quarta-feira, 16 de outubro de 2013

NO MUNDO DA LUA






                       


                                                           NO MUNDO DA LUA











    Agora era oficial, a AEB, Agencia Espacial Brasileira finalmente havia decidido aprovar o projeto de Viagens espaciais tripuladas.
   Apos a saída da NASA, National Aeronautics and Space Administration, desta atividade, criou-se um vácuo no continente por este tipo de exploração. Os Americanos agora dependiam da Rússia para concluir os projetos desta agencia, ainda em andamento. Se tudo acontecesse conforme planejado, quem sabe, no futuro, poderíamos nós dar carona aos Americanos.
   Na tentativa de criar um projeto mais inclusivo e global, a AEB decidira criar uma sub-agencia encarregada por estes novos empreendimentos. As siglas desta nova sub divisão deveriam ser postadas em Inglês, tornando assim a agencia mais competitiva e inclusiva. Com este raciocínio, foi fundada a Brazilian Utmost National Development Administration, carinhosamente apelidada de BUNDA.
   Agora seriam necessários criar uma espaçonave, recrutar e treinar astronautas. O governo Norte Americano imediatamente se manisfestou interessado em colaborar com o projeto. Uma inicial injeção de capital tornaria tudo mais fácil.
   Ficou resolvido pelos administradores da BUNDA que o primeira nave espacial Brasileira teria concepção e projetos nacionais, embora aceitasse ajuda e participações de parceiros em potencial para este projeto arrojado e inovador.
   E’ claro que na atual conjuntura mundial, uma ideia como esta deveria ser primordialmente frugal e reciclável, de certa maneira baseado nas espaçonaves Americanas como a Endeavour, por exemplo...
  
   Apos toda a burocracia inerente a um estudo desta magnitude devidamente finalizada, começaram então as decisões inerentes ao tipo de espaçonave a ser desenhada. Analisando as aeronaves Atlantis, Discovery e Endeavour, nossos técnicos chegaram `a conclusão que, um desenho mais moderno e arrojado facilitariam a construção e desempenho.
    Ficou resolvido que a espaçonave seria individual. Apenas um Astronauta que fosse capaz de executar todas as tarefas da viagem por si so’, embora o espaço interno deveria ser confortável bastante para ate’ três tripulantes. Decidiram também que as asas deveriam ser bem menores do que os das espaconaves pela qual eram inspirados, os propulsores, mais arrendondados e o nariz um pouco menos pontudo e com uma fenda bem no centro com a finalidade de, segundo os técnicos, facilitar a entrada na atmosfera terrestre ao seu retorno.
   Assim que o protótipo foi finalizado, e suas fotos divulgadas, apos uma analise critica e bem humorada, como e’ característica dos Brasileiros, nossa Aeronave foi apelidada de “Pirocao”.
   Estava lançado o programa espacial Brasileiro onde a BUNDA seria responsável pelas atividades do “Pirocao”.
   Agora, os aspirantes a astronautas seriam primeiramente treinados na FAB, onde tomariam conhecimento dos princípios básicos da aviação. Depois, seriam transferidos para uma escola de especialização.
    Se o critério da escolha fosse o nome dos candidatos, Jacinto Dores, Pinto Brochado, Cármem Violada, Tagarela Calado, jamais seriam aceitos.
    Mas, antes de exclui-los seria necessário atrai-los... O diretor do programa pensou em lançar slogans como: “Quer ficar bem longe da tua mulher? Nos te mandamos pro espaco”, “Gosta de velocidade? Que tal pilotar um foguete?”, “Venha passar ferias no espaço sem pagar nada.”, “Odeia todo o mundo? No espaço não mora ninguém!”, “Troque sua moto por um foguete”... Quando sua ideia foi apresentada na próxima reunião, ficou resolvido, por unanimidade, que seria melhor contratar uma companhia especialisada em marketing.
   Nesta mesma reunião foi decidido que os Astronautas seriam autônomos, economizando assim alguns reais que certamente seriam esperdiçados em viagens, hotéis de luxo e outras mordomias so’ para a diretoria daquela agencia. Resolveram também que o quadro de Astronautas seria composto de apenas cinco pessoas, selecionadas dentre os que se apresentassem e, a primeira missão seria uma viagem `a Lua.
   Antes de recrutar os candidatos `a Astronautas era preciso porem criar o centro preparatório. Foi criado então o Brazilian Organization of Charter Aeronautic, BROCHA, como ficou conhecido.
   Agora sim! O cronograma estava estava tomando forma. A BUNDA seria responsável pelao treinamento do BROCHA para entrar no Pirocao.
   Foram mais de onze meses de trabalho árduo, apenas para que tudo começasse a funcionar adequadamente.
   Os candidatos se apresentavam de todas as regiões do pais. Foram mais de mil e quinhentas pessoas interessadas em trabalhar com a BUNDA para ter a chance de entrar no Pirocao.
   Paralelamente, a Aeronave era projetada...
   Depois de algumas das propostas, como a de usar um motor de fusca para economizar dinheiro, por exemplo, terem sido rejeitadas, e de alguns retoques no design, sua produção era iniciada.
   Agora, depois de mais um ano de trabalho árduo, era a hora da diretoria da BUNDA tirar ferias merecidas, tentando esquecer do Pirocao por algum tempo.
   O programa, ate’ o momento, tinha tudo par ser um sucesso. A maior prova disto e’ que, os diretores de um projeto que ate’ agora praticamente não existia, estavam tirando ferias...
   Tudo corria como esperado, sem maiores imprevistos...

