sexta-feira, 25 de maio de 2018

TORTINHO









                                                                  Tortinho








   Abrildo Neto, filho de Carlos Abrildo Filho, e neto do Antônio Carlos Abrildo, era o homem mais bonito do país.
   Ja' havia sido publicado em todas as revistas destinadas `a mulheres que, como os homens, embora muitas não admitam, também gostam de ver homem pelado, ou quase...
   Não tinha como ignorar sua presença, onde quer que ele estivesse... O cara tinha mais de um metro e noventa, “six-pack” impecável, cabelos negros, olhos azuis, sorriso de galã de novela das nove, uma voz grave e macia, uma conversa capaz de convencer qualquer um a comprar bilhete de loteria expirado, e uma educação capaz de fazer Lord Inglês parecer jogador de futebol...
   Quando Abrildo passava, cabeça de mulher virava... Não tinha como...
   Mas, apesar disso, inexplicavelmente, seu apelido era “Tortinho”. Ninguém entendia nada! Os mais íntimos, quando lhe perguntavam a origem do apelido, ele desconversava, dava uma desculpa esfarrapada como: “quando era criança me inclinava ao chupar sorvete” ou outra bobagem similar...
   As namoradas, ou melhor, as pretendentes, ja' que nosso amigo, católico praticante, acreditava que so' devia namorar para casar, nada de trepadinhas inconsequentes que, eventualmente, podem trazer serias consequencias, nem se atreviam a perguntar a razão do apelido. Algumas ate' tentaram procurar por algo torto em sua fisionomia mas, nada... Tudo perfeito! O homem parecia um deus grego...
   Um dia, quando se preparava para uma sessão fotográfica para a revista “Men’s Health”, uma moca se aproximou, apresentou-se como a fotografa responsável pelo trabalho e, quando ouviu seu apelido, como ele a si mesmo referia, ainda segurando sua mão profissionalmente, começou a procurar por algum defeito ou anomalia, que houvesse motivado aquele apelido. Que nada! O cara era perfeito... Apenas repetiu: “Tortinho?” Murmurando, quase que para si mesma: "Não entendi!"
   Tudo acertado, começaram as fotos...
   A cada posição, aprovada pelo piscar da câmera, a fotografa se repetia: “Tortinho?” Aquele apelido começava a assombra-la e aguçar sua curiosidade. Em um intervalo, puxando conversa, indagando pelo apelido, recebeu uma desculpa mais improvável ainda do que a do sorvete. Desta vez, disse que, quando menino, ficava inclinado ao andar de bicicleta. A moça, sorrido, apenas deixou escapar um sorriso sarcástico, como se estivesse dizendo: “me engana que eu gosto.”
   Mais alguns minutos de descanso e, “de volta ao trabalho”... Posa daqui, fotografa dali, e toma foto... Gostosura, como era conhecida, que, diga-se de passagem era seu nome verdadeiro, estava pra la' do que feliz com o resultado daquela sessão fotográfica. Não so' estava o trabalho saindo melhor do que esperava, como também o cara era um, colírio para seus olhos de profissional super ocupada que não tinha tempo para dar uma trepadinha ha' mais de seis meses.
   De repente, prestando mais atenção, percebeu que o dedo mindinho do pe' esquerdo era totalmente defeituoso. Alem de “acavalar” sobre seu “companheiro” mais próximo, era virado para cima. Assim que “desvendou” o mistério, sorrindo pensou triunfante: “Ah! Ali esta' a razão do apelido..."
   Com tanta coisa grande pra olhar, a mulher foi reparar logo no menor pedaço de osso  do corpo do cara... Faça me o favor!!!
   Mais meia hora de excitamento e a sessão terminava...
   Gostosura estava tão feliz que ate' convidou o “modelo” para jantar. Tinha certeza que aquela companha das cuecas “mostra pra mim” seria um tremendo sucesso.
   Tortinho aceitou o convite, e’ claro! Afinal de contas, estava meio duro, quer dizer, sem dinheiro, como sempre. Quando a fotografa foi aquiescida pelo convite, percebeu que estava completamente molhada. Não pelo suor, ja' que a temperatura no interior do estúdio, onde a sessão acabara de findar, estava mais frio do que nariz de Nova Iorquino passeando no Central Park em dia de inverno.
