sexta-feira, 4 de outubro de 2013

PINTO MORTO








                                                                  Pinto Morto





   Tiers estava realmente exausto...
   A industria de sutiãs e calcinhas que, juntamente com o irmão, havia herdado de seu pai havia se tornado em uma enorme multinacional com fabricas em vários países da América do Sul, Europa e Asia.
   Tinha acabado de contratar um gerente para ocupar o seu lugar e, antes de assumir sua nova posição como Diretor Internacional, resolvera tirar um mês de ferias, o que não acontecia desde que, assustado, havia voltado do Japão com certeza absoluta que o representante maior de sua virilidade iria se desprender de seu corpo, como havia enfatizado Dr. Taka Noku, o especialista que havia consultado a respeito de uma protuberância anomálica que um dia notou em seu pênis.
   Foram meses e mais meses fazendo xixi sentado no vaso, com seu membro na mão para que, quando caísse, não o perdesse para sempre e pudesse embalsama-lo, guardando como um troféu, recordação de dias gloriosos que jamais seriam revividos.
   Com o tempo, muitos meses depois, começava a chegar a conclusão que o especialista podia estar equivocado. Seu membro, aparentemente, estava normal, não doía, aquela protuberância havia desaparecido e não sentia nenhum sintoma.
   A única coisa que não queria em sua vida era outra mulher. Havia decidido que se so’ usasse seu pinto apenas para fazer xixi, não correria o risco de perde-lo. De vez em quando podia ete’, talvez, “acaricia-lo” um pouco... Como, quem sabe, um premio de consolação por sua abstinência...
   O fato e’ que, para ele, depois daquela experiência, so’ o trabalho interessava. As funcionarias da fabrica onde trabalhava começaram ate’ a comentar que ele era homossexual o que, nem de leve, o incomodava. Melhor ainda! Pelo menos elas o deixariam em paz.
   O dilema de Tiers agora era muito diferente... Onde tirar ferias? Conhecia toda a Europa. Estados Unidos, nem se fala. E’ claro que não seria maluco de visitar o Oriente Médio. China ou Japão lhe traziam tristes recordações reminiscentes do tempo em que la’ andou procurando cura para a doença que afinal de contas, aparentemente, não tinha. Estava cansado de viajar pelo Brasil. Conhecia tudo...
   “O melhor mesmo e’ ficar um mês em casa pra aquietar.” Pensou... Pra aquietar? Pá quieta’? Paqueta’?... Isso mesmo! Nunca havia visitado a Ilha de Paqueta’, bem ali, debaixo de seu nariz... E’ bem verdade que viver um mês em uma Ilha que se pode visitar em meia hora ia ser difícil mas, quem sabe, ficar la’ uns três dias, relaxando na praia, tomando água de coco, cocando o saco... Talvez não fosse uma ma’ ideia.
   Resolvido! Três dias em Paqueta’ e voltaria para casa, bronzeado e feliz, alem de economizar uma grana filha da puta.
   O interessante e’ que desde de sua excursão pelo mundo, tentando salvar seu membro, Tiers havia se tornado extremamente frugal. Um dia, na praia de Copacabana, havia reclamado a um vendedor que cinco reais por um cachorro quente era um absurdo. Disse que podia comprar um quilo de salsichas por três. Tinha ate’ vendido seu BMW e comprado um Fusca. E’ bem verdade que havia pago uma fortuna pelo Fusca, ja’ que era quase novo mas, agora andava de Fusca, o que também tinha um efeito psicológico muito positivo, principalmente com os funcionários da fabrica.
   Quando disse a seu irmão que iria tirar ferias em Paqueta’, este perguntou; “Paqueta’ a Ilha? Na Baia da Guanabara?” Pensando que seu irmão estava se referindo a algum local exótico em uma Ilha sabe-se la’ onde, no meio de que...
   Tiers morava em um apartamento de cobertura na Vieira Souto. So’ ele e a cozinheira, Dona Carlota, uma senhora de sessenta anos. Era mais seguro do que ter uma faxineira e uma empregada com trinta anos cada uma.
   Arrumou uma pequena mala, um monte de shorts, muitas camisetas, três camisas, uma calca e uma sandália, nem tomou cafe’ e, assim que o sol nasceu, la’ se foi ao encontro do paraíso perdido na Baia da Guanabara.
   Quando chegou `a estação das barcas estava com fome mas, acabara de ouvir a campainha, primeiro sinal de que a lancha estava prestes a sair. A próxima so’ daqui a uma hora. Correu e conseguiu embarcar.
   Na viagem, atraído pela paisagem maravilhosa do Corcovado que da lancha vislumbrava, pensava porque as pessoas dão sempre mais valor ao que esta’ fora de seu alcance. Ele mesmo, agora envergonhado, lembrava que nunca havia tido tempo para aquela viagem mas sempre conseguia espremer excursões Europeias em seu calendário.
   Ao chegar em Paqueta’ procurava por um bar, na estação das barcas para, pelo menos, tomar um cafe’. Talvez ate’ resolver onde iria se hospedar. Na verdade, nem sabia se existia algum hotel na Ilha... Talvez uma pousada...
