quinta-feira, 14 de junho de 2018

PICASSO











                                                              Picasso









   Arnudo Bichou, acabara de realizar o sonho de sua vida... Estava super feliz e agradecido `a sua esposa Marta Talco pelo nascimento de seu primogênito.
   Amante das artes e, ao mesmo tempo talvez tentando vingar-se de seus pais, decidiu dar a seu filho o mesmo nome de um dos maiores pintores da humanidade, a quem admirava severamente...
   Seu filho se chamaria Paulo Diego Francisco de Paula João Nepomuceno Maria dos Remédios Cipriano da Santíssima Trindade Mártir Patrício Luiz Clitóris e Picasso Bichou, tradução literal do nome do famoso pintor com apenas uma adaptação que, segundo ele parearia com a alcunha que definiu o pintor através dos tempos. O “Bichou” só entrou ali para dizer que o menino não era filho de chocadeira.
   Após alguns anos, quando o garoto começou a frequentar a escola, alvo de maldosas gozações, percebeu que talvez, em sua vingança, tivesse cometido um erro maior e mais grave do que seus pais. Só esperava que, que a adaptação ao nome do pintor não se tornasse uma sugestão maleficamente profética, nem desse ideias a seu herdeiro de se tornar um hermafrodito.
   Anos depois, sempre pensando no fato, andava um pouco mais tranquilo, depois que a terceira empregada doméstica se demitiu após relatar que o rapaz abriu a fechadura de seu quarto e, quando ela acordou assustada, viu o Picasso balançando `a sua frente já concluindo seu intento carnal que a embranqueceu com pavor...
   “Dos males o menor!” Pensava Arnudo, toda vez que acertava as contas com a empregada, tentando se desculpar pelo filho quando, na realidade, estava era muito satisfeito... Pelo menos seu filho era macho e, reparando bem, quando as “moças” a ele davam as costas, até que o menino tinha bom gosto... Especialmente Ermengarda, a ultima a se demitir, não era de se jogar fora. Pensando bem, dava de dez a zero na Marta Talco, sua esposa. Sentiu foi uma certa inveja do menino ao pensar: “se fosse eu ela não escapava, nem que eu tivesse que dopar a mulata”...
   Mas, o pior estava para vir...
   Aos dezoito anos, ao iniciar o cursinho para o ENEM, seus colegas, mais maldosos, ao saberem de seu nome completo, esqueceram o “Picasso” e, por causa do penúltimo nome, o apelidaram de “Bichaldo”.
   Ai o cara pulou... Embora na realidade, sabia ele, seus atributos físicos não fizessem jus a seu ultimo nome, ele não se importava... Ser chamado de Picasso era uma honra. Alem disso, ninguém nunca havia visto... Como poderiam desmentir ou apelida-lo que Piquinha?
   Agora, “Bichaldo”? Era demais! Não podia tolerar tamanha ofensa...
   Certo dia, ao saírem da aula, procurou Zé Melâncio para tomar satisfações... Tarde demais! A esta altura, todos os colegas sabiam que ele era o “Bichaldo”.
   Xinga daqui, argumenta dali, nada! Mesmo que o Melâncio quisesse, nada poderia ser feito. A única solução cabível era seguir pelas vias físicas, ou seja, cobrir o cara de porrada... Dançou! O colega lutava Karatê e só não machucou mais o Bichaldo porque ficou com pena...
   E agora? Se pelo menos o tivessem visto tomar banho e o apelidassem de Pintinho não seria tão humilhante...
   Em sua mente, a única maneira de se vingar de Melâncio, metido a galã, era namorar a garota mais bonita do cursinho...
   Por uma semana, Bichaldo, quer dizer, Picasso, prestou enorme atenção a todas as meninas. Não falava nada. Só butucava... Tomava em consideração altura, atributos físicos, desenvoltura, comportamento, som da voz, cor dos olhos... Enfim era como se fosse juri de um concurso de Miss Brasil...
   Reservou o Sábado para o desempate entre as duas melhores qualificadas: Ingrid, uma loira alta, lábios finos, olhos azuis, nariz afilado e empinado, filha de Suecos, rica pra cacete, a notar pela maneira como se vestia, gestos sofisticados, fala pausada, vocabulário próprio e pensado... O tipo da garota que o Melâncio gostaria de namorar e, Maria Mujinha, uma mulata baiana, de olhos verdes, lábios grossos, cabelos pretos e lisos, nariz grosso e chato, aparentemente muito simples e pobre mas... olha! Mais bonita do que qualquer mulher do mundo, além de, obviamente, ao notar seu rebolado, que fazia com que as saias rodadas que sempre usava, se movessem de um lado para o outro, como aquelas havaianas dançando “hula”, gostosa pra cacete.
