao “alvo”, foi jogado, desta vez contra a porta, batendo com sua cabeça no gancho de pendurar roupa, afixado na mesma.
   Não havia como evitar um grito de dor… “Fôda-se que todo mundo vai ouvir.” Pensou…
   Betty porém, antevendo o acontecimento, mesmo arriscando sua segurança e equilíbrio, colocou uma das mãos tampando a boca de seu esposo com toda a força, ao mesmo tempo em que este se preparava para dar um grito tão grande que, por si só, seria capaz de fazer o piloto frear o avião como se fosse um carro, evitando atropelar um cachorro que, ao atravessar a rua olha para os dois lados, vê uma porrada de carro passando mas que, assim mesmo, caga pra todo mundo e continua seu caminho.
   Alguns minutos depois, mais aliviado, tentava concluir a tarefa tão bem planejada mas, até então, tão mal executada.
   Agora parecia que o avião estava mais estável, já por alguns segundos.
   Aproveitando a oportunidade rara, tentou mais uma vez…
-  Meu amor, tenta usar os buracos que eu tenho, invés de querer furar outros… 
   Mais tarde, quando estivermos sozinhos na cama eu deixo você me furar em 
   outros lugares. Disse ela, amorosamente.
   O cara estava em um dilema… Era muito difícil “acertar” a mulher, que se mexia
mais do que gelatina em prato de criança mas, por outro lado, não queria desistir…
   Apesar de ter o ventinho do ar condicionado soprando bem em seu cangote, estava todo suado, desgastado física e emocionalmente, com a cabeça machucada, tonto de tanta porrada que deu nas paredes, ainda devendo “uma” à sua esposa, que não estava muito preocupada com isso, embora pronta para a “ação”.
   Finalmente, conscientes de que o destino e a turbulência haviam adiado sua lua-de-mel, resolveram voltar aos seus assentos.
   Betty saiu primeiro, cuidadosamente, mesmo sabendo que todos ainda estavam dormindo…
   Alguns segundos depois, Brolha abriu a porta e, certificando-se de que ninguém prestava atenção ao banheiro, voltava ao seu lugar.
   Havia dado apenas dois passos quando sentiu uma mão macia segurar seu pulso com determinação.
   Voltou-se para trás e viu uma senhora de mais ou menos noventa anos, muito bem apessoada, ainda segurando seu punho com firmeza chamá-lo, fazendo sinal com seu dedo indicador.
   Gentilmente ele se agachou, ao lado da senhora e olhando para ela com um sorriso amigo e respeitoso a ouviu dizer, bem baixinho:
-  Meu filho, já fui casada três vezes, tenho cinco filhos, quinze  netos e trinta e 
   três bisnetos, já viajei pelo mundo inteiro, já morei na Europa, Estados Unidos e 
   Guatemala… Bem! Ninguém é perfeito! Já passei por uma guerra mundial e me 
   sinto realizada…
   A esta altura, ainda agachado no chão, conformado, já estava se preparando
para ouvir a história da vida desta estranha, sem na realidade entender onde ela queria chegar… -  -   - Mas, o grande sonho da minha vida, continuou a senhora, sempre foi, dar uma 
   trepadinha em um banheiro de avião… Você me ajuda? Tenho medo de morrer 
   sem realizar meu sonho...
O homem não sabia se ria ou se chorava…

A senhora, olhando para ele com aquele olhar de cachorro triste que apanhou a vida inteira, ainda segurava seu braço com determinação, como se não fosse desistir de sua chance de satisfazer seu, quem sabe, ultimo desejo.






Copyright 8/2016 Eugene Colin

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