   Quase deixando a estação , que não tinha nem água para beber, ja’ na calcada da praça, viu um carrinho onde estava escrito na lateral, "uma refeição completa"...
 Sera’ que e’ seguro comer isso? Pensou, olhando para uns bolinhos, dentro de uma
   forma, que mais parecia uma barca... Sera’ que isso e’ bom?
   Mas, `aquela altura, a fome era maior do que a preocupação com segurança de sua saúde. Assim sendo, chamou por uma moca, de costas para o carrinho perguntando:
 A senhora e’ a vendedora aqui?
 Sou! Ouviu em resposta...
   “O que esta mulher maravilhosa esta’ fazendo aqui, vendendo bolinhos? Deveria estar desfilando como modelo... Se eu a tivesse usado como modelo, tenho certeza que venderia muito mais calcinha ou sutiã ou qualquer outra coisa em que ela estivesse dentro...” Pensou, ao reparar o rosto e a silhueta da vendedora.
   Pegou seu bolinho, pagou, agradeceu e saiu comendo...
   Na segunda dentada, resolveu voltar. Chegou perto da vendedora e falou:
 Puxa! Isso e’ muito gostoso... Me da’ mais um, por favor...
   Olhou mais uma vez para a moca que para ele sorria, como se estivesse dizendo: “Gostou ne’!”
   Desta vez, ao invés de andar, pediu um suco de laranja que ela também vendia e sentou-se em um banco, ali perto, para melhor poder saborear sua primeira refeição do dia.
   Comia distraído, ainda prestando atenção `aquela mulher, tão linda, ali “perdida”.
   Estava quase acabando seu segundo bolinho quando, de repente, como um flash back instantâneo, espontaneamente gritou: “Olinda?”
   A moca arregalou os olhos... Nunca ninguém a havia reconhecido desde que resolvera se “aposentar”.
   Olhou bem para aquele homem... Era muito novo para ter sido um de seus “clientes” mas, a voz, o rosto... Eram realmente familiares...
-  Como você pode se esquecer de mim? Disse ele.
-  Tiers? Disse Olinda, tentando, a todo custo, conter sua emoção ...
   Ele não exitou. Aproximou-se dela, abracando e beijando carinhosamente aquela a quem alguns anos atrás pedira em casamento.
-  O que você esta’ fazendo aqui? Perguntou Tiers.
-  Eu moro na Ilha. Vem! Vamos ate’ em casa e eu te conto tudo...
-  Mas, você esta’ trabalhando... Não vou te atrapalhar? Disse Tiers.
-  Não! Vamos... Disse Olinda enquanto guardava tudo e fechava o carrinho.
   Tiers colocou a mala sobre ele e começou a empurra-lo, em direção a casa de sua amiga.
   Sem saber porque, Olinda não conseguia esconder as lagrimas que vagarosa e delicadamente rolavam por sua face.
   Ele ficou calado ao perceber, respeitando aquele momento intimo.
   Em menos de dez minutos, por entre atalhos bucólicos, estavam na porta da casa de Olinda, na Praia da Moreninha. Ela abriu o portão, guardou o carrinho e convidou Tiers a subir.
   A escadaria era longa. Os dois subiram calados. Ao chegar `a varanda da casa e se voltar para a praia, não pode conter sua admiração : “Que maravilha!” Exclamou.
   Virou-se para Olinda que, de cabeça baixa, ainda com lagrimas em seu rosto encostava em uma parede da varanda, calada...
-  Esta’ tudo bem? Estou te aborrecendo? Perguntou, com uma voz terna e carinhosa.
-  Não! Eu so’ estou envergonhada. Respondeu Olinda.
-  Envergonhada de que? Não vai dizer que me vendeu bolinho velho...
   Olinda sorriu, tentando se descontrair, limpando o rosto.
-  Vem! Senta aqui! Me conta tudo! Desde a ultima vez em que nos encontramos...
   O relato foi longo e emotivo... Começou por sua infância, relatou sobre seu namorado que a “vendera” a um conhecido para pagar uma divida, falou sobre a tristeza de ter perdido os pais em um acidente de carro, a solidão de viver sozinha, sem amigos, a crueldade de muitas pessoas que cruzaram seu caminho...Explicou sobre uma serie de infortúnios ate‘ culminar com o episodio do atentado a um jovem de quem a vida salvara... Relatou como conheceu a Praia da Moreninha, após ter lido um romance ali encenado, o sacrifício que foi comprar aquele pedaço de paraíso...  Por horas a ouvia com atenção, vez por outra arrumando os cabelos de Olinda que delicadamente caiam sobre seu rosto.
   O mesmo carinho, a mesma atenção , a mesma delicadeza que ela rejeitara, que poderia ter sido parte permanente se sua vida ali estavam novamente, ao seu encalço. Ha’ muito tempo Olinda não vivia momentos tão ternos, cheios de emoção ... Que contraste com os últimos dias em que, nas ruas do Rio de Janeiro, procurava por quem pudesse pagar mais por sua companhia rigorosamente cronometrada. Ou mesmo comparado com o marasmo que seus dias haviam se tornado.
   E’ verdade que estava segura, em paz mas, era como se estivesse deixando sua vida passar por ela, carrega-la, ao invés de vive-la.