   Paralelamente, depois de um ano de estudos por parte dos candidatos que se submeteram a uma seleção acurada, cinco foram selecionados. Eram eles: Herculino Fraco, do Para’, Horácio Hermoso, do Rio Grande do Sul, Dolores Morrendo das Dores, da Bahia, Aeronauta Medroso, de Tocantins e Horinando Tarado, do Sergipe.
   Agora, seriam submetidos aos estudos e treinamentos do BROCHA para estarem aptos a entrar no Pirocao.
   Foi com muito orgulho que os cinco selecionados começariam, finalmente, a fazer parte do seleto clube do BROCHA.
   As primeiras semanas de treinamento cuidaram praticamente de explicações detalhadas sobre o espaço, atmosfera, efeitos da gravidade e tudo mais que fosse importante saber ja’ que, o astronauta teria que fazer tudo por si so’.
   As próximas semanas seriam dedicadas ao esclarecimentos de duvidas que os “alunos” pudessem ter a respeito da missão a que se propunham.
   As perguntas eram as mais variadas...
   Horinando Tarado queria saber...
 - Se não ha’ gravidade, que dizer que quando eu fizer coco as fezes vão ficar flutuando
   destro da espaçonave? Neste caso, na hora em que eu for almoçar, devo ter cuidado
   para não colocar o “alimento de ontem” na boca, certo?
   Ja’ Dolores Morrendo das Dores tinha outra preocupação...
 - Bem! Sendo mulher, tenho que mijar sentada. Neste caso, quer dizer que nada vai
   cair no vaso? Vou ficar toda molhada! E na hora de tomar banho? Vou ter que flutuar
   acima do chuveiro ou vou ter que ficar “voando”, correndo atrás da agua?
   Herculino Fraco porem, achava que seus colegas estavam apenas antecipando problemas. O que ele queria saber e’ como ia acender o fogão para esquentar as refeiçoes. Sem ar não ha’ chamas, certo?
   Horacio Hermoso queria saber como iria falar pela internet com a nova namorada que
finalmente conseguira arrumar, se estavam voando acima dos satélites de
comunicações. A moca era uma “fera” e ja’ tinha dito que se deixasse de falar com
ela por um dia podia arrumar outra.
   Aeronauta Medroso não tinha duvidas ja’ que ate’ aquele momento não havia
entendido porra nenhuma do que tinha sido explicado. Alem disso ja’ estava com um
medo filho da puta de tudo aquilo. So’ havia entrado naquela “fria” porque tinha sido
despejado, estava duro, e pelo menos ate’ então tinha lugar para morar e comida
para comer.
   Herculino Fraco queria saber se dava tempo de ir `a Lua e voltar antes da decisão do Campeonato Brasileiro ja’ que, tinha certeza, seu time do coração, o Tuna-Luzo seria o campeão do Brasil

   Com o tempo, quando se iniciaram os treinos nos simuladores, as duvidas, aos poucos, eram desfeitas e os “astronautas” começavam a se sentir um pouco mais confiantes.
   Todos se aplicavam bastante, com exceção de Aeronauta Medroso que, agora sim, ainda mais, estava com um medo filho da puta de tudo aquilo.
  
