sexta-feira, 29 de maio de 2015

A TÉCNICA DA CHUPADA












                                                  A Técnica da Chupada










   Pirulino Grandino, um paulista nascido e criado no Brás, descendente de Italianos, se considerava um perfeccionista em tudo que fazia... Cortar o pão tinha sua técnica, escovar os dentes tinha sua técnica, comer sanduíches, tomar cafe', ate' assistir a um jogo de futebol tinha sua técnica. Dançar então, coisa que adorava fazer, tinha sua técnica. Dançar, para ele era quase uma forma de arte. Não concordava com a maioria de seus conhecidos que profanavam: “dançar nada mais e' do que sonhar com as possibilidades verticais de uma realização horizontal”. Nada de “raspa coxa” ou sarrinhos propositais inconsequentes. Se a “dama” não se postasse corretamente em seus bracos, pronto! Uma desculpa super educada e a moça ja' fazia parte do seu passado... Pelo menos daquela noite. 
   Apesar de seus mais de um metro e noventa de altura, corpo de atleta profissional, cabelos negros, olhos azuis, uma educação  de fazer inveja `a rainha da Inglaterra, ou talvez por isso mesmo, nosso amigo não tinha uma namorada ha' mais de cinco anos. As mocas olhavam, sorriam, ciscavam, mas, na hora da “realidade” fugiam do Pirulino como se ele portasse uma doença contagiosa.
   Diziam ate' que uma ocasião, a Rosa Matilde, uma colega de colégio que depois de muitos anos o reencontrou, um dia em uma festa, bebeu duas cervejas com um copo de cachaça e, tomando uma dose de coragem, foi ate' seu ex-colega, o puxou pelo braco e, quando ele se virou, se esticou toda na ponta de seu stiletto, o agarrou pelo pescoço e tascou-lhe um beijo na boca que quase tirou o folego do bonitão. Pirulino, que não era de ferro, ate' que estava gostando e, assim que segurou a colega pela cintura para lhe dar um arroxo legal, so' teve tempo de amparar o corpo da menina e impedir que ela caísse ao chão, desmaiada, tomada pela emoção  que aquele ato de loucura impensada que a acometera provocou, e a levou direto para a emergência do hospital mais próximo.
   Verdade ou boato, o fato e’ que depois daquele dia, Piru, como era carinhosamente apelidado, começou a prestar mais atenção  `a moca. A principio, usou a desculpa de visita-la em casa para saber se aquele desmaio não tinha deixado nenhuma sequela em sua mente, desculpa tão esfarrapada que nem a mãe da Rosa, coroa que não era de se jogar fora (pensamento que o sorriso do Piru não deixou revelar, para o bem de sua, quem sabe, quase provável possibilidade de um possível pensamento povoado com relação  a um namoro, ou pelo menos um amasso na esquina da rua onde morava). A coroa fingiu que “engoliu” a história, aceitando a visita do estranho, sem deixar de olhar para o “caboose” do rapaz enquanto ele subia as escadas em direção  ao quarto de Rosa, como foi por ela instruído.
   Assim que, educadamente, bateu `a porta do quarto da colega, ouviu: “Entra!”
   Quando entrou, pela primeira vez pode prestar atenção  `a moca. Uma morena com cabelos negros e olhos verdes, usando uma saia tão curta que deveria ter sido feita com as sobras de um lenço. E, uma blusa tão apertada que fazia com que seus “predicados” fizessem o “sujeito” ficar sem “verbo”, sem “complemento”, sem nada...
   Assim que viu aquilo tudo, o Piru subiu o pequeno degrau que dava acesso aos aposentos da virgem, que por ele esperava, toda aberta, com um enorme sorriso apologético.
   Dias depois foi a vez da Rosa dar para o Piru um momento de grande alegria quando viu o nome da agora “amiga” reluzir em seu celular.
   Conversaram um pouco, revelaram um ao outro seus mais profundos desejos, suas taras, seus medos, descobriram as coincidências que os tornavam tão próximos, em tão pouco tempo... Acredite ou não, a conversa durou mais de quatro horas...
   E'! O negocio tava complicado! Por incrível que pareca, contrariando todas as possibilidades, apesar de praticamente dois estranhos, depois de descobrirem suas preferências, a moça tava doida para o acompanhar, e o Piru morrendo de vontade de comer...
   Embora sendo um ato tão corriqueiro, praticado por milhares de pessoas diariamente, no mundo inteiro, o fato e' que nenhum dos dois jamais haviam feito aquilo. Marcaram então seu encontro para dois dias depois quando finalmente saciariam seus desejos.
   Na hora marcada, o encontro foi saudado por um grande sorriso acompanhado de um beijo carinhoso. Não estavam nervosos. Talvez curiosos... Mesmo nunca tendo tido a oportunidade de se saciarem por completo, ja' tinham ouvido falar e ate' mesmo visto, ocasionalmente, casais fazendo a mesma coisa.
   Entraram no “estabelecimento” que os abrigaria por algum tempo de mãos dadas e corações alegres com o que os esperavam.
   Rosa entrou primeiro. Andava `a frente de seu companheiro com um rebolado que fazia com que sua “micro-saia” balançasse graciosamente, de um lado para o outro, como rabo de vaca abanando mosca, o que deixava o Piru completamente sem concentração , sem saber para o que olhar, sem saber o que escolher... Em sua mente, as possibilidades eram tantas... Olhava para um lado, para o outro...
   Finalmente se sentaram. Rosa foi a primeira. Seu companheiro em seguida. 
   A moça olhava para o Piru como que deixando que ele tomasse a iniciativa. Ele, por sua vez, olhava para ela, cavalheirescamente esperando dela o primeiro movimento.
   Por fim, apos alguns segundos, ela colocou em sua boca o que seu companheiro ate' então trazia em sua mão e agora a ela oferecia, com um sorriso amoroso.
   Rosa estava emocionada. Finalmente aquele dia havia chegado. Sem muita cerimonia, começou a chupar. Seu amigo apenas olhava para ela, sorrindo discretamente. Quanto mais Rosa chupava, mais ela se molhava. Tudo que chupava escorria por suas mãos, molhava seus peitos e suas coxas terminando no chão. Tudo escorria de sua boca. Literalmente estava jogando tudo fora. Parecia ate' que as pernas e o chão estavam aproveitando mais do que sua boca.
   A certo momento, o rapaz falou:
-  Você esta' mordendo as bolas...
   Foi o único comentário que fez antes de constatar que ela estava fazendo tudo errado. Resolvendo intervir, com cuidado tirou da mão da amiga o que ela ate' então segurava e delicadamente falou:
-  Meu amor! Agora tenho certeza que, como você afirmou, nunca havia chupado um sorvete antes.
   Deixa eu explicar... Segura pelo cone, poe a língua pra fora e roda o cone de um lado para o outro.      Deixa eu pegar outro para você. Este foi quase todo pro chão.
   Segundos depois voltava o Piru duro, como uma modelo inexperiente que desfila pela primeira vez, com medo de tropicar, cair da passarela, e meter os córneos no chão.
   Rosa olhava para seu companheiro enquanto ele voltava do fundo da sorveteria, agradecida ao destino que os reaproximou.
   Com um sorriso iluminado, Rosa pegou seu cone, coberto com duas bolas de sorvete de pistache, do qual sempre ouvira falar mas nunca havia provado, e seguindo as instruções de seu praticamente namorado, degustava aquela delicia.
   Piru, por sua vez estava feliz ao constatar que sua amiga, havia, tão rapidamente,  aprendido a técnica da chupada...








Copyright 2/2015 Eugenio Colin

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