   Educadamente, pediu licença para “retocar a maquiagem” antes de seguirem para o restaurante, quando na realidade o que queria mesmo era tentar “estancar” um pouco de seus “planos” que antecipadamente não paravam de escorrer de sua “memória”.
   Resolvido o problema, pelo menos temporariamente, seguiram conversando animadamente...
   Conversa vai, conversa vem, come daqui, bebe dali e pumba... Gostosura tascou o convite na cara do bonitão: “ Me acompanha ate' minha casa?”
   Adivinha se o cara aceitou?
   Primeiro; Gostosura fazia jus ao nome. Segundo; Abrildo ja' estava de “jejum” por algum tempo. Terceiro; ja' estava cansado de ver filme pornô toda noite. Quarto; `aquela altura havia ate' esquecido, pelo menos temporariamente, que havia prometido a si mesmo so' trepar depois de casado. Afinal, ninguém e' de ferro e, aquela mulher era um pedaço de mal caminho, como dizia sua avo'... Pelo menos teria uma chance de ser protagonista pelo menos uma vez.
   Combinado e feito... Depois do jantar, seguiram felizes para o apartamento de anfitriã.
   Agora, enquanto a moca, exultantemente se trocava, foi a vez de Tortinho pedir licença para “retocar sua maquiagem”... No meio de sua “preparativa", havia ate' esquecido, pelo menos temporariamente que havia prometido a si mesmo so' trepar depois de casado. Afinal, ninguém e' de ferro e aquela mulher era um pedaço de mal caminho, como dizia sua avo', quando Gostosura indagou se ele tinha preferência por algum lado da cama.
   Tortinho, tentando ser educado, sem querer gritar sua resposta, entreabriu a porta do banheiro para enformar que não se importava.
   Ao olhar para o companheiro, ao som de sua resposta, pode ver pelo entre-aberto da porta do banheiro que seu companheiro eventual olhava para ela enquanto fazia xixi. Seu primeiro instinto foi pensar: “Porra, esse cara vai mijar minha parede toda. Como e’ que ele pode acetar no vaso estando de lado para o dito?”
   Assim que Abrildo deixou o banheiro, la’ foi ela, desta vez para verificar o “estrago” perpetrado pelo parceiro... Olha daqui, examina dali e, nada! Tudo perfeito... O local estava ate’ cheiroso, sinal de que o moço não tinha nem peidado.
   Agora e’ que ela estava realmente encucada. Como era possível para um homem mijar de lado para o vaso? Deixa pra la’! Pensou ela... Tinha coisas mais importantes para pensar `aquele momento.
   Deitou ao lado do companheiro que, em baixo do lençol, por ela ja’ esperava e começou a alizar seu convidado que reciprocava os carinhos. O cara era realmente um Adônis. Corpo perfeito... “Um tezão!” Pensou ela. Quase que instintivamente, começou a passar a mão nas pernas do cavalheiro, tentando encontrar o que não saia de sua mente desde que viu, através da lente de sua câmera, aquele volume tentador, coberto desde a primeira cueca que havia usado naquela sessão fotografado.
-  Do outo lado! Disse Abrildo.
   Gostosura não entendeu nada. Um pouco assustada, apreensiva, curiosa, virou-se para o lado, procurando por algo que não sabia o que era, ou talvez, por sua empolgação não havia percebido acontecer... Não vendo nada, perguntou ao companheiro:
-  Você que que eu mude de lado da cama?
-  Não! Esta' bom assim! So’ disse para você passar a mão do outro lado, por cima da outra perna...
   Intrigada, ela levantou o lençol e, para seu espanto, encontrando o que queria, pode constatar que se tratava de um belo espécime, como um pepino em banca de legumes, aquele que certamente e’ o mais disputado pelas freguesas em dia de compras. Mas, ao invés de apontar para cima, cada vez mais crescia para o lado oposto ao que a moca se encontrava...
   E’ claro que `aquela altura com campeonato, não era hora de ser exigente ou perfeccionista... Era torto mas, com certeza, com jeitinho, seria capaz de fazer o “estrago” que ela estava esperando...
   No auge de sua satisfação, aproveitando aquele momento tão sonhado, não pode evitar o pensamento que, como uma voz interior, com um sorriso maldoso sussurrava aos seus ouvidos:
-  Agora sim! Finalmente descobri porque te chamam “Tortinho”.






Copyright 5/2015 Eugenio Colin

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