   Finalmente havia chegado a hora de selecionar o candidato que passaria a fazer parte do quadro dos grandes Heróis Brasileiros. Este seria, indubitavelmente, um dos maiores acontecimentos da historia do pais e, porque não dizer, da historia da humanidade. Afinal de contas, ate’ então, apenas Estados Unidos e Rússia faziam parte dos países que haviam conseguido botar um homem no espaço.
   No dia em que o “felizardo” seria escolhido, em uma cerimonia na qual os maiores mandatários do pais estariam presentes, Aeronauta Medroso chamou o Coronel Dorildo  Pinto Dodói, diretor da BUNDA e falou bem baixinho ao pe’ de seu ouvido:
-  Doutor! Tô fora... Nestes anos em que aqui estive, juntei um dinheirinho, comprei uma
   casinha e vou me mandar agora mesmo. Este negocio de ir `a Lua não e’ comigo...
   Ja’ tenho dificuldades de viver aqui, como e’ que vou viver na lua?
   Dr. Dodói pediu que ao menos ficasse ate’ o fim da cerimonia para evitar embaraços,
prometendo que ele não seria o escolhido. Aeronauta concordou.
   A cerimonia havia começado quando Horacio Hermoso chamou seu instrutor para um canto e declarou:
-  Infelizmente não vou poder mais participar deste projeto. Minha namorada esta’ doida
   para dormir comigo e disse que se eu não for para casa dela hoje, esta’ tudo
   terminado entre nós . O senhor me desculpe mas não posso perder esta
   oportunidade. A mulata e’ boa, bonita e gostosa... Alem do mais, tenho a impressão
   que este negocio de ir `a lua não e’ muito pra mim. Muito complicado!
   Assim que o prefeito da cidade começou seu discurso, ressaltando a bravura dos
Astronautas, seu senso de patriotismo, sua dedicação ao `aquele projeto, Dolores
das Dores puxou a ponta do paleto’ do uniforme do instrutor, ja’ que ela tinha apenas
um metro e trinta de altura, pedindo para ele se abaixar e falou:
-  Não vou poder ir `a Lua, se escolhida, minha menstruação estava atrasada, comprei
   ontem um teste na farmácia da base e descobri que estou gravida. Desculpe!
   Felizmente, para os coordenadores do projeto que ainda sobraram dois Astronautas e, com cuidado e discrição, ninguém tomaria conhecimento dos problemas pelo qual estavam passando.
   Na hora do sorteio, cheio de pompa e circunstância, Herculino Fraco foi o escolhido.
Mais uma vez, o estado do Para’, estaria em uma posição de destaque. O Estado era o pai do primeiro astronauta Brasileiro. Um dos pucos homens que teriam a chance de pisar em solo lunar. Estava feliz! A Horinando Tarado ficou prometida a próxima viagem.
   O resto da cerimonia transcorreu sem maiores imprevistos. Ninguém, dentre os convidados ou mesmo da imprensa, tomou conhecimento do que havia acontecido.