   Tiers ouvia tudo atentamente, sem dizer uma palavra. Quando ela se calou, ainda consternada, segurando sua mão convidou-a para almoçar no Rio, ou em seu local preferido naquela Ilha encantadora.
-  Que tal se eu cozinhar para nos? Disse Olinda.
 - Melhor ainda! Respondeu Tiers, que havia denotado muita emoção e ansiedade em
   Olinda enquanto conversavam... Queria lhe dar tempo para relaxar, descontrair,
   poder  respirar aliviada, tomar consciência que aquilo tudo ja’ fazia parte do passado,
   fato que, talvez ela ainda não tivesse se dado conta.
-  Quer que eu compre alguma coisa para você preparar? Indagou Tiers.
-  Abre esta porta atrás de você e da’ uma olhada. Instruiu Olinda.
   Ao olhar para o lado de fora, pela porta da cozinha, pode observar um terreno que subia a encosta do morro, parecendo não ter mais fim. No ponto mais alto que sua vista conseguia alcançar, um jardim Japonês com centenas de plantas e flores de cores harmoniosas. Uma escada em pedras que, la’ de cima, terminava no final de uma área gramada, ao lado de uma horta repleta dos mais diversos tipos de legumes e verduras... O perfume das hortaliças, e especiarias misturando-se com o cheiro de jasmim e outras flores davam `aquele local uma fragrância que dificilmente seria esquecida.
   Tiers estava perplexo. Sabia que Olinda vivera uma vida cruel mas, voltar diariamente para aquele local, certamente teria um efeito catalizador, capaz de redimir qualquer “pecado”.
   Estava imóvel. So’ poder olhar tudo aquilo, sentir aquele perfume valia mais do que um mês de ferias em qualquer parte do mundo...
   Olinda, orgulhosa, vagarosamente chegou a seu lado, com cuidado para não tira-lo do transe em que momentaneamente vivia.
-  Bem vindo ao meu mundo particular... Disse ela, de bracos cruzados, com um sorriso
   quase imperceptível, com o rosto ainda marcado pelas trilhas das lagrimas que
   espaçadamente insistiam em abrir novos caminhos como se estivessem tentando
   leva-la a de volta um passado não muito distante.
-  Olinda! Isto e’ uma maravilha... Nunca vi nada como isto... Não consigo sair daqui...
-  Obrigado! Vem, vamos escolher o que comer... Disse ela, pegando Tiers pela mão e
   o conduzindo em direção `a horta.
   Enquanto Olinda cozinhava, com um cálice de vinho `a mão, Tiers a observava a uma distancia discreta. Sem muita maquiagem, parecia um pouco mais velha. Suaves rugas cicatrizavam seu rosto, compondo uma beleza indescritível. Quantos anos deveria ter agora? Pensava... Talvez trinta e cinco? Seu corpo parece estar melhor do que sua lembrança fotografara... Os cabelos dessarrumados lhe davam uma beleza incrível. A voz que ouvia, vez por outra, indagando algo ou pedindo que lhe passasse isto ou aquilo, era de uma suavidade musical acolhedora... Uma mulher perfeita... “Agora me lembro porque me apaixonei por ela” Pensou...
   Tiers estava quieto. Muito pensativo para o conforto de Olinda...
 - O que houve? Você esta’ tão calado... Disse Ela.
 - Muita coisa ao mesmo tempo... Te encontrar assim, inesperadamente...
 - A quanto tempo você mora aqui?
 - Uns cinco anos... Quando comprei a casa, estava meio abandonada. Aos poucos a
   restaurei ao projeto inicial, depois construí o jardim, a horta... Nos finais de semana
   aqui ficava, reclusa, tentando esquecer, fingindo ser uma pessoa completamente
   diferente daquela que “passeava” pela Cinelândia.

