sexta-feira, 3 de março de 2017

O PERFUME DA XERECA...










                                                  O Perfume da Xereca...








   Xereca acabara de chegar ao Brasil...
   Não sabia ao certo se estava de visita ou se veio ao pais para ficar. Por perder seu emprego em Nova Iorque, em uma decisão espontânea e, segundo algumas amigas, impensada, decidiu arriscar a sorte no Brasil.
   Ja' ouvira falar muitas coisas a respeito do país. Muitas boas, muitas más... Assim sendo, avaliando as possibilidades e constatando que o resultado de sua pesquisa "cientifica" era meio a meio, resolveu arriscar, contando com sua sorte que, para pensar a verdade não era la' muito favorável `as sua pretenções aventureiras.
   Xereca era muito bonita! Cabelos lisos, lábios finos, olhos alongados, sobrancelhas bem feitas, peituda e bunduda, capaz de fazer inveja a qualquer rainha de escola de samba do Rio de Janeiro mas, como nada na vida e' perfeito, tinha um gênio que ninguém conseguia aturar. A mulher era uma peste encarnada em gente. Brigava por tudo. Tinha pavio curto e prestes a explodir. Não admitia nenhum mortal olhando para ela por mais de um segundo. Mais do que isso era considerado um insulto passível de ser punido com um esporro, palavrões ou, se possível, ser atingido por um projetil improvisado.
   E' claro que suas opções eram, de certa maneira, limitadas devido ao fato de não dominar perfeitamente o idioma e, assim sendo, tendo que se contentar em insultos menores e mais familiares ao seu vocabulário parco ou xingar em Inglês mesmo, na esperança de que aquele ou aquela "filha da puta" entendesse sua língua natal. Mas, como toda boa insultadora profissional, estudava arduamente o novo idioma para poder, que sabe um dia, insultar de verdade, ao vivo e `a cores...
   Outra de suas características que parecia encantar a todos era seu perfume... Sem duvida ela era a Xereca mais perfumada do universo e, nunca repetia a mesma fragrância por dois dias seguidos. A porra da mulher gastava uma fortuna em perfumes caros, importados e da melhor qualidade, capazes de fazer inveja a qualquer francesa que não toma banho por quinze dias...
   Uma coisa importante que ela havia notado desde que chegou ao novo país e' que não a discriminavam devido ao fato de ser negra ou por ter um nome exdruchulo para os conceitos locais mas, como Xamiqua, Malia, Kalisha, Lashonda, Saniqua entre outros mais, por sua vez, comum em seu pais de origem... Pelo contrario, os homens ficavam era babando toda vez que ela passava, principalmente no escritório de advocacia internacional em que ja' estava trabalhando, emprego que facilmente conseguira encontrar para a felicidade geral dos sócios diretores, que não entendiam lhufas de Inglês mas, se aventuravam em fazer advocacia internacional... So' mesmo no Brasil! E tem mais! A tal da "americana" como era chamada, ja' que seu nome, no local onde agora vivia, tinha uma conotação adversa `a seriedade, principalmente em um ambiente de trabalho no qual as pessoas fingem ser serias...
   Ja' pensou ouvir: "Eu sou o melhor amigo da Xereca!" Ou, a "Xereca hoje esta' com o cabelo liso" ou "Antes de entrar na sala da Xereca, tenho que fazer xixi!" ou "Não quero ninguém aqui de gracinha com a Xereca!" ou "Deixa a Xereca em paz!" ou "sai de cima da Xereca para ela poder trabalhar!"
   Para evitar este tipo de chacota e' que os diretores decidiram que seria melhor chama-la de "americana"...