   Dias depois, finalmente chegava a hora do lançamento. Todos estavam apreensivamente eufóricos. Por incrível que pareca tudo transcorria de acordo com o penejamento, sem nenhum imprevisto...
   Três horas antes do lançamento, uma multidão, alem de dignatários, políticos, imprensa, ja’ estavam presentes.
   Na sala de controle, as ultimas providências e ajustes eram verificados.
   Cel. Pinto Dodói estava muito feliz. Em apenas uma hora seu sonho de muitos anos estaria realizado. Ja’ ate’ pensava nas condecorações que receberia pela ideia de um projeto ambicioso tao bem executado. Seu sorriso ia de lado a lado das bochechas. Quase explodia de tanto orgulho. Ainda estava sonhando com as condecoracoes e, possivelmente ate’ com sua candidatura `a presidência da Republica quando seu celular tocou.
-  Coronel Dodói! Aqui e’ o Herculino Fraco! Coronel, estou no hospital...
-  O que aconteceu? Indagou o Coronel.
-  Ontem fizemos uma festa la’ em casa, uma especie de comemoração e despedida ao 
   mesmo tempo, no caso das coisas não darem certo e, conversa vai, conversa vem,
   sem perceber comi uma travessa de torresmo de porco com cerveja e caipirinha.
   Esta manha acordei com o pe’ do tamanho de uma bola de futebol. E justamente o
   pe’ do acelerador e do freio da aeronave...Fui ao hospital e o medico disse que estou
   com gota. Tô aqui deitado, de perna pra cima tomando soro e sem poder levantar ou
   comer nada por cinco dias.
   Coronel Dodói nem se despediu de seu “heroi”. Saiu correndo atrás do instrutor, desesperado. Faltavam apenas quarenta e cinco minutos para o lançamento.
   Imediatamente, assim que soube das novidades, o instrutor ligou para Horinando Tarado. Ainda bem que temos outro astronauta treinado, pensou...
   Assim que completou a ligação ouviu: "Este numero esta’ temporariamente fora de serviço por falta de pagamento. Por favor, procure a operadora para maiores esclarecimentos".
   Agora o negocio estava complicado... O que fazer? A solução era cancelar a porra toda e tentar outra vez mais tarde. “Atitude derrotista” com a qual Cel. Dodói não concordou, rejeitando-a enfaticamente.
   Numa reunião de emergência, ja’ que faltavam menos de meia hora para o lançamento, apos expor os imprevistos aos integrantes da cúpula da BUNDA, o Coronel  implorava por sugestões...
   Todos calados! Ninguém sabia o que fazer... Parecia que o jeito era chamar a imprensa, inventar um monte de desculpas, um botando a culpa no outro e, esquecer condecoracoes e candidatura `a Presidência da Republica.
   Carlos Castrado, um dos diretores da BUNDA que estava sempre na cozinha fumando e tomando cafe’ levantou a mão medrosamente. Assim que alguns dos participantes olharam em sua direção, ele disfarçou, fingindo estar cocando a cabeça. Atitude própria para a situação.
   Ao ver o desespero do Coronel, levantou a mão novamente...
-  Fala Castrado! Vociferou o Coronel.
-  Bem Coronel... Tem a Maria Pedreira, a moca da cozinha... Ela sempre diz que daria
   tudo para participar deste projeto.
-  A mulher do cafezinho? Indagou Cel Dodói.
-  Ela mesma!
-  Mas que experiência ela tem em empreendimentos espaciais? Perguntou Dodói.
-  Ue’! Ela vende buscape’ na feira livre de Domingo. Respondeu Castrado.
   A vinte minutos do lançamento ninguém pode ser muito exigente, pensava o Coronel, a esta altura irremediavelmente desesperado.
-  Vai la’! Chama a Maria Peideira! Instruiu o Coronel.
-  Dona Peideira! Disse Coronel Dodói assim que a cozinheira sorridente adentrou a
   sala de reuniões.
-  Meu nome e’ Pedreira, Coronel. Corrigiu a nova quase futura astronauta.
-  A senhora estaria disposta a ir `a Lua?
-  Claro! Todas minhas amigas sempre dizem que eu vivo no “mundo da lua”... Nunca
   fui la’ mas pelo menos estou acostumada a ouvir a ideia.
-  A senhora ja‘ pilotou alguma coisa? Carro? Moto? Indagou o instrutor dos
    Astronautas. 
-   Eu propriamente não! Mas meu primo foi motorista de Lotacão no Rio de Janeiro...
    Ah! Meu irmão também fazia corrida de caminhões em São Paulo... Bom! Eu vendo
    buscape’ na feira, se e’ que isto ajuda.Informou Maria.
    Olharam uns para os outros, depois todos viraram as cabeças em direcao ao Coronel, a espera de uma decisão.
    O Coronel olhou para o relógio. Dez minutos para o lançamento...
 -  O que vocês acham? Perguntou Cel. Dodói.
   Um silencio tumular invadiu a sala. Ninguém ousava dizer nada. Ninguém estava disposto a segurar aquele “rabo de foguete”, literalmente.
-  Castrado, vai la,’ avisa a imprensa que tivemos um imprevisto técnico e que o
   lançamento sera’ retardado em uma hora. Decidiu Cel. Dodói.
-  Dona Maria, vai na cozinha, tira o avental, depois acompanha o Instrutor ate’ a sala
   dos Astronautas, veste o uniforme e siga as instruções que ele lhe fornecer. Disse o
   Coronel.
   Em menos de dez minutos aparecia Maria Pedreira toda orgulhosa, vestindo um uniforme de Astronauta, segurando o capacete com uma das mãos, acenando para o publico com a outra mão. Da mesma maneira que uma vez havia visto na foto de um “colega” Americano.
   O instrutor ainda a acompanhou ate’ o interior da aeronave onde ministrou um curso completo de astronauta em dez minutos...
   Para sua surpresa, pelo menos aparantemente, Maria tinha cara de quem assimilara em dez minutos muito mais do que todos aqueles Astronautas, que ganharam um monte de dinheiro, durante o tempo de treinamento.

   Começava a contagem regressiva...
   Pelos alto falantes espalhados pela área publica do complexo do BROCHA podia se ouvir:
 "Atenção para a contagem regressiva. Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três,
   dois... Ignição iniciada".
 "Lançamento em três, dois, um segundo"...
   Foi poeira, barulho, fogo do rabo do foguete, talvez ate’ parecido com os buscapes que Maria vendia. Aplausos e ovações também podiam ser ouvidas... Uma Festa Nacional...

   Coronel Pinto Dodói estava realmente apreensivo. Tudo agora estava nas mãos de Maria Pedreira. Sua carreira, seu destino, suas aspirações politicas...
 Eu juro que se essa mulher não fizer cagada vai ser candidata a Vice-Presidente na minha chapa.
 "Vote Pinto/Peideira, os amigos da BUNDA"... Que pena! O nome dela e’
   Pedreira... Pensava o Coronel enquanto, com lagrima nos olhos assitia `a realização
   efetiva de seu projeto..




Copyright 2013 Eugene Colin
 
 


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