Depois do Carnaval.
Valdisnei Roliude Paramão estava prestes a realizar o sonho de sua vida...
Para falar a verdade, mesmo com as pernas espremidas
pelo assento anterior do Boeing 767, grande pra cacete por fora mas,
excruciantemente apertado para os passageiros, especialmente para Val,
como nosso amigo era popularmente conhecido em sua cidade natal de
Várzea Grande, bem ao lado da capital do estado do Mato Grosso...
Desde que nasceu, seu sonho sempre foi o de assistir
um desfile de escolas de samba do Rio de Janeiro. Não pela televisão!
Queria ver ao vivo aquele monte de mulher com o suor derretendo o único
disfarce que escondia a “realidade” de cada uma delas, bem disfarçada
pelas tintas que as cobriam. Ate' imaginava como deveria ser o cecê das mulatas... Queria ver tudo, ao vivo e em cores.
Agora, ja' com seus 35 anos, depois de juntar
dinheiros por muito tempo, sua hora havia chegado. Nem deu bola para seu
patrão quando este lhe informou que seu pedido de ferias para o
Carnaval havia sido negado. “Ah! E'? Tudo bem! Eu me demito!” falou...
Ao sair, ainda olhou pra trás, so' para poder constatar a cara de babaca
do empregador e, sorrindo, ainda lhe deu uma banana...
O piloto acabara de avisar que dentro de alguns
minutos estariam pousando no Aeroporto Antônio Carlos Jobim.
Imediatamente lhe veio `a cabeça o “samba do aviao”... Minha alma canta,
vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudades... O que, no seu caso
não era verdade ja' que esta seria a primeira vez que visitava a
"cidade maravilhosa".
Ainda esticava o pescoço tentando olhar la’ pra
baixo pela janela minuscula do avião quando uma das aeromoças, agora
chamadas de comissarias de bordo, ate' hoje ainda não se sabe porque,
tentando colocar sua poltrona na posição vertical meteu os peitos em sua
cabeça. Quando ele virou, de repente, não deu outra! Acabou com a boca
entre os enormes seios da mulata que, imediatamente, para ele sorriu.
Val ate’ achou que ela havia feito aquilo de proposito. Também, não era
pra menos... O cara era bonito pra cacete, mais de um metro e noventa de
altura, cabelos pretos e olhos verdes, impecavelmente vestido. Parecia
mais um gala de telenovelas do que um gerente de hotel do interior do
país.
Na saída do avião, enquanto a maioria dos
passageiros se despedia das “comissarias de bordo”, aquela mesma mulata
colocou um cartão no bolso da camisa do nosso amigo, dizendo baixinho,
ao pe' de seu ouvido: “-me liga...”
Ele ainda deu uma outra olhada pra aeromoça, agora
chamada de comissaria de bordo, ate' hoje ainda não se sabe porque,
constatando que ela não era de se jogar fora. Depois do Carnaval, quem
sabe? Ate' que poderia dar umazinha, se ela estivesse livre e ele
estivesse vivo.
Ainda olhando para as “qualidades” da aeromoça,
quase caiu por causa disso... O operador, que deveria estar com preguiça
ou sem tempo de fazer seu serviço corretamente, deixou um enorme vão
entre a ponte de desembarque e o avião e, quando nosso amigo pensou em
trocar de pe', para “entrar” na cidade maravilhosa com o direito, chegou
ate' a tropicar... Adivinha que veio em seu socorro, segurando sua
bunda para que não fosse ao chão ou, pior ainda, caísse la’ em baixo...
Isso mesmo! Raimunda, ou “Rai” como estava escrito em seu
cracha', a aeromoça que aparentemente estava sem programa para os
próximos dias, ja' que estava dando em cima do passageiro
acintosamente...
Salvo pelo gongo de uma fatalidade que poderia ter sido fatal, la' se foi nosso amigo, em direção
ao seu destino... Decidira se hospedar em um hotel na Avenida Mem de
Sa', relativamente perto do sambódromo, ao qual poderia ir `a pé e, se
não fosse assaltado, ou alvejado por uma bala perdida, poderia chegar
la' em poucos minutos...
Mas Val era um homem otimista. So' queria ver mulher
pelada e quem sabe, com alguma sorte, ate’ tentar provar um dos “frutos
proibidos” que pela avenida desfilavam.
Finalmente chegara o grande dia, `as nove horas da
noite, la’ estava o Mato-Grossense, deslumbrado, estupefacto, atônito,
abundorbado... Era tanta mulher pelada que o cara ja' estava ficando
vesgo, além de estar suando profusamente, mesmo com aquela brisa refrescante que amenizava o calor do verão carioca...
Dois dias no Rio de Janeiro e nenhum incidente. Não
havia sido assaltado, ninguém o havia chamado de babaca, nem mesmo
caipira... Val ja' se sentia em casa, ate' o dono do Bar das Quengas,
onde fazia suas refeiçoes, estabelecimento de “alta classe” onde “damas
da noite” se reuniam, localizado na esquina da Mem de Sa' com Washington
Luiz, bem no coração de seu trajeto diário, ja' o conhecia...