   Dr. Marpucio Chilidro', diretor majoritário da empresa ja' havia notado as olhadas de sobrolho arqueado que seu sócio Jose' Roberto Esperto vez por outra, sempre tentando disfarçar, dirigia `a direção da "americana", que por sua vez, com relação `a ele era sempre muito gentil e educada... Uma vez, em um dos primeiros dias que trabalhava, ficou mais de um minuto em frente ao "chefe", com aqueles peitos enormes praticamente na sua cara, com o pretexto de procurar por uma caneta para fazer algumas anotações pertinentes ao momento... O cara ficou ate' vesgo, sem saber ate' hoje se foi por causa dos peitos ou inebriado pela funcionaria. E'! Talvez ela tenha simpatizado com o chefe, o que em sua mente, neste caso, o tornaria imune `a insultos.
   O tempo passava e a americana se sentia cada vez mais `a vontade. Ate' havia saído do hotel de programa no centro da cidade, em que morou por algumas semanas, para o quitinete de cobertura na Avenida Atlântica que havia comprado. Seu Português ja' era ininteligível e, suspeitava que havia tomado a atitude certa em se mudar para o Rio de Janeiro.
   Em um Domingo, ao atravessar a avenida em direção `a praia, sem prestar atenção, tropicou em uma pedra solta na calcada e deu uma porrada no ombro de um cara que `a sua frente andava. Seu primeiro instinto foi o de soltar todo seu novo repertorio de insultos pra cima do cara mas, pensando bem, ele não tinha culpa por ter tropicado, pelo contrario, se não fosse aquele ombro "amigo e protetor" Talvez ala tivesse se estabacado toda.
   Alias, em fração de segundos descobriu que sua decisão de se conter havia sido acertada e providencial ja' que o tal do "ombro amigo e protetor" fazia parte do corpo de seu chefe Dr. Esperto.
Quando a americana viu o cara so' de sunga, peito de fora e apenas uma toalha enrolada no pescoço, ficou maluca. Alem de culto e educado, seu chefe era bonito pra cacete. Este, por sua vez, por algum tempo ja' vinha prestando atenção aos "atributos" da secretaria mas quando viu a funcionaria usando um fio dental minimo que não deixava nada `a imaginação, grudou na americana. Primeiro indagou se poderiam ficar juntos, depois de algumas horas de conversa agradável e reveladora, regada a guarana' e recheada por pão de queijo, a convidou para almoçar, convite que ela trocou pela oferta de cozinhar para ele em seu apartamento, no outro lado da rua.
   Ficaram juntos o dia inteiro e, `as nove horas da noite, ainda com assunto para conversarem por mais de três meses, decidiram, de comum acordo, que era melhor passarem a noite juntos. Esperto estranhou o convite mas, aceitou, e' claro. Afinal de contas ele era Esperto, não era burro...
Relaxados, depois de algumas taças de vinho, ja' no pega-pega que sempre antecede o whoopee, americana pede que ele tenha cuidado ao confessar que ainda era virgem, o que, apesar de completamente incompreensível ao Dr. Esperto, fez parar imediatamente seus projetos e taras imediatas.
   A principio a americana não entendeu nada. Sabia muito bem que era gostosa pra cacete, estava louca para se entregar ao chefe sem segundas intenções mas, mesmo chocada ouviu, quando Esperto a sentou `a sua frente, toda pelada, linda como nunca e falou...
- Americana! E' o seguinte: você vai achar que sou maluco mas, vamos esperar um pouco ate' nos
casarmos. Isto e'; se você aceitar casar comigo... Depois do dia de hoje, sei que temos muito em
comum e temos grande chance de sermos felizes... O que você acha?
   Xereca entrou em estado de choque e a única coisa que conseguiu dizer enquanto enxugava uma furtiva lagrima que inconscientemente deixara escapar foi:
- Holy Shit!

   Muitos anos mais tarde, agora ja' com uma filhinha que Esperto nomeou Maria, contrariando veementemente, e pela única vez, o desejo de sua esposa que pretendia batizar a menina de Chimbica, conversando com amigos, que admiravam mãe e filha, um deles comentou:
- Esperto, o que te atraiu mais na tua esposa?
  Ele respondeu:
- Apesar de uma mulher notável, linda, extremamente sexy, a primeira coisa que nela me chamou
  atenção foi o perfume da Xereca.







Copyright 2/2017 Eugene Colin

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