quarta-feira, 19 de novembro de 2014

BEETHOVEN









                                                                 Beethoven








   Aquela manhã de domingo havia se tornado o cenário ideal para o que estava para acontecer na Universidade de Harvard em Cambridge, apenas quinze minutos do centro da cidade Boston no estado de Massachusetts, USA.
   Para as oito horas da manha estava programado uma aula-palestra sobre filosofia no anfiteatro Joseph B. Martin na escola de medicina da mesma universidade.
   Os quase quinhentos assentos estavam praticamente tomados por alunos e muitos convidados para ouvir a palestra daquele que era considerado um dos maiores professores de filosofia dos Estados Unidos... O assunto, alem de polemico, era muito interessante e, se não se tratasse de uma Universidade de reputação internacional poderíamos dizer que alguns ali estavam atraídos pelo breakfast gratuito servido no restaurante das instalações...
   Oito horas em ponto, aplaudido por um auditório lotado, entrava o professor que se apresentava anunciando o tema daquela palestra: Aborto!
   Sua introdução, por si so’, poderia ser considerada uma aula completa onde ele próprio se colocara como “advogado do diabo”, introduzindo argumentos favoráveis a ambos os lados para que fossem discutido, analisado ou mesmo debatido, se houvesse interesse imediato.
   Em 1973, disse o professor, a Suprema Corte na decisão do caso “Roe x Wade” estabeleceu os parâmetros para a execução de abortos nos Estados Unidos. A decisão foi modificada em 1992 por outro caso importante julgado pela mesma corte, criando um novo standard para equilibrar os interesses do estado e da mulher com relação ao aborto que, continua sendo um assunto controverso na cultura e politica do pais, tendo comumente definindo como “pro choice” `aqueles que são favoráveis e “pro life” aos que desaprovam o aborto, apesar de grande parte da população estar ainda indecisa sobre o tema.
 Quando e’ um aborto justificável ou moralmente aceito? Perguntou o professor.
 Moralidade e’ um conceito que varia de pessoa para pessoa. Por isso mesmo em 
   debates como esse procuro perguntar se aborto deveria ser legal no pais ao invés da  
   pergunta  “aborto e’ certo ou errado” Assim sendo, procuro aqui, dificultar um pouco e
   mesmo complicar este debate. Disse ele novamente.
   Concomitantemente, surgiam vozes no auditório, defendendo ambos os lados da controvérsia. Argumentos como o de que um feto ja’ e’ um ser humano era rebatido por outros como, um ser humano necessita de uma consciência para que seja assim qualificado, algo que um feto ainda não possui. Então, neste caso, uma criança de três meses pode ser morta legalmente ja’ que ela ainda não tem consciência, o que so’ nela aparece a partir dos cinco meses de idade.
   Aos poucos, dois alunos, que igualmente se mostravam mais apaixonados pela polemica, foram convidados pelo professor para que se dirigissem ao palco onde ele, como mediador, organizaria a discussão.
   Os dois alunos apresentavam argumentos válidos e importantes como, por exemplo, se todas as vidas tem moralmente o mesmo valor, a mãe não tem o direito de terminar a vida do feto que ja’ e’ uma vida, assumindo que a vida começa no momento em que o ovulo e’ fecundado e o feto e’ formado.
   O professor lembrava aos debatedores que estava interessado no aspecto moral do assunto e não na parte legal, argumentando que, se as leis são baseadas na moralidade não temos a necessidade de debater o aspecto legal do assunto que, por si so’ seria preservado...
   Um dos dois  alunos perguntou se uma mulher violentada “poderia” abortar o feto, por sua própria escolha...
   A plateia permanecia em um silencio tumular, absorvendo cada palavra proferida e argumentada ao mesmo tempo em que o professor se deliciava com o acirramento respeitoso com que o debate era conduzido.
   Aparentemente, o debatedor “pro choice” estava mais preparado, ou melhor informado, ou era mais cético, ou menos emotivo, talvez mais pragmático... Mas, o fato e’ que estava conseguindo convencer `a audiência aderir ao seu ponto de vista.
   Ao final do debate, que ja’ durava por mais de duas horas, o professor, agradecendo pela colaboração dos dois alunos, pediu que voltassem `a seus assentos e propôs uma pergunta para a audiência.
   Solicitou que todos, inclusive os convidados, manifestassem suas opiniões...
   Dirigindo-se `a frente do palco, microfone `a mão, perguntou:
 - Se vocês soubessem que uma mulher com sífilis, que ja‘ era mãe de oito crianças, das quais três
   eram surdas, duas eram cegas, uma mentalmente retardada, estava novamente gravida, vocês
   recomendariam que ela fizesse um aborto?
   Pediria que todos os que fossem favoráveis ao aborto levantassem suas mãos. Finalizou o
   professor...
   A este momento, em toda a plateia, apenas três pessoas não levantaram as mãos, entre elas, e‘ claro, estava o aluno que veementemente rejeitava aborto sob quaisquer circunstâncias... 
   O professor calmamente, testemunhando aquela manifestação incontestável a favor de “mais um homicidio”, como ele próprio qualificava o aborto, abriu um sorriso irônico e disse, finalizando o evento:
-  Gostaria de pedir uma salva de palmas para todos os que levantaram as mãos em favor de um
   aborto...  Meus parabéns! Vocês acabam de matar Ludwig Van Beethoven..








Copyright 12/2014 Eugenio Colin

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