Tudo corria `as mil maravilhas, muito melhor do que jamais poderia haver
planejado...
No ultimo dia de desfile, `as três horas da manha do
dia seguinte, o cara não resistiu; pulou a cerca e foi ate' o asfalto
para se “minglar” com aquelas mulatas fabulosas...
Mal adentrou a passarela e começou a dançar, uma
linda mulata agarrou em seu pescoço e lhe tascou um beijo na boca. Ao
olhar para o rosto e o corpo da mulher, Val não podia acreditar... O céu
estava claro mas estava “chovendo em sua horta”, e muito...
Ao ouvir: “estou tão cansada, me acompanha
ate' minha casa?”, nosso amigo so' não desfaleceu porque era muito
macho. A mulata era a mais linda que jamais havia visto. Melhor do que a
Raimunda do avião, quer dizer, a “Rai”. Claro que ele foi...
Em la' chegando, no meio de uma conversa animada
enquanto os dois tentavam se conhecer, Roberta, que aparentemente estava
apaixonada ja' que não tirava os olhos de Valdisnei, pedindo licença,
entrou no banheiro e, em poucos minutos de la' voltou toda asseada e
perfumada, vestindo um lindo baby-doll rosa... Deu uma boa olhada para
seu novo conhecido, de cima a baixo e disse:
“- vou me deitar! Você vem?”
Sabia que estava dentro de um apartamento mas, certamente, estava “chovendo em sua horta, e muito!
Atendendo ao convite, Val tirou a roupa e, apenas usando uma sunga, foi ao encontro de seu destino...
Rola pra la' esfrega pra cá, pega daqui, espreme
dali e Val, acidentalmente, se depara com algo que certamente não
deveria estar ali... Ainda deu uma boa segurada, so' para se certificar
se “aquilo” era aquilo realmente o que estava pensando e, quando ouviu:
“- Ai, aperta com forca amor, pode ate' morder, não ligo não, vou ate'
gostar...”, teve certeza.
- O que? Você e’ homem? Indagou apavorado, pulando da cama.
- Homem não! Transgender como se diz no exterior... Respondeu “Roberta”.
Seu mundo caiu! De repente, Valdisnei se sentiu
desolado e todo aquele encantamento havia chegado ao fim... "E se aquele
monte de mulher pelada que vi, fosse tudo homem? Meu Deus, o mundo ta’
perdido..." Pensou, enquanto praticamente em um movimento único, pulava
da cama, se vestia, e saia correndo daquele “apartamento maldito”.
Carregando toda a tristeza do mundo em suas costas,
nosso amigo voltava para o hotel para arrumar as malas e retornar
correndo para sua cidade, onde os homens são homens e as mulheres são
mulheres.
Por sorte, conseguiu antecipar seu voo que so' aconteceria dois dias depois.
Ja' dentro do avião, recostado em sua poltrona,
tentando aliviar a pressão que o assento anterior fazia em seus joelhos,
sentiu um perfume que achava ser familiar. Desta vez nem teve tempo de
virar o rosto e meter a cara naqueles peitos que ja’ conhecia.
- Oi! Que sorte te encontrar novamente... Disse Raimunda, quer dizer “Rai”.
- Tudo bem? Respondeu Valdisnei, meio escabriado, começando a desenvolver um pavor
recalcitrante por mulatas gostosas.
recalcitrante por mulatas gostosas.
A viagem ocorreu sem maiores incidentes, a não ser
por aquelas sacudidelas que todo mundo que voa de avião ja' esta' ate'
acostumado...
`A saída, ao se despedir de Raimunda, quer dizer “Rai”, ela falou baixinho:
- Da’ pra me esperar um pouco? Gostaria de falar com você...
Val esperou pela “conhecida” por alguns minutos e, saíram do avião de braços dados.
- Vou ter que ficar na cidade por uma semana para acertar minha escala mas não conheço ninguém
aqui. Sera’ que você poderia me ajudar a achar um lugar pra ficar?
aqui. Sera’ que você poderia me ajudar a achar um lugar pra ficar?
O cara deu uma boa olhada pra mulata e, quase tentando esquecer os horrores pelos quais havia passado respondeu:
- Se você não se importar pode ficar comigo... Moro em Várzea Grande, a poucos minutos daqui.
- Se você não se importar pode ficar comigo... Moro em Várzea Grande, a poucos minutos daqui.
O lindo sorriso de “Rai” foi a resposta que ele não ouviu.
Com o pretexto de ajudar sua companheira, em um ato cortês, “tentando” alcançar a alça de sua mala, “acidentalmente” meteu a mão entre as pernas da "atendente de voo", com força e determinação, so' por via das dúvidas, desculpando-se imediatamente após. A moça não entendeu nada, mas sorriu...
Valdisnei sorriu em resposta, certo de que, desta vez, não se repetiria o que havia acontecido no Rio de janeiro, depois do Carnaval.
Copyright 2/2015 Eugenio Colin
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