   Mas a duvida persistia... O fato e' que, os olhos verdes da mulata não saiam da cabeça do Bichaldo, quer dizer, do Picasso mas, por outro lado, namorar a Ingrid significaria dar um tapa na cara do colega abusado.
   Outro problema... Como iria se apresentar `as colegas? As aulas haviam apenas começado e os colegas ainda estavam se conhecendo, não havia tido tempo de muita interação entre eles. E’ claro que não poderia chegar para uma ou outra e dizer:
 Ola! Sou o Bichaldo...
 Ola! Sou o Picasso, pior ainda. Seria como fechar as portas do futuro para sempre.
   Mas, o cara era esperto, apos pensar por algum tempo resolveu que um “encontro” casual seria a melhor opção... A escolhida receberia um encontrão na bunda, quando estivesse de costas para ele. O ato teria força suficiente para fazer com que a eleita deixasse cair todos os livros que abracava, sem, e' claro, machucar ou derrubar a “felizarda”.
   Genial! Agora só faltava escolher quem.
   Aquela duvida estava fazendo com que o Picasso ficasse com a cabeça dolorida.
   Aqueles olhos verdes... Mas, por outro lado, namorar a Maria significaria abdicar da vingança para sempre e, talvez abrir o caminho para o seu desafeto... O Melâncio jamais chegaria perto de uma mulata... Ele era muito esnobe, ja' estava bem claro.
   E’! Não tinha jeito... Tinha que namorar a branquela... Decidido!
   No dia seguinte, logo `a entrada do cursinho, a oportunidade ideal se apresentou. Na hora em que mencionou entrar na porta da sala, Ingrid correu para entrar `a sua frente.
   “E'” agora!” Pensou!
   Assim que se preparou para o “ataque” recebeu uma porrada que o atirou longe da Ingrid, de seus pertences e, da porta da sala.
   Ainda estava meio grogue, sem saber o que aconteceu quando viu bem `a sua frente um par de mãos delicadas, unhas vermelhas e bem manicuradas... Olhando um pouco mais acima pode ver aquele par de olhos verdes que rondavam seus sonhos por alguns dias e uma voz desgrenhada dizendo:
-  Num si avexe não colega... Sô meia zangaralhada assim mesmo... Mi dexa ajudar!
   Nosso amigo estendeu a mão, sem pensar... Quando, já de pé, perto da mulata, foi por ela abraçado, seu joelhos fraquejaram. Só não caiu ao chão porque Maria o segurava pela cintura... O coração do Picasso batia tao rápido que ele pensou que ia morrer ali mesmo...
   “A Ingrid? Esquece a branquela, não troco essa baiana por nada na vida”... Pensou enquanto era paparicado pela colega.
   Agora mesmo e' que o apelido pegou. O Bichaldo estava namorando a única mulata da classe mas, quer saber? O cara nem ligou, estava era feliz... Passaram a sentar juntos, se ajudar e destacarem entre os outros alunos...
   Uma semana depois, Maria Mujinha o convidou para conhecer seus pais.
   Picasso não era muito familiar com a cultura Baiana. No almoço, ao lado da nova namorada, comeu acaraje', vatapá e arroz doce de sobremesa... Adorou!
   Resumindo a história... Picasso e Maria Mujinha nunca mais se separaram... Estudaram juntos. Se formaram juntos. Fundaram sua própria firma de arquitetura e se mudaram para uma cidade do interior de Minas Gerais onde continuaram a prosperar...
   Anos mais tarde, quando se casaram, na noite de núpcias, Maria Mujinha confessou que se havia se apaixonado por ele, `a primeira vista e, como era muito tímida, bolou aquele esbarrão para que pudessem se aproximar.
   Naquela mesma noite descobrira também, ja' que haviam feito um mutuo voto de castidade ate' o casamento, que seu agora marido, não fazia exatamente jus ao seu nome, ou apelido se preferirem mas, em compensação havia presenciado uma especie de “milagre dos peixes”... Acabara de ver algo muito pequeno se multiplicar em tamanho de uma tal maneira imponente que ate' ele mesmo, Picasso,  se impressionara...
   O fato e' que hoje, estava de saída, `as pressas para o Aeroporto da cidade, onde receberia seus pais e os de Mujinha, para que juntos comemorassem o nascimento da primeira filha dos dois...
   E’ claro que havia aprendido a lição. Não queria saber de nomes como Bibinha, Cabrocha, Luluca, Periquita, Xana ou coisas parecidas...
   Nada melhor que dar `a menina o nome de Maria, o mesmo nome da mãe, nome forte simples, nome da sua amada, sua esposa, mulher maravilhosa que soube, como ninguém, conquistar seu eterno amor, aquele que ela sempre teve em sua mente  como o grande Picasso...









Copyright 9/2014 Eugenio Colin.

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