   A mesa rustica que ocupava a pequena sala de jantar estava caprichosamente decorada. A simplicidade daquela casa dava ao ambiente um toque de sofisticação difícil de igualar.
   Aos poucos, conversando sobre amenidades durante o almoço, Olinda começou a se descontrair, havia ate’ sorrido algumas vezes ao ouvir a historia da saga penilica pela qual seu convidado havia passado `a procura da cura para um problema que, na realidade, não existia.
   Ao som de Miles Davis, Oscar Peterson e outros mestres do Jazz,  a noite encontrava   os velhos conhecidos que ainda trocavam confidências sentados `a varanda, tendo a praia da Moreninha como paisagem principal.
- Quais são seus planos, esqueci de perguntar... O que esta’ fazendo aqui? Disse Olinda.
  A DuAssiens cresceu muito. Assumi o cargo de Diretor Internacional e antes de
começar a viajar pelas fabricas resolvi tirar alguns dias de ferias...
-  E veio para em Paqueta'? Disse Olinda.
-  Você sabe que esta e’ a primeira vez que venho aqui?
-  Esta' arrependido... Pela surpresa? Indagou Olinda.
-  Sabe? Agora pensando bem... Ainda não consigo entender porque você não quis
   casar comigo... Sempre achei que você gostava de mim...
 - Eu me sentia suja. Não era digna... Alem do mais você era tão jovem... Antes de
   pensar em romance, de amar alguém, teria que me redimir, me livrar dos pecados,
   ser digna...
 - E agora? Perguntou Tiers.
 - E agora o que? Disse Olinda.
 - E agora, ja' se redimiu! E agora, ja' se livrou dos pecados! E agora, ainda sou muito
   jovem! E agora, você casa comigo?
   Olinda levantou a cabeça espontaneamente assustada, arregalando os olhos e disse:
-  O que?
-  Você não tem namorada? Ou gosta de alguém? Perguntou Olinda.
 - Tive muitas namoradas, centenas de namoradas... Mas depois da minha luta pela
   manutenção do meu xara' aqui, nunca mais tive ninguém. Me cansei de aventuras,
   cheguei a conclusão que minha adolescência havia terminado havia muitos anos.
   Sabe? Depois daquele dia que você de deixou na Cinelândia, meu coração aos
   poucos enrijeceu... Por um lado, gostava de você, da tua companhia, gentileza,
   carinho, atenção , mas tinha medo que alguém me reconhecesse a teu lado e te
   causasse problemas. Disse Olinda.
   Sentados juntos, Tiers ainda “brincando” com fios de cabelos de Olinda entre seus dedos, a puxou delicadamente para perto, segurou seu rosto e a beijou amorosamente. Ela nem lembrava da sensação de um beijo. No pouco tempo em que se conheceram no passado, nunca haviam trocado um beijo.
   Sentimentos novos começaram a invadir seu corpo, sensações que nem lembrava existir a dominavam, sua mente urgia por carinho, desejo de possuir um homem, como jamais havia tido oportunidade, iniciar um contato, dominar alguém, se entregar, ao invés de fingir... Gritar de prazer, ao invés de chorar de dor. Seu primeiro namorado era machista, a usava para sua própria satisfação , ignorava o que ela sentia. O amor que iludia seus pensamentos estava apenas em sua mente, não na realidade daquele primeiro relacionamento de menina.
   Em poucos minutos percebeu que  as ideias que fazia de Tiers eram completamente diferentes. Se `aquela época soubesse que iria experimentar todas estas sensações, certamente não teria sido tão fácil se separar dele.
   A noite de amor foi intercalada por pequenos cochilos esporádicos...

   Os primeiros raios de sol refletidos nas águas da Baia da Guanabara feriam delicadamente aqueles olhos mal dormidos, saciados e satisfeitos...
-  Vem! Deixa eu preparar um cafe’ para nos... Disse Olinda, levantando sua “presa” pela mão...
 - Eu quero aqueles bolinhos de ontem... Disse Tiers, abracando o corpo semi nu de
   seu antigo amor, pelas costas, fechando o roupão ainda aberto que mal a cobria.
   Apos ao desjejum, decidiram ir `a praia que desde o dia anterior ele admirava. Ali perderam a manha inteira, descontraídos, felizes, interrogativos...

   A mesma rotina do dia anterior se repetia. Tiers adorava estar na cozinha, ao lado de sua companheira. Não sabia cozinhar e, talvez por isso mesmo, admirasse tanto a destreza, riqueza de movimentos de um lado para o outro, aqui e ali, abrindo portas de armários, deitando especiarias em panelas semi abertas, regadas ao vinho, azeite, leite de coco...
-  Tive uma ideia! Me diz o que você acha... Disse Tiers, enquanto relaxados, sentados
   `a varanda com as pernas esticadas ainda saboreavam o paladar do almoço, que
    recalcitrantemente permanecia em suas bocas...
 - Vamos viver aqui! Trabalho de segunda a quinta... Quando tiver que viajar você me
   acompanha... Em reuniões de negócios, nada melhor do que uma esposa para
   transmitir confiança e responsabilidade. Afirmou Tiers.
   Olinda olhava para ele, contrita, pensativa...
 - Vamos ate' o apartamento de meu irmão amanhã. A esposa dele te ajuda com os
   preparativos para o casamento. Ainda tenho um mês para nossa lua de mel, aqui
   mesmo, se você não se importar.
 - E sua casa? Onde você mora? Perguntou Olinda.
 - Em Ipanema, na Vieira Souto... Poderíamos morar la', se você preferir... Disse Tiers.
-  Sabe? Em um dia tive mais emoções, carinho, amor do que em toda minha vida...
   Tenho medo... Confessou Olinda.
 - Meu amor! Eu penso que nossa vida e' como uma estrada. Quando nascemos
   estamos no ponto de partida. `A medida em que por ela caminhamos encontramos  
   desvios, alguns deles, depois de algum tempo voltam `a mesma estrada, outros nos
   conduzem ate' o abismo. Ao entrarmos em qualquer destes desvios não sabemos
   antecipadamente ate' onde seremos levados mas, temos sempre a opção de
   voltarmos e buscar outro caminho se, daquele no qual estamos avistarmos o
   precipício. Você percorreu o seu caminho. Resolveu parar, refletir, se purificar, como
   você mesma disse, antes de continuar. Esta e’ a segunda vezes que nossos
   caminhos se cruzam... Por acidente, ou por destino, ou por coincidência... Podemos
   ignorar tudo e seguirmos atalhos separados ou, podemos juntar nossas mãos e
   percorrermos juntos o resto da estrada a nos destinada. A decisão e’ nossa.
   Ninguém nos obriga, ninguém nos impõe. Se o que experimentamos nos agrada,
   devemos repetir... Você me agrada, quero te repetir sempre, dia apos dia... Quero
   poder segurar tua mão e agradecer a Deus pela oportunidade de ter te encontrado...
   Duas vezes...
   Olinda levantou, vagarosamente caminhou ate' a sacada da varanda, olhou para Tiers, correu em sua direção, sentou-se a seu colo e o cobriu de beijos sem deixa-lo respirar...
-  Armand, meu irmão! A Estela esta’ ai?
-  Tiers? Respondeu Armand, ao atender o telefone. Onde você esta’? Finalizou...
-  Presta bem atenção... Disse Tiers. Amanha vamos nos encontrar para ela ajudar
   Olinda a organizar nosso casamento...
-  Quem e’ Olinda? Que casamento? Respondeu Armand.
-  Olinda e’ minha noiva. Vamos nos casar...
-  Tiers, você não tem nem namorada... Lembrou Armand.
-  Eu sei! Encontrei ela ontem...
-  Seu maluco! Você vai casar com uma mulher que conhece ha' um dia?
-  Não! Ha' muito tempo. Depois eu explico.
-  Mas teu pinto só serve pra fazer xixi. Teu pinto esta' morto... Ela sabe disso?
-  Isso e’ o que você pensa! Você precisa ver o que aconteceu ontem... Aquele monte
   de médicos não sabem nada... Amanhã, pergunta a Olinda se ela segurou e brincou a noite inteira
   com um pinto morto...




Copyright 2013 Eugenio Colin

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